No shopping, ritmo de venda perde para 2019
Valor Econômico – As vendas em shopping centers ainda mostram ritmo de expansão abaixo de 2019, segundo dados de associados da entidade do setor, a Abrasce, e obtidos pelo Valor. A Confederação Nacional de Comércio e Turismo (CNC) vê aumento do tráfego de clientes em velocidade superior ao avanço nas vendas nesse tipo de empreendimento. Pesquisa recebida nesta semana por associados da Abrasce, com dados referentes a 13 a 19 de setembro, mostra que as vendas feitas em shopping centers foram 14,6% inferiores ao mesmo período de 2019, segundo a Cielo, que faz os levantamentos para associação. Em julho, o recuo foi de 11% em relação ao mesmo período de 2019 (em termos reais, ao descontar a inflação do período, a queda é de 19,5%). Em junho, o resultado ficou 13,2% abaixo do apurado há dois anos. Em maio, a queda havia sido de 22,1%. No acumulado do segundo trimestre de 2021, já após a reabertura do comércio físico (e período de venda de Dia das Mães), o nível de vendas dos shoppings recuou 2% ante o primeiro trimestre do ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, quando o setor ainda tinha boa parte dos shoppings fechados – portanto, uma base de comparação baixa – houve aumento de 180% de abril a junho. Dados da CNC compilados junto à Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), mostra que o fluxo de consumidores cresce nos centros de compras mês a mês, mas esse aumento não tem se traduzido em expansão de vendas na mesma velocidade. “Em agosto, o fluxo em shoppings subiu 8,5%, e em lojas de rua caiu 29% sobre o ano anterior, mostrando que o tráfego retorna nos empreendimentos, enquanto as lojas de rua, com desempenho mais positivo durante a pandemia de 2020, perdem força. Mas o aumento da venda não ocorre nessa mesma velocidade do tráfego”, disse o economista Fábio Bentes, da CNC. Considerando essa recuperação paulatina, duas operadoras de shoppings ouvidas pelo Valor esperam chegar a mesmo nível de vendas de 2019 no fim do ano, possivelmente no Natal. Segundo Bentes, a volta das atividades do setor de serviços tem forte impacto nesse aumento de tráfego nos shopping centers, e será fundamental para retornar, de forma definitiva, aos patamares de 2019. Ainda segundo a Abrasce, 969 marcas inauguraram novas lojas no segundo trimestre do ano – o país tem cerca de 600 shoppings. A entidade informa que não tem dados de 2019 para comparação, apenas de 2020. O setor de alimentação e bebidas concentrou 25% das inaugurações de lojas no período, seguido por vestuário (15%) e calçados (6%). O número é menor que o apurado no quarto trimestre do ano passado, quando ocorreram 1.297 inaugurações, mas superior ao início do ano. De janeiro a março, foram 577 inaugurações. A Abrasce vem destacando ao mercado há alguns meses o processo de retomada, e apesar de o desempenho continuar abaixo da normalidade, vê sinais para otimismo. “O avanço da vacinação, a melhoria do quadro pandêmico, a retomada da atividade econômica e o retorno da totalidade dos shoppings em funcionamento são fatores que ajudaram a resgatar o otimismo dos empreendedores”, afirma, no levantamento, Glauco Humai, presidente da Abrasce. Semanas atrás, na convenção do setor, empresários destacaram que o alto volume de inaugurações de empreendimentos no país – especialmente no intervalo de 2011 a 2013 – fez elevar a base de área locável, e isso acaba pressionando os valores de locação e em tempos de crise e a recuperação na receita dos empreendimentos.
Produtividade recua com salto em horas trabalhadas
Valor Econômico – A produtividade do trabalho recuou com força no segundo trimestre de 2021, puxada pelo aumento expressivo das horas efetivamente trabalhadas bem acima da variação do valor adicionado, num cenário de normalização da atividade econômica. A baixa também se deveu ao impacto da recuperação de setores menos produtivos da economia, como comércio e serviços, e a volta dos trabalhadores informais ao mercado – o chamado “efeito composição”. Houve uma queda da produtividade de 13,9% em relação ao mesmo período de 2020, resultado da combinação de alta de 29,8% das horas efetivamente trabalhadas e de 11,7% do valor acionado, segundo os cálculos dos economistas Fernando Veloso, Silvia Matos, Fernando de Holanda Barbosa Filho e Paulo Peruchetti para o Observatório da Produtividade Regis Bonelli do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre). Para eles, a produtividade do trabalho começa a se aproximar da trajetória anterior à pandemia, marcada por um desempenho decepcionante. A retração do indicador no segundo trimestre reverte a tendência observada desde o segundo trimestre de 2020, quando a queda de horas trabalhadas e o chamado efeito composição contribuíram para o forte aumento do indicador, que não refletiria, nesse caso, ganho de eficiência genuíno dos trabalhadores, segundo os pesquisadores. Com a pandemia, foi afetado principalmente o desempenho de atividades menos produtivas, como serviços, comércio, alojamento e alimentação. Isso alterou, portanto, a composição dos setores em expansão. Além disso, deixaram o mercado os trabalhadores informais, que na média são menos produtivos que os formais. Essa composição diferente do mercado também ajudou a explicar esse aumento da produtividade desde o segundo trimestre de 2020. Ele vinha em desaceleração e no segundo trimestre foi revertido. Ao mesmo tempo, o tombo de agora não refletiria uma grande perda de eficiência no trabalho, ocorrendo em grande parte devido à recuperação expressiva das horas efetivamente trabalhadas com a reabertura progressiva da economia. A produtividade do trabalho chegou a aumentar 23,9% no segundo trimestre de 2020, quando houve queda forte das horas de trabalho no período mais agudo de isolamento social da pandemia, acompanhado pelas políticas de compensação de renda do governo, como o auxílio emergencial e o programa que suspendeu ou reduziu a jornada dos trabalhadores formais. O ritmo de expansão foi desacelerando ao longo dos meses, passando para 15,3% no terceiro trimestre, 10,1% no quarto trimestre e 4% no primeiro trimestre de 2021. A queda do segundo trimestre deste ano interrompe, portanto, essa sequência de altas expressivas, diante do histórico recente do indicador no país.
Reajustes salariais de agosto ficam 1,4 ponto abaixo da inflação, mostra Salariômetro
Valor Econômico – O reajuste mediano conseguido pelos sindicatos de trabalhadores nas negociações salariais coletivas (acordos e convenções) em agosto ficou em 8,5%, 1,4 ponto percentual abaixo da inflação acumulada em 12 meses, de 9,9%, segundo o boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O indicador que reajusta os salários é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Apenas 9,5% das negociações resultaram em aumento real e outros 23,5% conseguiram repor a inflação. No saldo, 67% dos acordos resultaram em salários com perdas reais. Há mais de um ano, a mediana dos reajustes não registra aumento real. A perda real de 1,4 ponto é maior que a registrada em anos de recessão, como 2015 e 2016. Segundo a Fipe, a inflação acumulada em 12 meses projetada para próximas datas-base, de cerca de 10%, deve continuar a comprimir o espaço para ganhos reais. Entre as categorias que mais perderam estão aquelas essenciais no período de pandemia, como a dos trabalhadores em hospitais e serviços de saúde, que teve perda real de 7,2% nos salários. Os trabalhadores das empresas de refeições coletivas tiveram perda de 8,4%. No acumulado de todas as negociações da categoria até agosto, a perda é de 0,7%. Quem menos perdeu foram trabalhadores do comércio, que não tiveram aumento real, mas compensaram a inflação, e da construção civil, com perda abaixo da média, de 0,6%. Setor muito atingido pela pandemia, bares, restaurantes e similares deram reajuste 2,3% abaixo da inflação do período.
General Motors vai retomar produção em dois turnos nas fábricas de SP e RS
O Estado de S.Paulo – A General Motors volta a operar em dois turnos de trabalho nas duas maiores fábricas no Brasil, em Gravataí (RS) e em São Caetano do Sul (SP), na próxima segunda-feira e no dia 4 de outubro, respectivamente. A unidade gaúcha ficou fechada por cinco meses e a do ABC paulista por dois meses em razão da falta de semicondutores. Ambas retomaram atividades parciais em meados de agosto. “Vamos poder dobrar a produção atual”, anunciou o novo presidente da GM na América do Sul e Brasil, Santiago Chamorro, em sua primeira entrevista (online) com um grupo de jornalistas brasileiros após assumir o cargo, em 31 de agosto. “O campeão voltou”, disse, referindo-se ao Onix, carro mais vendido no País antes do fechamento da unidade de Gravataí, onde é produzido. Segundo o executivo, a intenção da marca é colocar os veículos nas revendas o mais rápido possível para atender os clientes que estão aguardando. “Há um demanda represada.” Chamorro ainda está nos EUA, preparando a volta ao País para o mês que vem. Ele já presidiu a filial brasileira de 2013 a 2016, e ocupava, na sede da matriz em Detroit, o posto de vice-presidente da divisão global de serviços conectados antes de ser escolhido para suceder a Carlos Zarlenga, que deixou a empresa. O executivo afirmou que os problemas de suprimento de semicondutores e outros componentes prosseguem, mas o grupo tenta administrar a volatilidade de abastecimento. “Há um trabalho gigantesco, de forma global, para redesenhar nossa manufatura de produtos e a cadeia de logística de suprimentos”, disse. A intenção é reduzir a dependência dos fornecedores concentrados na Ásia. A fábrica de São Caetano produz os modelos Tracker, Onix Joy e Spin, e seu fechamento serviu também para o grupo fazer reformas para a produção da nova picape Montana, em 2022. A unidade de São José dos Campos (SP), onde são feitos a picape S10 e o SUV Trailblazer, já estava operando nessas condições, assim como as filiais de motores em Joinville (SC) e de peças em Mogi das Cruzes (SP). O grupo emprega cerca de 15 mil pessoas no País. Só com a retomada parcial da produção em Gravataí e São Caetano, em meados de agosto, a GM conseguiu alcançar 12% de participação nas vendas de automóveis e comerciais leves neste mês (até terça-feira), o dobro do registrado no mês passado. “A retomada da produção mais acelerada é um bom momento para ampliar nossos esforços para criar na região um negócio auto sustentável”, afirmou o executivo colombiano, que volta ao Brasil com essa missão. A GM registra prejuízos na América do Sul há alguns anos, além de ter perdido a liderança do mercado brasileiro. Chamorro ressaltou que o modelo de negócios do grupo vai focar também em negócios adicionais, com novos produtos para financiamento por parte do Banco GM e mais serviços de conectividade. Ele acredita que o mercado em 2022 continuará reagindo, mesmo que a escassez de chips se prolongue até o fim do primeiro semestre. VW para de novoEnquanto a GM volta a operar em dois turnos, a Volkswagen confirma nova parada em toda a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) de segunda-feira até o dia 6 de outubro. No mesmo período a unidade de Taubaté dispensará trabalhadores de um turno. A Toyota já anunciou a parada da produção do sedã Corolla por dez dias entre 13 e 22 de outubro por falta de peças para freios na unidade de Indaiatuba (SP). O item é importado da Malásia, onde o avanço da variante Delta do coronavírus levou o governo a decretar lockdown. Na segunda-feira está prevista a volta dos funcionários do segundo turno da fábrica da Hyundai em Piracicaba (SP), após dez dias de dispensa. Na última terça-feira e ontem voltaram às fábricas operários dispensados da Renault no Paraná e da Honda em Itirapina (SP).
Guedes resiste a desoneração de 17 setores e articula com relator medida ampla
Folha de S.Paulo – Contrário ao projeto que renova a desoneração da folha salarial de 17 setores, o ministro Paulo Guedes (Economia) tenta articular uma proposta alternativa para que haja uma redução ampla de encargos a todas as empresas. Relator do texto que prorroga o benefício aos setores, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) se reuniu com Guedes nesta quarta-feira (22) e debateu o tema. Sem dar detalhes, ele afirmou que a nova medida em estudo promoveria uma substituição de impostos sem aumentar a carga tributária. Embora a forma de compensação da proposta não tenha sido apresentada, Guedes avalia e defende desde o início do governo a criação de um imposto aos moldes da extinta CPMF para compensar um corte amplo em encargos trabalhistas. Na avaliação do ministro, a tributação sobre a folha de pagamento das empresas é mais nociva do que um imposto sobre transações, porque, para ele, os encargos salariais encarecem a mão de obra e inibem a criação de vagas formais de trabalho. O relator foi questionado sobre essa alternativa, mas respondeu que a proposta ainda não está estruturada. De acordo com o deputado, essa alternativa deve caminhar em paralelo ao projeto de lei que tramita na Câmara para prorrogar a desoneração dos 17 setores até 2026. Segundo ele, caso a nova ideia não prospere, o Congresso aprovará a renovação para esse grupo de empresas que já contam hoje com o benefício. “Entendo que é muito mais plausível e mais importante para o Brasil uma medida estrutural. Ao mesmo tempo, temos a segurança de que os 17 setores que hoje têm a desoneração estarão contemplados no ano que vem caso a gente não encontre uma decisão”, disse após o encontro com Guedes. Goergen afirmou que o projeto de lei que tramita na Câmara deve ser votado na Comissão de Constituição e Justiça na próxima quarta-feira (29). “Na semana que vem, queremos ter uma percepção mais clara de qual a alternativa que teremos”, afirmou. Segundo membros do Ministério da Economia, a tendência é que o projeto de prorrogação seja vetado se tiver aprovação do Congresso. Isso porque o texto não apresenta uma fonte de compensação para esse incentivo. O governo abriria mão de arrecadar R$ 8,3 bilhões por ano, caso o benefício seja prorrogado para os 17 setores. Essa perda de receita não está prevista no Orçamento de 2022. O Executivo já foi derrotado no ano passado quando tentou impedir a prorrogação da desoneração desses setores até o fim de 2021. Nos últimos anos, o clima no Congresso tem sido favorável a essa iniciativa. Agora, estratégia do governo é deixar que o Congresso assuma a liderança da articulação pela aprovação de um novo imposto aos moldes da extinta CPMF. O novo tributo substituiria os encargos sobre contratação de mão de obra de todas as empresas. A troca de tributação é defendida por Guedes, mas, após diversos entraves para apresentar a proposta desde o início do governo, a equipe dele adota agora uma postura diferente —deixando o Congresso assumir a linha de frente do plano de desonerar a folha de pagamento de todos os setores. A desoneração da folha a alguns setores, adotada no governo petista, permite que empresas possam contribuir com um percentual que varia de 1% a 4,5% sobre o faturamento bruto, em vez de 20% sobre a remuneração dos funcionários para a Previdência Social (contribuição patronal). Isso representa uma diminuição no custo de contratação de mão de obra. Por outro lado, significa menos dinheiro nos cofres públicos. Atualmente, a medida beneficia companhias de call center, o ramo da informática, com desenvolvimento de sistemas, processamento de dados e criação de jogos eletrônicos, além de empresas de comunicação, companhias que atuam no transporte rodoviário coletivo de passageiros e empresas de construção civil e de obras de infraestrutura, entre outros. Representantes desses segmentos e deputados que articulam a prorrogação da medida até dezembro de 2026 argumentam que a retirada do benefício elevaria os custos das empresas, o que colocaria empregos em risco em um momento em que o país tenta se recuperar da crise provocada pela Covid-19.