Inmetro aprova primeiro selo para medir inclusão social nas empresas
Valor Econômico Escala Cidadã foi elaborada pelo Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural e se baseia em variáveis, 20 indicadores e 37 requisitos. Metodologia levou quase dez anos para sair do forno Por Eliane Sobral, Para o Prática ESG As métricas para avaliar pegadas de carbono, riscos climáticos e nível de governança corporativa das empresas se aperfeiçoam a cada dia. Mas a avaliação do “S”, de social, dentro de casa e em seu entorno ainda é um desafio. E quando o assunto é especificamente pessoas com deficiência, como saber se uma companhia está sendo mesmo inclusiva? “É possível dizer que uma empresa é inclusiva por ter rampa de acesso e banheiros adaptados para cadeirantes, ou porque tem mulheres em cargos de gestão? Acreditamos que não”, afirma Natália Mônaco, coordenadora do departamento de pesquisa do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural. Depois de dez anos de estudos, pesquisas de legislações e melhores práticas internacionais, a entidade criou a Escala Cidadã Olga Kos, que acaba de ser homologada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). “O selo criado pelo Instituto Olga Kos preenche uma lacuna no tripé do ESG. Porque já existem várias certificações nas áreas ambientais e de governança, mas faltava parâmetros para avaliar o social”, afirma Aldoney Costa, coordenador-geral de Acreditação do Inmetro. Ele se diz surpreso com o número cada vez maior de empresas em busca de parâmetros e em busca de certificações no próprio Inmetro. “As companhias querem ter seus sistemas certificados pelo simples fato de que isso agrega valor à marca”, resume o executivo. “Existem muitas demandas no tripé ESG mas ainda não dispomos de acreditações. Por isso a escala criada pelo Instituto Olga Kos é tão importante”, acrescenta Costa. Para as certificadoras de boas práticas sociais, a criação do manual e a homologação do Inmetro, significa ter um roteiro com bases científicas pelo qual guiar seu trabalho. Já para as companhias que querem ser inclusivas, chegou a hora de comprovar que vão além das rampas de acesso e banheiros adaptados citados por Natália Mônaco, ou de colocar algumas mulheres em cargo de chefia. E, para isso, será preciso se submeter a um extenso roteiro baseado em cinco variáveis, 20 indicadores e 37 requisitos. Dentro das variáveis, explica Mônaco, estão arquitetônica – se a empresa tem piso tátil para deficientes visuais, por exemplo – comunicacional, que avalia, além de comunicação acessível aos públicos interno e externo, se há barreiras de comunicação interpessoal e discursos inclusivo e tradução na linguagem de sinais para outros idiomas; e a metodológica, que considera a eliminação de barreiras nos programas de capacitação e se o processo de seleção e capacitação são inclusivos. Há ainda a variável programática e atitudinal que consideram se as práticas da empresa estão dentro do que ela prega como missão e valores e o clima organizacional, respectivamente. Não é um processo simples, mas também não foi desenvolvido para punir empresas que apresentem deficiência em algum quesito, como explica Wolf Kos, fundador e presidente do Instituto Olga Kos. De acordo com Mônaco, para obter a certificação de empresa inclusiva, a companhia precisa alcançar, no mínimo, um patamar de 75% dos critérios estabelecidos. Ao todo, há quatro níveis que indicam se a organização está no caminho certo, como o nível um, que indica que ela tem potencial inclusivo. “Este patamar indica que há a percepção da necessidade de mudança, mas não há indícios de cultura ou ações inclusivas e a empresa não reconhece suas próprias barreiras”, explica a executiva. O patamar seguinte, que é o nível 2, prossegue ela, indica se a empresa tem valores e objetivos inclusivos reconhecidos e encontra-se em fase inicial de implementação. O próximo, que é o nível 3, indica que há políticas e ações inclusivas que são aceitas e executadas por grande parte da empresa e existe evidências do envolvimento e empenho da alta direção. Empresas plenamente inclusivas estão no nível 4, que mostra que as ações e políticas estão consolidadas, são monitoradas e são parte de um ciclo de melhoria contínua. Wolf Kos, presidente do Instituto Olga Kos afirma que por trás de todo o trabalho de preparar a metodologia de aferição sobre inclusão corporativa surgiu da crença de que só efetivo aquilo que se pode medir. “Empregar uma pessoa com deficiência não é inclusão, é marketing de causa. O que queremos com esse selo é que as empresas queiram adotar o caminho do conhecimento porque só assim as empresas mudam de atitude“, completa. https://valor.globo.com/empresas/esg/noticia/2022/06/20/inmetro-aprova-primeiro-selo-para-medir-inclusao-social-nas-empresas.ghtml
Confiança no mercado de trabalho atinge maior nível entre profissionais empregados, mostra pesquisa
G1 Sondagem trimestral da Robert Half registra melhora das perspectivas de profissionais com e sem emprego e recrutadores sobre cenário atual e futuro do mercado. A 20ª edição do Índice de Confiança Robert Half, estudo trimestral que mede a percepção dos profissionais qualificados em relação ao mercado de trabalho, mostra que a confiança dos colaboradores continua em alta, tanto em relação ao momento presente quanto à expectativa para os próximos meses. A 19ª edição já havia apontado o maior otimismo quanto ao mercado de trabalho desde o início da pandemia, o que se repetiu nesta nova sondagem. Dos 100 pontos possíveis, o índice do momento presente atingiu 36,8, avanço de 1,3 ponto na comparação com março (35,5). Em relação à expectativa para a situação futura, o estudo apresentou ligeiro crescimento, de 48,8 para 48,9, mas ainda longe do índice registrado em março de 2020 (56,7), quando começou a pandemia. No caso da situação atual, o índice se aproxima do registrado em março de 2020, cuja medição foi feita antes do início oficial da quarentena. O patamar é considerado otimista quando o índice fica acima dos 50 pontos. Expectativa melhora entre os desempregados O Índice de Confiança Robert Half abrange três categorias: profissionais empregados, profissionais desempregados e recrutadores. Em relação à situação atual, os indicadores melhoraram tanto para os desempregados quanto para os profissionais qualificados permanentes, que obtiveram a maior pontuação da série histórica (a pesquisa completou cinco anos nesta edição), mesmo que ainda não tenham alcançado o patamar otimista (acima de 50 pontos). Por outro lado, o grupo de recrutadores, em alta nas últimas edições, se mostrou mais cético e sinalizou piora em seu nível de confiança. Para os próximos seis meses, apenas os desempregados apresentaram alta na expectativa. Empregados e recrutadores recuaram de forma moderada, porém, os profissionais que têm participação no preenchimento das vagas ainda se mantêm em um cenário otimista quando avaliam o futuro, com 51,4 pontos. “Mais uma vez, o indicador da situação atual apresenta o melhor índice desde o início da pandemia. Esse aumento gradual de confiança para o presente também é um forte indicador de retomada, pois demonstra que o mercado não está parado, as ações estão sendo realizadas. Por outro lado, não podemos relevar que anos de eleições colocam muitas empresas em compasso de espera, o que pode interferir no olhar para o futuro ”, aponta Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul. Modelo híbrido segue como preferência A pesquisa mostra ainda a tendência de evolução dos modelos de trabalho flexível e da consequente ruptura do pensamento que associa produtividade ao trabalho integralmente presencial. Para 57% dos recrutadores entrevistados, as empresas para as quais trabalham devem adotar o modelo híbrido de trabalho daqui para a frente. Além deles, 33% indicaram que planejam retornar ao modelo 100% presencial e 10% disseram que permanecerão integralmente em home office. De acordo com o levantamento, 73% das empresas que optaram pelo modelo híbrido já definiram qual é o planejamento em relação à quantidade de dias no escritório. De forma ainda mais flexível, 27% dos entrevistados afirmaram deixar a escolha a critério dos colaboradores. Veja abaixo a exigência de dias no escritório segundo as empresas: 3 dias na semana: 29%2 dias na semana: 27%4 dias na semana: 10%1 dia na semana: 7% Busca por mão de obra qualificada ainda é desafio Segundo 76% dos recrutadores entrevistados, encontrar profissionais com os requisitos técnicos e comportamentais necessários para o preenchimento das vagas em aberto está difícil ou muito difícil. Na última edição do estudo, essa porcentagem foi de 74%. Na visão de 70%, o cenário não deve mudar nos próximos seis meses, enquanto 22% acreditam que a busca ficará ainda mais difícil. Os desafios de retenção também devem impactar o mercado, visto que 26% das empresas afirmam que a intenção de contratar nos próximos meses será mais alta do que atualmente. De acordo com Mantovani, no segundo trimestre de 2022, a taxa de desemprego para o grupo de profissionais qualificados ficou em 5,3%, valor muito próximo do que se chama de pleno emprego. “Nesse sentido, é importante ter em mente que atrair talentos por muitas vezes significará ativar profissionais que não estão à solta no mercado. Por isso, recomendo atenção redobrada aos processos de recrutamento assim como um olhar minucioso para dentro de casa, para minimizar os riscos de acabar perdendo seus melhores talentos para a concorrência”, diz. A 20ª edição do ICRH é resultado de uma sondagem conduzida pela Robert Half no mês de maio com base na percepção de 1.161 profissionais, igualmente divididos em três categorias: recrutadores (profissionais responsáveis por recrutamento nas empresas, ou que têm participação no preenchimento das vagas); profissionais qualificados empregados; e profissionais qualificados desempregados (com 25 anos ou mais e formação superior). https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2022/06/18/confianca-no-mercado-de-trabalho-atinge-maior-nivel-entre-profissionais-empregados-mostra-pesquisa.ghtml
Tecnologia e serviços técnicos puxam a criação de empresas
Valor Econômico Empreendedorismo cresce com fim do isolamento funciona como saída para mercado de trabalho fraco Por Marta Watanabe O retorno gradativo da circulação de pessoas e a mudança de hábitos, com ampliação do trabalho remoto e aceleração da digitalização, propiciaram aumento de abertura de empresas em 2021, mas com maior aposta em atividades como saúde, https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e serviços técnicos, que já despontavam antes da pandemia de covid-19 e agora tomam espaço com mais velocidade. O empreendorismo também cresce como alternativa a um mercado de trabalho ainda em recuperação, apontam especialistas. Ainda que o comércio em geral se mantenha na liderança no perfil de atividade das novas empresas, o setor perdeu espaço para segmentos ligados à saúde e serviços sociais, atividades técnicas e de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação ou de profissionais que, apoiados na flexibilidade do trabalho remoto, resolveram empreender. Ao mesmo tempo, o grupo de alojamento e alimentação, em que estão hotéis e restaurantes, perdeu espaço, embora mantenha curva de recuperação na abertura de empresas. Essa é a tendência geral verificada com base em dados de abertura de empresas das juntas comerciais nos Estados de São Paulo, Bahia e Paraná. Os três Estados representaram cerca de 40% dos novos negócios constituídos em 2021, segundo o Mapa de Empresas do governo federal. Em São Paulo houve recorde na abertura de empresas em 2021. Segundo dados da Jucesp, a Junta Comercial do Estado, o número de novos negócios somou 288,5 mil no ano passado, com alta de 28,7% em relação a 2020 e de 28,5% contra 2019, ano anterior ao da pandemia. As baixas também aumentaram, mas com número bem menor e de forma mais desacelerada. Em 2021 um total de 120,9 mil empresas fecharam portas em São Paulo, com alta de 16,2% em relação ao ano anterior e de 0,5% contra 2019. Os números do Estado de São Paulo não incluem dados de Microempreendedor Individual (MEI). Uma olhada nos dados em período mais longo mostra uma mudança nos setores que hoje atraem quem quer apostar no próprio negócio. Em São Paulo o grupo de comércio em geral, incluindo varejo e atacado, inclusive venda de veículos ao consumidor final, representou 33,8% das novas empresas abertas no Estado em 2014, mas perdeu participação gradativamente ao longo dos últimos anos, chegando a 26,8% no ano passado. Os dados indicam que a mudança já estava em curso antes da pandemia. Em 2019 a fatia do setor foi de 28,5%. Ou seja, o número de empresas abertas no segmento cresceu ao longo dos sete anos, mas em ritmo menor que o total de novos empreendimentos. O espaço do comércio foi ocupado por outras atividades, como de saúde e serviços sociais, que saltaram de 2,5% em 2014 para 6% em 2019 e para 9,6% em 2021. Informação e comunicação, que reúne as áreas ligadas à TI, avançaram de 4,6% em 2014 para 6,6% em 2019 e para 7,7% no ano passado. Atividades profissionais, científicas e técnicas – que incluem ramos diversos como consultoria, auditoria, gestão empresarial, serviços de arquitetura, engenharia, publicidade, pesquisa de mercado – avançaram de 6,78% para 12,1% de 2014 a 2021. São Paulo prossegue com recorde de aberturas nos primeiros meses de 2022. De janeiro a maio foram 123,5 mil novas empresas ou 8,4% a mais que em igual período de 2021, segundo dados fornecidos pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE). Na Bahia e no Paraná a dinâmica foi semelhante em relação à mudança dos setores. Com total de 37.827 empresas abertas em 2021 a Juceb, Junta Comercial da Bahia, também registrou pico histórico no ano passado e mudança na constituição de novos negócios no decorrer de período mais longo. De 2014 ao ano passado a fatia do comércio em geral dentre as novas empresas abertas no Estado, incluindo matrizes e filiais, caiu de 45% para 40,5%. Mesmo num Estado reconhecido pela vocação turística, a participação de empreendimentos de alojamento e alimentação, grupo no qual estão restaurantes e hotéis, recuou de 7,1% para 4,1% de 2014 a 2021. Em 2019, ano que precedeu ao do início da pandemia, a fatia foi de 5,1%, mostrando que o ramo, embora crescente, já vinha se expandindo em ritmo menor que o de outras atividades. Os dados da Bahia não incluem MEI. Já os dados da Jucepar, junta comercial do Paraná, incluem MEIs e apontam também recorde de abertura de empresas em 2021, com total de 268,44 mil aberturas, aumento de 15,2% em relação ao ano anterior. Também entre as empresas paranaenses o comércio em geral é o principal setor entre as novas empresas, mas sua fatia caiu de 32,3% para 26,5% de 2015 para 2021. Houve avanço de participação de atividades profissionais, científicas e técnicas, saúde e serviços sociais e informação e comunicação. Juntas, esses ramos avançaram de 8,7% para 14,1% em igual período. Carla do Nascimento, economista da coordenação de conjuntura da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI) do governo da Bahia, diz que os avanços de algumas atividades no Estado foram acelerados pela pandemia, mas estão dentro de uma mudança que já vinha ocorrendo como reflexo de inovação tecnológica e aumento de demanda. É o caso dos setores de saúde e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação, aponta. Os novos negócios em saúde e serviços sociais avançaram de 4,8% para 9,5% do total de empresas abertas no Estado de 2014 a 2021. Em igual período, a fatia da informação e comunicação subiu de 1,8% para 3,2%. Já o varejo e os setores ligados ao turismo podem ter sentido a retração da economia, diz. Nascimento lembra que o período contemplado inclui os anos de 2015 e 2016, nos quais houve recuo do PIB, sem completa recuperação de 2017 a 2019. Em 2020 houve recessão dentro da pandemia, com a retomada em 2021. A contração econômica da pandemia, explica a economista, levou muitos empreendedores a fechar as portas em 2020 e em parte de 2021. Com a recuperação da economia em 2021 houve aposta em novos negócios. Isso cresceu com o avanço da digitalização e do
Elevado número de processos pendentes atrapalha andamento da Justiça no país
Conjur 75,4 milhões. Essa cifra não é de nenhum prêmio milionário de loteria, mas o número de processos pendentes na Justiça brasileira no último dia de 2020, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Desse total, 52,3% — ou algo em torno de 39,4 milhões de ações — estavam na fase de execução. Esses 75,4 milhões de processos no Brasil de 31 de dezembro de 2020 representam dois milhões a menos em relação a 2019. Uma gota no mar profundo formado pelas ações que estão aguardando passar pelo gargalo da execução penal, mas um número afetado pela epidemia da Covid-19, que transformou todos os setores da sociedade brasileira. Importante considerar ainda que há 13 milhões (17,2%) nesse montante que estavam suspensos, paralisados ou em arquivo provisório, à espera de alguma situação jurídica futura, no fim de 2020. Segundo o CNJ, as prateleiras do Judiciário brasileiro receberam em 2020 cerca de 25,8 milhões de novos casos. “A demanda pelos serviços de Justiça, assim como o volume de processos baixados, diminuíram em relação ao ano anterior. Além de 2019 ter apresentado o maior valor da série histórica, o número foi impactado pela pandemia da Covid-19. Se forem consideradas apenas as ações judiciais efetivamente ajuizadas pela primeira vez em 2020, sem computar os casos em grau de recurso e as execuções judiciais, tem-se que ingressaram 17,6 milhões ações originárias em 2020, -12,5% do que no ano anterior”, explica o estudo. Impacto da Covid-19Durante o ano de 2020, foram proferidas 25 milhões de sentenças e decisões terminativas, uma redução de 6.569 mil casos (-20,8%) em relação a 2019. Mas é provável que tais números tenham sido afetados pela Covid-19, segundo o CNJ. O primeiro grau, por exemplo, registrou maior queda (23,3%), pois é o momento em que se exige uma instrução probatória mais detalhada. As decisões terminativas no segundo grau, em que a instrução probatória já se encontra encerrada nos julgamentos recursais, reduziu em menor ordem de grandeza (8,2%). Especialistas ouvidos pela Conjur apontam a necessidade de aperfeiçoar os métodos e até mesmo promover mudança de postura em relação ao Direito Processual, sob pena de inviabilizar a Justiça no Brasil. A maior parte dos processos de execuções é composta pelas fiscais, que representam 68% do total. A análise do CNJ aponta que esses processos são os principais responsáveis pela alta taxa de congestionamento do Poder Judiciário, representando aproximadamente 36% do total de casos pendentes. É necessário somar a essa estatística aqueles processos que retornaram à tramitação sem necessariamente configurar um caso novo. Em 2020, foram reativados 1,7 milhão de processos que tiveram sentenças anuladas na instância superior, ou casos de remessa e retorno de autos entre tribunais em razão de questões relativas a competência, ou devolução dos processos à instância inferior para aguardar julgamento em matéria de recursos repetitivos ou de repercussão geral, ou mesmo por mudança de classe processual. Tempo de tramitaçãoO estudo do CNJ aponta que está na Justiça estadual o maior obstáculo de desempenho. Ao se comparar o tempo do recebimento da ação até o julgamento da sentença entre o primeiro grau e o segundo grau, considerando o tempo médio de tramitação de toda a Justiça brasileira, enquanto na instância inicial leva-se uma média de três anos e dois meses, no segundo grau esse tempo é reduzido para praticamente um quarto: nove meses. Os dados por segmento de Justiça demonstram que o resultado global do Poder Judiciário reflete quase diretamente o desempenho da Justiça estadual, com 77,4% dos processos pendentes. A Justiça Federal concentra 14,5% dos processos e a Justiça Trabalhista, 6%. Os demais segmentos juntos acumulam 2% dos casos ainda por serem encerrados. Já a Justiça Eleitoral apresenta sazonalidade de movimentos processuais, com altas especialmente nos anos eleitorais (2012, 2014, 2016, 2018, 2020), e de forma mais acentuada nos anos de eleições municipais (2012, 2016 e 2020). Mesmo patamar de 2011-12O CNJ mede ainda a produtividade dos magistrados, que, segundo o levantamento, vem crescendo desde 2014. Em 2019, atingiu o maior valor da série histórica, com 2.106 casos baixados por magistrado(a), mas em 2020 retornou ao patamar de 2011-2012, número este que estaria afetado pela Covid-19. Em números, cada magistrado(a) brasileiro(a) resolveu 1.643 processos, o que significa uma média de 6,5 casos solucionados por dia útil do ano, sem descontar períodos de férias e recessos. Os 6,5 processos finalizados diariamente por cada juiz(a) pode parecer uma estatística boa, mas, na comparação com a quantidade de processos que ingressam no sistema, é possível perceber pequeno avanço e o avanço do problema. Somente na área de saúde, de acordo com o advogado Fernando Bianchi, sócio do escritório Miglioli, Bianchi, Borrozzino, Bellinatti e Scarabel Advogados (M3BS), é aberta uma nova ação a cada três horas, com base no estudo do CNJ. Isso sem contar as demais áreas do Judiciário. “A maior parte de entradas é a judicialização na saúde privada. É um número muito grande”, explica o advogado ao destacar que o brasileiro tem a cultura da judicializar tudo, o que só provoca aumento do número de processos em tramitação, principalmente os sem solução. Outro ponto observado por Bianchi é a morosidade e a falta de qualidade técnica das investigações policiais. “Um laudo chega a ficar dois anos e meio na fila do laboratório da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Mas temos também os juízes generalistas, que não têm especialização, o que ajudaria na tomada de decisões mais efetivas e rápidas. Julgam problemas de saúde, do consumidor, empresarial, criminal, mas é preciso ter mais capacitação”, reclama ele. O promotor de Justiça de Araguari (MG) André Luís Alves de Melo vê a necessidade de mudança na estrutura de tramitação do processo na Justiça. “Importante destacar que os artigos transcritos do Código de Processo Penal datam de 1941 — período do fascismo — e não foram atualizados pelas legislações posteriores até a presente data, exceto a redação do artigo 28, mas ainda sem adentrar na discussão da obrigatoriedade. Ademais, naquela época, em 1941, a estrutura jurídica brasileira era outra e a carreira do Ministério Público sequer existia como tal. Nosso CPP foi copiado do