A Mondelez International, fabricante do chiclete Trident, quer começar a receber seus funcionários de volta ao escritório no meio do ano, mas com uma ressalva – eles devem estar totalmente vacinados contra a covid-19. É uma questão espinhosa para muitas empresas, pois alguns trabalhadores estão hesitantes em tomar a vacina, e a Mondelez ainda não finalizou seu plano. Ainda assim, para seu CEO, Dirk Van De Put, as vacinas são uma forma de garantir a segurança e, ao mesmo tempo, restaurar a cultura e a camaradagem do local de trabalho. “Queremos criar um ambiente em que as pessoas se sintam confortáveis e era assim que costumava ser no local de trabalho”, disse em entrevista à Bloomberg Television. “Só podemos fazer isso se todos estiverem vacinados.”
As vacinas são um grande ponto de preocupação à medida que as empresas dos EUA se preparam para trazer mais funcionários de volta a seus locais de trabalho e as cidades relaxam as restrições para combater a covid-19 – Nova York prevê reabertura total até 1º de julho. A Bolsa de Valores de Nova York começou a se abrir mais para operadores que comprovarem estar vacinados. O Goldman Sachs Group formulou um plano para que seus funcionários nos EUA voltem aos locais de trabalho no mês que vem, agora que as vacinas estão amplamente disponíveis. Alguns empregadores têm feito de tudo para que seus funcionários sejam vacinados, como oferecer incentivos ou vacinação nas instalações da empresa. Pesquisas indicam que um número significativo de empresas estuda considerar a vacinação como requisito para a volta ao local de trabalho, mas poucas assumiram publicamente essa abordagem, pelo temor de reação negativa dos funcionários, pela dificuldade de implementação e pelos riscos jurídicos que a obrigatoriedade pode acarretar.
“Acredito que muitos empregadores gostariam de fazer essa exigência, mas preferem não ser os primeiros a adotá-la”, disse Jeff Levin-Scherz, líder de saúde populacional da empresa de consultoria Willis Towers Watson. Uma pesquisa feita em março pela Willis Towers Watson descobriu que 23% das empresas dos EUA planejavam ou estudavam a possibilidade de tornar a vacina obrigatória para os funcionários retornarem aos locais de trabalho, enquanto uma em cada 10 avaliava a ideia de exigir prova de vacinação como condição para empregar uma pessoa. Ainda assim, esses porcentuais caíram em relação à pesquisa de janeiro, na qual 45% disseram que estudavam a obrigatoriedade de vacinação para a volta e 34% avaliavam tornar a vacina condição para obter um emprego. Levin-Scherz disse que as empresas têm hesitado mais sobre impor a obrigatoriedade à medida que percebem o quão polêmico e perturbador isso pode ser, seja por causa da politização em torno das vacinas, questões jurídicas ou o risco de perder trabalhadores.
Segundo uma diretriz de dezembro da Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego dos EUA, os empregadores podem exigir dos funcionários prova de vacinação contra a covid-19, com isenções para os que têm problemas médicos ou crenças religiosas cobertas por outras leis federais. John McDonald, advogado trabalhista do escritório McGuireWoods, contou que o interesse na obrigatoriedade aumentou logo após essa orientação, mas caiu desde então. Segundo ele, trabalhar com os aspectos práticos de como implementar e fazer cumprir essa regra e, ao mesmo tempo, respeitar os grupos isentos levou alguns empregadores a parar para pensar. E, em vários Legislativos estaduais, tramitam projetos de lei que visam proibir ou limitar políticas dos empregadores sobre as vacinas.
Além disso, McDonald disse que a autorização de uso emergencial para as três vacinas contra a covid-19 aplicadas nos EUA inclui a exigência de que os pacientes sejam informados de que têm a opção de recusá-las, o que aumenta a confusão em torno da obrigatoriedade. Como alternativa, as empresas tentam tornar mais fácil e atraente a vacinação para os trabalhadores. A Whirlpool planeja permitir que os funcionários que foram vacinados voltem ao local de trabalho em Michigan, onde tem sua sede, conforme as condições e regras locais permitirem. A fabricante de eletrodomésticos, que tem cerca de 27 mil funcionários nos EUA, começou a oferecer um incentivo de US$ 200 para quem se vacinar, disse o diretor financeiro, Jim Peters. “Acreditamos firmemente que a vacina nos permitirá trazer as pessoas de volta ao local de trabalho e o tornará muito mais seguro”, disse ele. “Todos os nossos executivos que podem tomá-la por faixa etária já agendaram sua vacinação e quiseram dar um exemplo.”
Algumas empresas têm oferecido a vacinação diretamente em suas instalações. A CVS Health trabalha com mais de uma dúzia de empregadores, entre eles a Delta Air Lines, para vacinar seus funcionários. A empresa de serviços de saúde aplicou mais de 30 mil doses em funcionários da Delta em postos montados num saguão do Aeroporto Internacional de Atlanta e no Delta Flight Museum. Uma pesquisa realizada em abril pela Universidade Estadual do Arizona e pela Fundação Rockefeller verificou que 65% das empresas na América do Norte planejavam oferecer incentivos para que seus funcionários se vacinassem e 87% vacinariam os trabalhadores em suas instalações. Segundo a pesquisa, 44% das empresas exigiriam que seus trabalhadores estivessem vacinados, enquanto quase um terço informou que planejava encorajar seus funcionários a tomar a vacina, mas não a tornaria obrigatória.
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