Indústria brasileira é 13ª que mais avançou no 1º tri em ranking global

O Brasil melhorou de posição em um ranking elaborado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) que considera a produção do setor em 45 países. Com avanço de 5,2% no primeiro trimestre, ante igual período de 2020 e feito o ajuste sazonal, a indústria brasileira ficou na 13ª colocação, à frente de países como França, Japão, Alemanha e Estados Unidos.

No primeiro trimestre de 2020, quando a produção nacional caiu 2,5% na comparação interanual ajustada, o país ocupou o 24º lugar e, em 2019, o 38º, com recuo de 2,1% na indústria. O Iedi constrói o ranking a partir de dados dos institutos de estatísticas dos países, da OCDE e da Eurostat. A melhora da indústria doméstica, contudo, precisa ser vista com cautela. “O Brasil está em uma situação intermediária, o que é favorável. Mas precisamos observar que tem uma ajuda da base de comparação baixa e dinâmicas específicas da pandemia”, diz Rafael Cagnin, economista do instituto. Ele nota que medidas duras de restrição à mobilidade e à atividade, devido à piora da covid-19 no Brasil neste ano, retornaram mais para o fim de março, adentrando abril. “Em compensação, muitos países desenvolvidos, principalmente europeus, tinham visto uma deterioração do quadro sanitário no último trimestre do ano passado, e medidas restritivas acabaram se estendendo pelo primeiro trimestre de 2021. Tem um descasamento nos ciclos de contágio que também ajuda a explicar o melhor desempenho brasileiro.”

Cagnin lembra ainda que 2019 foi especialmente ruim para a indústria do Brasil, que sentiu não apenas a desaceleração do comércio mundial em meio às disputas entre EUA e China, como também a crise no vizinho Argentina, com reflexos no setor mesmo no início do ano passado. “Vimos os efeitos iniciais da covid-19 chegando com uma base já ruim.” À frente do Brasil no ranking há diversos países do leste europeu. Nas primeiras colocações, Cagnin destaca o desempenho da China (alta de 24,5% no primeiro trimestre de 2021, ante 2020), cuja contenção da epidemia ocorreu antes do restante do mundo e se mostrou mais eficaz, e da Irlanda (21,4%), que registrou menos casos de covid-19 por mil habitantes que o restante da Europa.

Apesar da melhora do Brasil no ranking, o economista reafirma que é importante ter em mente os desafios da indústria doméstica. Para além do problema estrutural da desindustrialização, a produção não cresceu nos últimos três meses analisados pelo IBGE (fevereiro a abril). O setor, inclusive, perdeu o patamar pré-covid (fevereiro de 2020) que havia superado no fim do ano passado. “A entrada de 2021 foi de perda de dinamismo. Na margem, a sinalização não é tão positiva, tem uma luz amarela e há pouco sinal de que o quadro vá se reverter muito à frente”, afirma. O auxílio emergencial, segundo ele, pode ajudar, mas a pandemia e a vacinação ainda não estão bem equacionadas. “Não conseguimos virar essa página.” A situação brasileira não é uma realidade isolada. Considerando a indústria de transformação, dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido, da sigla em inglês) sistematizados no estudo do Iedi mostram que a produção global cresceu 12% no primeiro trimestre de 2021, na relação interanual. Sobre o quarto trimestre de 2020, avançou 1,3%, feito o ajuste. Foi a terceira taxa positiva seguida nessa comparação, mas o resultado do último trimestre de 2020 foi quase três vezes maior.

Nas “economias industrializadas”, a alta trimestral foi de 1,6%, cerca de metade do ritmo do quarto trimestre de 2020. O crescimento foi puxado por países desenvolvidos da Ásia (3,6%); EUA (0,6%) e Europa (1,1%) também avançaram, mas com desaceleração. “A Ásia foi uma das regiões de maior sucesso no controle de surtos de covid”, diz Cagnin. A China moderou o crescimento para 1,1%. Nas demais economias emergentes e em desenvolvimento, a indústria cresceu apenas 0,7%. Foi o grupo que mais perdeu dinamismo na margem, nota o Iedi: a taxa de crescimento caiu para um oitavo do que foi no quarto trimestre de 2020. Entre os emergentes, a América Latina cresceu 0,9% na comparação trimestral. “Tem sinais de desaceleração importantes”, diz Cagnin. No geral, aponta ele, os números ajudam a lembrar que a trajetória mais sustentada da indústria ainda está atrelada às dinâmicas da pandemia.

VALOR ECONÔMICO

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