Busca por trabalho cresce e deve pressionar desemprego, diz Ipea

Com a saída de muitas pessoas do mercado em 2020, a força de trabalho ainda se encontra abaixo do patamar prépandemia, mas uma parcela já voltou a procurar uma vaga no primeiro trimestre. Esse movimento tende a se intensificar nos próximos meses, o que deve manter a taxa de desemprego em nível elevado, na avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na Carta de Conjuntura do segundo trimestre, divulgada ontem, os economistas Maria Andreia Parente Lameiras, Carlos Henrique Corseuil e Lauro Ramos observam que a alta recente no contingente de desempregados – que atingiu 15,2 milhões nos três meses terminados em março, ou 14,7% da força de trabalho – vem sendo influenciada pelo retorno de pessoas inativas ao mercado.

De janeiro a março, calculam Maria Andreia, Corseuil e Ramos, a população economicamente ativa (formada por ocupados e pessoas em busca de uma ocupação) aumentou em 567 mil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. O levantamento de abril será publicado amanhã. Apesar do avanço, os pesquisadores destacam que a força de trabalho ainda está 4,4% aquém do patamar pré-pandêmico, de 105,1 milhões, registrado no primeiro trimestre de 2020.

“Para os próximos meses, a expectativa é que esse movimento de recomposição da força de trabalho se intensifique, tendo em vista que o avanço da vacinação, combinado à retomada mais forte da atividade econômica e à adoção de um auxílio emergencial menos abrangente e de menor valor, contribuirá para o retorno ao mercado de trabalho de uma parcela da população que havia migrado para a inatividade”, apontam os economistas. Assim, avaliam eles, mesmo que a geração de vagas aumente, a alta não deve ser suficiente para reduzir a taxa de desocupação. No primeiro trimestre, o total de pessoas ocupadas subiu em apenas 17 mil. Em relação ao primeiro trimestre de 2020, houve queda de 7,1%, para 85,7 milhões. Se a força de trabalho já tivesse retomado seu ritmo de crescimento anual para níveis similares aos observados nos meses anteriores à pandemia, de cerca de 1%, a taxa de desemprego teria ficado em 19,4% no trimestre móvel de março, estimam os pesquisadores do Ipea – 4,7 pontos acima do percentual registrado.

Nos 12 meses encerrados em março, os economistas calculam que o contingente de pessoas em idade para trabalhar que estavam inativas devido ao desalento saltou de 4,8 milhões para quase 6 milhões, uma alta de 25%. Em relação ao total da população em idade ativa, a fatia de desalentados avançou de 2,8% de janeiro a março de 2020 para 3,4% no mesmo intervalo deste ano. No primeiro trimestre de 2016, 40,9% dos adultos que estavam fora da população economicamente ativa se diziam desalentados, parcela que aumentou para 43,4% em igual intervalo deste ano. Em sentido contrário, a fatia daqueles que estavam inativos por questões pessoais caiu de 34,2% para 26,3%, e a daqueles que saíram do mercado para se dedicar somente aos estudos diminuiu de 11,4% para 8,4% na mesma base de comparação.

O Ipea ressalta, ainda, que as pessoas que se declaram subocupadas – ou seja, que estão empregadas, mas gostariam e poderiam trabalhar mais – alcançaram 8,2% do total da ocupados no primeiro trimestre de 2021, um ponto acima do primeiro trimestre de 2020. A taxa combinada de desocupação e subocupação atingiu 21,7% no primeiro trimestre do ano, maior valor da série da Pnad Contínua, que começou em 2012. “Além da recomposição da força de trabalho, o nível elevado de subocupados também pode atuar como um limitador à queda da desocupação, tendo em vista que, antes de abrir uma nova vaga, há a possibilidade de estender a jornada de trabalho de indivíduos já ocupados”, afirmam Maria Andreia, Corseuil e Ramos. Segundo eles, o aumento do desemprego, da subutilização da força de trabalho e do desalento corrobora a constatação de que o mercado de trabalho brasileiro segue deteriorado.

VALOR ECONÔMICO

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