Média liderança sai mais desmotivada da pandemia. Entenda
Valor Econômico Diretores de RH estão preocupados em como capacitar profissionais de cargos intermediários Por Barbara Bigarelli A preparação da média liderança, que ocupa os cargos intermediários na hierarquia corporativa e cascateia as demandas dos altos executivos ou alinha prioridades do negócio, é o que preocupa diretores de recursos humanos pós impacto da pandemia. São esses gestores médios que contratam e treinam, e que agora têm um papel fundamental para garantir a experiência, flexibilidade e autonomia dos funcionários na implementação dos novos modelos de trabalho. “Nossos estudos da Cia de Talentos, em especial a pesquisa Carreira dos Sonhos, mostram que é a média liderança que sai mais desmotivada da pandemia”, avalia Sofia Esteves, psicóloga e presidente do conselho do Grupo Cia de Talentos. Essa preocupação apareceu em um evento fechado no começo deste mês, que reuniu mais de 30 executivos de startups a grandes organizações (sendo 25 deles diretores ou líderes de RH), e foi realizado pela Nespresso Professional. Os RHs estavam ali para compartilhar aprendizados e práticas, em um momento no qual as empresas já perceberam que não há fórmula única para dar conta dos desafios atuais da gestão de pessoas. Estavam lá representantes da SAP, Hospital Albert Einstein, Stefanini, Grupo Fleury, Pepsico, BK Brasil, IBM, Vivo, Tenda, Descomplica, Meta, Netflix, BNP Paribas, OLX, Ticket Edenred, entre outras. O Valor participou do evento, mas manterá o anonimato dos participantes. De forma geral, os RHs estão se perguntando qual é o tipo de treinamento ou a ação mais eficaz para motivar os líderes intermediários das companhias e para melhor acolhê-los no retorno ao escritório, porque “no fim são eles que dirigem a companhia”. Uma pesquisa do Slack com mais de 9 mil funcionários de várias empresas mostrou que os gestores de nível intermediário sentiram mais o estresse no trabalho remoto, em comparação com a alta liderança. Responsáveis por comunicar as decisões da companhia e garantir a continuidade das operações em novos modelos de trabalho na pandemia, também apresentaram os menores índices de satisfação na pesquisa. “São eles que treinam e contratam. E são eles também que podem escutar mais as dores dos times e passam a diretriz de um novo contexto de trabalho”, refletiu a diretora de uma empresa de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. Ignorar que eles precisam de um treinamento diferente daqueles que a alta liderança recebe pode ser prejudicial para a diversidade na empresa, porque “eles acabariam contratando apenas o mesmo perfil de pessoas”. “Essa média gestão é quem replica os ‘role models’ da empresa e carrega o espírito e DNA da cultura. Precisamos construir novas diretrizes de forma participativa com eles, se não tudo virará uma colcha de retalhos, cada um tentando aplicar o que acha melhor ou a sua história própria de gestão”, afirmou uma executiva que deixou recentemente uma grande empresa para liderar a gestão de pessoas em uma startup. O diretor de pessoas de uma outra startup, que tem mais de mil funcionários, disse que a estratégia da empresa para motivar os líderes médios é reservar a agenda da alta liderança: metade do tempo de reuniões dos executivos é gasto em encontros com a média liderança para apoiá-los nas decisões diárias. “É importante esse olhar e foco, porque muitas vezes são eles que levam a entraves na implementação de politicas de gestão de pessoas”, avaliou Sofia Esteves. Outro tema que vem preocupando a área de RH é a remuneração ideal para atrair talentos em áreas competitivas, com os diretores de grandes empresas perguntando, no evento, a líderes de RH de startups, qual é o limite da compensação para desenvolvedores, por exemplo. A percepção compartilhada é a de que os salários em áreas concorridas já estão inflacionados, mas vão continuar subindo, porque a escassez de talentos, principalmente em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, está muito longe de diminuir. “O que alavanca empresas menores para atrair talentos, já que não temos luxo, estacionamento e muitas vezes condições para mega benefícios, é o pacote de remuneração mais agressivo e garantir o ‘equity’ para todos. Nas grandes empresas, a divisão dos ganhos do negócio fica mais com os níveis mais altos”, disse a diretora de pessoas de uma startup. Outro ponto que suscitou dúvidas no evento relaciona-se à criação de um ambiente seguro psicologicamente, para que funcionários não tenham medo de falar o que pensam, e também falar que erraram. Estimular que a liderança demonstre suas vulnerabilidades e diga claramente que errou e está voltando atrás é o primeiro passo. O segundo, de acordo com uma executiva que já passou por empresas gigantes no setor de consumo, é investir no uso de ferramentas de comunicação aberta. “Estimule as pessoas a se manifestarem nas reuniões. Comece com recursos onde elas possam falar de modo anônimo e depois valorize quem resolve se identificar para apontar um problema. É importante ter em mente que não é só o líder que precisa ser transparente. Mas essa via de mão de dupla precisa ser construída.” https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/05/17/media-lideranca-sai-mais-desmotivada-da-pandemia-entenda.ghtml
Crowdwork ou microtrabalho: entenda o trabalho digital que parou na Justiça
Folha de S.Paulo Empresa terá que registrar trabalhadores que ajudam robôs a corrigirem falhas na inteligência artificial Fernanda BrigattiSÃO PAULO A 59ª Vara do Trabalho de São Paulo (SP) determinou que uma empresa de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg formalize a contratação de todos os seus prestadores de serviços que atuavam como microempreendedores individuais (MEI) ou autônomos. A decisão atende a um pedido do Ministério Público do Trabalho, autor de ação civil pública apresentada à Justiça em março de 2020. Segundo os procuradores do trabalho, essa é a primeira decisão em ação coletiva do Judiciário trabalhista tratando do crowdwork, modalidade também conhecida como microtrabalho. Nesse modelo, os trabalhadores atuam numa espécie de apoio às ferramentas de inteligência artificial que abastecem empresas e plataformas. Eles monitoram respostas em chats automatizados e revisam a transcrição de áudios, por exemplo, fazendo correções e ajustes quando necessário. Quem trabalha em ‘crowdwork’ faz microtarefas para abastecer e aprimorar sistemas de inteligência artificial – Catarina Pignato Essa interferência humana serve para calibrar e aprimorar a inteligência artificial, que vai sendo treinada a partir dessas correções. Segundo o MPT, as atividades via crowdwork são, em geral, de baixa complexidade e de curta duração (por isso alguns se referem ao modelo como microtrabalho, pois preveem a execução de microtarefas). A Ixia Gerenciamento de Negócios Ltda, condenada ao reconhecimento de vínculo de seus trabalhadores –a decisão não diz quantos serão registrados–, informou na ação que seus prestadores de serviços eram empreendedores e tinham pessoas jurídicas próprias. A Folha não localizou representantes da empresa –não há telefone de contato no site da companhia, nem email. O advogado que atuou no processo também não foi encontrado por telefone. No site que mantém no ar, a empresa informa ter sido fundada em 2005, por um grupo de especialistas em inteligência artificial, “com a missão de levar o atendimento não humano ao próximo nível.” Para a juíza Camila Costa Koerich, a afirmação de que os prestadores de serviços são empreendedores não se sustenta, pois não há empreendimento algum na relação entre as duas partes. O que há, na avaliação dela, são elementos de relação de emprego, como o valor econômico do trabalho estipulado por um terceiro (a empresa) e horário de trabalho. Koerich também escreveu na sentença considerar que esse modelo de trabalho apresenta um paradoxo: “a pessoa humana que trabalha é empregada para realizar um serviço (repetitivo e de vínculo jurídico precário) que a inteligência artificial não conseguiu realizar sozinha, alimentando esta mesma inteligência artificial para, no futuro, sua função ser absolutamente desnecessária em razão do acompanhamento e evolução da inteligência artificial, o que gerará o seu desemprego.” Em nota, o procurador Rodrigo Castilho, que assinou a ação civil pública, disse considerar a decisão um marco nas relações de trabalho pois cria jurisprudência para outros casos do mesmo tipo. Na ação, o MP do trabalho descreve diversas condutas da empresa com os prestadores que configurariam a relação de emprego, como a definição de escala mensal de trabalho. A empresa apresentava algumas opções de duração variada e os trabalhadores escolhiam, mas cabia à companhia a aprovação ou não. Folgas precisavam ser comunicadas com 15 dias de antecedência e a rotina de trabalho era monitorada e controlada pela empresa –havia, por exemplo, um prazo máximo para a conclusão de cada atividade. Também segundo os procuradores, os trabalhadores precisavam ser MEI (o cadastro era um requisito obrigatório para trabalhar para a empresa). Antes da apresentação da ação contra a Ixia, o MPT em São Paulo teve quatro procedimentos para investigar as práticas da empresa quanto às relações de trabalho. Os procurados no estado também encaminharam, em 2021, ações contra os aplicativos Uber, Rappi e 99. Além do reconhecimento de vínculo de todos os seus trabalhadores responsáveis por teleatendimento, análise e classificação de dados, suporte técnico, pesquisas de satisfação e montagem de fluxos de sistemas de computação, a Ixia também foi condenada ao pagamento de R$ 130 mil por dano moral coletivo. A condenação prevê que a empresa seja proibida de fazer novos contratos de trabalhadores como MEI ou autônomos. A empresa pode recorrer. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/05/crowdwork-ou-microtrabalho-entenda-o-trabalho-digital-que-parou-na-justica.shtml
Auxílio home office vira realidade em mais empresas. Entenda o benefício
Valor Econômico Valor total depositado pelos empregadores alcançou R$ 11,2 milhões no período de janeiro de 2021 a janeiro de 2022, indica levantamento Por Jacilio Saraiva, Para o Valor O número de empresas que concedeu auxílio home office cresceu 566% entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022. O valor total depositado pelos empregadores nesse tipo de benefício alcançou R$ 11,2 milhões no período, com um pico de R$ 3,5 milhões em janeiro de 2022, maior valor investido em um único mês, no intervalo analisado em uma pesquisa da Flash, startup de RH da área de benefícios flexíveis, obtido com exclusividade pelo Valor. O levantamento mostra que o depósito é usado, principalmente, para o pagamento de contas de água, luz, TV a cabo, telefone e gás. O relatório da pesquisa destaca, ainda, que os meses de abril de 2021 e janeiro de 2022 registraram, em todo o período estudado, os crescimentos mais significativos da oferta do bônus, em relação aos meses imediatamente anteriores, de Em relação ao tíquete médio pago, as companhias destinaram o maior valor da série pesquisada nos meses de fevereiro, março e abril de 2021 ou 50% a mais do que em janeiro do mesmo ano. “Esse aumento coincide com a necessidade de um maior isolamento social por conta da pandemia”, explica Rafael Maia, CRO (chief revenue officer ou diretor de receita) da Flash. A pesquisa foi concluída em março de 2022 com 281 empresas de 18 estados, dentro da base de clientes da startup. O recorte não indica o porte das companhias, mas aponta que 40% são do setor de informação e comunicação, que inclui a área de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. Maia acredita que a tendência para este ano é que o valor do tíquete médio do benefício suba no ritmo da inflação. “Estimamos que o crescimento fique entre 5% e 6%.” O executivo acredita que o trabalho híbrido e 100% a distância mudaram a maneira como as empresas se relacionam com os funcionários. “A evolução na adoção do auxílio para o expediente remoto corrobora essa mudança de mentalidade, com novas formas de se estabelecer vínculos entre as pontas”, diz. https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/05/16/auxilio-home-office-vira-realidade-em-mais-empresas-entenda-o-beneficio.ghtml
Por que é tão difícil medir efeito da reforma trabalhista, na mira de candidatos?
G1 Dois novos estudos buscam mensurar impactos da reforma. Mas incerteza continua acerca de mudança que afeta o dia a dia dos trabalhadores e virou tema nas eleições de 2022. A reforma trabalhista está na agenda das eleições de 2022. Ao menos dois candidatos à Presidência — Lula e Ciro Gomes — falam na possibilidade de revogar ou revisar a mudança da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), sancionada em 2017, durante o governo de Michel Temer. Com 11,9 milhões de desempregados ao fim do primeiro trimestre, 40% da população ocupada na informalidade e queda de quase 9% da renda no ano, os brasileiros têm uma dúvida: qual foi o efeito da reforma trabalhista sobre o emprego? Antes da implementação, as promessas da equipe econômica de Temer eram de que a reforma – que, entre outras mudanças, instituiu novas modalidades de contratação – criaria entre 2 e 6 milhões de empregos nos anos seguintes à sua aprovação. Mesmo considerando a pandemia e crises institucionais desde então, há frustração da população com uma taxa de desemprego que se mantém em dois dígitos há seis anos – ainda que a reforma esteja em vigor há mais de quatro deles. No entanto, avaliar os impactos da reforma não é tarefa simples. Isso porque não basta olhar para dados como a taxa de desemprego e a renda, antes e depois da reforma, para chegar a alguma conclusão, pois diversos fatores influenciam essas variáveis e não é possível saber como a economia teria se comportado caso a reforma não estivesse em vigor. Dois estudos recentes tentam contornar essas dificuldades. Mas ainda restam muito mais dúvidas do que certezas sobre como a reforma mudou a economia brasileira e como ela poderia ser alterada para beneficiar trabalhadores e empresas. Novo estudo da USP Gustavo Pereira Serra, pesquisador do Made-USP (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo), destaca a dificuldade de se avaliar os efeitos da reforma trabalhista sobre o mercado de trabalho brasileiro. “Desde que a reforma foi aprovada, ao final de 2017, muita coisa aconteceu na economia brasileira. A gente teve questões políticas, uma troca de governo, também a crise econômica causada pela pandemia de covid-19. Então é importante tentar isolar quais foram os impactos especificamente dessa reforma”, diz Serra. Por ser difícil, olhando somente para o Brasil, separar o que é efeito direto da reforma, o grupo de pesquisadores formado por Serra, Ana Bottega e Marina da Silva Sanches selecionou uma amostra de 12 países da América Latina e Caribe que não passaram por mudanças em suas leis trabalhistas no período analisado — que vai de 2003 a 2020. Por esse critério, Paraguai, Uruguai, Argentina e Costa Rica ficaram fora da amostra, por terem passado por algum tipo de mudança nas relações de trabalho no período. Restaram Bahamas, Bolívia, Chile, Colômbia, República Dominicana, Guiana, México, Nicarágua, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas e Trinidade e Tobago. A partir do comportamento da taxa de desemprego nesses países, os economistas constroem um “Brasil sintético”. Isto é, uma projeção de como teria se comportado a taxa de desemprego brasileira, caso não tivesse sido aprovada por aqui a reforma trabalhista. Esse modelo é controlado para uma série de outras variáveis, como crescimento do PIB, inflação, câmbio e taxa de juros, já que todos esses indicadores influenciam a taxa de desemprego. Usando essa tática, os economistas encontram que a reforma trabalhista teria reduzido a taxa de desemprego no país entre 2018 e 2020 em 1 ponto percentual, na média dos três anos. Em seguida, os economistas realizam um teste, para saber se essa variação encontrada é significativa do ponto de vista estatístico. E aí vem o banho de água fria. Aplicando a mesma metodologia para países onde não houve reforma, como Chile, Guiana e Trinidade e Tobago, os economistas encontram diferenças ainda maiores entre o modelo sintético e a taxa de desemprego efetiva desses países, o que indica que não se pode concluir que a diferença observada nos dados brasileiros seja resultado da reforma trabalhista. “A gente não consegue afirmar que a criação de empregos foi maior com a reforma do que teria sido sem a reforma”, diz Serra. Ele destaca que uma dificuldade para a análise do caso brasileiro é o curto tempo da reforma em vigor. Isso porque estudos utilizando metodologia semelhante, analisando reformas trabalhistas realizadas na Argentina, Austrália e Alemanha, encontraram reduções na taxa de desemprego desses países entre 1,19 e 3,44 pontos percentuais em 12 anos. “Por um lado, as grandes expectativas que o governo Temer tinha para a reforma definitivamente não foram correspondidas”, observam Serra, Bottega e Sanches no estudo. “Por outro lado, nossos resultados também sugerem cautela para concluirmos algo sobre a reforma tão cedo, já que não podemos dizer que ela foi a causa dos aumentos na taxa de desemprego nos últimos anos e nem podemos prever os efeitos que terá a longo prazo.” Estudo sobre ponto específico da reforma Uma outra análise sobre a reforma trabalhista repercutiu bastante nas últimas semanas, embora o estudo ainda não esteja publicado e não seja possível, por ora, avaliar a metodologia utilizada pelos pesquisadores. O estudo analisa apenas um ponto da reforma: a regra que transfere ao trabalhador os custos com o advogado da empresa, caso ele perca uma ação trabalhista na Justiça. “Criamos um modelo matemático para replicar o que era o Brasil exatamente antes da reforma, no ano de 2017”, diz Danilo Paula de Souza, pesquisador de pós-doutorado no Insper e um dos autores do estudo ao lado dos professores Raphael Corbi, Rafael Xavier Ferreira e Renata Narita, da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo). “Então fazemos um exercício contrafactual, que é analisar como seria esse Brasil pós-reforma, sem olhar para os dados [da economia real], por que o emprego pode ter subido ou caído [na economia real] por motivos diversos, como questões de política externa, etc.”, acrescenta Souza. Os pesquisadores então alteram esse modelo matemático para incluir a possibilidade de que o trabalhador tenha de arcar com parte do
Brasil perde 2,8 milhões de trabalhadores com carteira em 8 anos; informalidade e conta própria crescem
G1 Número de brasileiros no regime CLT ou formalizados no serviço doméstico encolheu para menos de 40% dos trabalhadores no setor privado. Número de trabalhadores por conta própria ou sem carteira aumentou em 6,3 milhões. Por Darlan Alvarenga e Marta Cavalini O emprego com carteira assinada tem perdido protagonismo e espaço no mercado de trabalho brasileiro. A participação desta modalidade no total da população ocupada no setor privado ficou em 38,1% no 1º trimestre de 2022 e segue bem distante do pico de 43% alcançado em 2014. Segundo levantamento da LCA Consultores, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, o número de trabalhadores com carteira assinada diminuiu em 2,8 milhões entre 2014 e 2022, enquanto que o de trabalhadores por conta própria ou sem registro em carteira aumentou em 6,3 milhões em 8 anos. Em números absolutos, o contingente atual de trabalhadores com carteira assinada no 1º trimestre de 2022 totalizou 36,3 milhões, contra 39,1 milhões no 1º trimestre de 2014. O cálculo considera a soma dos trabalhadores do setor privado no regime CLT e domésticos com carteira assinada, sem incluir trabalhadores do setor público, que emprega 11,2 milhões, o correspondente a uma fatia de 11,8% dos ocupados. Mesmo com o aumento do número de brasileiros com emprego formal nos últimos meses, o percentual dos ocupados com carteira assinada permanece abaixo do patamar pré-pandemia (38,7%). Veja no gráfico abaixo: “É um movimento de precarização do mercado de trabalho mesmo”, resume Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, autor do levantamento. Em 8 anos, a categoria que mais ganhou participação no mercado de trabalho foi a de trabalhadores por conta própria, que saltou de 22,5% para 26,5% do total de ocupados, seguida pelo emprego sem carteira assinada, que passou de 11,6% para 12,8%. Juntas, as duas modalidades representam 39,3% do total de brasileiros com trabalho, mais do que o contingente com carteira assinada, totalizando 37,5 milhões. De 2014 a 2022, a população com alguma ocupação no país cresceu 4,1% (3,8 milhões de pessoas a mais). Ou seja, a geração de renda e a expansão do mercado de trabalho têm sido puxada pela informalidade e pelo chamado empreendedorismo de necessidade. O encolhimento da fatia de brasileiros com carteira assinada reflete não só a sucessão de crises econômicas nos últimos anos, mas também as transformações tecnológicas e estruturais no mercado de trabalho, além da busca por trabalhos mais flexíveis. Sem carteira por opção para ganhar mais Maria Cristina dos Santos, de 49 anos, decidiu abrir mão da carteira assinada após mais de 10 anos trabalhando como empregada doméstica, faxineira, cobradora, entre outras ocupações. Desde o final do ano passado, ela passou a atuar como diarista, cobrando R$ 170 por dia de serviço. “Eu trabalhava numa casa de família e dormia no emprego. Tinha dia que eu começava às sete e esticava até às 9 horas da noite. Como diarista eu mesmo faço o meu horário e ganho bem mais, diz. Por ora, ela ainda não decidiu se formalizar como Microempreendedor Individual (MEI). Mas, mesmo sem a cobertura da Previdência Social e outros benefícios da CLT, ela afirma que atuar na informalidade está valendo mais a pena. “As empresas estão pagando muito pouco. Oferecem 1 salário mínimo e, depois de todos os descontos, você recebe R$ 900. O que dá para um chefe de família fazer com isso?”, afirma. A diarista sonha cursar enfermagem para buscar no futuro um trabalho de melhor remuneração. Mas, por ora, o seu foco é conseguir mais uma casa para fazer faxina, para ter 5 diárias fixas por semana. “Estou procurando, é que está difícil mesmo”, diz. Qualidade das vagas novas de emprego piora no Brasil ‘Única solução era inovar’ Letícia Emanuele Nogueira, de 26 anos, ficou cerca de 4 anos em empregos com carteira assinada, mas, quando chegou a pandemia, ela e o marido passaram a fazer parte das estatísticas de desemprego e do empreendedorismo de necessidade. Sem renda e com dois filhos pequenos, o casal decidiu abrir um negócio na área de TI e design. Os dois uniram suas especialidades e passaram a prestar serviços de formatação e manutenção de computadores, desenvolvimento web e design gráfico. “Vimos que a única solução era inovar para conseguir renda, e foi o que fizemos. Abrimos o nosso próprio negócio”, conta. Leticia lembra que no começo não aparecia nenhum cliente e que até dava saudade dos tempos de salário fixo. Somente após 8 meses é que a empreitada começou a dar frutos. Mas, pesando tudo o que aconteceu, ela acha que a mudança trouxe a oportunidade de dar uma guinada em sua vida profissional. “Olhando para trás, se não tivesse perdido meu emprego CLT talvez não tivesse essa coragem de trabalhar por conta própria”, afirma a empreendedora, que está para concluir a faculdade de pedagogia. Seus planos são continuar com seu negócio – ela está providenciando a papelada para virar MEI – e prestar concurso público. Voltar para a CLT está fora de cogitação. “Mas o futuro é sempre incerto, isso a pandemia me mostrou”, pondera. Renda em queda no país Os dados do Ministério do Trabalho e da Previdência Social mostram que a maioria das vagas com carteira assinada criadas no país oferecem uma remuneração de até 2 salários mínimos. Em março, o salário médio de admissão foi de R$ 1.872,07. Já a renda média do trabalhador no Brasil foi de R$ 2.467 em março, 8,7% menor que o de 1 ano antes. Os números do IBGE mostram que os trabalhadores por conta própria formalizados, com CNPJ, possuem uma renda média mensal maior a dos trabalhadores com carteira assinada, perdendo apenas para a dos empregadores e trabalhadores do setor público. ‘Uberização’ A perda de protagonismo da carteira assinada tem refletido também transformações do mercado de trabalho não só no Brasil, incluindo maior automação nos processos de produção, flexibilização das relações trabalhistas e a chamada “uberização” (trabalhadores de aplicativos). “O mundo dele cada vez mais dependente de capital tecnológico, em vez de capital humano, então isso acaba gerando menos vagas formais. Então, a pessoa que está ociosa e precisa buscar alguma fonte de renda, acaba indo para