Teto de gastos: o que dizem os pré-candidatos à Presidência

Regra limita gastos e investimentos públicos até 2036. G1 levanta as declarações dos presidenciáveis sobre temas relevantes aos brasileiros. Por Arthur Stabile, g1 Com PEC Eleitoral, teto de gastos sofre 5ª alteração no governo Bolsonaro A PEC Kamikaze, que injeta bilhões em benefícios sociais a meses das eleições presidenciais, impacta no cumprimento do teto de gastos. Criada em 2016 no governo de Michel Temer (MDB), a regra congela os gastos e investimentos públicos por 20 anos. Apenas um entre os pré-candidatos ao Palácio do Planalto defende a manutenção da regra. Com a PEC, o estouro do teto afeta a economia nacional ao não seguir as normas fiscais existentes. Especialistas veem no não cumprimento um motivo para afastar investidores internacionais do país. Antes da PEC, o governo de Jair Bolsonaro (PL) já havia alterado o teto em quatro oportunidades – entre elas quando parcelou o pagamento dos precatórios, também por meio de PEC. O g1 reuniu as declarações dos presidenciáveis sobre o assunto. A última pesquisa Datafolha define a ordem dos candidatos. Leia o que os presidenciáveis declararam a respeito do caso: LULA (PT) Pré-candidato do PT defende revogar o teto de gastos para injetar recursos na economia nacional. Uma das áreas citadas pelo petista é a educação. Segundo Lula, investir no setor trará retorno econômico a médio e longo prazo, sendo mais efetivo para a saúde econômica do país do que o teto. “Não vai ter teto de gastos no meu governo. Vamos investir em educação porque é o que dá mais retorno ao país. O que vai resolver a relação dívida/PIB é o crescimento do PIB. Nós deixamos as maiores reservas internacionais da história, o que está salvando esse país agora”, disse Lula, em 11 de maio, em seu Twitter. Jair Bolsonaro (PL) O governo de Jair Bolsonaro (PL) derrubou o teto de gastos com ao menos cinco alterações desde 2019. Foram gastos acima do teto, principal regra fiscal do país, com R$ 213 bilhões acima do previsto. A primeira foi com o orçamento de guerra, por ocasião da onda de Covid-19. A última alteração é a PEC Kamikaze, que concede uma série de benefícios sociais a três meses das eleições e tem prazo para terminar: 31 de dezembro. “Algumas coisas você pode mexer no teto de gastos, como já [houve] propostas da própria equipe do Paulo Guedes. Mas a gente vai deixar para discutir isso para depois das eleições”, disse Bolsonaro, em 17 de julho. Ciro Gomes (PDT) Ciro Gomes pretende acabar com o teto de gastos no primeiro semestre de seu governo. Para ele, a medida é mais prejudicial do que benéfica para a economia, pois atinge a população mais pobre. “Este tal teto de gastos é a maior fraude já cometida contra o povo brasileiro. Ele só controla os investimentos que beneficiam o povo. E deixa totalmente livre a despesa financeira. Isso é um roubo, uma vergonha, uma insensatez!”, disse, em 19 janeiro de 2022, em evento de oficialização da sua pré-candidatura. André Janones (Avante) “No Brasil tentam construir o ‘desenvolvimento’ pelo teto, antes de levantarem as paredes. Discute-se tudo com base em ‘funciona em países desenvolvidos’ e esquecem que agora, nesse exato momento, tem gente morrendo de frio e fome, em larga escala em cada canto da nação”, discursou em 19/mai, na Câmara dos Deputados. Ao g1, em 18 de julho, ele retomou o tema. “Nossa proposta é acabar com o teto de gastos e vamos mostrar nos próximos dias os meios de fazer isso, por meio do Plano de Emergência que apresentaremos ao Brasil”, disse. Simone Tebet (MDB) Filiada ao partido responsável por criar o teto, Tebet é a única pré-candidata a defender a manutenção da regra. A emedebista considera haver uma responsabilidade fiscal, associada com a social, em não aumentar os gastos do governo. Ela define o teto como uma âncora para estabilizar as contas públicas. “A responsabilidade fiscal ela existe para alcançar um fim que é a responsabilidade social. Você não se faz social – educação, saúde, segurança pública, habitação, casa para as pessoas – se você não tiver dinheiro e se você não for econômico e cuidar de forma eficiente e transparente de um dinheiro que não é seu, é das pessoas […] Por que eu defendo o teto de gastos ainda que com uma nova roupagem, ainda com regras flexíveis para não dar um shutdown e você parar a máquina pública? Porque foi a única âncora que ficou”, 20/jun, ao g1. https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/07/22/teto-de-gastos-o-que-dizem-os-pre-candidatos-a-presidencia.ghtml
Analistas do mercado reduzem estimativa de inflação em 2022 para 7,30% e veem alta maior do PIB

Esta é a quarta queda semanal seguida na estimativa divulgada pelo Banco Central. Previsão de alta do PIB passou de 1,75% para 1,93%. Por Alexandro Martello, g1 — Brasília 25/07/2022 08h27 Atualizado há 35 minutos Os economistas do mercado financeiro, ouvidos pelo relatório Focus, do Banco Central, reduziram a estimativa de inflação para 2022 de 7,54% para 7,30%. Esta foi a quarta queda seguida do indicador. Os dados foram colhidos na semana passada, em pesquisa com mais de 100 instituições financeiras, e divulgados nesta segunda-feira (25). A redução da estimativa de inflação coincide com o corte de impostos cobrados sobre itens essenciais, como combustíveis e energia elétrica. Além de serem produtos que, por si só, impactam a inflação, também afetam indiretamente os preços de outros itens. A diminuição de impostos foi uma estratégia do governo e do Congresso para tentar segurar os preços neste ano eleitoral. No entanto, apesar de reduzirem a inflação em 2022, essas medidas pressionam os preços para 2023 . Meta da inflação Em 2022, a meta central de inflação é de 3,50% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar entre 2% e 5%. Mesmo com a queda na última semana, a previsão do mercado segue acima do teto da meta. Para o próximo ano, a meta central de inflação foi fixada em 3,25% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Mas, de acordo com o boletim Focus, a previsão para 2023 passou de 5,20% para 5,30%. A meta da inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para atingir o alvo, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia, a Selic. Produto Interno Bruto O mercado financeiro também passou a prever uma alta maior do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, mas reduziu levemente a expectativa de crescimento para o próximo ano. A previsão dos economistas dos bancos é que a economia brasileira cresça 1,93% em 2022, contra 1,75% previsto anteriormente. Já para 2023, a previsão de alta alta passou de 0,50% para 0,49%. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia. Taxa de juros O mercado financeiro manteve a expectativa para a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano no fim de 2022. Atualmente, a taxa Selic está em 13,25% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, responsável por definir a taxa, sinalizou uma nova alta em agosto, para 13,5% ou 13,75%. O Copom também vem sinalizando de que os juros vão se manter altos por um período significativo. Já para o fechamento de 2023, a expectativa do mercado para a taxa Selic permaneceu estável em 10,75% ao ano. Deste modo, o mercado financeiro segue estimando queda dos juros no ano que vem. Outras estimativas Dólar: a projeção para a taxa de câmbio para o fim de 2022 subiu de R$ 5,13 para R$ 5,20. Para 2023, avançou de R$ 5,10 para R$ 5,20.Balança comercial: para o saldo da balança comercial (resultado do total de exportações menos as importações), a projeção subiu de US$ 68,18 bilhões para US$ 68,50 bilhões de resultado positivo em 2022. Para o ano que vem, a estimativa dos especialistas do mercado ficou estável em US$ 60 bilhões de superávit.Investimento estrangeiro: a previsão do relatório para a entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil neste ano subiu de US$ 57,20 bilhões para US$ 57,85 bilhões. Para 2023, a estimativa subiu de US$ 60,50 bilhões para US$ 60,75 bilhões de ingresso. https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/07/25/analistas-do-mercado-reduzem-estimativa-de-inflacao-em-2022-para-730percent-e-veem-alta-maior-do-pib.ghtml
O país que queremos: qual a política ideal para o salário mínimo?

Brasil não tem ampliado valor real do piso, que tem como principais barreiras a indexação de aposentadorias, pensões e benefícios previdenciários e seu consequente impacto fiscal Por Cássia Almeida — Rio Desde 2020, não há uma política de valorização do salário mínimo. Ele vem sendo corrigido pela inflação do ano anterior. A indexação das aposentadorias, pensões e benefícios é uma barreira para dar ganhos reais ao piso. Até 2019, o salário mínimo era reajustado por uma fórmula que combinava inflação do ano anterior e a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Essa regra valeu até aquele ano, e desde então, a correção tem sido feita apenas pela inflação. O economista Fabio Giambiagi, em sua coluna no GLOBO na última sexta-feira, defende que o piso salarial seja corrigido pelo IPCA-15, que fecha em meados de dezembro, permitindo que a inflação efetiva seja aplicada ao mínimo, sem ganho real. Atualmente, o governo faz uma estimativa , já que os índices de inflação do ano anterior só são divulgados no início do ano seguinte. Essa medida evitaria acertos deixados para a próxima correção. Os economistas Bráulio Borges, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV ), João Saboia, professor da UFRJ e o sociólogo José Pastore, professor da USP, mostram suas visões. O país que queremos: Como aumentar o salário do servidor? Desvincular política da Previdência Social Bráulio Borges* O primeiro ponto é lembrar que o salário mínimo é uma variável para regular o mercado de trabalho. Estamos acostumados a pensar o piso para além disso, como o impacto na Previdência Social. Apesar de polêmico e com chance remotíssima de passar, seria importante desvincular os benefícios assistenciais do salário mínimo, mantendo o poder de compra das aposentadorias e pensões ao longo do tempo. Poderia ser usado IPCA, INPC ou inflação da terceira idade, da Fundação Getulio Vargas. Introduzir uma política de valorização do salário mínimo traz impactos fiscais muito expressivos. Reajustar vira uma questão fiscal. Mas politicamente é difícil. O outro ponto é tentar avaliar se o piso é alto ou baixo. Em relação ao salário mediano, o mínimo representa entre 70% e 75%. Considerando nosso mercado de trabalho, capital humano e escolaridade, é relativamente alto. Nos países da OCDE (organização que reúne as economias desenvolvidas), essa relação é em torno de 50%. Quando começou a política de valorização do mínimo, ainda nos anos 1990, essa relação não era tão alta. Olhando o ponto de partida, o mínimo não deveria crescer muito acima do salário mediano daqui em diante. O Brasil tem mercado de trabalho dual, uma parte está empregada com carteira assinada e há uma grande massa de informais, conta própria, empreendedor por necessidade. Se aumenta muito o salário mínimo, acaba expulsando parte dos empregados do mercado formal, indo para informalidade, para ser pejotinha, MEI, Simples. São contratos que não existiam antes, mas que protegem menos que a carteira assinada. Pode ser contraproducente e só aumentar a informalidade. No Brasil, contratar alguém com carteira assinada custa duas, duas vezes e meia a folha. É um tributo, não é contribuição previdenciária. Se resolvermos a incidência da carga tributária, que é de fato muito elevada, a fórmula de reajuste poderia ser a inflação mais a produtividade do trabalho, medido pelo PIB sobre as horas trabalhadas. *Bráulio borges é economista, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) e da LCA Consultores Produtividade para valorizar o piso João Saboia* A proposta de Giambiagi é boa, ao usar um índice que já determine a inflação efetiva. Tenho dúvidas se o IPCA (que acompanha variação de uma cesta de famílias que ganham até 30 salários mínimos) é o ideal, já que o INPC (até cinco salários) reflete melhor a cesta dessa camada da população que recebe o piso. Mas se a economia cresce, a produtividade cresce, é saudável, justo e razoável que esse ganho seja repassado ao mínimo, associando à variação do PIB per capita. Na regra antiga, usávamos o crescimento do PIB, que não é uma medida de produtividade. Repassar o crescimento do PIB seria muito generoso. O uso do PIB per capita vai ter menos impacto nas contas públicas. Mas o controle fiscal não me parece uma preocupação do governo, que mudou o teto de gastos (regra que trava as despesas) para poder distribuir R$ 41 bilhões com medidas eleitoreiras. Agora, aumentar a base salarial, melhorar a situação dos aposentados estouram as contas públicas. Valorizar o mínimo também não teria efeito negativo no mercado de trabalho, de diminuir a geração de vagas com carteira. Na verdade, o grosso dos empregos formais está na faixa de um a 1,5 salário. De qualquer maneira, ninguém está defendendo aumento de 50% em termos reais. Aumentar 1% a 2% pode ser perfeitamente absorvido pela economia. A inflação acelerando é outro complicador. Em 2020, o índice foi de pouco mais de 4%, mas no fim do ano seguinte já estava em 10%. Isso faz o poder de compra do salário mínimo cair muito. Tem que compensar um pouco essa perda ao longo do ano. Ninguém está apostando em grandes quedas da inflação, mesmo com as medidas do governo (redução do ICMS dos combustíveis, energia, telecomunicações). É uma situação que não se compara à da década passada, depois da crise de 2015 e 2016, quando a inflação estava em 3%, 4%. Agora está há dez meses acima de 10%. *João Saboia é economista e professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ Ganho real: Desejável, mas possível não é José Pastore* O mais adequado seria ter um salário mínimo que cobrisse melhor as necessidades básicas, principalmente, com valor mais alto, como está na Constituição. O país, entre o desejado e o possível na prática, tem seguido o caminho do possível, diante das restrições com os gastos da Previdência Social (maior despesa do Orçamento da União: 64% das aposentadorias e pensões são de um salário mínimo) É um quadro triste para os trabalhadores. Remuneração deveria respeitar as necessidades das pessoas, infelizmente, na nossa situação econômica, tão dependente do salário mínimo como indexador, não
Desemprego requer um presidente que trabalhe

Jair Bolsonaro diz que não é sua tarefa criar empregos. Mas cabe ao presidente liderar projeto que rompa o ciclo de baixo crescimento, gerando oportunidades Notas & Informações, O Estado de S.Paulo Em uma conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro tentou se livrar de mais uma das várias responsabilidades inerentes ao cargo que ocupa. Em um país que apresenta um crescimento pífio há anos e um nível de qualidade na educação que deixa a desejar, Bolsonaro disse que cabe aos jovens “correr atrás” de emprego. “Você tem que correr atrás. Eu não crio emprego. Quem cria emprego é a iniciativa privada. Eu não atrapalho o empreendedor”, disse. A declaração do presidente, longe de causar surpresa, segue a linha bolsonarista segundo a qual a culpa por qualquer problema nunca é dele, sempre dos outros – seja das administrações petistas, dos governadores ou do Supremo Tribunal Federal (STF). O que chama a atenção nesse caso em específico é a concepção deformada do presidente sobre o papel de um governante na construção do futuro do País. Poucas coisas revelam mais sobre a profundidade da crise de um país sobre a falta de perspectivas do que o comportamento dos mais jovens diante do mercado de trabalho. A taxa de desemprego das pessoas com idade entre 18 a 24 anos atingiu 22,8% no primeiro trimestre deste ano, o dobro da média da população, de 11,1% no mesmo período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No segundo trimestre de 2021, 12,3 milhões de brasileiros de até 29 anos não estudavam nem trabalhavam, de acordo com estudo da consultoria IDados com base na Pnad Contínua do IBGE. Buscar um diagnóstico sobre as razões por trás desse fenômeno crônico e atacar suas dimensões de forma articulada com Estados, municípios e o setor privado seria uma tarefa urgente para qualquer presidente. Historicamente, a indústria sempre foi o setor que mais gerou vagas e que pagou os salários mais altos. Nos últimos anos, no entanto, o País oscilou entre a fracassada escolha de campeões nacionais do lulopetismo e a ausência completa de uma política industrial da administração bolsonarista. Essa ciclotimia, naturalmente, gerou reflexos no mercado de trabalho. Desde 2011 a indústria acumula o fechamento de 1 milhão de empregos, segundo a Pesquisa Industrial Anual (PIA) – Empresa 2020, divulgada pelo IBGE. Mais da metade das vagas fechadas se deu nos setores que mais empregavam, como vestuário, calçados e produtos de metal. Em contrapartida, setores dinâmicos e que sobrevivem sem ajuda do governo, como o de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação, não conseguem encontrar mão de obra especializada. A digitalização da economia em todos os segmentos da sociedade só aumentou desde a pandemia de covid-19 e atinge até atividades mais simples ligadas à agricultura e serviços. Diante da ausência do Estado, muitas empresas têm tomado para si a tarefa de formar e treinar seus próprios empregados. Nada disso exime o governo de oferecer aos jovens uma educação de qualidade desde o ensino básico. Romper o ciclo de baixo crescimento da economia demandará uma política que interrompa o processo de desindustrialização do País e que, em paralelo, priorize a educação e qualificação dos mais jovens para que os empregos de qualidade a serem gerados possam ser devidamente ocupados. O empreendedorismo mencionado por Bolsonaro não salvará a juventude nem o desempenho do PIB, sobretudo um conceito distorcido sustentado à base de incentivos fiscais, caso da figura do microempreendedor individual (MEI). Várias são as responsabilidades de um governante, e elas são ainda mais desafiadoras em um país tão desigual e com carências históricas como o Brasil. Chegar à Presidência da República talvez seja a maior honra para quem escolhe seguir o caminho da vida pública. A recusa de Bolsonaro em assumir a responsabilidade de governar levanta dúvidas sobre os reais motivos que o levam a fazer tudo por sua reeleição. Não é por acaso que os piores índices de aprovação de sua administração estejam justamente entre mulheres, jovens de baixa renda e menor grau de escolaridade. São elas, também, as maiores vítimas do desemprego e da falta de perspectivas. https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,desemprego-requer-um-presidente-que-trabalhe,70004120418
Trabalhador ou máquina? As 10 ocupações com maior (e menor) chance de sumir no Brasil

Agentes de seguros, motoristas e vendedores de lojas estão entre as ocupações com maiores probabilidades de automação. Entenda o que essas atividades têm em comum e quais são as profissões mais protegidas, segundo pesquisadores. Laís AlegrettiLONDRES | BBC NEWS Mais da metade das ocupações que existem hoje no Brasil podem desaparecer em cerca de duas décadas. Esta é a conclusão de pesquisadores brasileiros que usaram como base um modelo da Universidade de Oxford (Reino Unido) e adaptaram os cálculos para a realidade do mercado de trabalho do Brasil. Eles calculam que 58,1% dos empregos no país podem desaparecer em cerca de vinte anos devido à automação, considerando as https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs já existentes. O estudo avança em relação a outros levantamentos ao incluir os postos de trabalho informal, além daqueles com carteira assinada. O estudo conclui que trabalhadores no setor informal têm maior chance de ver seus empregos serem substituídos por máquinas do que aqueles com carteira assinada. Agentes de seguros, motoristas e vendedores de lojas estão entre ocupações com maiores probabilidades de automação – Getty Images/BBC News Brasil A pedido da BBC News Brasil, os pesquisadores vinculados à consultoria IDados e ao ISE Business School levantaram as dez ocupações com maiores chances de serem substituídas por máquinas, além das dez que estão menos “ameaçadas” pelos avanços tecnológicos. Veja as listas e, em seguida, entenda o que essas ocupações têm em comum e como a previsão para o mercado brasileiro se compara com resultados em outros países. 10 OCUPAÇÕES COM MAIORES PROBABILIDADES DE AUTOMAÇÃO Operadores de entrada de dados (digitador) – 99% PUBLICIDADE Profissionais de nível médio de direito e afins (assistente) – 99% Agentes de seguros – 99% Operadores de máquinas para fabricar equipamentos fotográficos – 99% Vendedores por telefone – 99% Despachantes aduaneiros – 99% Contabilistas e guarda livros – 98% Secretários jurídicos – 98% Condutores de automóveis, táxis e caminhonetes – 98% Balconistas e vendedores de lojas – 98% 10 OCUPAÇÕES COM MENORES PROBABILIDADES DE AUTOMAÇÃO Dietistas e nutricionistas – 0.4% Gerentes de hotéis – 0.4% Especialistas em métodos pedagógicos – 0.4% Médicos especialistas – 0.4% Médicos gerais – 0.4% Fonoaudiólogos e logopedistas – 0.5% Trabalhadores do sexo – 0.6% Dirigentes de serviços de bem estar social – 0.7% Psicólogos – 0.7% Dirigentes de serviços de educação – 0.7% Fonte: ISE Business School e Consultoria IDados O QUE ESSAS PROFISSÕES TÊM EM COMUM? As ocupações com maior probabilidade de automação “são muito bem definidas, são coisas que você pode especificar com muita precisão o que tem que ser feito e que não precisam de muito juízo, de muita subjetividade humana para tomar uma decisão”, explica o diretor-presidente da consultoria IDados e professor da ISE Business School, Paulo Rocha e Oliveira, um dos autores do artigo. Por outro lado, as profissões com menor chance de substituição são aquelas com “muita interação e muita subjetividade humana”, que envolvem “saber lidar com pessoas e resolver situações onde as emoções são muito predominantes”, resume Rocha e Oliveira. O economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV e um dos autores do artigo, acrescenta que, além das habilidades socioemocionais, outros dois fatores-chave ajudam a entender se um trabalho está mais ou menos suscetível. Um trabalho com grande exigência de criatividade/originalidade está mais protegido, assim como ocupações que exigem habilidades motoras finas ou são realizadas em ambientes pouco estruturados. Este último ponto explica, segundo Ottoni, porque trabalhos como de jardineiro e empregada doméstica não estão muito ameaçados pela https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg no curto prazo. “Esses são trabalhos que, apesar de serem, em geral, executados por pessoas com menor grau de qualificação, eles exigem habilidade motora fina e exigem que o trabalhador saiba navegar num ambiente de trabalho muito pouco estruturado – por isso, também estão protegidos, porque a máquina não consegue substituir. Ainda não tem aquela coisa do humanóide, um robô com perna e braço e que vai realmente operar como um ser humano.” Os critérios usados por eles estão baseados nas probabilidades de automação calculadas pelos pesquisadores Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, da Universidade de Oxford – aos quais Rocha e Oliveira se refere como “as maiores autoridades mundiais sobre o assunto”. O trabalho deles foi focado no mercado de trabalho dos Estados Unidos, conforme a BBC News Brasil noticiou em 2014. PAÍSES VIZINHOS E como a taxa brasileira de empregos que correm risco de desaparecer se compara a outros países? A proporção brasileira de cerca de 58% está pouco abaixo de taxas encontradas em outras pesquisas para países da América do Sul, como Uruguai (63%), Paraguai (63,7%) e Argentina (64,6%). “Não apenas o Brasil, mas nossos vizinhos aqui têm que olhar para esse tema com atenção”, diz Ottoni. Na Europa, estão entre as taxas mais baixas a Suécia e o Reino Unido (47% em ambos) e Irlanda e Holanda (49% em ambos). Mas também há países com probabilidades próximas às do Brasil, como Portugal (59%) e Croácia (58%), segundo dados apresentados no artigo. Os pesquisadores apontam que a proporção de empregos que podem ser automatizados tende a ser maior nos países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos, devido à alta proporção de ocupações que exigem pouca qualificação e que são mais facilmente substituídas por máquinas. TRABALHO INFORMAL VERSUS FORMAL No Brasil, até 62% dos empregos informais do país podem desaparecer nas próximas duas décadas, por causa da automação, enquanto a probabilidade é de 55% para os empregos formais, segundo os pesquisadores. E quem são as pessoas que costumam ocupar os empregos sob maior risco de automação? “Em geral, estamos falando de pessoas com menos escolaridade. E, geralmente, o menor grau de escolaridade está relacionado também a algumas populações mais vulneráveis – o negro em vez do branco, e pessoas das regiões mais pobres do Brasil, Nordeste, Norte”, diz Ottoni. ‘BARREIRAS’ PARA O USO DE NOVAS TECNOLOGIAS Rocha e Oliveira defende que, mais do que pensar em profissões que vão sumir, como um todo, é necessário focar em quais atividades feitas por esses profissionais podem ser feitas por máquinas. Ele diz que é a natureza do trabalho que vai mudar, ao exigir que