Empresários e executivos do mercado financeiro veem um cenário mais favorável para a retomada de agenda de reformas econômicas, com as eleições de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara e Rodrigo Pacheco (DEMRJ) para a do Senado. Para o setor privado, contudo, o grande desafio do governo será resolver a equação para um novo formato do auxílio emergencial, com o recrudescimento da pandemia, com o compromisso de equilíbrio fiscal.
De acordo com empresários ouvidos pelo Valor, o presidente Jair Bolsonaro saiu fortalecido dessas eleições, eliminando no curto prazo o risco de impeachment, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, ganhou mais uma sobrevida para emplacar sua agenda liberal. “Foi uma vitória muito contundente do governo, com uma margem muito acima da esperada. O desafio vai ser conciliar a agenda de reformas e disciplina fiscal com a gula fisiológica do Centrão”, diz Ricardo Lacerda, fundador e presidente do banco de investimento BR Partners.
Segundo Lacerda, o país precisa urgentemente de reformas, sobretudo a administrativa e tributária. “Entra uma gestão do Congresso alinhada com o Executivo. Mas o Centrão é Centrão: o ímpeto fisiológico sempre fala mais alto.” No mercado financeiro, a eleição de Lira e Pacheco já era dada como certa. Mas, para fontes ouvidas pela reportagem, é preciso aproveitar a janela para colocar as pautas econômicas em votação ainda no primeiro semestre, antes que a corrida eleitoral tome conta da agenda do governo. Embora o ambiente esteja mais favorável para debater a agenda liberal da equipe econômica, ainda há certo ceticismo por parte do mercado e da indústria para aprovação de reformas mais amplas e avanço das privatizações. “Não duvido que os temas serão colocados em pauta. Mas será que avançam? Guedes tem perdido força”, diz um executivo, que preferiu não se identificar.
Em seu relatório, a XP Investimentos destacou que Lira irá buscar o pagamento de todas as faturas empenhadas pelo governo para si mesmo e para seus apoiadores. “Para transformar a vitória em governabilidade, será preciso que Bolsonaro cumpra os compromissos firmados com os deputados que entregaram os votos na candidatura de Lira – foram prometidos bilhões em emendas e desde cargos em agências em municípios do interior até espaços no primeiro escalão do governo”, diz. Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil e coordenador da Coalizão Indústria, é mais otimista. Para ele, com a saída de Rodrigo Maia (DEM-RJ), há clima para aprovar as principais reformas estruturantes. Apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro, Lopes vê o Congresso e Senado mais alinhados aos pleitos da indústria e acredita na aprovação da reforma tributária.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também defende a simplificação tributária e vê Congresso e Senado mais comprometidos com a vacinação. “Tanto Pacheco como Lira frisaram a importância da vacina. E isso é um sinal positivo para o mercado. Temos de dar previsibilidade”, diz Rafael Cervone Netto, vice-presidente da entidade. A velocidade do programa de imunização será importante para a retomada da economia, diz Jorge Nascimento, presidente da Eletros, que reúne a indústria eletroeletrônica e de eletrodomésticos. Nascimento defende a manutenção do auxílio emergencial em um valor abaixo dos R$ 600, mas diz que tem de ter um compromisso do governo com o teto de gastos.
VALOR ECONÔMICO