Fim do auxílio e repique da pandemia podem atrasar retomada de serviços

O apetite dos consumidores para compras em restaurantes e supermercados seguiu em recuperação no mês de novembro, mas ainda sem apagar os prejuízos herdados do choque da covid-19, mostram dois índices calculados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a bandeira de benefícios Alelo. À frente, os sinais para ambos os segmentos são ambíguos: a expectativa é que a retomada, ainda que lenta, continue nos próximos meses, mas o repique da pandemia e o fim do auxílio emergencial podem inibir a volta do consumo das famílias.

O Índice de Consumo em Restaurantes (ICR) mostrou em novembro uma queda de 42,7% nas transações em relação ao mesmo mês de 2019, menos negativo quo que o mês anterior, quando caiu 44,3%, e bem abaixo do ápice da crise em abril, quando registrou baixa de mais de 60%, também na comparação anual.

O valor total gasto em restaurantes segue numa retomada mais rápida: registrou baixa de 23,1% em novembro, de um recuo de 48,5% em abril, um sinal de que parte do movimento nesses estabelecimentos foi transferido para as entregas em domicílio. Vale a ressalva, no entanto, que o número de estabelecimentos funcionando está muito próximo ao patamar de novembro de 2019, e é apenas 1,7% menor. “Se de um lado tem uma tendência de as pessoas saírem mais de casa no fim do ano, por outro o repique da pandemia acaba diminuindo a propensão de ir a restaurantes, então é difícil prever como serão os resultados em dezembro”, afirma Bruno Oliva, pesquisador da Fipe.

Na reta final de 2020, o governo paulista decidiu apertar momentaneamente os horários de funcionamento de bares e restaurantes, assim como o período para venda de bebida alcoólica. São Paulo é o local com maior peso dentro do indicador.

Em trajetória mais benigna, o Índice de Consumo em Supermercados (ICS) caiu 13,9% em novembro, também em recuperação ante outubro (-14,5%) e acima do pior momento, quando recuou 18,6%. Os dados nacionais ainda apontam um cenário mais positivo no valor total gasto em supermercados, que está 4,1% acima de novembro de 2019. Ou seja, embora façam menos idas, os consumidores estão gastando mais nos estabelecimentos. A quantidade de supermercados que realizaram transações também é quase a mesma do ano passado (-07% na análise anual). “Claro que as pessoas não vão do dia para a noite aumentar a ida ao supermercados, mas já observamos essa melhora gradativa. O que não sabemos é se essa melhora marginal vai persistir em dezembro”, comenta Oliva. Para 2021, o pesquisador prevê uma continuidade da volta gradual do consumo nos dois setores, especialmente nos dois primeiros trimestres do ano.

“Mesmo que ainda demore, a vacina certamente vai dar um pouco mais de segurança para que as pessoas saiam de casa. Mas a economia ainda vai demorar a reagir, principalmente se pensarmos que um [eventual novo] auxílio emergencial e outras transferências vão ficar prejudicados neste início do ano por conta dos problemas fiscais”, diz Oliva.

VALOR ECONÔMICO

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