Estadão
Com produtos que vão de clubes de descontos a soluções para a vida financeira de funcionários, negócios tecnológicos resolvem dores do RH
Bianca Zanatta, Especial para o Estadão
Os pacotes de benefícios corporativos assumiram um papel estratégico na percepção que os colaboradores têm das empresas. De acordo com o Censo de Benefícios de 2021 da Pontomais, que desenvolve soluções de RH, enquanto 53,4% dos gestores entrevistados de 150 empresas brasileiras afirmaram que pensam nos benefícios para a retenção de talentos, 38,2% usam esses pacotes como estratégia para promover sua marca. Além de ter os benefícios como atrativo, as empresas viram crescer a demanda por novos usos desses benefícios no trabalho remoto.
O auxílio home office, aliás, foi o benefício que mais cresceu no último ano segundo 45% dos entrevistados no Guia Nacional de Benefícios, realizado pela Vee Benefícios com a Leme Consultoria, que mapeou 1.156 empresas. Quanto aos benefícios flexíveis, 26% já os adotam em algum nível e outras 27% pretendem implementar ao longo de 2022. Com a crescente valorização desse tipo de benefício, startups que oferecem soluções ao RH das empresas estão ganhando terreno.
Segundo Júlio Brito, CEO da Swile no Brasil, startup francesa que oferece o serviço dos benefícios flexíveis, as novas prioridades dos colaboradores das empresas, além do auxílio home office, estão em benefícios de qualidade de vida, como saúde, cultura, educação e mobilidade – com a liberdade de escolha.
“Essa discussão surgiu na década de 1970 e chegou no início dos anos 2000 por aqui, mas se intensificou quatro anos atrás”, explica. “As empresas começaram a perceber que, quando montam uma cesta de benefícios cuja gestão é do próprio colaborador, ele fica mais feliz e engajado. É uma ressignificação dos termos atração e retenção de talentos porque há convergência de propósitos entre o colaborador e a empresa.”
A Swile já é considerada um unicórnio (startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão), com atuação na França, no Brasil e no México. Na esteira desse mercado bilionário, está a brasileira Caju, startup fundada em 2020 e que também desenvolveu uma solução focada em proporcionar flexibilidade e poder de escolha aos colaboradores das organizações. O uso dos benefícios é feito por meio de um cartão de crédito que pode ser usado em mais de sete categorias de produtos e serviços em estabelecimentos do Brasil e do mundo que aceitam a bandeira Visa.
Em menos de um ano após um aporte da Série A, o negócio de benefícios corporativos flexíveis cresceu cinco vezes e quadruplicou o time, reforçado por profissionais vindos de grandes empresas como Johnson & Johnson, Mercado Livre, McKinsey e LG Lugar de Gente. Para os próximos meses, a expectativa é aumentar em mais de 400% o número de usuários.
Flexibilidade e liberdade também são palavras de ordem na plataforma digital Wiipo, que lançou o cartão Wiipo Flex para reunir todos os benefícios que o gestor deseja trabalhar. A solução disponibiliza aplicativo, portal de gestão para o RH, integração ao HCM (software de gestão de pessoas da Senior Sistemas), vale-alimentação e refeição intercambiáveis, fundos automatizados, antecipação salarial e bolsos personalizáveis.
Além de permitir que o próprio colaborador use os valores na forma que desejar – ou seja, que migre o dinheiro de uma categoria para outra, de acordo com suas necessidades –, o cartão também está conectado ao Clube Wiipo, que oferece descontos em produtos digitais, lojas físicas e delivery, tudo com cashback.
Benefício vai até o financiamento imobiliário
No caso da Ben.up, joint venture da Wiz com a LG Lugar de Gente, a plataforma para integrar a área de gestão de pessoas nasceu de uma necessidade detectada na área de RH, que em geral enfrenta orçamentos escassos, conta Manoel Jardim, presidente da startup. “Quando veio a oportunidade de montar um negócio, eu quis levar uma solução de baixo custo e operação fácil que comunica os valores da empresa por meio dos benefícios para ajudar a atrair e reter os talentos”, diz.
A solução da Ben.up divide os serviços em quatro pilares, deixando a critério dos colaboradores optarem pela contratação dos produtos a partir de suas necessidades. O Seu Bolso é ancorado na orientação e na educação financeira, com produtos de antecipação salarial e de 13º salário, crédito consignado e antecipação do FGTS; Seu Sonho auxilia na viabilização de desejos, dando acesso a crédito imobiliário, crédito educativo, consórcios e empréstimo com garantia. Tem ainda o Seu Futuro, que conta com seguros em geral e previdência privada, e Seu Dia a Dia, com produtos voltados para o bem-estar e qualidade de vida.
“A gente pensou nesses pilares como forma de dar uma jornada mais organizada para o colaborador na plataforma”, afirma Jardim, que classifica a falta de orientação financeira como uma das maiores pedras no sapato dos colaboradores. “A ideia é ajudar a pensar no endividamento do brasileiro e ensinar a negociar uma dívida mais saudável. Isso também ajuda o RH porque acaba sobrando salário e diminuindo a pressão sobre o empregador.”
Outra sacada da startup foi trazer o produto do crédito imobiliário para a plataforma. A partir de um multicálculo que cruza o tipo de imóvel, o valor e o tempo do financiamento, a Ben.up faz a cotação com os principais agentes financeiros e toda a jornada de contratação é digital. “Isso não existia como benefício corporativo e é um produto que faz todo o sentido para o RH”, sublinha Jardim, revelando que a plataforma gerou 33 propostas em apenas duas semanas, somando R$ 14 milhões em crédito imobiliário. “É a empresa ajudando a pessoa com o sonho da casa própria. Isso comunica muito valor e propósito.”
Cuidando da jornada de consumo
A Allya é outra startup que criou uma solução de benefícios para ajudar na vida financeira dos funcionários das empresas. Aqui, o foco do negócio é auxiliar o RH na gestão e na comunicação de parcerias e convênios com a participação dos próprios funcionários, que têm acesso autônomo a todos os benefícios e podem indicar novos parceiros. Atualmente, são mais de 34 mil parceiros em categorias como instituições de ensino, restaurantes, academias, farmácias, turismo, cultura e lazer, delivery, serviços e lojas online.
“Começamos fazendo pesquisas com RHs e colaboradores e vimos que não havia um sistema de gestão e centralidade para tirar isso dos ombros do RH”, conta Marco Ferelli, fundador da startup, segundo quem a missão da Allya é estar na jornada de consumo das pessoas, sempre com foco em bem-estar financeiro. “Hoje 75% dos brasileiros estão endividados e vivem no limite do orçamento. O melhor jeito de fazer sobrar dinheiro é economizando na jornada de consumo.”
Após receber um aporte de R$ 7,5 milhões da Dobo em 2020, ele conta que a startup cresceu em todas as áreas e está trabalhando no ajuste do produto para ampliar a oferta de benefícios. Já conquistou clientes como Accenture, MRV, Localiza, Gol e Banco Neon e viu o time saltar de 25 para 43 pessoas na pandemia.
Há um ano e meio, a Allya também começou a atuar com pequenas empresas, como Nostrum e Darede, que têm equipes com menos de 50 pessoas. “Para uma empresa pequena, é incrível ter acesso a parcerias a que normalmente só uma grande empresa consegue ter pelo número de vidas que possui.”