“Na luta contra o burnout, trabalhamos muito mais”, diz psicóloga de Harvard

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Para Susan David, autora de “Agilidade Emocional”, não há como um negócio ser sustentável hoje se não reconhecer como as pessoas se sentem Por Stela Campos — De Madri Quando um líder fala sobre saúde mental e resiliência, essencialmente o que está fazendo é exigir que as pessoas continuem se adaptando a sistemas e processos insustentáveis, pedindo às pessoas que trabalhem mais e mais. Um caminho mais indicado seria ajudá-las a desenvolver habilidades emocionais, que até antes da pandemia importavam pouco para as organizações. Para os profissionais, por sua vez, que sofrem hoje com burnout, recuperar a saúde mental não significa buscar a luz no fim do túnel, mas aprender a enxergar melhor no escuro. “Você pode se encostar na parede lateral do túnel e descansar. Não há problema em se dar um tempo, em estender a mão e ver quem mais está no túnel. Não há problema em pedir ajuda”. Essas recomendações são de Susan David, PhD, psicóloga e professora na Harvard Medical School, autora do best-seller “Agilidade Emocional” (editora Cultrix), traduzido para 30 idiomas. Com o livro, de 2016, a sul-africana ganhou o prêmio 50 Thinkers, como uma das mais inovadoras e influentes pensadoras sobre gestão no mundo. Ela foi palestrante na conferência “EnlighTED”, realizada pela Universidade IE e grupo Telefônica em Madri na semana passada. Após o evento, David concedeu entrevista exclusiva ao Valor. A seguir os principais trechos: Valor: Você acha que temos mais ferramentas depois da pandemia para lidar com nossas emoções? Susan David: Sim. As habilidades emocionais sempre foram críticas para todos nós. Acho que uma das grandes tragédias de nossas vidas foi que elas foram historicamente deixadas de lado, não foram ensinadas nas escolas e em muitas organizações. Eram consideradas “soft skills”. Mas qualquer pessoa que já passou um dia no trabalho lutando por sua carreira ou saúde mental sabe que essas habilidades não são “soft”, são habilidades “hard” e nos ajudam a lidar com as emoções humanas normais, incluindo as difíceis que vêm com a vida, com o fracasso e a doença. Acho que a pandemia, de várias maneiras, realçou o quão despreparados estávamos como seres humanos. E digo despreparados porque muitas vezes as pessoas argumentam que ninguém tinha controle diante da pandemia. Mas a verdade é que nunca estamos no controle. Somos saudáveis, e então não somos mais. Amamos e depois perdemos. Estamos em carreiras que estão indo bem, nossa empresa muda e de repente as coisas não vão bem. Vivemos em um mundo em que existe a nossa fragilidade e a fragilidade da vida. Socialmente durante a pandemia foi notável para mim ver como, mesmo na sombra da doença e da morte, na mídia social, em todos os lugares, você via as pessoas dizerem coisas como, procure um raio de luz ou aprenda a assar pão. Basicamente nos pediam para fingir que estávamos felizes em vez de olhar para a realidade. Acho que muitas das narrativas que temos hoje são falsas narrativas de controle, de apenas ser positivo e despreparado. Quando saímos da pandemia, uma em cada duas pessoas diz que está passando por um burnout, 75% das pessoas dizem que seu bem-estar diminuiu. Vimos as taxas de depressão e ansiedade aumentarem exponencialmente. Acho que a pandemia realmente mostra que precisamos desenvolver essas habilidades humanas de uma maneira mais estratégica, sistemática e escalável. “Eles são calmos, têm um alto nível de inteligência emocional e não têm a expectativa de crescer rápido”, diz recrutador Valor: Muitas pessoas ficaram sozinhas pela primeira vez. Como não perder o que aprendemos dessas experiências? David: Muitas pessoas descreveram esse período como muito difícil. E mesmo nessa dificuldade, muitas se reconectaram com partes de si mesmas que haviam perdido com as ocupações da vida. Elas se reconectaram estando na natureza, fazendo exercícios ou apenas por estarem com crianças e não estarem tanto no piloto automático. Eu acho que uma das maneiras de manter isso é intencionalmente pensar sobre a vida. O que você não quer perder? O que você aprendeu sobre suas necessidades? O que você aprendeu sobre seus valores? O que você aprendeu sobre como deseja seguir em frente na vida? São perguntas que moldam os relacionamentos das pessoas e suas escolhas de carreira. [Na luta contra o burnout, trabalhamos muito mais e acabamos ineficientes, defende Susan David — Foto: Divulgação] Na luta contra o burnout, trabalhamos muito mais e acabamos ineficientes, defende Susan David — Foto: Divulgação Valor: Como aplicar isso no dia a dia profissional? David: Pela primeira vez na história da humanidade, estamos tendo conversas reais sobre habilidades que antes eram vistas como desnecessárias. Habilidades como empatia e compaixão. Uma das coisas mais extraordinárias que aconteceu na pandemia é que, do quarto à sala de reuniões, essas conversas agora estão acontecendo e isso é notável. Não há negócio agora que seja capaz de seguir em frente sem que reconheça como as pessoas se sentem. Por tantos anos, as organizações abrigaram líderes ruins e diziam coisas como, bem, esta pessoa produz resultados, embora todos em sua equipe estivessem infelizes. As organizações não podem mais esconder essas pessoas porque há impactos no bem-estar, engajamento, cultura e liderança. Ignorar afeta a saúde mental das equipes, se elas ficam ou vão e tantos aspectos da capacidade de a organização ser verdadeiramente sustentável. Isso nos forçou a dizer como queremos trabalhar. A maneira como trabalhamos nos últimos cem anos foi no piloto automático. Esta é uma oportunidade para ressuscitarmos o mundo do trabalho para os nossos filhos. Valor: O movimento chamado de a grande renúncia, em que muitos profissionais, principalmente jovens, estão deixando os empregos e repensando sua relação com o trabalho pode ser um tipo de “legado positivo” da pandemia? David: Acho às vezes que é menos uma grande renúncia e mais uma grande sabedoria. O que quero dizer com isso é: por que as pessoas estão se afastando? Por que as pessoas estão saindo? Por que as pessoas estão avançando? Porque elas querem fazer as coisas de uma maneira diferente, que corresponda ao tipo de vida que desejam viver. Mesmo quando uma organização está lutando para se manter financeiramente, ela agora precisa reconhecer que a

81% dos profissionais são a favor da jornada de 4 dias, mas apenas 4,9% das empresas apoiam, diz pesquisa

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Somente 6% dos entrevistados acham que a modalidade não funciona no país; 25% das empresas se posicionam contra a semana útil reduzida. Por Marta Cavallini, g1 Pesquisa do portal de vagas Empregos.com.br mostra que 81% dos profissionais entrevistados são a favor de trabalhar quatro dias por semana, no chamado esquema 4 x 3, enquanto 13% ainda têm dúvidas sobre o sistema – e somente 6% acham que a modalidade não funciona no país. Já as empresas parecem resistir à nova tendência. Apenas 4,9% das companhias que participaram da pesquisa são a favor da jornada reduzida. Outros 25% se opõem e 71,1% não têm um posicionamento definido sobre o tema. Foram ouvidas 251 empresas e 2.552 profissionais cadastrados na base do portal Empregos.com.br entre os dias 1 e 10 de outubro. Segundo os dados da pesquisa, 76% dos colaboradores trabalham presencialmente, 5,3% no formato híbrido e 4,6% em home office. Já 82,5% exercem a jornada de trabalho de 40 horas semanais previstas na CLT, enquanto 15,6% possuem políticas de horários flexíveis e 1,9% realizam o “short-friday”, benefício que consiste em oferecer aos funcionários a possibilidade de sair mais cedo às sextas-feiras. “O isolamento social estimulou a criação de diferentes formatos de trabalho. Todos podem ser bastante eficientes, a depender da cultura da empresa, do histórico da equipe e do tipo de trabalho a ser executado. São muitas as variáveis que influenciam no resultado final. O importante é encontrar o formato que melhor se adapta tanto para a empresa quanto para o colaborador”, afirma Tabata Silva, da Empregos.com.br. Quando ‘pega’ no Brasil? A semana de quatro dias, adotada por algumas empresas em países ao redor do mundo, tem alguns entraves para poder ser implantada no Brasil, apontam especialistas em mercado de trabalho. Para especialistas, a legislação trabalhista e a questão da gestão e da produtividade do trabalhador brasileiro são fatores que pesam para que a semana de trabalho possa ser encurtada. Para os especialistas, a questão da semana de quatro dias precisa ser mais discutida, e as empresas devem provar que isso funciona antes de virar uma tendência no mercado de trabalho. Para isso, deveria haver uma quebra de paradigma, medindo o desempenho do profissional pelo resultado e não pelo número de horas trabalhadas. Mas esse processo pode estar sendo acelerado pelo home office ou trabalho híbrido, tendências que foram consolidadas com a pandemia. Ainda segundo especialistas, o Brasil deverá passar por reduções da jornada diária antes de ser considerada uma queda na jornada semanal. Do ponto de vista trabalhista, a regra geral é que a jornada máxima seja de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Mas isso não impede que as empresas possam reduzir a jornada de trabalho, já que a proibição está ligada ao excesso de horas trabalhadas. Porém, se envolver redução de salário, é preciso negociação com os sindicatos. Se não houver redução, a empresa é livre para reduzir a jornada de trabalho – na prática, o salário-hora do empregado passaria a ser maior. Saúde mental Ainda de acordo com a pesquisa, das 251 empresas pesquisadas, 34,3% têm iniciativas para informar e prevenir transtornos mentais no ambiente de trabalho, e metade das companhias consultadas possuem canais para ouvir os colaboradores. Um quarto das empresas afastou de um a cinco funcionários por adoecimento mental nos últimos 12 meses. A ansiedade é apontada como o fator que mais impacta a força de trabalho (41%), seguida pelo estresse (31,9%), depressão ou síndrome do pânico (26,7%) e burnout (9,2%). “É fundamental que as empresas comecem a olhar e escutar quais são as dificuldades dos funcionários, pois a comunicação é a melhor ferramenta para auxiliar os colaboradores, só assim podemos assegurar um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo daqui para frente.” finaliza a especialista. https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2022/11/10/81percent-dos-profissionais-sao-a-favor-da-jornada-de-4-dias-mas-apenas-49percent-das-empresas-apoiam-diz-pesquisa.ghtml

TRT-SP julgará penhora de salário em recurso repetitivo

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Até a decisão, todos os processos sobre o assunto devem ficar suspensos Por Adriana Aguiar — De São Paulo O Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (TRT-SP), o maior do país, vai definir, por meio de recurso repetitivo, a possibilidade de penhora de parte do salário, aposentadoria ou outras fontes de renda para o pagamento de dívidas trabalhistas. Até a decisão, todos os processos sobre o assunto devem ficar suspensos. Na área cível, essa possibilidade de penhora de um percentual do salário ou aposentadoria é admitida pelos tribunais, com base no parágrafo 2º do artigo 833 do Código de Processo Civil (CPC). O dispositivo limita a penhora a 50% dos recebimentos – mas, em geral, as decisões aplicam até 30%. Agora, os desembargadores devem decidir, por meio de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas (IRDR), se essa previsão pode ser aplicada também na Justiça do Trabalho. Será respondida a seguinte questão: “É possível, à luz do disposto no artigo 833, parágrafo 2º, do novo Código de Processo Civil (NCPC) a penhora, ainda que limitada a determinado percentual, sobre salários, proventos de aposentadoria e outras fontes de renda do devedor previstas no inciso IV, daquele mesmo preceito legal, para fins de satisfação do crédito trabalhista?” O acórdão de admissão do IRDR foi publicado no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho (DEJT) no dia 18. A relatoria é do desembargador Paulo Eduardo Vieira de Oliveira (processo nº 1002917-27.2022.5.02.0000). No caso, o devedor entrou com o pedido de uniformização com a alegação de que há diversas decisões do TRT-SP “que ora admitem, ora não a referida penhora, acarretando insegurança jurídica sobre a questão”. Para ele, a controvérsia “lança os jurisdicionados à sorte de verem seus destinos decididos de acordo com a interpretação pessoal dos julgadores”. A parte ainda destaca que a discussão tem potencial de multiplicação e perspectiva de perpetuação, “pois são inúmeras as execuções que, pelos mais diversos motivos, atingem os sócios das reclamadas, cuja subsistência, em regra, atualmente provem apenas de uma daquelas fontes de renda”. Ele alega, por fim, que deve ser referendada a corrente que impossibilita a penhora sobre salários, proventos de aposentadorias, pensões previdenciárias, ainda que em percentual reduzido, por ofender o princípio da proteção ao salário previsto no artigo 7º, inciso X, da Constituição e a diretriz sedimentada na Orientação Jurisprudencial (OJ) 153, da Subseção II Especializada em Dissídios Individuais (SDI-2) do Tribunal Superior do Trabalho (TST). A OJ 153 diz que “ofende direito líquido e certo decisão que determina o bloqueio de numerário existente em conta salário, para satisfação de crédito trabalhista, ainda que seja limitado a determinado percentual dos valores recebidos ou a valor revertido para fundo de aplicação ou poupança”. Em seu voto, o relator do IRDR, desembargador Paulo Eduardo Vieira de Oliveira, ressalta que, após pesquisa no Painel de Consulta ao Banco Nacional de Demandas Repetitivas e Precedentes Obrigatórios disponível no site do Conselho Nacional de Justiça, verificou que só os TRTs de Goiás e Espírito Santo têm recursos afetados sobre o tema (IRDRs nº 0010066-47.2022.5.18.0000 e nº 0000212-90.2021.5.17.0000, respectivamente). Ainda destaca que existem reiterados julgados, que demonstram o dissenso na jurisprudência do TRT paulista. Também considera, em seu voto, que no TST e no Supremo Tribunal Federal (STF) não há incidente instaurado sobre o tema. A advogada Fabíola Marques, do Abud Marques Sociedade de Advogadas, lembra que o CPC antigo, de 1973, vedava a penhora de salários na esfera trabalhista e que a OJ 153, do TST, foi baseada nesse entendimento. “Hoje nós temos uma legislação que autoriza essa penhora, desde que limitada a 50%. O TST vem entendendo, depois de 2015, que é possível quando se trata de relação de trabalho”, diz. Para Fabíola, essa possibilidade deve ser examinada caso a caso. “Se por um lado é possível penhora de salário e aposentadoria do devedor, por outro deve ser garantida a sua subsistência, a sua dignidade”, afirma. A discussão é bem controversa, diz a advogada Silvia Fidalgo Lira, sócia do Ferraz de Camargo e Matsunaga Advogados. De acordo com ela, ainda que do ponto de vista principiológico de justiça seja razoável haver a penhora de parte desses vencimentos, o CPC, quando fala nessa possibilidade, é claro ao tratar de alimentos – no caso pensão alimentícia – na área de família. “Não caberia ao Judiciário estender essa aplicação. Por mais justa que fosse, dependeria de alteração na legislação”, afirma a advogada. Ela lembra que essas penhoras recaem sobre sócios e administradores, que teriam salário ou aposentadoria comprometidos para pagar uma dívida da empresa. https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2022/11/25/trt-sp-julgara-penhora-de-salario-em-recurso-repetitivo.ghtml

O novo governo PT e os sindicatos

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É preciso saber se o novo governo quer mudar pontos da reforma trabalhista para melhorar o mercado de trabalho ou aparelhar os sindicatos Por Celso Ming O PT e o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva quer mudar muita coisa nas leis trabalhistas, mas não tem propostas claras sobre o que pôr no lugar. Enfrenta forte enfraquecimento dos sindicatos e não é apenas – nem principalmente – pelo fim do imposto sindical decretado pela Reforma Trabalhista de 2017, decidida no período Temer, que eliminou sua principal fonte de custeio. Sindicatos fortes com receitas firmes foram importante alavanca da militância e de aparelhamento da máquina estatal do PT. A estrutura sindical forneceu aos governos Lula e Dilma recursos para mobilização e vasta malha de propaganda partidária, realizada por grupos de convencimento, com apoio em comícios, utilização de caminhões de som e até mesmo de transporte de massas e sua alimentação. Daí por que o revigoramento da estrutura sindical passou a ser propósito estratégico do novo governo. Reforma trabalhista criou situação favorável para os empregos emergirem, diz José Pastore Economista avalia que reforma também teve uma contribuição positiva ao reduzir os conflitos envolvendo empregados e empregadores O principal fator de esvaziamento dos sindicatos foi a enorme transformação do trabalho. Os aplicativos e novas plataformas digitais, o teletrabalho, o home office, o trabalho autônomo, a terceirização – e tudo isso junto – sabotaram as atuações no chão de fábrica, no chão de loja, no chão de agência bancária, no chão dos escritórios. A consequência foi a descentralização da atividade sindical e a dificuldade de novas mobilizações. É verdade que o PT se propõe a lutar pela proteção social e previdenciária das novas massas proletárias que batalham pela vida pendurados em aplicativos e na gig economy (bicos e execução de tarefas temporárias). No dia 11 de novembro, Lula lamentou: “Esses trabalhadores parecem microempreendedores, mas trabalham como escravos”. Propõe-se, assim, a garantir a formalização do emprego e proteção social desse novo contingente de trabalhadores que operam em condições precárias e a criar um jeito de uni-los por meio de sindicatos. Daí a enorme importância de assegurar novo esquema de financiamento das operações sindicais. Depois de vacilar em propor a volta do imposto sindical (um dia de salário por ano, a ser descontado da folha de pagamentos da empresa), o PT parece ter optado por uma vasta negociação coletiva entre trabalhadores, empregadores e governo, com o objetivo de criar uma contribuição sindical com cobrança mais ou menos automática que abranja sindicalizados e não sindicalizados. Falta saber o que o PT pretende. A dificuldade maior é política. Como a reforma trabalhista do governo Temer foi relativamente bem-sucedida, porque derrubou o desemprego para a casa dos 8%, parece difícil arrancar de um Congresso conservador e patronal leis que, em última análise, reforçariam a militância do PT. https://www.estadao.com.br/economia/o-novo-governo-pt-e-os-sindicatos/