Por Luiz Guilherme Gerbelli
Para analistas, alta do PIB não deve passar de 2% se a economia brasileira resolver apenas a questão fiscal e não elevar a produtividade
As projeções de crescimento econômico para o Brasil são desanimadoras no médio prazo. Hoje, a previsão de uma parte considerável dos analistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) avance cerca de 2% nos próximos anos. Se os números se confirmarem, a economia brasileira enfrentará um cenário que poderá lembrar o do México, um país que tem dificuldade para superar uma baixa taxa de crescimento, embora tenha contas públicas em ordem e não colha problemas no setor externo.
A trajetória de “mexicanização” do crescimento do Brasil só virá, claro, se o próximo governo não endereçar a questão fiscal. A definição sobre o que ocupará o lugar do teto de gastos é a principal dúvida entre os economistas. Sem uma clareza em relação ao rumo das contas públicas, a economia brasileira pode enfrentar um cenário de aumento de incerteza, piorando a expectativa de desempenho do PIB e, portanto, longe de qualquer comparação com o México.
“O México é um país que está com o fiscal bem controlado, não tem déficit nas contas externas, e a relação entre a dívida e o PIB é muito baixa, está em 60% do PIB. Talvez seja até aonde o Brasil queira chegar”, afirma Fabio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset. “O López Obrador (Andrés Manuel López Obrador, presidente do México) tem atitudes de um presidente de esquerda, tem políticas setoriais, mas ele não ameaçou a estabilidade macroeconômica.”
As projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) – divulgadas neste mês – deixam evidentes como as duas economias devem ter um desempenho parecido nos próximos anos. Em 2023, o crescimento dos países deve ficar em 1% para, em seguida, subir a 2% até 2027.
“Um detalhe é que o crescimento do México tem menos volatilidade. Olha o que aconteceu com o PIB do Brasil entre 2015 e 2019: a média foi negativa. Nesse mesmo período, a média de crescimento do México não foi brilhante, mas ficou em torno de 2%”, afirma Akira. “E volatilidade no crescimento faz diferença para o bem-estar social e no planejamento de longo prazo.”
Baixa produtividade na berlinda
Assim como o Brasil, o México também tem problemas de baixa produtividade, o que impede um desempenho econômico mais robusto e indica que há uma agenda parecida para os dois países. São necessárias reformas estruturais para que as duas economias acelerem o crescimento do PIB.
“Há um México integrado com as cadeias de suprimentos internacionais nos Estados Unidos e na América do Norte e, infelizmente, tem um México tradicional, com baixos níveis de educação, violento, atrasado do ponto de vista social, o que faz com que a produtividade seja zero há 30 anos”, diz Alberto Ramos, diretor do grupo de estudos macroeconômicos para América Latina do Goldman Sachs.
“Tal como o Brasil, o caminho das pedras (do México) para encontrar um crescimento mais elevado passa por reformas estruturais, reformas que alavanquem investimentos e um marco regulatório que atraia o investidor em vez de assustá-lo”, acrescenta.
[Presidido por López Obrador, México precisa melhorar a produtividade para crescer mais]
Presidido por López Obrador, México precisa melhorar a produtividade para crescer mais Foto: EFE/Presidencia de México
A agenda de reformas
Hoje, os economistas dizem que o PIB potencial do Brasil – ou seja, aquilo que a economia brasileira pode crescer sem gerar desequilíbrios, como inflação e desequilíbrios no setor externo – é de 2%. Superar essa faixa vai exigir que o País imponha uma ampla gama de medidas para melhorar a produtividade.
As reformas se tornaram ainda mais importantes, porque o Brasil não conta mais com o chamado bônus demográfico. Nos anos 2000, o País conseguiu acelerar a sua taxa de crescimento com a incorporação de milhões de pessoas ao mercado de trabalho.
“Nos últimos anos, o Brasil até colheu avanços na sua agenda de reformas, com a aprovação das mudanças nas regras previdenciárias e a criação do marco do saneamento. Mas também viu retrocessos. O que tem mais chamado a atenção é o retrocesso democrático”, afirma Braulio Borges, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas. “Esse crescimento de 2% ao ano é o que cabe nesse contexto em que a gente avançou muito em alguns aspectos, mas retrocedeu em outros.”
Entre as reformas importantes apontadas pelos analistas, estão a tributária, a administrativa, para modernizar o serviço público, o avanço na integração do Brasil com a economia mundial, além da melhora da qualidade do ensino. “Se essas reformas não forem feitas, nós estamos condenados a continuar com esse pibinho, com esse crescimento medíocre”, afirma Ramos.
Consequências do baixo crescimento
Na prática, um país que cresce tão pouco não consegue fazer com que sua população enriqueça. Neste ano, o FMI estima que o PIB per capita do Brasil, medido em Paridade do Poder de Compra, portanto, desconsiderando o efeito do câmbio, será de US$ 17,7 mil, abaixo do observado no México (US$ 22,4 mil) e em outros países latino-americanos, como Argentina (US$ 26 mil), Chile (US$ 28,9 mil) e Colômbia (US$ 18,7 mil). Nos Estados Unidos, a renda média da população vai encerrar o ano em US$ 75,2 mil.
O PIB per capita é um importante termômetro de riqueza dos países. Ele cresce nos momentos em que a atividade econômica supera o ritmo de avanço da população.
“Um crescimento de 2% ao ano leva a uma alta do PIB per capita de 1% ao ano. É muito pouco. É praticamente o que se espera de crescimento do PIB per capita dos Estados Unidos nos próximos cinco, dez anos”, afirma Braulio. “Ou seja, o Brasil não tira a diferença na comparação com as economias mais ricas do mundo. E isso é muito ruim, porque a gente espera que os países mais pobres, com níveis de renda abaixo dos Estados Unidos, dos países nórdicos, cresçam mais, para poder tirar essa diferença.”
No limite, um cenário de baixo crescimento longo, diz Braulio, pode alimentar um círculo vicioso de instabilidade política. “As pessoas começam a se questionar o que faz com que os ganhos de renda e bem-estar sejam tão lentos. Isso pode criar mais retrocesso democrático. É preocupante esse cenário.”
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