A presença de crianças pequenas, de até três anos, reduz de forma significativa a participação das mulheres no mercado de trabalho. Em lares com crianças de até três anos, o nível de ocupação das mulheres de 25 a 49 anos era de 54,6% em 2019. No caso de domicílios sem crianças nessa faixa etária, a taxa era de 67,4%. A tendência do nível de ocupação é oposta entre os homens: maior nos lares com filhos pequenos (89,2% em 2019) e menor nos demais (83,4%). A realidade pouco mudou desde 2012: naquele ano, o nível de ocupação era de 53,3% para as mulheres com filhos pequenos e de 65,4% entre as mulheres sem filhos até três anos. Os dados fazem parte do estudo “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e que mostra as desigualdades entre homens e mulheres em diferentes aspectos, como mercado de trabalho, educação, saúde e direitos humanos.
A baixa oferta de creches públicas e o maior tempo dedicado às tarefas domésticas e aos cuidados com a família colaboram para essa menor inserção da mulher no mercado de trabalho. Essa situação acaba restringindo a renda das famílias, que sentem o efeito em qualidade de vida. Apenas 35,6% das crianças de até três anos frequentavam escola ou creche em 2019. “É preciso ter políticas públicas para a oferta de creches e mais oportunidades para que as mulheres consigam se inserir no mercado de trabalho, já que elas são as mais demandadas com as tarefas domésticas e os cuidados”, diz o analista do IBGE André Simões. Em 2019, as mulheres dedicaram 21,4 horas por semana aos cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, quase o dobro de tempo que os homens (11 horas). Há uma diferença grande também entre as próprias mulheres, em função da renda. As mulheres com mais renda – do grupo das 20% com os maiores rendimentos – gastam 18,2 horas por semana com tarefas domésticas, quase seis horas a menos que aquelas que estão entre as 20% com os menores rendimentos (24,1 horas).
Outra dimensão da desigualdade entre homens e mulheres se dá na participação em cargos públicos e gerenciais: elas continuam como minoria nessas funções, embora sejam mais da metade da população brasileira. No caso de deputadas federais, por exemplo, apesar do aumento entre 2017 (10,5%) e 2020 (14,8%), o Brasil é o país da América do Sul com a menor proporção de mulheres exercendo mandato parlamentar na Câmara dos Deputados e ocupa a 142ª posição de um ranking com 190 países. As mulheres são 32,2% das candidaturas para o cargo de deputado federal, número muito próximo da cota mínima por lei (30%). Entre as candidaturas com receita superior a R$ 1 milhão, elas eram também minoria (18%). A realidade se repete na esfera municipal: as mulheres eram 16% dos vereadores em 2020. Houve aumento em relação a 2016, quando eram 13%. “Os estudos eleitorais mostram que candidaturas com mais recursos e o fato de já ser parlamentar ajudam. Acaba virando um ciclo vicioso, já que as mulheres têm uma baixa participação”, explica Luanda Botelho, responsável pelo estudo.
Além disso, há sub-representação de mulheres pretas ou pardas em cargos públicos. Embora mulheres pretas e mulheres pardas representassem, respectivamente, 9,2% e 46,2% das mulheres na população em 2019, alcançaram 5,3% e 33,8% das cadeiras nas câmaras municipais obtidas pelas mulheres nas eleições de 2020. A menor participação das mulheres também é nítida entre os cargos de chefia, tanto no setor público quanto no privado. Em 2019, 62,6% dos cargos gerenciais eram ocupados por homens e 37,4% pelas mulheres em 2019. A discrepância era ainda maior nos cargos de renda mais alta (grupo dos 20% com mais rendimento): homens o ocupam 77,7% dos cargos de liderança, e as mulheres, 22,3%. “As mulheres estão mais sub-representadas em cargos gerenciais mais bem remunerados e com potencialmente mais responsabilidades”, diz Luanda.
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