Chega de chantagem (Editorial)
A Nação não suporta mais chantagem. Basta de ameaças às instituições da República e ao regime democrático que os brasileiros reconquistaram não sem grande sacrifício. É hora de coragem e firmeza na defesa da liberdade. O presidente Jair Bolsonaro não reúne mais as condições para permanecer no cargo. Acossado por sucessivos reveses morais, políticos, penais e administrativos, Bolsonaro parece ter mandado às favas os freios internos que o faziam ao menos fingir ser um democrata. Sua natureza liberticida falou mais alto. Como alguém que não tem mais nada a perder, o presidente se insurgiu contra a Constituição ao ameaçar de forma explícita a realização das eleições no ano que vem, como a Lei Maior determina que haverá. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil, ou não temos eleições”, afirmou Bolsonaro ao punhado de apoiadores que batem ponto no Palácio da Alvorada. Todos sabem o que Bolsonaro quer dizer com eleições “limpas”: eleições do jeito que ele quer, com o resultado ao qual ele almeja. O presidente chantageia a Nação. Como um menino mimado, diz que, se não lhe derem o voto impresso, ele inflama sua horda de camisas pardas e instala a baderna. Uma pessoa com esta índole é indigna da Presidência da República. A reação da sociedade a esta chantagem determinará o tipo de país que o Brasil haverá de ser daqui em diante. É absolutamente inconcebível que o chefe de Estado e de governo ameace impunemente fazer letra morta de uma cláusula pétrea da Constituição. Os brasileiros estão diante de uma disjuntiva. Ou bem se reassegura o Estado Democrático de Direito consagrado pela Lei Maior ou Bolsonaro segue como presidente. Certamente, Bolsonaro se sentiu seguro para subir o tom de suas cominações após a divulgação da nota subscrita pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e pelos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, respectivamente, o almirante Almir Garnier Santos, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e o brigadeiro Carlos de Almeida Batista Júnior. A pretexto de repreender um senador por suas declarações – isto, por si só, uma excrescência –, os quatro deixaram no ar a ameaça de ruptura institucional ao afirmarem que as Forças Armadas constituem “fator essencial de estabilidade do País”. Ora, se há instabilidade no Brasil hoje não é por outra razão que não política, e em grande medida provocada por Bolsonaro. E numa democracia as instabilidades políticas são resolvidas no âmbito político, vale dizer, civil. Que Braga Netto assinasse uma nota como aquela, era de esperar. Afinal, não se trata mais de um militar da ativa, mas de um político, demissível, pois, a qualquer tempo. Espantoso foi o endosso às urdiduras do Palácio do Planalto dado pelos comandantes das três Forças, autoridades de Estado que são, não de governo. Deles não se esperava uma palavra sequer no que concerne aos assuntos próprios das lides políticas. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reagiu à altura das afrontas, mas não sem antes ter sido pressionado para tal. Em entrevista coletiva, Pacheco reafirmou a independência do Poder Legislativo e classificou como “inimigo da Nação” todo aquele que “pretender algum retrocesso no Estado Democrático de Direito”. O senador ainda refutou “especulações sobre as eleições de 2022” e assegurou que a realização do pleito é “inegociável”. Igualmente republicana foi a reação do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Barroso afirmou que qualquer tentativa de Bolsonaro de obstruir a realização das eleições de 2022 configura crime de responsabilidade. Seria mais um no rol de crimes de responsabilidade que o presidente já cometeu. Ao Estado, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que a CPI da Covid já reuniu “elementos suficientes” para pedir a cassação do presidente da República. Cabe agora ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), mostrar ao País que tem brio e espírito republicano. Lira deve dar seguimento a 1 dos 123 pedidos de impeachment contra Bolsonaro que pairam sobre sua mesa. Tibieza não assegura lugar de honra na História. O ESTADO DE S. PAULO
Agronegócio bate recordes e cidades do interior veem salto no consumo de luxo
Produtor de soja na divisa do Maranhão com o Pará, Gerson Kyt decidiu fixar a residência da família no condomínio Alphaville Flamboyant, residencial de luxo em Goiânia (GO), a “capital do agronegócio”. Para encurtar o deslocamento para suas fazendas, comprou em junho um avião turboélice da americana Piper, modelo Matrix. Kyt é um exemplo da ascensão de riqueza vivida nos grandes polos de agronegócio do País, após anos de safras recordes e preços nas alturas. Esse ciclo de bonança teve sua força renovada neste ano. A receita agrícola com a produção de grãos e culturas perenes deve chegar a R$ 787,9 bilhões – um salto de 53% sobre 2020, segundo projeções da consultoria MacroSector, que leva em conta dados de produção do IBGE e de preços da FGV. Os produtores de grãos devem puxar a expansão da renda, com faturamento de R$ 594,1 bilhões, alta de 68% ante o ano anterior. Toda essa riqueza extra se reflete em mais vendas de carros, aviões e também no varejo. O desempenho do comércio de janeiro a maio em todo o País foi de alta de 7,2% sobre igual período do ano passado, segundo Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). Nos polos do agronegócio, essa alta foi de mais de 18%. O desempenho das vendas de veículos também é bem superior à média nacional nas principais cidades do setor agrícola. Essa prosperidade ainda se reflete no comércio de luxo e na venda de jatos executivos. No caso de Kyt, o avião vai ajudar a economizar tempo de deslocamentos até suas fazendas no Maranhão, onde ele planta 13 mil hectares de soja. E ele não está sozinho nessa tendência. O pecuarista e empresário Arlindo Vilela, 52 anos, pretende comprar nas próximas semanas um avião turboélice, na faixa de R$ 4 milhões, para substituir dois monomotores. “As distâncias são grandes e as estradas, bem ruins. O avião dá agilidade. Não é barato, mas tem muita serventia. Os passageiros usam botina no avião, ninguém entra de salto”, disse Vilela, que é dono de uma fazenda em Rondonópolis (MT). InfluênciaO topo da renda do agronegócio tem levantado voo de outros mercados de luxo. Os emplacamentos de carros “premium” – como Audi, Mercedes, BMW, Land Rover – cresceram em duas “áreas operacionais” de Mato Grosso: Rondonópolis, ao sul de Cuiabá, e Sinop, ao norte, mesma região de Lucas do Rio Verde e Sorriso. A demanda do agronegócio está no radar da alemã BMW, que foca em produtores, profissionais liberais e comerciantes das regiões, informa a marca. De Brasnorte, noroeste de Mato Grosso, o pecuarista Aldo Rezende Júnior mede a evolução do poder de compra dos produtores em bois. Nas contas dele, há três anos, eram necessários cerca de 60 bois gordos para comprar uma picape. Hoje, são 35. “A valorização do boi, nesse sentido, permitiu ao produtor trocar a picape por uma mais nova, reformar a casa”, conta. E a influência do agronegócio não para por aí. Consultor de marcas de luxo, Carlos Ferreirinha, ex-presidente da Louis Vuitton no País, afirma que a geração de renda do agronegócio respondeu por mais de 65% do crescimento do setor no País nos últimos seis anos. “O impacto positivo não fica restrito às regiões produtoras, uma vez que os agricultores têm um segundo endereço em grandes cidades”, afirma. As áreas de alta renda dos bancos perceberam a tendência e têm voltado sua atenção aos endinheirados do interior, com mais de R$ 3 milhões para investir. Dados da Anbima, associação do mercado financeiro, mostram que o setor “private” cresceu 32% de dezembro de 2015 a dezembro de 2020 no Centro-Oeste. Na média nacional, o avanço foi de 11%. O Santander busca o público do agronegócio ativamente. Hoje, o setor responde por 2% a 3% do segmento de fortunas do banco, mas a intenção é escalar essa fatia para 15% a 20%, explica o diretor do Santander Private Banking, Vitor Ohtsuki. Além do Centro-Oeste, os alvos são o interior de São Paulo e o Sul. “Temos um projeto de crescer o ‘private banking’ como um todo e estamos aumentando a equipe em 60 pessoas. Um dos focos desse crescimento é o agronegócio, exatamente porque é um dos setores que mais crescem no País, mesmo em período de crise econômica.” Receita do agronegócio se reflete no varejo e em serviçosMesmo com a crise da covid-19, o agronegócio conseguiu impulsionar as vendas do varejo em geral e do segmento de serviços, como bares e restaurantes, nas regiões produtoras no ano passado. O resultado foi superior ao da média nacional, conforme o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), indicador da empresa de cartões com base nas transações que passam pelas maquininhas, levantadas a pedido do Estadão. Segundo o indicador, as vendas nacionais nominais (sem descontar inflação) recuaram 10,4% em 2020, efeito do baque da covid-19. Já as 20 cidades líderes da produção agropecuária tiveram alta de 6,2% em relação a 2019. A diferença se manteve em 2021, com alta acumulada de 7,2% até maio, na média nacional, ante salto de 18,4% nos municípios agrícolas. “Se não tivesse a pandemia, o crescimento das vendas nas cidades do agronegócio teria sido ainda melhor? Talvez, mas, mesmo com a pandemia, o desempenho nelas é melhor do que no País como um todo”, afirma Pedro Lippi, chefe de Inteligência da Cielo. O movimento do agronegócio na economia regional se dá de diferentes formas, segundo especialistas. Produtores e empregados das fazendas gastam no comércio, nos restaurantes e nos salões de beleza das cidades próximas. Fabricantes de maquinário instalam escritórios comerciais e contratam vendedores – que também consomem no varejo. Plantas de beneficiamento da agroindústria, como usinas de etanol e frigoríficos, geram empregos industriais, incrementando mais a demanda. “O uso da renda que sobra depois dos investimentos no próprio setor vai movimentar a região, incluindo os demais setores. O agronegócio pode criar emprego nos serviços na medida em que gera consumo”, diz o professor Geraldo Barros, coordenador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura
São Paulo usará reforço no caixa para investimentos, diz Meirelles
O secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, afirma que o Estado vai aproveitar o aumento da arrecadação para aumentar os investimentos este ano e em 2022. Ex-ministro da Fazenda no governo Michel Temer, Meirelles ressalta que há um quadro de subinvestimento no Brasil que precisa ser revertido. As grandes obras, como as rodovias Panorama e Litorânea, ele diz que podem ser feitas por meio de concessões. Por isso, o foco dos investimentos será na área de saúde, segurança e educação. “Esse aumento de arrecadação é muito necessário exatamente para que se possa fazer esse investimento”, diz Meirelles, que prevê um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) paulista de 7,8% em 2021. Ele diz que não há discussão de aumento dos salários dos servidores para 2022. “Não tem nem discussão sobre isso. Não há essa demanda. Não acredito”, afirma. Meirelles diz que o risco eleitoral sobre as finanças dos Estados vai depender da atitude de cada governador. E destaca que a arrecadação do Estado reflete também a nova economia, como o e-commerce que cresceu muito na pandemia. Segundo o secretário da Fazenda de Alagoas, George Santoro, o aumento da receita tributária reflete a alta de preço de combustíveis, energia, construção civil e alimentos no primeiro semestre. “Acredito que a despesa dos Estados será pressionada no segundo semestre e no próximo ano”, afirma. PressãoO secretário admite que será difícil pelo menos não repor a inflação para os servidores em ano eleitoral, como ocorreu em 2021. Santoro considera, porém, um grande risco fiscal usar esse aumento da arrecadação com gastos permanentes, como benefícios para o funcionalismo. Em 2021, ele prevê mais que dobrar os investimentos para chegar a R$ 2,3 bilhões, ante R$ 1 bilhão em 2020. “O caixa está altíssimo”, diz. O ESTADO DE S. PAULO
Economistas do mercado financeiro veem taxa básica de juros em 7% no fim de 2022
Na esteira dos dados mais recentes de inflação, os economistas do mercado financeiro alteraram suas projeções para a Selic, a taxa básica de juros, no fim de 2021 e 2022. O Relatório de Mercado Focus, consulta feita pelo Banco Central com uma centena de economistas do mercado financeiro, trouxe nesta segunda-feira, 12, que as previsões para a Selic neste ano foram de 6,50% para 6,63% ao ano. Há um mês, estava em 6,25%. No caso de 2022, a projeção foi de 6,75% para 7,00% ao ano, ante 6,50% de um mês antes. Para 2023 e 2024, a expectativa é que fique em 6,50%. Em março, na primeira elevação em quase seis anos, a taxa básica da economia passou de 2% para 2,75% ao ano. Em maio, foi para 3,5% ao ano e, em junho, avançou para 4,25% ao ano. O objetivo das altas recentes, promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, é conter a pressão inflacionária. Estimativa de inflação segue em altaA projeção do mercado financeiro para a inflação em 2021 se distanciou ainda mais do teto da meta perseguida pelo Banco Central. Os economistas do mercado financeiro alteraram a previsão para o IPCA – o índice oficial de preços – de alta de 6,07% para 6,11%. Há um mês, estava em 5,82%. A projeção para o índice em 2022 foi de 3,77% para 3,75%. Quatro semanas atrás, estava em 3,78%. O relatório Focus trouxe ainda a projeção para o IPCA em 2023, que seguiu em 3,25%. No caso de 2024, a expectativa foi de 3,25% para 3,16%. A projeção dos economistas para a inflação já está bem acima do teto da meta de 2021, de 5,25%. O centro da meta para o ano é de 3,75%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). A meta de 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%), enquanto o parâmetro para 2023 é de inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%). Para 2024 a meta é de 3,00%, com margem de 1,5 ponto (de 1,5% para 4,5%). PIB deve subir 5,26% neste ano, segundo economistasPara o Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, a expectativa para a economia este ano passou de alta de 5,18% para elevação de 5,26%. Há quatro semanas, a estimativa era de 4,85%. Para 2022, o mercado financeiro alterou a previsão do PIB de alta de 2,10% para 2,09%. Quatro semanas atrás, estava em 2,20%. No começo do ano, o mercado previa que o PIB iria crescer apenas 3,4%. Porém, a economia tem mostrado forte reação nos últimos meses, influenciada, entre outros motivos, pela alta dos preços das commodities (produtos básicos, como alimentos, minério de ferro), exportados, em grande parte, pelo Brasil. O ESTADO DE S. PAULO
Associação de gigantes do fast-food apoia movimento que pede a volta do horário de verão
A ANR (Associação Nacional dos Restaurantes), que reúne grandes redes como Burger King, McDonald’s e Outback, aderiu ao movimento de empresários que pedem a volta do horário de verão. Segundo Fernando Blower, diretor da entidade, a mudança no relógio pode ajudar muitos estabelecimentos a aproveitarem por mais tempo a luz do dia para incrementarem o atendimento. “É um pleito que não prejudica ninguém. Certamente seria uma boa medida de fomento para retomada”, diz. A proposta, que começou com a associação de empresas do setor turístico CNTur e já teve a adesão de outras entidades e até do empresário bolsonarista Luciano Hang, conforme antecipou o Painel S.A., encontra resistência do presidente. Na semana passada, Bolsonaro disse que é contra porque “mexe no relógio biológico”. A extinção do horário de verão foi uma das primeiras medidas aprovadas pelo presidente no começo de seu mandato e voltou a ser questionada agora, na esteira da crise hídrica. FOLHA DE S. PAULO
Brasil aderiu menos a home office em relação a outros na AL
O Brasil foi um dos países com o menor percentual de trabalhadores remotos da América Latina no auge da pandemia e permanece bem abaixo de vizinhos como Argentina, Chile, Peru e Uruguai, de acordo com informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em relatório lançado na semana passada, a OIT diz que 23 milhões de pessoas trabalharam remotamente na região no segundo semestre do ano passado. Embora venha em queda desde então e ao longo de 2021, ante seguidas ondas de flexibilização das medidas de isolamento social, o percentual de pessoas assalariadas que trabalhavam de suas casas, ou seja, que tinham vínculo empregatício, saltou de uma média de 3% para algo entre 20% e 30% nos países latino-americanos. O Brasil, assinala a OIT, é exceção. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid-19, realizada pelo IBGE, mostram que, entre os assalariados brasileiros, o pico de teletrabalho foi de apenas 16%, o que aconteceu entre abril e junho do ano passado. Essa parcela cai a 13% quando considerados todos os ocupados, o que inclui trabalhadores informais e por conta própria, que têm ainda menos oportunidade de home office. Para ambos os públicos, o índice de teletrabalho caiu dois pontos percentuais a cada trimestre, chegando a 12% dos assalariados no fim do ano passado e em queda permanente, de acordo com o diretor da OIT para a América Latina e o Caribe, Vinícius Carvalho. Quando observados somente assalariados do setor privado, o percentual cai a 11,4%. Entre servidores estatutários e militares, esse percentual vai a 24,6%, o que carrega o número total. Como o Brasil também tem proporcionalmente mais funcionários públicos que os países vizinhos, a disparidade no mercado privado é ainda maior. Na Argentina, o trabalho remoto alcançou 26% de toda a população ocupada, proporcionalmente o dobro do verificado no Brasil. Fenômeno parecido aconteceu no Chile e Costa Rica, que assistiram a um pico de 22% dos ocupados em teletrabalho somente no terceiro trimestre daquele ano. No Peru, onde so existem dados sobre assalariados, esse contingente chegou a 30% nos primeiros trimestre de pandemia, com queda acentuada para 17% e 14% nos trimestres seguintes. No Uruguai, o pico da parcela em teletrabalho também ficou acima dos 20%. Em 2018, antes da pandemia, o Brasil tinha 3,8 milhões de pessoas trabalhando de casa, segundo o IBGE. O número saltou para 8,6 milhões em medição realizada no fim de junho de 2020, o equivalente a 12,4% da população ocupada. “Foi um aumento expressivo, mas proporcionalmente abaixo da vizinhança. Isso se deve, em grande medida, às políticas de confinamento bem menos severas no Brasil do que em países como a Argentina, o Peru e o Chile”, afirma Carvalho. “Há, também, uma questão estrutural do mercado de trabalho. O Brasil tem, comparativamente, contingente bem maior de informais e formais que não podem migrar para o modelo à distância”, continua o economista da OIT. Ele cita o peso maior dos empregos do setor de serviços no mercado brasileiro e como esses postos, com menores qualificação e remuneração, ficaram inviabilizados no contexto de pandemia. “O contingente que saiu da força de trabalho foi proporcionalmente maior no Brasil que em outros países”, diz. Além disso, as políticas que permitiram suspensão de contrato e o auxílio emergencial, ainda que necessárias, também funcionaram como contrapesos aos esforços de ampliação do home office. Apesar das diferenças estruturais, Carvalho cita estudo de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que estima a parcela potencial de ocupados que poderiam migrar para o teletrabalho: 26,5%. O percentual verificado é muito próximo ao de países como o Chile (25,74%) e o Uruguai (27,28%) e o terceiro maior entre os 12 latino-americanos presentes na lista de 86 países do estudo – em que o Brasil figura na 45[ª colocação. O fato denota a influência de medidas de isolamento social mais brandas no menor esforço do mercado ou do próprio governo em promover o teletrabalho. “O Brasil não aproveitou o potencial que tinha em relação ao teletrabalho, o que permitiria manutenção da atividade produtiva com distanciamento e, tão logo, números de casos e mortes menores”, afirma Carvalho. De acordo com o especialista, no entanto, isso não deve prejudicar o incremento do home office mais à frente, quando as empresas não estiverem mais pressionadas pela pandemia e passarem a optar pela modalidade como opção de negócio, para baratear custos. A OIT prevê que o teletrabalho encolha significativamente em todo o mundo com o fim da pandemia e estacione em patamares pouco acima dos verificados antes da crise, para depois experimentar crescimento sustentado. VALOR ECONÔMICO
A reconstrução do mercado de trabalho (Editorial)
Antes da pandemia, na maior parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento as desigualdades estavam crescendo. Um dos fatores decisivos é a divisão entre os empregos mais e menos qualificados, aprofundada pela digitalização do mercado de trabalho. Ao acelerar essa digitalização, a pandemia agravou as disparidades: não só os trabalhadores menos qualificados tiveram mais dificuldades de se adaptar e manter seus empregos e rendas, como encontrarão mais dificuldades de recuperá-los no pós-pandemia. “Há um risco real de que o fosso da crise da covid aprofundará a desigualdade e a exclusão a menos que os governos ponham os empregos no coração da recuperação”, alerta a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em seu Panorama do Emprego 2021. Desde 1985, a renda nos países da OCDE cresceu 63% para os 10% no topo de renda e apenas 20% para aqueles nos 10% da base. Na pandemia, 1 em 10 empregos de baixa renda foi destruído, enquanto nas ocupações mais bem remuneradas o choque foi absorvido por reduções nas horas de trabalho subsidiadas por programas de retenção ou pela mudança para o teletrabalho. No pico da crise, metade dos trabalhadores mais bem pagos conseguiu trabalhar de casa, enquanto para os menos bem pagos o índice foi de 29%. Apesar das medidas emergenciais, outros grupos vulneráveis, como trabalhadores que não estavam sob contratos-padrão de trabalho assalariado em tempo integral e os jovens, foram mais impactados pelas perdas de emprego e renda. A crise também foi marcada por outras formas de desigualdade econômica, como a maior exposição dos trabalhadores da “linha de frente” e suas famílias ao vírus e as dificuldades de seus filhos de acompanhar as aulas a distância, dada a carência de meios digitais. “À medida que os governos desenvolvem seus planos de recuperação, é essencial continuar a apoiar as famílias mais necessitadas, dando maior atenção, ao mesmo tempo, a medidas fiscais projetadas para impulsionar o crescimento de empresas e empregos que têm um futuro viável no ambiente pós-covid”, disse o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann. Promover a inclusão exige o enfrentamento de lacunas persistentes na proteção social, especialmente à medida que novas formas de emprego, diversas do padrão assalariado em tempo integral, se multiplicam. Muitos países editaram medidas emergenciais para trabalhadores autônomos e outras modalidades diversas do padrão durante a pandemia, reduzindo temporariamente algumas lacunas. “Essa experiência precisará ser agora reavaliada e traduzida em respostas estruturais mais sistemáticas”, como formas de proteção mais neutras por meio das diversas modalidades de trabalho, melhorias na portabilidade de títulos de seguridade e uma elegibilidade mais adaptada às novas necessidades das pessoas. Uma recuperação equânime exigirá a combinação entre subsídios temporários para contratações cuidadosamente focadas e políticas de treinamento para orientar os trabalhadores menos qualificados a novas oportunidades de trabalho. Atualmente, as oportunidades de treinamento são desiguais e as políticas de requalificação não chegam aos trabalhadores mais vulneráveis. Nos países da OCDE, em média, a participação em programas de treinamento daqueles que não têm educação secundária é um terço da dos trabalhadores com formação superior. Os trabalhadores cujos empregos sofrem maiores riscos de automação têm metade da probabilidade de se engajar em aprendizagem adulta em comparação a seus pares em empregos menos afetados por esse risco. “Todos os esforços deveriam ser empregados para promover uma cultura de aprendizagem contínua e vitalícia, conectando o treinamento aos indivíduos mais do que aos empregos.” A oferta de programas de reciclagem, adaptados às condições de renda e de horário dos trabalhadores menos qualificados, precisa ser acompanhada de campanhas de conscientização. Engajar os empregadores nesse processo é fundamental para conferir mais resiliência aos seus próprios negócios e para o crescimento da produtividade em geral.
Ponte com emprego: Iniciativas sociais buscam suprir alta demanda em tecnologia
Com a alta demanda por profissionais de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, diversas iniciativas têm oferecido capacitação na área, seja para o primeiro emprego ou uma transição de carreira. O movimento é positivo, mas faz surgir outro desafio: como incluir essa mão de obra iniciante se as empresas, na maioria, buscam talentos de nível sênior? Não basta só dar treinamento e lançá-los soltos no mercado de trabalho. Parte da resposta a isso está na criação de um ecossistema em que haja conexão direta da pessoa com a vaga, principalmente no caso daqueles jovens em situação de vulnerabilidade social, sem uma rede de networking familiar que seus pares de famílias abastadas possuem: o pai é CEO em alguma empresa ou conhece alguém que conhece alguém. Em paralelo, há um esforço para conscientizar as companhias de que vale a pena investir no potencial de um funcionário mais júnior. De acordo com um relatório da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o Brasil vai precisar de 70 mil profissionais com perfil tecnológico por ano até 2024. Porém, as universidades formam 46 mil pessoas anualmente e, se nada mudar, o País terá um déficit de 260 mil profissionais. A boa notícia é que mudanças já estão ocorrendo. “Houve uma proliferação, de 2019 para cá, de plataformas, ONGs, startups, edtechs que passaram a oferecer um rol de capacitadores. Houve diversificação e aumento dessa oferta, tentando dar conta da demanda”, observa Sergio Paulo Gallindo, presidente executivo da Brasscom. Essas iniciativas agilizam a esteira de capacitação, seleção e contratação, porque as formações são de curto prazo e focam nas atuais demandas do mercado. Um exemplo é o Instituto Proa, que forma jovens de 17 a 22 anos de baixa renda vindos de escolas públicas. A organização atua em duas vertentes gratuitas: o projeto ProProfissão, que capacita em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, linguagem de programação e estimula o desenvolvimento de habilidades comportamentais, e a Plataforma Proa, que prepara o jovem em competências como autoconhecimento, raciocínio lógico, comunicação, carreira e projeto de vida. No final de cada uma delas, os jovens ficam disponíveis para mais de 70 empresas que são parceiras ou apoiadoras da ONG e querem contratar esses talentos. Após a formação, os alunos são acompanhados por três anos a fim de iniciarem a carreira com mais suporte, uma vez que o networking ainda está em construção. “A gente entende que o jovem, por ser o primeiro emprego, pode sair desse trabalho. Ele volta para essa base e vamos apoiá-lo novamente para garantir essa empregabilidade”, explica Alini Dal’Magro, CEO do Instituto Proa. Ela reconhece que o cenário na https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg é crítico, mas, ao mesmo tempo, interessante. “As empresas estão entendendo que precisam fazer parte desse movimento, fazer adaptações. Muitas estão formando dentro delas e outras recebendo de fora. Tem questões de necessidade e elas percebem que o impacto pode ser nelas”, afirma. Para incentivar a inclusão dos iniciantes, o Proa faz a ponte dos jovens com as empresas antes mesmo de eles estarem aptos à contratação. “A gente faz visitas, eles participam de entrevistas e dinâmicas e trazemos voluntários que são diretores e gerentes para dar feedback. Numa empresa nova, falamos muito sobre nosso perfil de jovem, da gestão profissional e isso passa bastante credibilidade”, diz. Ponte com emprego se alia à causa socialAs empresas têm olhado mais para questões sociais e de diversidade, uma demanda da pauta ESG (ambiental, social e de governança), e Alini considera isso positivo para a transformação da sociedade como um todo. “O limite que eu tinha para minha vida era muito diferente”, comenta Matheus Nascimento, de 21 anos, sobre o futuro que enxergava antes de entrar no Proa. Ele mora em um bairro periférico da zona leste de São Paulo e, quando estava no Ensino Médio, fez um curso técnico de serviços jurídicos que não lhe rendeu um emprego. Como os pais não podiam pagar a faculdade, o sonho da graduação ficou mais distante. Incentivado por uma amiga, ele se inscreveu em um programa do Proa que, na época, era para auxiliar administrativo. Ao final dos cinco meses de curso, a turma apresentou um projeto a integrantes do banco JP Morgan, empresa parceira do instituto. O jovem foi abordado depois da apresentação e apresentado a oportunidades da empresa. Animado, Matheus fez o processo seletivo e em seis meses começou a estagiar na instituição financeira. “Por ser um projeto social, eles decidiram dar esse voto de confiança. Se não fosse o Proa, eu não conseguiria chegar perto daquele ponto”, diz. Ele define que a experiência transformou e acelerou as conquistas: o jovem conseguiu pagar um curso de inglês, passou a pesquisar ofertas de intercâmbio e teve contato com gente que fez mestrado internacional. “Isso me levou a outros caminhos que eram distantes da minha realidade”, relata. Atualmente, ele trabalha no Bank of America, vaga conquistada também por intermédio da ONG, e faz curso de Direito. Capacitação de mulheresNa pesquisa Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, o IBGE informa que, de acordo com o Censo da Educação Superior 2019, mulheres correspondiam a 13,3% das matrículas nos cursos presenciais de graduação na área de computação e TI, e 21,6% na área de engenharias. Em consequência, elas são minoria nesse mercado de trabalho. Para vencer as estatísticas, a Laboratória capacita mulheres diversas por meio de bootcamps de seis meses e as conectam com vagas de empresas. “É um grande desafio, não dá para fazer sozinho, a gente precisa da parceria das empresas, e as empresas estão tendo um pouco mais de consciência de que se continuarem nessa meta de contratar profissionais com três, quatro anos de experiência, nem sempre vão encontrar. Elas têm de contratar pessoas mais juniores, talentosas, que tenham curva de aprendizagem”, diz Regina Acher, cofundadora da Laboratória no Brasil e CMO global. Ela defende que é preciso ter transparência para que esse ecossistema de empregabilidade funcione. Às empresas, dizer qual o perfil que está sendo formado e entregue a elas; às profissionais, não prometer aquilo que não se pode fazer. “É
LGPD está chegando, mas adesão é baixa
Mesmo com a proximidade da aplicação de multas sobre infrações à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no país, previstas a partir de 1º de agosto, o índice de empresas em conformidade com a Lei nº 13.709, de agosto de 2018, é baixo. Uma pesquisa feita entre novembro de 2020 e fevereiro deste ano com 120 executivos de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg da informação de empresas brasileiras mostra que somente 11% estão em conformidade com a LGPD. O estudo da empresa de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg Logicalis considerou empresas com faturamentos anuais de R$ 100 milhões a mais de R$ 5 bilhões, sendo que 59% delas faturam mais de R$ 500 milhões. A parcela de empresas com algum projeto prático de conformidade com a LGPD aumentou de 14%, na pesquisa anterior, para 42%, este ano. No entanto, o índice de companhias em fase de mapeamento, sem projetos em execução, ainda é de 35% este ano, ante 45% no ano anterior. A digitalização acelerada dos negócios, desde o início da pandemia, diminuiu o ritmo de projetos de adequação à LGPD. “As empresas precisaram dividir os esforços financeiros e de mão de obra para adequação”, nota Bruna Travassos, gerente de consultoria em segurança da informação da Logicalis. “Além disso, os processos que vinham sendo mapeados, antes da pandemia, mudaram com a nova estrutura de trabalho e as empresas precisaram dar um passo pra trás.” Segundo o estudo, 12% das empresas pesquisadas estão em um estágio de conhecimento básico da LGPD e não iniciaram sequer os mapeamentos. “O processo de adequação é complexo e ficou sem uma metodologia definida pela Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD)”, diz o advogado Fabrício da Mota Alves, líder de direito digital, privacidade e proteção de dados do Serur Advogados. A falta de diretriz da agência, composta somente em outubro do ano passado, deixou empresas perdidas. “Alguns projetos tiveram de ser refeitos, consumindo mais tempo e recursos”, nota Alves. O advogado explica que a aplicação das multas pode não chegar à tempo da entrada em vigor dos artigos 52,53 e 54 da lei, que propõem as sanções administrativas, no dia 1º de agosto. A aplicação das penalidades depende da definição do Regulamento de Fiscalização da LGPD proposto pela Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD). A audiência pública sobre a fiscalização e aplicação de sanções pela ANPD, foi adiada em uma semana para os dias 15 e 16 de julho. “É provável que, mesmo com os artigos em vigor, não seja possível aplicar nenhuma penalidade porque o regulamento ainda não está pronto”, prevê. VALOR ECONÔMICO
Nove partidos se manifestam contra reforma do IR e alegam que governo quer engordar cofres públicos
Os dirigentes de nove partidos (PSL, MDB, Solidariedade, Cidadania, DEM, Novo, Podemos, PSDB e PV) divulgaram nota nesta quinta-feira, 8, se posicionado contrários à reforma do Imposto de Renda entregue pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao Congresso no mês passado. Segundo as legendas, a proposta aumentará os impostos de famílias e empresas. “Decidimos vir a público nos manifestar contra o projeto do governo sobre a reforma do Imposto de Renda. Os setores produtivos e a classe trabalhadora do Brasil não suportam uma proposta que aumenta a carga tributária, penaliza os investimentos e atrapalha a geração de empregos e renda. É preciso denunciar com vigor que o único objetivo do atual governo na sua ‘anti-reforma’ é engordar os cofres públicos”, escrevem os presidentes destes partidos. Ontem, mais de 120 associações empresariais já tinham se manifestado contrárias ao texto que mexe na tributação do IR para empresas, pessoas físicas e investimentos. Os empresários pediram que o Congresso analisasse primeiro a reforma administrativa, que propõe reformular o RH do Estado, com novas regras para contratar, promover e demitir os servidores públicos. Guedes se reuniu hoje com empresários “pesos pesados” do PIB e prometeu recalibrar as alíquotas do IR sobre as empresas para que a reforma não aumente a carga tributária. Disse, porém, que não abre mão da taxação sobre a distribuição de lucros e dividendos. Na carta, os presidentes dos partidos dizem reconhecer distorções no Imposto de Renda e necessidade de reorganização, mas não de “a toque de caixa” sob pressão do Executivo. “Colocam em risco a sobrevivência de pequenas e médias empresas e provocam instabilidade nas de maior porte. A única certeza é que tudo isso vai resultar no desempenho negativo da economia de modo generalizado. Os mais prejudicados serão os 14,7 milhões de brasileiros que procuram por trabalho e, obviamente, as famílias de menor renda”, dizem os partidos. Guedes vem dizendo que vai trabalhar na proposta e o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progresistas-AL), que antes queria votar a proposta antes do recesso, agora diz que não pautará enquanto o texto não estiver “maduro”. O relator da reforma, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), não vê o manifesto com preocupação. “Estamos do mesmo lado. Porque não vamos deixar aumentar no relatório. Estamos trabalhando para, inclusive, baixar”, disse. Um dos signatários da carta é o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, que, até a presidência de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara, era considerada uma das principais propostas de reforma tributária. Com a eleição da nova direção do Congresso, no entanto, o grupo criado para convergir as propostas de reforma tributária foi desfeito e optou-se por fatiar a proposta. A reformulação do IR é a segunda fase da reforma já entregue pelo governo ao Congresso. Antes, a equipe econômica mandou a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), proposta de fusão dos atuais PIS/Cofins. O ESTADO DE S. PAULO