Bolsonaro pede fim de restrições à circulação em encontro com empresárias

O presidente Jair Bolsonaro reiterou nesta sexta-feira, 30, que o governo federal não terá como dar nova ajuda financeira às famílias, caso as restrições à circulação permaneçam, em um almoço com empresárias e executivas em São Paulo. Na conversa com o grupo, Bolsonaro afirmou ter reparado que, no caminho até o hotel Palácio Tangará, onde o evento foi realizado, havia várias lojas com portas fechadas e placas de aluga-se e vende-se. Para ele, após os repasses feitos pelo governo federal tanto por meio do auxílio emergencial quanto pela ajuda aos Estados, cabe à população cobrar dos governadores o uso dos recursos, bem como iniciativas para fazer a economia girar e, consequentemente, reduzir o desemprego. No total, havia quase 70 pessoas no encontro organizado pelo Grupo Voto, que promove a aproximação entre empresários e políticos e fez o primeiro evento exclusivamente para mulheres. As fotos de divulgação do evento mostravam mesas com até 12 pessoas, sem respeitar as regras de distanciamento social e sem uso de máscara. A maioria eram empresárias e executivas de grandes companhias. Novamente, disse que ninguém esperava pandemia com tamanha gravidade e, sem perspectivas de que termine, será preciso aprender a conviver com o vírus e voltar a trabalhar para a economia caminhar. “Ninguém discordou”, afirmou Marly Parra, conselheira da iHub Investimentos e ex-executiva da E&Y e do GPA. As discussões nas mesas giraram sobretudo em torno de reformas, principalmente tributária. “Há 22 projetos importantes parados que precisam ser tocados”, disse Marly. “Quisemos saber o que os ministros podem fazer para agilizar essas votações.” O ministro da Economia, Paulo Guedes, também presente ao almoço, falou sobre as iniciativas para controlar a inflação, com a alta nos preços das commodities e do câmbio e o aumento da demanda em algumas áreas. Voltou também a falar no lançamento de um programa para os “cerca de 40 milhões dos chamados invisíveis, que atuam com trabalho informal e não têm conta em banco”, sem dar detalhes. De maneira geral, os temas mais espinhosos foram evitados. Não foram feitas, por exemplo, cobranças mais duras em relação ao atraso na vacinação, que vem retardando a retomada das atividades econômicas. Ao falar sobre o tema, Bolsonaro disse que o governo está empenhando-se ao máximo para vacinar toda a população até o fim do ano. Também não foi mencionado o projeto de lei que prevê multas maiores a empresas que não praticam isonomia salarial entre homens e mulheres. “É um tema polêmico e também discutimos no IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, no qual é membro da comissão de ética em governança) que pode ser prejudicial às próprias mulheres: já ficamos grávidas, temos de levar os filhos ao médico e ficamos de TPM. A punição maior às empresas pode acabar fechando vagas, principalmente para o pequeno empregador que pode ser questionado na Justiça”, disse Marly. Na semana passada, Bolsonaro adotou discurso em linha semelhante, ao sugerir que arranjar emprego pode se tornar “quase impossível” para as mulheres, e o projeto foi novamente enviado ao Congresso – onde virou uma “batata quente”. A Câmara dos Deputados vive um dilema entre apoiar o texto do Senado, mais brando, ou retomar a proposta original, sob risco de não ser aprovado por Bolsonaro. Dulce Pugliese, presidente do conselho da Dasa e cofundadora da Amil, e uma das mulheres mais ricas do Brasil, com uma fortuna de US$ 6 bilhões, segundo a revista Forbes, falou em nome das convidadas. “Nem em meus sonhos pensei em falar para nosso presidente e seus ministros”, disse ela, em seu discurso. A primeira dama, Michele Bolsonaro, e as ministras Tereza Cristina (Agricultura) e Damares Alves (Família e Direitos Humanos) não compareceram ao almoço. Segundo a organização do evento, elas foram substituídas pelos ministros homens. Além de Guedes, estiveram presentes Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), Fábio Faria (Comunicações), Pedro Guimarães (Caixa Econômica Federal) e Paulo Skaf (presidente da Fiesp). O ESTADO DE S. PAULO

O calvário das reformas (Claudio Adilson Gonçalez)

A tumultuada aprovação do Orçamento de 2021 deixou claro o risco fiscal decorrente da aliança, ou, mais apropriadamente, da submissão, do governo ao Centrão. Preocupa o valor recorde destinado a emendas parlamentares, R$ 35,6 bilhões, e a exclusão do cálculo do resultado primário de despesas de aproximadamente R$ 120 bilhões (1,4% do PIB). Apesar disso, muitos analistas entendem que, superado o impasse do Orçamento, cresceram as chances de progresso das duas mais importantes reformas estruturais em debate no País, a saber, a administrativa e a tributária. Não vejo assim. Esse governo não é reformista. Mesmo a reforma da Previdência teve a tramitação tumultuada pelo Executivo. Bolsonaro trabalhou como típico líder sindical, empenhando-se para excluir das novas regras segmentos dos servidores públicos que integram seu nicho eleitoral. Paulo Guedes, por birra, sugeriu aos parlamentares a não aprovação do parecer do relator, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), porque este não incluiu a proposta, não financiável, do regime por capitalização, obstinadamente defendida pelo ministro. Os interesses políticos de Bolsonaro tendem também a dificultar a reforma administrativa. Além da redução das despesas com pessoal, tal reforma precisa criar mecanismos para melhorar a qualidade dos serviços prestados à população. Para tanto, necessita rever regras aplicáveis inclusive aos atuais servidores, tais como, fim da progressão automática na carreira, avaliação periódica, regulamentação da demissão de servidores por baixo desempenho, fim dos supersalários, reorganização das carreiras, entre outras medidas. É irrealista achar que o governo e o Centrão avancem nessa linha. Já uma boa reforma tributária é ainda mais improvável. O presidente não tem familiaridade com o tema e não se espera que se empenhe no Congresso para aprová-la. Guedes, até agora, não apresentou qualquer proposta bem embasada tecnicamente, e tem expressado ideias equivocadas, principalmente quanto à tributação do consumo. O ministro sempre foi contra a PEC 45/19, que institui o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), um verdadeiro tributo nacional sobre o valor adicionado, nos moldes dos melhores sistemas tributários conhecidos no mundo. Respeitados períodos de transição, esse imposto deverá ser cobrado no destino e possuir número muito reduzido de alíquotas, dado que o ideal, que seria alíquota única, é difícil de viabilizar politicamente. Ao invés disso, Guedes sugere a aprovação, na primeira etapa, apenas da CBS – Contribuição sobre Bens e Serviços, impropriamente chamada de IVA federal, que nada mais é do que o PIS/Cofins incidente de forma não cumulativa. A medida está na direção correta, mas possui três problemas principais. O primeiro é manter o ICMS, de longe, o imposto mais complicado, ineficiente e gerador de contenciosos do sistema tributário brasileiro. O segundo é que, para alcançar eficiência, racionalidade e maior equidade nos impostos indiretos, a tributação do consumo deve ser tratada em conjunto, jamais por partes. O terceiro é que tende a aumentar a carga tributária incidente sobre vários serviços, sem período de transição, o que é inoportuno em virtude da pandemia e das pressões sobre o IPCA que isso pode provocar. Guedes defende que os entes federativos adiram voluntariamente ao IBS, o que é impossível, por tratar-se de um imposto cobrado no destino, pelo sistema de débito e crédito, inclusive nas operações interestaduais. Ou todos os Estados e municípios entram conjuntamente ou não há IVA subnacional. Em qualquer democracia o caminho para aprovar reformas estruturais é penoso. Bolsonaro e Paulo Guedes o transformaram em um calvário. O ESTADO DE S. PAULO

Cielo se junta ao BNDES para avançar no crédito

Líder de pagamentos eletrônicos por meio das “maquininhas” de cartão no varejo, a Cielo, controlada pelo Banco do Brasil e pelo Bradesco, agora vai explorar de forma agressiva o mercado de crédito para pequenas e médias empresas. De carona na iniciativa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de pulverizar e popularizar o acesso ao crédito fora dos grandes bancos, a companhia e o banco de fomento constituíram um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC), onde foram aportados R$ 529,4 milhões – dos quais R$ 450 milhões do BNDES e R$ 79,4 milhões da Cielo. Os recursos serão oferecidos a 56 mil empresas com necessidade de capital de giro para atenuar os impactos da pandemia. O juro médio é de 3,25% ao mês e o prazo máximo do empréstimo é de 30 meses. “Essa operação marca a nossa entrada no mercado de crédito não performado para ser uma operação regular da Cielo”, afirma o presidente da companhia, Paulo Caffarelli. A empresa já antecipa valores para os clientes do varejo, mas com a garantia das vendas que passam pelas “maquininhas”. Esse crédito representa 37% do faturamento. Em meio à concorrência acirrada das startups financeiras, a companhia afirma querer ir além no crédito e ganhar musculatura. Nas contas do executivo, a operação com o BNDES pode girar cerca de R$ 1 bilhão de recursos, na medida em que os financiamentos são quitados e o dinheiro novamente é emprestado. “O montante do FIDC nos coloca no jogo do crédito”, diz. No entanto, esse fundo se extingue em 30 meses e, como a companhia não é um banco, precisa buscar outras formas de captação de recursos para emprestar. Segundo Cafarrelli, a empresa vai pleitear autorização para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD). Com isso, poderá conceder crédito com capital próprio, sem precisar constituir fundos. Neste momento, os empréstimos dos recursos do FIDC serão realizados por meio de uma empresa parceira, já que a Cielo não tem licença para conceder empréstimos. O lucro líquido da companhia no primeiro trimestre atingiu R$ 241,3 milhões, com avanço de 44,6% em relação a igual período de 2020. Sem a venda da plataforma da Elo e da fatia na Orizon, o resultado cairia para R$ 135,8 milhões, com recuo de 18,4% em relação a igual período de 2020. DesconcentraçãoBruno Laskowsky, diretor de Participações, Mercado de Capitais e Crédito do BNDES, diz que é a primeira vez que o banco usa FDICs para irrigar a economia. A iniciativa faz parte do objetivo estratégico da instituição de desconcentrar o crédito e estimular a competição, constituindo fundos com participação de fintechs, marketplaces e adquirentes, como a Cielo, para que o dinheiro chegue mais rápido às empresas menores. Hoje, mais de 80% do crédito está concentrado em cinco bancos. “O que catalisou esse processo foi a pandemia”, diz o executivo do BNDES. Para todos os fundos que serão constituídos, o BNDES reservou cerca de R$ 4 bilhões de recursos próprios e conta com mais R$ 1 bilhão do mercado. A meta é oferecer o crédito para 500 mil a um milhão de pequenas e médias empresas espalhadas pelo País. O ESTADO DE S. PAULO

‘Empresa que paga menos a mulheres descumpre a lei’, diz especialista

Um salário diferente para homens e mulheres que exercem a mesma função é o mesmo que dizer que o trabalho delas é “menos valioso”, o que é algo injustificável, avalia a economista Regina Madalozzo, PhD em Economia pela Universidade de Illinois e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero no Insper. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ela avalia que não faz sentido dizer que, caso seja sancionada a lei que coíbe a discriminação salarial, mulheres podem perder o emprego – como insinuou o presidente Jair Bolsonaro. “Essa fala só se justifica se você acha que as mulheres estão em média piores do que os homens, que elas merecem esse salário”. Confira os principais trechos da entrevista: Qual sua avaliação sobre o projeto que amplia a punição a empresas que praticam discriminação salarial contra mulheres?Quando a gente vê que mulheres são remuneradas (em valor) diferente dos homens para exercer a mesma função, me parece que é razoável imaginar que isso não é correto. Se elas estão exercendo a mesma função e, com certeza, o desempenho também é igual, senão quem desempenhasse pior seria mandado embora, então não é justo que você pague diferente. Só que você precisa de incentivos para que isso aconteça. Tem até algumas pessoas que dizem ‘é até bom para as mulheres receberem menos, porque se recebem menos e são tão boas quanto os homens, as empresas vão se dar conta e vão querer contratar mais mulheres, e no futuro o salário se iguala’. Só que isso não é o que acontece na vida real. Em modelo econômico poderia até acontecer, mas na vida real não acontece. Quando paga de forma diferenciada, é como se dividisse o mercado de trabalho em duas partes, e uma parte vai ganhar menos do que a outra. A gente chama isso de mercado dual de trabalho. Se a gente acredita que não é algo desejável na economia, você precisa gerar incentivos. E é aí que entra essa lei. A leis trabalhistas e a Constituição já dizem que é proibido discriminar pessoas. A importância de uma lei assim é sinalizar que nós estamos de acordo que as pessoas devem ser remuneradas de forma igual. Se não, fica somente na vontade ou na expectativa de que um dia as coisas se igualem. O presidente Jair Bolsonaro mencionou o risco de essa mudança prejudicar a empregabilidade da mulher. Isso tem fundamento?Essa fala só se justifica se você acha que as mulheres estão em média piores do que os homens, que elas merecem esse salário. A partir do momento em que você acha que as mulheres são tão competitivas, tão eficientes quanto os homens, não faz sentido dizer que elas vão perder o emprego porque a empresa não está pagando o adequado. A empresa (que paga menos) está descumprindo uma lei. A multa é para fazer a empresa cumprir a lei. Me parece um tanto absurdo justificar o não prosseguimento de uma lei para permitir que as empresas continuem remunerando fora da lei. É ilegal remunerar duas pessoas, pelo mesmo serviço, de forma diferente. É discriminação, é proibido. Eu não consigo entender qual é o fundamento que justificaria você continuar permitindo a discriminação. É como se dissesse ‘olha, tem corrupção, as pessoas são corruptas, mas se eu for perseguir quem é corrupto, as empresas vão falir’. Poxa, mas então a gente vai deixar a corrupção continuar, ou vou ter que trabalhar para que isso acabe é permitir que as empresas que não praticam corrupção consigam sobreviver no ambiente econômico? As mulheres têm uma participação menor no mercado de trabalho. A sra. poderia explicar quais são os fatores que levam a isso?Tem vários fatores, e isso é em qualquer País do mundo que você vá analisar. Tem a ver com nossas condições até de socialização. Tem uma naturalização de que a mulher não precisa trabalhar, ela poderia ficar em casa e que a tarefa dela seria realizar os serviços domésticos. É uma ideia que permanece. Mas já tem há muito tempo uma inserção muito grande. E no fundo elas geram muita possibilidade de crescimento para o País. A gente tem algumas estimativas mostrando que, se conseguíssemos incluir mais mulheres no mercado de trabalho, teria uma taxa de crescimento do PIB muito maior. Agora, no passado era (visto como) mais adequado que o homem participasse do mercado de trabalho e a mulher cuidasse da casa, dos filhos, das tarefas domésticas. A visão disso ainda permanece. Quando uma mulher vai para o mercado de trabalho, ela continua tendo que se dividir e mostrar para o empregador que ela é tão dedicada quanto um homem. Em algumas empresas, isso é bastante difícil, as mulheres já entram recebendo um salário mais baixo do que seria para um homem. Quando vai crescendo na carreira, o salário vai crescendo menos. Pode ser que as mulheres, como elas veem que são discriminadas, topem salários mais baixos para tentar aumentar o salário ao longo do tempo. Pode ser que as mulheres tenham mais dificuldade de negociar o salário para aumentar. Pode ser que as mulheres fiquem muito tempo paradas no mesmo cargo, com uma possibilidade de subir que não é dada por preconceito, por vieses inconscientes, por falta de percepção de que elas teriam mais capacidade. Tudo isso contribui para que a mulher no mercado de trabalho seja vista de um jeito diferente do homem. E a discriminação salarial só reforça tudo isso. É como se dissesse que o trabalho dela é menos valioso do que o de um homem. O entendimento mais clássico diz que o salário reflete a produtividade daquele trabalhador. As mulheres são menos produtivas, ou há evidências do contrário?É uma pergunta difícil de responder. Como a gente mede produtividade no trabalho? Para trabalhos muito mecânicos, você conseguiria manter a produtividade em termos de produção. Nenhuma pesquisa que você faça mostra que as mulheres em trabalhos mecânicos são piores do que os homens. A produtividade dos homens e das mulheres é igual. Agora, quando você chega num certo nível dentro da empresa,

Para driblar a ‘fadiga do Zoom’ em tempos de home office, empresas limitam reunião virtual

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Símbolo do home office, as reuniões virtuais proliferaram no mundo corporativo e dominaram a rotina de quem foi obrigado a trocar o escritório pela própria casa em meio à pandemia. Mas esse excesso de videoconferências tem causado estresse nos profissionais, que passam cada vez mais tempo diante das telas e das câmeras. Empresas que já notaram isso começam a tomar medidas para limitar esse efeito e evitar a perda de produtividade, que tinha até aumentado com o tempo ganho sem deslocamentos. O psicólogo Jeremy Bailenson, da Universidade de Stanford, nos EUA, usou a expressão em inglês “Zoom Fatigue” (fadiga do Zoom) para definir a estafa causada por repetitivas chamadas em uma das plataformas mais usadas hoje no mercado de trabalho. Em um estudo publicado em fevereiro, ele concluiu que, apesar de suas vantagens, as reuniões virtuais podem estressar profissionais porque demandam ainda mais energia que os encontros presenciais. Mãe de Fred, de 3 anos, Deborah Goldkorn, de 37 anos, sentiu esse peso logo no início da pandemia, em março de 2020. Diretora de relacionamento com profissionais da saúde da Sanofi CHC, unidade da farmacêutica voltada a medicamentos sem prescrição, ela chefia 85 pessoas. — Antes da pandemia, eu viajava muito. Quando mudamos para o home office, as viagens minguaram e passei a organizar minha agenda com nove ou dez reuniões virtuais de uma hora cada. Fui sugada pelas demandas do dia a dia e não conseguia nem fazer pausas para me planejar para a reunião seguinte — conta. Trégua para planejarA situação começou a mudar em agosto, quando a empresa propôs quintas-feiras sem reuniões, para que o tempo fosse usado para planejamento, diz a executiva: — Era tanta reunião que a gente sentiu que faltava tempo de silêncio e começou a discutir saúde mental. Agora, reuniões informativas são passado. Algumas coisas são comunicadas por WhatsApp ou rede social. Gera mais engajamento. No mês passado, a Sanofi CHC criou uma série de atividades para promover a saúde mental dos funcionários. Uma das medidas foi orientar gestores a dosarem o tempo das reuniões e evitar marcar videoconferências às sextas, depois das 15h. Os encontros duram de 15 a 45 minutos, não mais. — Vimos que a estafa com reuniões virtuais era grande. A sensação é de que sessões de uma hora por vídeo esgotam — diz Raquel Nogueira, gerente sênior de RH da empresa. Divorciada, Deborah mora sozinha com Fred, que já interrompeu as videoconferências mais de uma vez. Agora, ela se sente confortável até para interromper uma reunião para almoçar com o filho: — Na primeira reunião virtual que tive com toda a empresa, 400 pessoas, ele interrompeu bem na minha vez de falar, e me senti mal. Mas percebi que existe uma sororidade (apoio de outras mulheres). Fabiana Piva, gerente executiva de Gente e Gestão da gigante de celulose Suzano, conta que pesquisas realizadas a partir de junho, para medir a ansiedade e tentar identificar o que gerava mais preocupação nos empregados, identificaram questões como a de que qualquer conversa ou troca de e-mail virava uma reunião. Como aliviar a pressãoEm setembro, a Suzano elaborou um conjunto de “regras que valem ouro”. Gestores foram orientados a evitar reuniões antes das 9h e depois das 17h. Nada de convocar videoconferência na hora do almoço ou nas tardes de sexta. Outra recomendação foi tornar os encontros mais breves. — No começo, a adesão foi baixa, mas reforçamos a importância. Hoje tem sido uma prática. Entendemos que não é produtivo nem saudável ter reuniões seguidas. Todos precisam de momentos de pausa, de ergonomia — diz Fabiana. Maira Nisi, líder de design estratégico da Suzano que participou da elaboração de um conjunto de técnicas para tornar o home office mais fluido e produtivo na empresa, dá uma receita simples: — Uma das estratégias é a tática Pomodoro, que intercala 25 minutos de concentração com cinco de descanso. Para o consultor e professor de oratória Reinaldo Polito, o home office colabora para a banalização das videoconferências, o que aumenta a ansiedade das pessoas sobre suas performances. Segundo ele, o fato de as pessoas se olharem o tempo todo também gera preocupações com a própria imagem ou com o cenário atrás. — As pessoas marcam porque é mais fácil se reunir, tem menos custo, mas com 12 reuniões por dia não é possível se preparar bem, é contraproducente — diz Polito, que recomenda que as câmeras sejam desligadas em alguns momentos da reunião. — As pessoas se sentem o tempo todo observadas e ficam se arrumando, o que é desgastante. Também ajudam a acelerar as reuniões pautas prévias e atas posteriores, recomenda o professor. Um resumo breve do que foi discutido na última reunião evita que as pessoas iniciem outra recapitulando. — Isso facilita o foco e você caminha mais rapidamente para o assunto — diz Polito. O GLOBO

Pandemia agrava saúde mental de profissionais

A pandemia agravou outra pandemia que a sociedade já enfrenta há 30 anos, mas que vinha sendo silenciada por causa da estigmatização: a da saúde mental. “A gente tem a oportunidade de agora realmente escutar”, afirma Leandro Pereira Garcia, gerente sênior de gestão de saúde populacional na Amil /UHG. O médico participou de uma Live do Valor sobre o tema no último dia 29. Uma pesquisa recente feita pela Fundação Dom Cabral (FDC) e Talenses Group, obtida com exclusividade pelo Valor, indica que a pandemia prejudicou a saúde mental de 73,8% dos 573 profissionais entrevistados. Do total, 40% ocupam posições gerenciais e 20,5% são diretores, VPs, C-Level ou conselheiro. Entre as mulheres (que são 45% dos entrevistados), a pandemia prejudicou mentalmente 80,92% delas. O indicador também foi alto entre os mais jovens. Na geração Z (nascidos a partir de 1991), 80,65% disseram ter sido afetados. “Uma primeira explicação é que as gerações mais novas têm pouca autonomia, recebem as atividades para fazer e há pouco espaço para colocar intencionalidade, seu próprio ponto de vista”, afirma o coordenador da pesquisa Paul Ferreira, professor de gestão estratégica e diretor do Centro de Liderança da Fundação Dom Cabral. Isso vai contra o que boa parte dessa geração espera da carreira. “Os mais jovens aceitam o trabalho por algo além do salário, tem a questão do propósito, de ter a oportunidade de fazer ‘o que eu faço melhor’, de impactar a sociedade. Essas questões estão afetadas pela pandemia, por não haver interações sociais”, disse. As mulheres, por sua vez, têm a sobrecarga das tarefas domésticas e do cuidado com os filhos, que ainda hoje recaem sobre o sexo feminino. “Percebemos que a produtividade das mulheres cai em relação a dos homens quando se tem uma ou duas crianças em casa”, afirma Luiz Valente, CEO do Talenses Group. “Em paralelo, notamos que mesmo com uma percepção semelhante sobre a mudança no nível de cobrança por parte dos gestores entre homens e mulheres, uma parcela maior delas se sente pressionada a trabalhar mais para mostrar sua produtividade aos respectivos gestores. Aspectos como esses podem influenciar e impactar de diversas maneiras a vida das mulheres de forma negativa.” É um ambiente que parece piorar algo que já não estava bom. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) obtidos em um levantamento do ano passado mostram que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e o quinto mais depressivo. “Com esse cenário, é urgente discutirmos o papel das organizações sobre o tema e as ações necessárias em prol da saúde mental dos colaboradores”, afirma Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Junto com a Sociedade Brasileira de Psicologia e a InPress Porter Novelli, a Rede Brasil do Pacto Global lançou recentemente o movimento #MenteEmFoco. “É um espaço gratuito para as empresas levarem as melhores práticas para outras companhias replicarem e gerar mais conhecimento nesse tema tão importante”, diz Pereira. A iniciativa já conta com a participação de Ambev, Unilever, Hospital Sírio-Libanês, UPS, Grupo Conexa, Mapfre e Afya Educacional. Ainda são poucas as empresas que endereçam o tema da saúde mental no Brasil: 18%, segundo Pereira. Mas algo, de fato, já está sendo feito. A Bee Touch, uma startup fundada em 2012 que oferece serviços de avaliação psicológica para empresas, registrou um aumento de avaliações durante a pandemia de 38%. “Mais empresas estão utilizando a plataforma para avaliar, predizer e monitorar os riscos psicossociais entre os seus colaboradores”, afirma Ana Carolina Peuker, CEO e fundadora da Bee Touch. Para a empreendedora, hoje há uma maior conscientização sobre o impacto da saúde mental na força produtiva e isso aumentou a demanda pelo monitoramento digital de saúde mental. “A crise pandêmica colocou uma lupa em problemas psicológicos que já existiam entre os colaboradores, mas que foram exacerbados pela crise. Hoje, atendemos clientes com diferentes graus de maturidade, desde os inativos, que não sabem quais ações tomar quanto às questões de saúde mental, até aqueles que já estão numa posição reativa, buscando agir.” Na Astellas Farma Brasil, falar de qualidade de vida está na pauta há alguns anos e, desde 2018 a companhia focou no pilar de saúde mental com o lançamento do “Origami-se”. Laís Mastantuono, diretora de recursos humanos da farmacêutica, diz que se trata de um programa de gestão emocional que tem como objetivo desmistificar o tema saúde mental e trazer para discussão tópicos considerados tabus, como ansiedade e depressão. Além disso, apresenta aos funcionários ferramentas de autoconhecimento e gestão do estresse. “O maior benefício observável do programa foi, sem dúvida, a criação de um ambiente ainda mais aberto e leve, uma maior conexão entre nossas pessoas e um maior senso de pertencimento, gerando ainda mais engajamento”, afirma Laís. Desmistificar o tema da saúde mental também foi o objetivo do feriado corporativo decretado pela SAP globalmente no último dia 27 de abril para seus mais de cem mil funcionários. “A proposta foi chamar atenção para a necessidade de se manter atento à saúde mental e passar uma mensagem clara sobre a necessidade de realizar um balanceamento saudável entre vida pessoal e profissional”, afirma Fernanda Saraiva, diretora de recursos humanos da SAP Brasil. “Esse equilíbrio se faz ainda mais necessário diante de um momento desafiador como o atual, e quisemos reforçar a necessidade de falar abertamente sobre o tema no ambiente corporativo, sem estigmas e pré-julgamentos.” Em pesquisa interna global, a empresa constatou que um terço de seus funcionários estava passando por níveis de estresse superiores aos níveis de satisfação no trabalho. A multinacional tem um programa de saúde mental chamado “Mental Health Matters” desde 2019. O objetivo é justamente criar um ambiente seguro e livre de preconceitos para se falar abertamente de doenças mentais, prevenção e bem-estar na área de saúde psicológica. Oferecer um ambiente psicologicamente seguro é fundamental para prevenir questões de saúde mental entre os funcionários. “O quão seguro psicologicamente é o ambiente de trabalho para permitir que o indivíduo diga que está sofrendo assédio moral, que seu sofrimento é devido

Sem vacina, sem emprego (Editorial)

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Desemprego e pandemia infernizam os brasileiros, sem trégua, um ano depois dos primeiros ataques do coronavírus. Com vacinação atrasada e economia emperrada, o Brasil segue em desvantagem diante de países governados com alguma eficiência. Além disso, o País supera as próprias marcas negativas. Mais um recorde sinistro foi alcançado quando se contabilizaram 14,4 milhões de pessoas desocupadas, 14,4% da força de trabalho, no trimestre móvel encerrado em fevereiro. Nunca haviam aparecido tantos desempregados na série iniciada em 2012. Um ano antes, ainda na fase pré-pandemia, os desocupados eram 12,3 milhões, ou 11,6% da população economicamente ativa. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada na sexta-feira. Passado o primeiro aniversário da pandemia, o crescimento foi retomado em outros países, desenvolvidos e emergentes, embora novas ondas de covid-19 tenham aparecido. Em alguns, a vacinação avançada e a redução do contágio têm facilitado a retomada. No Brasil, onde o controle sanitário foi amplamente prejudicado por falhas do governo federal, os negócios continuam fracos e as condições de emprego se mantêm como nas piores fases de 2020. A desocupação, equivalente a 14,4% da força de trabalho no trimestre até fevereiro, repete a taxa do período junho-agosto e supera a de setembro-novembro, quando ficou em 13,9%. Ao contrário de outros países, onde os chefes de governo reconhecem os problemas e assumem responsabilidades, o Brasil exibe, no mercado de trabalho, condições piores que aquelas vividas depois do primeiro grande impacto da pandemia. A situação do emprego no Brasil, no começo do ano passado, já era muito ruim, com desocupação de 12,2% no primeiro trimestre. O quadro era muito melhor na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O desemprego médio nos 37 países-membros estava em 5,3% em fevereiro de 2020. Aumentou durante a pior fase da pandemia, como em todo o mundo, e, com a melhora do quadro, chegou a 6,7% em fevereiro deste ano. Ainda em fevereiro, a taxa estava em 8,3%, um ponto acima do nível anterior à crise de saúde. Nos Estados Unidos, em março, os desocupados eram 6%. Em abril de 2020 haviam superado 14%. Além de alcançar o recorde nacional de 14,4 milhões de desempregados, o Brasil manteve, no último trimestre pesquisado, o número, também mais alto da série, de 6 milhões de desalentados, já anotado no período de setembro a novembro. Desalentado é quem desistiu de buscar uma vaga, deixando, portanto, o rol dos desempregados. Quando se espalha o desalento, a taxa de desemprego pode até melhorar, mas essa melhora é uma ilusão estatística. Em um ano de pandemia foram fechados 7,8 milhões de postos de trabalho. Esse número é mais que o dobro da população do Uruguai e cerca de 40% da população do Chile. O contingente de pessoas ocupadas, cerca de 85,9 milhões, ficou estável, no entanto, em relação ao registrado no período de setembro a novembro, mas isso se deveu à expansão da informalidade. Só aumentou a categoria dos trabalhadores por conta própria, com acréscimo de 716 mil pessoas no trimestre. Esses trabalhadores (23,7 milhões) são em grande parte informais e seu número tende a crescer quando escasseiam as vagas de ocupação assalariada. As condições da economia já apontam para novas dispensas, com o baixo nível de atividade na maior parte da indústria e em boa parte do comércio varejista e dos serviços. Em abril, o Índice de Confiança da Indústria, produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu pelo quarto mês consecutivo e atingiu 103,5 pontos, o nível mais baixo desde agosto do ano passado, quando ficou em 98,7. Caíram os dois grandes componentes, o indicador de expectativas e o de situação presente. No caso das expectativas, o fator mais negativo foi o emprego previsto para os próximos três meses. Depois de perder o primeiro trimestre, o governo federal tenta retomar ações de apoio à economia, com o País ainda preso no buraco da crise de 2020. O ESTADO DE S. PAULO

Informal deve liderar retomada do emprego

A recuperação do emprego com a pandemia mais controlada no Brasil deve vir do setor informal, principalmente do trabalhador por conta própria sem registro. Mas a categoria de autônomos pode ser um motor para o mercado mesmo entre os formais. Em conjunto, dados sinalizam que as empresas não têm gerado vagas de maneira expressiva, e os trabalhadores se viram como podem. As constatações, apresentadas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) ao Valor, têm implicações profundas para o futuro, não só em termos econômicos, mas também em relação às necessidades de proteção da renda e qualificação profissional. Série mensalizada da Pnad Contínua, do IBGE, pelos economistas Fernando Veloso, Silvia Matos e Paulo Peruchetti mostra que o emprego formal estava, em janeiro deste ano, 7,4% abaixo do período pré-pandemia, enquanto o nível do emprego informal era 9,6% inferior. Os informais, no entanto, foram muito mais afetados na crise da covid-19 do que os formais, algo particular desta recessão. Pela série, no pior momento do setor informal, em junho de 2020, a diferença em relação ao pré-pandemia chegou a 20%, enquanto no segmento formal foi de, no máximo, 11% em julho. “O informal foi mais afetado no início, mas se recuperou mais rápido”, afirma Veloso, observando que o fortalecimento via informais já era tendência após a crise de 2014-2106. “O padrão atípico de muita informalidade, acima do normal para o Brasil, existia antes da pandemia. Achamos que essa queda dos informais será revertida”, diz ele, ponderando que ainda há dúvidas sobre o impacto da segunda no mercado de trabalho. Foram considerados informais trabalhadores sem carteira (dos setores privado, público e doméstico), conta própria e empregadores sem CNPJ e o trabalhador familiar auxiliar. Os formais incluem trabalhadores com carteira (privado, público e doméstico), conta-própria e empregadores com CNPJ, além de militares e servidores estatutários. Em 2020, a população ocupada cresceu apenas para militares/servidores (6,9%, contra crescimento médio ao ano de 0,8% entre 2017 e 2019) e para o conta própria com CNPJ (10,1%, ante média de 7,3% nos anos anteriores). Na contramão, empregados no setor privado com carteira, cuja geração média de ocupação ficou zerada entre 2017 e 2019, recuaram 7,8% em 2020, em linha com a queda de 7,9% na população ocupada total. O peso dos registrados entre os conta própria passou de 20% antes da covid para 23% em 2020, enquanto sua participação na ocupação geral foi de 5,2% em 2019 para 6,2% no ano passado. “Ele já estava crescendo forte e continuou na pandemia. É uma categoria ainda relativamente pequena em termos de tamanho, mas que está avançando bastante”, observa Veloso. O conta própria com CNPJ é um trabalhador autônomo, porém com alguma proteção social, como contribuição previdenciária. Pode ser um microempreendedor individual (MEI) ou fruto da “pejotização”. “Pode ser a pessoa com carteira que perdeu o emprego na recessão, não conseguiu retornar com registro e virou um conta própria mais qualificado”, acrescenta Veloso. Com ou sem registro, o conta própria se saiu melhor na pandemia do que sua contraparte no setor privado. Em janeiro deste ano, o nível de ocupação do autônomo com CNPJ estava 4,2% acima do pré-covid, enquanto o empregado com carteira estava 12% abaixo, segundo a série mensalizada. “O formal que está retomando não é aquele trabalhador que tem vínculo com empresa”, diz Veloso. No segmento informal, o conta própria sem CNPJ estava 4,6% abaixo do pré-covid, mas o empregado do setor privado sem carteira estava 17,5%. Veloso lembra que o funcionário do setor privado, ainda que sem registro, tem relação com uma empresa. Já trabalhadores por conta própria são mais flexíveis e, no limite, só dependem deles mesmos para ter uma ocupação. Essa análise é relevante “porque está sinalizando que as empresas não estão gerando emprego”, observa Veloso. “Esperamos que o emprego informal se recupere mais rápido e, dentro do informal, o conta própria. E a mesma coisa vale para o formal, com o conta própria com CNPJ”, diz. O pesquisador destaca como o grau de incerteza elevado influencia o cenário, afetando investimentos e contratações formai. O indicador de incerteza da FGV explodiu no início da pandemia. Tem recuado, mas ainda está acima do nível pré-covid. “É nesse sentido também que temos a impressão de que o fenômeno que víamos antes da pandemia [retomada via emprego informal] deve se repetir”, afirma Veloso. A perspectiva de um mercado que cresce com base no informal e conta própria impõe desafios à proteção social, já que esse grupo está mais suscetível a flutuações na renda. “Vai ter muita pressão para políticas sociais, apesar dos desafios fiscais que vivemos”, afirma Silvia. Veloso chegou a propor, com outros economistas (leia reportagem abaixo), a criação de uma espécie de “seguro” para informais. “Surpreende que tivemos discussão acalorada sobre isso no ano passado e, de repente, o assunto sumiu, sendo que a situação só piorou”, diz ele. Em relação a esforços para a formalização dessas categorias, os pesquisadores do FGV Ibre destacam que uma agenda de educação e capacitação – também “totalmente perdida” no Brasil, aponta Veloso – é fundamental. A escolaridade média do empregador em 2020 era de 13 anos para quem tinha CNPJ e de 10,1 para aqueles sem registro, segundo o FGV Ibre. Ter ensino médio completo exige cerca de 12 anos. Entre os conta própria com e sem CNPJ, a escolaridade média era de 11,9 e 9,3 anos, na ordem. “É uma diferença brutal”, diz Veloso. Cerca de 41% dos autônomos com registro tinham ensino médio completo/superior incompleto. O número cai para 33,4% entre os conta própria sem CNPJ, com a maioria (39%) sem instrução ou com fundamental incompleto. Somando-se a essa maioria aqueles que têm ensino médio incompleto, o contingente chega a 55,5%. “Sinaliza que isso pode ser muito mais uma ocupação de sobrevivência do que porque há uma veia de empreendedor. Dificilmente, sem ensino médio completo, ele vai conseguir fazer o negócio crescer”, diz Veloso. O ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha defendendo, como caminho para formalizar trabalhadores, a desoneração da

Le Postiche entra em recuperação judicial depois de baque da pandemia

Depois de acumular dívidas de R$ 64,6 milhões e ver suas receitas desabarem ao longo de mais de um ano de pandemia, a varejista de malas, bolsas e mochilas Le Postiche entrou em recuperação judicial. A segunda onda da covid-19, que mais uma vez fechou o comércio e retardou a retomada da economia, fez a empresa, fundada na década de 1970, não conseguir ver uma saída para se reerguer sem a proteção da Justiça. Além de ter lidado com um período com lojas fechadas na quarentena, a Le Postiche viu dois de seus principais pilares de demanda por seus produtos ruírem na pandemia: o de turismo (malas de viagem) e o escolar (mochilas), com viagens suspensas e alunos com aulas online. A recuperação judicial da Le Postiche evidencia uma realidade de varejo. Enquanto há empresas capitalizadas e prontas para se tornarem consolidadoras do mercado – caso de Renner, Arezzo e Grupo Soma, por exemplo -, há outros negócios que, por causa de falta de escala ou de fôlego financeiro, se veem em dificuldades. Segundo consultores em varejo, a tendência de os mais fortes incorporarem os mais fracos deve se intensificar nos próximos meses. Redução de tamanhoNo processo de reestruturação, que começou ano passado, a empresa começou a ajustar seu tamanho: 37 lojas em shopping centers foram fechadas – todas essas unidades já não tinham rentabilidade mesmo antes do início da crise. Mais enxuta, agora a Le Postiche tem 45 lojas próprias e 98 franquias – esse número de pontos franqueados já chegou a ser de 200. O presidente da Corporate Consulting Estratégias, Luis Alberto de Paiva, que conduz o processo de reestruturação, diz que, no ano passado, com os bancos postergando o vencimento das dívidas e com um crédito que a empresa obteve por meio de uma das linhas de socorro que foram liberadas pelo governo, a Le Postiche conseguiu ganhar fôlego e atravessou o segundo semestre. A expectativa era de que a pandemia arrefecesse, com a companhia ganhando fôlego com dois fenômenos que costumam animar as vendas: as viagens de fim de ano e a volta às aulas. No entanto, nem o turismo nem a educação voltaram em larga escala, prejudicando os planos da companhia. A segunda onda de covid acabou sendo a gota d’água. “O que aconteceu, na realidade, foi exatamente o contrário”, comenta Paiva. Busca da digitalizaçãoAgora, depois dos primeiros ajustes já feitos, a empresa já está debruçada para começar a desbravar novos mercados, para se tornar menos dependente de nichos específicos, e está em busca de mais digitalização. Outra questão que será trabalhada é a profissionalização da gestão da empresa, ainda de perfil familiar. O trabalho, além da diversificação, será buscar a abertura de lojas em locais mais estratégicos em pontos de alta circulação – e fora dos shoppings, onde suas lojas hoje se concentram, exceto uma na zona sul de São Paulo, onde também funciona seu outlet. Para conseguir fazer esses investimentos, a empresa já conversa, segundo o presidente da Corporate Consulting, com investidores que têm foco em aporte em empresas que estão em recuperação judicial. “Estamos falando com investidores nacionais e têm também estrangeiros querendo entrar, mas isso depende da equalização da recuperação”, diz. Essa entrada de recursos deverá ocorrer, segundo ele, em um prazo de seis meses a um ano, após a entrega do plano de recuperação, programado para daqui a 60 dias, e a assembleia de credores, em 180 dias. O pedido de recuperação da Le Postiche foi deferido ontem. A dívida que será renegociada soma hoje R$ 64,6 milhões, montante que não inclui os passivos fiscais da empresa. O ESTADO DE S. PAULO

Gigantes do varejo estudam relançar movimento Não Demita

A associação que reúne as maiores redes de varejo do país, o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), vai decidir nesta segunda (3) se lança ou não uma nova edição do movimento Não Demita, criado em 2020 para tentar mitigar o desemprego na pandemia. Formado por nomes como Magazine Luiza, Riachuelo e Centauro, o IDV fez pressão nos últimos meses para o governo relançar o programa de corte de jornada e salário, argumentando que, caso contrário, poderia ter demissão em massa. A nova rodada do Não Demita, agora, funcionaria como contrapartida das empresas que adotarão o corte de jornada. A primeira edição do movimento nasceu no começo da pandemia e serviu como compromisso informal de preservação de vagas por alguns meses, como uma camada adicional de segurança ao trabalhador, além da garantia provisória de emprego que tem no próprio programa do governo. FOLHA DE S. PAULO