Justiça rejeita ações de sindicato contra restaurantes de São Paulo

A Justiça do Trabalho de São Paulo tem rejeitado uma onda de ações judiciais movidas contra bares e restaurantes da capital paulista por suposto descumprimento de convenção coletiva celebrada com os trabalhadores. Os magistrados, ao negarem os pedidos de condenação ao pagamento de diferenças salariais, têm apontado irregularidade no processo de negociação coletiva. A discussão envolve termo aditivo à convenção coletiva instituído, em 2018, pelo Sindicato dos Empregados no Comércio Hoteleiro e Similares de São Paulo (Sinthoresp). Nele, autoriza-se a adoção de pisos salariais menores que o padrão – de R$ 1.530 na época – em troca de contrapartidas. Dentre elas, o custeio integral de plano de saúde e o pagamento a empregados de participação nos lucros e resultados (PLR). As ações judiciais foram movidas pelo Sinthoresp. São pelo menos 80, segundo advogados. “Os pedidos são repetidos e idênticos. O sindicato entra com a ação sem saber sobre a situação específica da empresa, se ela cumpre ou não os pisos, se aderiu ou não ao termo de enquadramento”, afirma o advogado Henrique Melo, sócio da área trabalhista do NHM Advogados. O comerciante só poderia aderir a esse sistema alternativo se assinasse um termo de enquadramento firmado com o sindicato. O aditivo também previa que a homologação, pelo sindicato, da rescisão do contrato de trabalho passaria a ser facultativa para as empresas que aderissem aos pisos menores que o padrão e continuaria obrigatória para as que adotassem o piso padrão. Na primeira e segunda instâncias da Justiça do Trabalho, os magistrados têm dispensado o cumprimento do termo aditivo por falha na negociação coletiva. Isso porque, apontam, não há prova de que o sindicato realizou assembleia prévia com os trabalhadores para aprovar as mudanças. Em junho, a rede Mousse Cake (Restaurante Tieteat Ltda.) conseguiu afastar o pedido de condenação de pagamento de diferenças salariais. Para o juiz substituto da 88ª Vara do Trabalho de São Paulo, Gustavo Campos Padovese, o termo aditivo foi instituído sem prévia concordância da categoria. “Mostra-se abusiva a criação de termo aditivo para cuja elaboração não houve convocação anterior dos substituídos, ante as condições prejudiciais que surgiriam para aqueles que não aderissem ao termo de enquadramento e consequentemente ao termo aditivo”, afirma o juiz na sentença. Duas turmas do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo (2ª Região) têm chancelado sentenças no mesmo sentido. Em julgamentos recentes envolvendo restaurantes de pequeno porte, os desembargadores consideraram abusiva a conduta do sindicato de instituir um termo aditivo sem consentimento prévio dos trabalhadores. “Restam configurados os abusos cometidos pela entidade sindical ao instituir, por meio de termo aditivo, condições sem prévia convocação dos substituídos”, afirma no acórdão a relatora de um dos casos, desembargadora Ivete Bernardes de Souza (processo nº 1000049-79.2020.5.02.0054). Segundo os julgadores, a falta de acordo sobre a modificação da convenção coletiva violaria o artigo 615 da Consolidação das Leis dos Trabalho (CLT). Pelo dispositivo, “o processo de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação total ou parcial de convenção ou acordo ficará subordinado, em qualquer caso, à aprovação de assembleia geral dos sindicatos convenentes ou partes acordantes, com observância do disposto no artigo 612”. O advogado Leonardo Jubilut, sócio do Jubilut Advogados, conta que alguns de seus clientes que cumprem as contrapartidas estabelecidas no aditivo procuraram o sindicato para firmarem o termo de enquadramento, mas não tiveram qualquer retorno. “Atender as empresas demanda mais estrutura do que distribuir as ações judiciais. Andou muito mal o sindicato nesse processo”, diz. Secretário-geral do Sinthoresp, Rubens Fernandes da Silva, afirma que a assembleia prévia foi realizada. “Talvez tenha havido falha nossa em não juntar as atas aos processos”, diz ele, acrescentando que as ações judiciais são originadas de denúncias de empregados e que são feitas de forma coletiva para preservar a identidade do trabalhador. Silva afirma ainda que a responsabilidade de registrar os termos de enquadramento era do sindicato patronal. Pela redação do aditivo, porém, a empresa deveria obter a assinatura do termo no sindicato profissional e em pelo menos um dos quatro sindicatos patronais. VALOR ECONÔMICO

Guedes quer Trabalho e Previdência de volta após saída de Onyx para eleição

A decisão de transformar a secretaria de Previdência e Trabalho em um novo ministério, a ser liderado por Onyx Lorenzoni, deverá ser temporária, segundo plano traçado pelo time do ministro da Economia, Paulo Guedes, que hoje comanda a área. Pela programação da equipe econômica, até o fim do governo, a pasta de Emprego e Previdência será novamente extinta e retornará ao guarda-chuva de Guedes. Mas ainda não há previsão de quando isso aconteceria, e se seria antes do resultado da eleição de 2022. A estratégia de desfazer o ministério dependerá de apoio político. O presidente Jair Bolsonaro planeja uma troca de cadeiras na Esplanada dos Ministérios cujo objetivo é acomodar aliados políticos e selar a aliança com o centrão, grupo de partidos que dá suporte ao governo no Congresso, num momento de baixa popularidade do governo. Nesse contexto, Onyx deverá ceder o cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. Para hospedá-lo temporariamente, Bolsonaro pretende recriar o Ministério do Emprego e Previdência, que foi fundido ao de Guedes. Só que o projeto de Onyx, segundo integrantes do governo, envolve uma provável disputa ao governo do Rio Grande do Sul no próximo ano. Para isso, ele precisará deixar o posto até abril de 2022. Técnicos do Ministério da Economia, então, dizem acreditar que ele ficará no cargo por cerca de oito meses. O plano pós-Onyx, elaborado pelo time de Guedes, ainda está em debate: ou o atual secretário de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, assume a função (também de forma temporária) ou a área já retornaria para a tutela do ministro da Economia a partir de abril.Seja qual for o cenário, Guedes afirmou a aliados que a intenção é voltar o ministério de Emprego e Previdência para o status de secretaria até o fim do governo. A ideia é seguir a linha de enxugamento da máquina pública, defendida pelo ministro da Economia e o bunker liberal do governo. Apesar desse planejamento, a nova pasta pode ser desejada por partidos políticos, e entrar numa disputa entre Guedes e o centrão. Onyx deve herdar cerca de 85% do orçamento atual de Guedes, que chega a R$ 724,8 bilhões. O Ministério do Emprego e Previdência se tornará a pasta com mais verba na Esplanada, e Guedes ficará com menos de R$ 100 bilhões. O plano do Ministério da Economia também pode perder força e se mostrar inócuo caso Bolsonaro não seja reeleito. Nesse caso, o futuro da pasta dependeria do resultado das urnas. Na avaliação de integrantes do Palácio do Planalto e do Ministério da Economia, o movimento na Esplanada, que resultará no alojamento de Onyx em um novo ministério, foi necessário para tentar garantir apoio de partidos à agenda econômica que está em discussão no Congresso, como a reforma tributária e a privatização dos Correios. Aliados de Bolsonaro contam com a recuperação da economia e o aumento nos gastos sociais, como reformulação do Bolsa Família, para que a candidatura dele à reeleição se torne mais competitiva. A criação de um novo ministério, porém, não é algo simples. Em abril de 2019, quando o governo Bolsonaro completava 100 dias, Onyx era ministro da Casa Civil. Ele exaltou, entre outras coisas, que 21 mil cargos e funções comissionadas haviam sido extintos. Isso era parte da agenda de corte de despesas. Agora, com o ressurgimento do Ministério do Emprego e Previdência, cargos e funções comissionadas precisam ser retomados. A equipe de Guedes ainda trabalha nesse levantamento. É um retrocesso do ponto de vista orgânico, mas um avanço do ponto de vista político, segundo a argumentação de integrantes da área econômica. Um ministério precisa ter uma estrutura mínima própria para funcionar, como departamentos de compras e licitações, além do arranjo para o gabinete de um ministro. Em relação à agenda trabalhista e previdenciária, a equipe econômica não acredita que haverá mudanças bruscas. Onyx se mostrou disposto a analisar os projetos que já estavam em andamento. Além disso, ele tem a confiança de Guedes, pois já trabalhavam juntos desde a campanha presidencial de Bolsonaro, e quando Onyx assumiu a Casa Civil logo no início do governo. O plano do Ministério da Economia é emplacar a permanência do quadro técnico da atual secretaria de Previdência e Trabalho. Com isso, Bianco se tornaria secretário-executivo de Onyx, e a linha dele e de Guedes —liberal e de reformulação de regras trabalhistas— não seria interrompida. Enquanto prepara a MP (medida provisória) com as alterações, o ministro da Economia também já planeja mudanças na estrutura interna das secretarias que continuarão sob seu comando. A secretaria de Orçamento e a secretaria do Tesouro Nacional hoje estão abaixo da secretaria especial de Fazenda. A ideia é criar a secretaria especial de Orçamento e Tesouro. Ou seja, fundir as áreas e elevá-las de status. A aliados, Guedes tem dito que a proposta visa maior alinhamento entre o setor que planeja os gastos públicos e o que cuida das despesas. Mas partidos que compõem o centrão continuam pressionando o governo para recriar o Ministério do Planejamento, cujas funções estão hoje dentro da Economia e envolvem o controle do Orçamento federal. Integrantes do governo temem que o Congresso use a MP de remanejamento da estrutura ministerial para tirar mais poderes de Guedes. Mas membros da equipe econômica esperam que a articulação política do governo contenha essa pressão. O centrão avalia que Guedes acumulou muitas áreas no Ministério da Economia. Além disso, há um desgaste na relação do Congresso com o titular da pasta, principalmente em relação a questões orçamentárias, como volume de emendas parlamentares e recursos para destravar a reformulação do Bolsa Família. Em abril, para melhorar o diálogo com o Congresso, Guedes trocou o comando da secretaria especial de Fazenda, principal braço do Ministério da Economia e com atribuições em grande parte equivalentes às do antigo Ministério da Fazenda. Saiu Waldery Rodrigues e entrou Bruno Funchal, que deve continuar no cargo após a criação da secretaria especial de Orçamento e Tesouro. FOLHA DE S. PAULO

O sistema tributário continuará caótico (Claudio Adilson Gonçalez)

Os ônus dos tributos para os agentes econômicos são de três categorias: a própria despesa incorrida no pagamento das obrigações fiscais; os custos de conformidade, ou seja, as despesas necessárias para apurar os impostos e contribuições e satisfazer às exigências do Fisco; e os custos de distorções na alocação eficiente de recursos, que são inversamente proporcionais à qualidade dos sistemas tributários. O Brasil possui um sistema tributário de péssima qualidade, o que faz com que os custos dessas três categorias sejam muito elevados. Os problemas existem tanto nos tributos diretos (sobre renda e patrimônio) como nos indiretos (que incidem sobre a produção e o consumo). É sobretudo nesses últimos que residem os maiores obstáculos para o crescimento econômico. Por isso, causa estranheza o fato de o governo ter trabalhado contra a proposta de profunda reforma da tributação sobre o consumo (PEC 45), preferindo começar com uma tímida alteração, limitada ao PIS-Cofins, e com uma reforma mais ampla do imposto sobre a renda (IR), que já se transformou numa colcha de retalhos, tecida pelas pressões de grupos ou setores que se acham prejudicados com as modificações. De fato, a tributação do consumo tem sido orientada equivocadamente para atingir objetivos múltiplos, que deveriam ser mais bem perseguidos por políticas públicas específicas. União, Estados e municípios, crescentemente, insistem em usar os impostos indiretos como instrumento de políticas sociais, desenvolvimentistas, regionais e, muitas vezes, apenas como manobras eleitoreiras. O resultado disso é que nosso sistema tributário se transformou numa enorme confusão, e é um dos grandes obstáculos, se não o maior, para a elevação da produtividade e do crescimento econômico. Isso é visível na complexidade, na guerra fiscal, no acúmulo de créditos fiscais nas empresas, no elevado número de contenciosos, na multiplicidade de alíquotas que geram privilégios para certas atividades, em vinculações que dificultam a realização eficiente de políticas públicas, na indevida oneração dos investimentos e das exportações e em complexas questões relativas à partilha dos recursos. Conforme estudo realizado pelo economista Bráulio Borges (Ibre/FGV e LCA Consultores), para o Centro de Cidadania Fiscal, a reforma consubstanciada na PEC 45, bombardeada pelo governo, ao reduzir principalmente os custos de conformidade e de alocação ineficiente de recursos, além de desonerar os investimentos, provocaria enorme impulso ao crescimento econômico. Somente os efeitos diretos poderiam aumentar o PIB potencial em 20%, em 15 anos. Já o Projeto de Lei (PL) 2.337/21, que altera o IR, não remove as enormes distorções existentes nesse tributo, especialmente na tributação do lucro, hoje restrita à pessoa jurídica. Embora a alíquota nominal seja de 34% para a maior parte das grandes empresas que pagam pelo lucro real, há uma multiplicidade de alíquotas efetivas, dadas as várias possibilidades legais de ajustes do valor a ser tributado e a ampla gama de reduções do imposto devido. Isso quebra o princípio da neutralidade alocativa do IR. Afinal, deve-se tributar o lucro de maneira uniforme, seja ele gerado na empresa ou no setor que for. Além disso, como já mostrei neste espaço, é falso que o PL diminui a regressividade do IR. Também não é lógico reduzir impostos diretos num país onde a carga de tributos indiretos incidentes sobre a folha de pagamento e o consumo de bens (não de serviços) é desproporcionalmente elevada para padrões internacionais. O melhor que pode acontecer é que os Estados e municípios, que arcarão com a maior parte dos custos da redução do Imposto de Renda das empresas, consigam impedir a aprovação do monstrengo em que se transformou a reforma tributária de Paulo Guedes. *ECONOMISTA, DIRETOR-PRESIDENTE DA MCM CONSULTORES, FOI CONSULTOR DO BANCO MUNDIAL, SUBSECRETÁRIO DO TESOURO NACIONAL E CHEFE DA ASSESSORIA ECONÔMICA DO MINISTÉRIO DA FAZENDA O ESTADO DE S. PAULO

Cicatrizes da crise (Editorial)

Por muitos anos o trabalhador brasileiro vai sofrer os efeitos da crise gerada pela pandemia, alertam economistas do Banco Mundial. Os impactos sobre emprego e salários poderão durar nove anos a partir de seu início, segundo o relatório “Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-covid-19”. Desocupação, informalidade maior, maior pobreza e menores possibilidades para os jovens serão efeitos duradouros, se nada for feito para mudar as condições do mercado e valorizar o capital humano, advertem os autores do estudo. Feito o alerta, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, tenta dar uma resposta positiva. Segundo ele, o governo já está empenhado em garantir a inclusão dos informais e em proteger o emprego. Os fatos conhecidos até agora são muito menos positivos que as palavras do secretário. Na maior parte dos países desenvolvidos e emergentes, empregos foram criados e a desocupação diminuiu depois da pior fase de 2020. No Brasil, o desemprego seguiu caminho inverso, aumentando na passagem de ano e atingindo, no primeiro trimestre de 2021, 14,7% da força de trabalho. O quadro se manteve no trimestre móvel terminado em abril. Essa taxa era mais que o dobro da média (6,6%) registrada, no período, nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A mesma diferença havia sido observada no começo da pandemia. A duração das ações anticrise também distancia as políticas seguidas na maior parte dos países da OCDE e no Brasil. Como se a crise tivesse acabado, ou estivesse quase terminando, o governo brasileiro relaxou e em seguida abandonou a proteção de empregos e a ajuda emergencial às famílias em pior situação. O aumento do desemprego e o avanço da miséria, nos primeiros meses de 2021, resultaram de ações e omissões de autoridades federais. A piora das condições econômicas esteve associada, em grande parte, a erros do poder central diante da crise de saúde. A vacinação começou com atraso e avançou lentamente durante algum tempo. As falhas do Ministério da Saúde e as irresponsabilidades da Presidência da República têm sido claramente expostas graças ao trabalho da CPI da Covid. Não há como separar, no balanço geral, os erros da política sanitária, desde o ano passado, o prolongamento da crise do emprego e a recuperação ainda incompleta, oscilante e muito desigual dos vários segmentos da indústria, do varejo e dos serviços. No Brasil, como em qualquer outro país desenvolvido ou emergente, recessões tendem a afetar mais duramente os trabalhadores menos qualificados e os jovens. No caso brasileiro, essa diferença se manifesta de forma ainda mais dolorosa, por causa das enormes desigualdades, da escassa formação da maior parte da mão de obra e da ampla informalidade. Algumas autoridades agora exibem preocupação com esses problemas. O governo decidiu, com atraso e com muita parcimônia, restabelecer a ajuda emergencial e repensar medidas para formação profissional e inclusão de jovens no mercado de trabalho. Mas, talvez por uma inclinação difícil de contrabalançar, as propostas parecem mais voltadas para o barateamento da mão de obra do que para a multiplicação de oportunidades e – muito importante – para a modernização da economia brasileira. É significativo, mas nada surpreendente, o distanciamento entre os Ministérios da Economia e da Educação no tratamento dessas questões. O Brasil tem respeitáveis especialistas em política educacional e pessoas capazes de articular estratégias de educação e de desenvolvimento econômico e social. Mas o Ministério da Educação, a partir de 2019, foi sempre orientado para agir como um propagador do universo intelectual, político e moral do presidente Jair Bolsonaro e de sua família. Os ministros da Educação têm mostrado qualidades semelhantes às do general Pazuello no Ministério da Saúde, mas as piores consequências de seus atos são menos visíveis e demoram muito mais para aparecer. Mas acabam aparecendo, e são muito custosas. O ESTADO DE S. PAULO

PIB pode crescer 1,6% com redução de Imposto de Renda para empresas, indica estudo

Se aprovada neste ano, a reforma do Imposto de Renda pode gerar alta de 1,6% no Produto Interno Bruto (PIB) até o final de 2023 e cobrir o rombo estimado de R$ 30 bilhões na queda da arrecadação, aponta estudo do Centro de Liderança Política (CLP). Os cálculos levam em consideração o desenho apresentado pelo relator do projeto, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), que prevê uma redução de 12,5 pontos porcentuais da alíquota do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) combinada com a volta de tributação da distribuição de lucros e dividendos a uma alíquota de 20%. O CLP resolveu fazer o estudo depois da divulgação do parecer prevendo o buraco de R$ 30 bilhões da arrecadação do imposto, sem a contrapartida de medidas de cortes de renúncias que poderiam aumentar as receitas do governo. A aposta do relator foi justamente a de que a reforma iria promover um crescimento e levar consequentemente à elevação da arrecadação, zerando o rombo e até mesmo reforçando o caixa do governo, afastando o risco fiscal de aumento do déficit das contas públicas. “Queríamos entender que tipo de decisão é essa”, diz Tadeu Barros, diretor de operações do CLP, uma organização suprapartidária que trabalha para desenvolver líderes públicos capazes de enfrentar os problemas mais urgentes do País. O ponto de partida foi o de que as mudanças de impostos das empresas costumam ter efeitos sobre outras variáveis da economia, especialmente o investimento privado. Em 2023, quando a queda total da alíquota prevista estará concluída, a perda de arrecadação do IRPJ foi estimada no estudo em R$ 95 bilhões (menor um pouco do que a estimativa do governo; veja ao lado). Segundo o economista Daniel Duque, chefe da área de inteligência técnica do CLP, mesmo que as empresas estejam com mais R$ 95 bilhões por ano em caixa, não há garantia de que investirão mais. Mas, observa ele, com a taxação de dividendos, a queda no IRPJ tende a levar, de fato, a maiores investimentos privados, ao desestimular a divisão dos lucros com os acionistas. As simulações foram feitas considerando a hipótese de que pelo menos 20% dos R$ 95 bilhões de incremento de caixa nas empresas seriam redirecionados para investimentos, em razão do estímulo à retenção de lucros pela nova taxação. Com esse movimento, o investimento privado aumentaria cerca de 2 pontos, passando de 13,8% para 14% do PIB. Haveria também um aumento de R$ 34 bilhões na arrecadação, o que neutralizaria o impacto da reforma. O cálculo de 20% teve como base comportamento das empresas depois de um dos maiores aumentos na alíquota do imposto sobre dividendos no mundo – na França, em 2013, de 15,5% para 46%. Na época, as empresas francesas afetadas pela mudança reduziram substancialmente os pagamentos de dividendos, o que levou a maiores investimentos e vendas. Para cada aumento de 1% na taxa de imposto sobre dividendos, os empresários franceses aumentaram seu investimento em 0,4%. O aumento no investimento e a expansão do crédito ajudaram as empresas a crescerem mais rapidamente. O relator Celso Sabino considerou importante o resultado do estudo. “Quando as pessoas entenderem que projeto vai significar, não será só a Bolsa de Valores que vai bater recordes, mas o ânimo dos empreendedores vai revigorar”, disse. O ESTADO DE S. PAULO

Economistas passam a prever inflação ainda mais longe da meta este ano e Selic em 7%

A projeção do mercado financeiro para a inflação em 2021 se distanciou ainda mais do teto da meta perseguida pelo Banco Central. Economistas alteraram a previsão para o IPCA – o índice oficial de preços – este ano, conforme o Relatório de Mercado Focus, de alta de 6,31% para 6,56%. Trata-se da 15.ª alta seguida. Há um mês, a estimativa estava em 5,97%. A projeção para o índice em 2022 foi de 3,75% para 3,80%. Quatro semanas atrás, estava em 3,78%. O relatório Focus trouxe ainda a projeção para o IPCA em 2023, que seguiu em 3,25%. No caso de 2024, a expectativa foi de 3,06% para 3,00%. A projeção dos economistas para a inflação já está bem acima do teto da meta de 2021, de 5,25%. O centro da meta para o ano é de 3,75%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). A meta de 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%), enquanto o parâmetro para 2023 é de inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%). Já para 2024 a meta é de 3%, também com margem de 1,5 ponto (de 1,5% para 4,5%). A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia. Na hipótese de a meta de inflação ser descumprida, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de enviar uma “carta aberta” a Guedes, explicando as razões para o estouro. A última vez que isso ocorreu foi em janeiro de 2018 e o motivo foi o descumprimento em outra direção, por a inflação do ano anterior ter ficado abaixo do piso da meta. O ex-presidente Ilan Goldfajn justificou, à época, que o maior impacto para a inflação ter desabado em 2017 foi a queda dos alimentos por causa da safra recorde. SelicPara o controle da alta de preços, o mercado estima que o BC vai subir ainda mais a taxa básica de juros em 2021. O Relatório de Mercado Focus trouxe que a mediana das previsões para a Selic de 2021 foi de 6,75% para 7% ao ano. Hoje, a taxa básica de juros está em 4,25% ao ano. Para os próximos anos, as estimativas são de 7% (2022), 6,5% (2023) e 6,5% (2024). Para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2021, os economistas do mercado financeiro passaram a estimativa de crescimento da economia brasileira de 5,27% para 5,29%. Foi a 14ª alta seguida do indicador. No começo do ano, o mercado previa que o PIB iria crescer 3,4%. A economia, no entanto, tem mostrado reação nos últimos meses, influenciada, entre outros motivos, pela alta dos preços das commodities – produtos básicos, como alimentos, minério de ferro e petróleo, cotados no mercado internacional em dólar. Para 2022, o mercado manteve a previsão de alta do PIB em 2,10%. O ESTADO DE S. PAULO

Varejo e finanças ganham força no mundo digital

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O varejo e as finanças são os setores brasileiros que mais demonstraram maturidade digital no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento realizado pelo Google. E a empresa que despontou no relacionamento com o cliente foi O Boticário, primeira empresa local a atingir o maior nível de maturidade pelo critério da gigante de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg. No setor financeiro, o destaque foi o PicPay, do grupo J&F. Já a Cogna, a Stellantis (dona da Fiat) e a Elo7 obtiveram, respectivamente, as melhores avaliações em educação, mobilidade e serviços – os outros segmentos analisados. O índice do Google, chamado gMaturity, avalia formatos usados, tipos de audiências, métricas de campanhas e automação de processos de marketing digital. Na classificação, o modelo considera quatro estágios: nascente, emergente, conectado e multimomento (veja quadro). Segundo estudo do Google e Boston Consulting Group (BCG), empresas que estão no último nível podem alcançar até 20% mais receita e reduzir em 30% dos custos associados às campanhas. O Boticário alcançou o nível mais elevado por apresentar evolução em diversos parâmetros: adotou a automação de campanhas, alinhou os objetivos de marketing com lucratividade e unificou a jornada do usuário em diferentes canais de atendimento. Um dos símbolos dessa transformação foi a criação de experiências para os clientes, como o espelho virtual, em que o consumidor consegue experimentar maquiagens de maneira digital. Além disso, a companhia passou a adotar estratégias ágeis em sua comunicação. Um exemplo foi o de testar ideias com um pequeno número de clientes e entender maneiras mais efetivas de escalá-las. Segundo Cathyelle Schroeder, diretora de comunicação da empresa, O Boticário priorizou o ganho de performance no site, diminuindo o tempo de resposta para os usuários, por exemplo. Para completar, houve uma maior a integração das lojas físicas com o e-commerce. Ou seja: a companhia atuou em boa parte dos seis “viabilizadores da maturidade”, na visão do Google: conexão entre dados online e offline; uso da automação e da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg para obter conteúdos customizados; criação de métricas palpáveis para identificar o valor das ações dos clientes nas compras; formulação de parcerias estratégicas com outras empresas; contratação de cientistas de dados que atuem em linha com o marketing; e criação da cultura do “testar e aprender rápido”. “O que a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg faz é tirar um pouco da subjetividade. É otimizar para chegar até a lucratividade”, explica Rafael Russo, diretor de produtos de publicidade do Google Brasil. Já na área de finanças, o PicPay, que foi classificado no nível conectado do índice, é o destaque. “A melhor forma de entregar o produto certo na hora certa é utilizando dados”, destaca Guilherme Telles, diretor de marketing e estratégias do PicPay. De 2018 a 2020, a base de usuários da empresa cresceu 97%. Só no primeiro trimestre deste ano, o aumento foi de quase 30%, chegando a 50 milhões de clientes. Segundo ele, a empresa usa inteligência artificial para conseguir otimizar as campanhas e mensurar o desempenho das ações e a qualidade dos anúncios. Outro ponto importante dentro da empresa é a integração dos setores. Para Telles, seria impossível construir produtos eficientes se os departamentos de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg não estivessem conectados com o marketing e o atendimento. Estudo remotoOutro setor que precisou acelerar a presença digital durante a pandemia foi o da educação – devido às demandas do ensino remoto. A Kroton, braço de ensino superior da Cogna, investiu essencialmente em pessoal qualificado e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, conta Bernardo Marotta, diretor de marketing e performance. Outra investida da companhia foi na criação de um produto 100% digital: a startup Ampli. A edtech possui um modelo flexível e desenvolvido para o celular – que oferece cursos de menor duração. Mais recentemente, a empresa fez um acordo com a operadora Tim, que passou a oferecer o portfólio da edtech para os seus clientes. “Com todos esses movimentos, ampliamos nossa capacidade de entender a jornada pré e após o clique, com uma visão unificada de alcance e frequência”, diz Marotta. O ESTADO DE S. PAULO

No varejo, perda acumulada chega a R$ 873 bilhões, diz CNC

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Fora da área industrial, um setor com elevadas perdas desde o início da pandemia é o comércio varejista. Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), calcula em R$ 873,4 bilhões a perda acumulada de fevereiro de 2020 a maio deste ano. Ele ressalta que há discrepância entre segmentos, com supermercados, produtos alimentícios e bebidas, por exemplo, avançando na pandemia, e segmentos como equipamentos e materiais para escritório e informática, tecidos, vestuário e calçados apresentando perdas significativas. As vendas online, por outro lado, se destacaram. Para Pedro Renault, economista do Itaú Unibanco, o e-commerce “ganhou uma participação que não vai devolver mesmo após a pandemia”. Esse tipo de venda puxou também a logística que, antes, atuava com grandes centros de distribuição em galpões fora dos centros urbanos. “Agora as empresas buscam terrenos dentro das cidades e atuam com o chamado ‘last mile’, que é a entrega com um caminhãozinho na porta do cliente.” A previsão da CNC é que o varejo, no geral, tenha uma alta de 4,5% nas vendas este ano, a maior taxa em nove anos. Mas Bentes ressalta que o aumento é sobre uma base fraca. EndividamentoA consultoria Deloitte avalia que, até outubro, o cenário econômico do País seja mais positivo, com retomada acentuada de várias atividades e número maior de pessoas vacinadas. A expectativa é de que alguns setores, como o de turismo e eventos, devem voltar lentamente, pois há demanda reprimida. “Só que o nível de endividamento de várias empresas cresceu”, diz Giovanni Cordeiro, economista-chefe da Deloitte. Segundo ele, relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS) prevê que empresas de mercados emergentes fortemente impactadas pela crise vão levar cerca de dois anos para pagar suas dívidas. Para as empresas do Brasil, o BIS calcula que as mais endividadas terão de dedicar 45% do lucro líquido para sanar seus débitos. Na opinião de Cordeiro, haverá um movimento de ajustes, pois muitas empresas não vão conseguir se recuperar, até porque a taxa de desemprego no País permanece em alta, subtraindo o poder de compra da população. O ESTADO DE S. PAULO

Dez de 13 setores da indústria já retomaram a atividade pré-pandemia

Entre 13 dos mais importantes setores da indústria brasileira, 10 já retomaram ou superaram, nesta metade do ano, níveis de atividade que exibiam antes da chegada da covid-19 ao País (ver quadro). A produção de cimento, por exemplo, está 22% superior ao que registrava em 2019. No setor de papel, o crescimento é de 15% e no de plásticos, de 7,9%. A expectativa é que esses setores possam seguir acelerando, ancorados principalmente no avanço da vacinação, que pode elevar o consumo. Mas há algumas barreiras a serem superadas para que isso aconteça. A maior preocupação é que uma nova cepa do vírus obrigue governos a novamente adotar medidas de isolamento, o que poderia ter efeito direto na esperada recuperação da economia. Mas há também os desafios da pressão de custos de matérias-primas e de energia elétrica, juros mais altos, desemprego e falta de componentes para a produção em alguns setores. Pedro Renault, economista do Itaú Unibanco, diz que a tendência para o segundo semestre é de “normalização”, embora não plena, em vários segmentos. Para ele, parte da indústria está com atividade aquecida mais em razão de reposição de estoques do que por crescimento da demanda. Segundo ele, o consumo de bens duráveis, por exemplo, tende a diminuir em segmentos como o de eletroeletrônicos. Renault também alerta para o aumento dos juros, que muda a capacidade de investimento das empresas e a do consumidor em se financiar. “Isso tende a tirar um estímulo da economia que está presente agora.” A taxa Selic está hoje em 4,25% ao ano. A projeção de economistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus é de que termine o ano a 6,75%. Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também vê um cenário positivo, “mas não dourado”, para o segundo semestre. Para ele, há vários obstáculos, como a alta do preço da energia, que deverá ser repassada às mercadorias. “A energia também corrói parcela significativa da renda do consumidor e sobra menos para o consumo.” Demanda alta Levantamento feito pelo Itaú Unibanco indica que entre os setores com desempenho acima do período pré-pandemia está o siderúrgico – com boa parte da demanda vinda da construção civil –, e o de embalagens que, por sua vez, movimentam a indústria de papel. Na área da siderurgia, a produção de aço bruto cresceu 3,5% na primeira metade do ano ante igual período de 2019, com um total de 18 milhões de toneladas. No ano passado, com muitos fornos desligados nos primeiros meses da crise, foram produzidas 14,6 milhões toneladas. A perspectiva inicial do setor para este ano inteiro era de alta de 6,7% na produção ante 2020, mas em maio o índice foi revisto para 11% e, neste mês, para 14%, o que daria 35,8 milhões de toneladas, informa Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil. Se confirmado, o volume será quase 10% superior ao de antes da covid-19. “Consumo de aço e desenvolvimento econômico andam juntos, não é à toa que está se fazendo revisão de PIB pois, de fato, está ocorrendo uma recuperação”, diz Lopes. O Aço Brasil trabalha com a expectativa de alta de 5% na economia este ano. Já a indústria de papel aumentou sua produção em 15% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2019, numa soma de 1,99 milhão de toneladas, de acordo com dados da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel). Parcela importante da demanda veio do crescimento de compras pelo e-commerce e o delivery de alimentos. Componentes Ao contrário dos fabricantes de aço, o setor automotivo está na lista dos mais distantes em retomar níveis de antes da pandemia. A produção de veículos está 21,8% abaixo dos números de 2019, com 1,15 milhão de unidades registradas na primeira metade do ano. Renault, do Itaú Unibanco, pondera que a demanda por veículos está aquecida, mas há um gargalo no fornecimento de semicondutores que tem levado várias montadoras a interromperem a produção. Com isso, faltam veículos nas revendas. O modelo mais vendido no País atualmente, a picape Fiat Strada, tem fila de espera de três meses. “Apesar da produção menor, o setor está conseguindo aumentar preços, preservando um pouco melhor as margens, e está priorizando a produção de veículos mais rentáveis”, diz Renault. Segundo ele, embora o volume produtivo esteja bem abaixo de 2019, a saúde financeira do setor não é tão preocupante. Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, entre 100 mil a 120 mil veículos deixaram de ser produzidos no primeiro semestre por causa da escassez de itens eletrônicos, o que ajuda a retardar a recuperação do setor. “Trabalhamos com período de três anos, mais ou menos, para voltarmos aos patamares de 2019.” A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) diz que o setor pretendia comprar 800 mil veículos novos no decorrer do ano. Em razão das dificuldades de produção, a entidade acredita que no máximo 50% desse potencial será realizado, com compras entre 380 mil a 400 mil automóveis e comerciais leves. Outro setor que enfrenta esse tipo de escassez, embora em menor escala, é o de eletroeletrônicos. Em junho, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 46% das empresas relataram dificuldades em obter componentes eletrônicos vindos da Ásia, porcentual que chegou a 58% em abril. Ainda assim, de janeiro a maio o setor melhorou em 1,8% seu índice de produção ante igual período de 2019. O ESTADO DE S. PAULO

Bolsonaro quer recuperar popularidade com pacotão de emprego e passar fatura ao Sistema S

Adriana Fernandes* O Sistema S é peça-chave nos planos do governo Bolsonaro de lançar um programa de estímulo à qualificação profissional e contratação de jovens e trabalhadores informais de baixa renda. É um “pacotão” de emprego com dois programas dentro dele e dois tipos de benefícios (BIP e BIQ), que podem garantir pagamento direto de uma bolsa de R$ 550 para incentivar a contratação de jovens que não conseguem emprego e pessoas que estavam no Bolsa Família. O BIP (Bônus de Inclusão Produtiva), de R$ 275, financiado com recursos do Sistema S, e o BIQ (Bônus de Incentivo à Qualificação), também de R$ 275, pela empresa. Num segundo programa, o BIP de R$ 275 seria concedido para jovens com dificuldade de conseguir emprego e trabalhadores com mais de 55 anos sem vínculo formal há mais de dois anos. Duas poderosas armas políticas para 2022, quando Bolsonaro espera conseguir recuperar a sua popularidade na esteira da retomada econômica e de outras medidas que estão no forno, como o reforço do novo Bolsa Família. O problema do pacotão do emprego é que o governo não tem como pagar essa conta e quer passar a fatura para as entidades do Sistema S, que estão embaixo do guarda-chuva das grandes e poderosas confederações empresariais, como CNI, CNC, CNT e Sebrae. Uma facada de 30% no orçamento do Sistema S, que vem dos encargos adicionais pagos pelas empresas sobre a folha dos seus funcionários. Um orçamento bem gordo de R$ 20 bilhões por ano do qual o governo Michel Temer também tentou, sem sucesso, abocanhar uma fatia. As confederações não aceitam pagar essa conta, que tem um viés político-eleitoreiro, já que a bolsa funcionaria com uma porta de saída após o fim do auxílio emergencial, que começou com R$ 600 e está hoje em R$ 250. No início, o auxílio elevou a popularidade do presidente nas camadas mais baixas, mas, depois que o valor caiu e o alcance do auxílio ficou mais restrito, o seu efeito acabou. Um acordo estava sendo costurado pelo ministro Paulo Guedes, mas o clima azedou depois que o governo trabalhou por debaixo dos panos para incluir o pacotão numa medida provisória que estava pronta para ir a votação. As entidades conseguiram barrar a votação numa articulação rápida, mas deixaram claro que não aceitam bancar uma bolsa em dinheiro para que o trabalhador possa usar como quiser. Elas argumentam que já fazem treinamento profissional e que podem oferecer os cursos de graça sem a necessidade de financiamento do BIP. A disputa subiu de tom depois que o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse na sexta que o governo tinha de “passar a faca no Sistema S”, pois era inaceitável não ajudar os jovens carentes, os mais afetados pela destruição do emprego (formal e informal) durante a pandemia. Além de amplificar a disputa, a fala do secretário mostrou que o governo pretende jogar duro. Uma das possibilidades é a edição de uma medida provisória, com efeito imediato, com ênfase no discurso para a população de que o Sistema S esbanja com gastos luxuosos para seus dirigentes e casos de desvios de recursos. Uma outra medida na mesa do governo, que não está descartada, é propor uma desoneração dos encargos com redução da alíquota que as empresas têm de pagar para financiar as entidades do Sistema S. O governo está forçando esse corte porque, na realidade, não tem espaço no teto de gastos (regra que limita as despesas) em 2022 para fazer tudo ao mesmo tempo agora, como ampliar o Bolsa Família e dar reajuste aos servidores. A saída foi justamente botar o Sistema S para pagar diretamente a bolsa, com o gasto ficando fora do Orçamento. Uma burla ao teto, com recursos extraorçamentários que não passam pelo controle das regras fiscais. “Em 2014, o governo burlou metas fiscais para chegar mais forte às eleições. O governo atual faria o mesmo com essa estratégia ao utilizar recursos do Sistema S”, chama a atenção Leonardo Ribeiro, consultor do Senado. O novo ministro do emprego, Onyx Lorenzoni, já começa com esse abacaxi para descascar e sob a desconfiança de que entra no novo ministério para abrir geral o cofre para as eleições. *É REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA