Sindeprestem e Fenaserhtt participam do SindiMais Conecta 2021

O Sindeprestem e a Fenaserhtt participam no próximo dia 28/04/21, quarta-feira, por meio do presidente Vander Morales, do SindiMais Conecta 2021, evento online e gratuito criado para debater as atuais transformações do mundo do trabalho, com a participação de autoridades, personalidades importantes e entidades representativas do cenário trabalhista. Neste dia, às 14h10, ocorrerá o painel: ” Emprego e renda em tempos de covid-19: Como o legislativo e o setor produtivo podem contribuir com medidas para impulsionar o crescimento econômico“, com a participação dos debatedores Vander Morales e o deputado federal Orlando Silva e mediação do advogado Cristiano Vilela. Você está convidado a participar deste evento. Acesse o site www.portalsindimais.com.br, inscreva-se e anote na sua agenda para acompanhar este importante debate sobre as relações de trabalho.

Reforma fortalece tríade de ministros

A reforma ministerial reconfigurou a relação de poder no Palácio do Planalto com a chegada de dois ministros civis ao quarto andar, restringindo o espaço dos militares. Mesmo assim, o núcleo mais forte do entorno do presidente Jair Bolsonaro, após a dança das cadeiras, é uma tríade com dois militares e um civil. O grupo mais influente junto a Bolsonaro contempla o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o agora ministro-chefe da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, e o secretário especial de Assuntos Estratégicos (SAE) e secretário interino de Comunicação, almirante Flávio Rocha, o “ministro sem pasta”. Com o tempo, esse grupo deve agregar mais um civil: a nova ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda. À medida que a campanha eleitoral se aproximar, e o presidente ficar mais dependente do Centrão, a ministra indicada pelo bloco, e responsável pela articulação política, deverá se fortalecer, apostam aliados. É sintomático o avanço dos civis na sede do Executivo. Até o ano passado, os quatro ministros palacianos eram militares: Ramos, então ministro da Secretaria de Governo (Segov); Walter Braga Netto, então na Casa Civil, e agora remanejado para o Ministério da Defesa; Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e Jorge Oliveira, ministro da Secretaria-Geral (SG) da Presidência, que entrava na contabilidade como egresso da Polícia Militar, e atualmente despacha no Tribunal de Contas da União (TCU). O novo desenho palaciano agora contempla dois deputados licenciados no quarto andar: Onyx Lorenzoni (DEM-RS), ex-Casa Civil que voltou ao palácio realocado na SG; e a novata Flávia Arruda (PL-DF), que recentemente assumiu a Segov e tem potencial para formar dupla com Faria no concorrido núcleo duro do presidente. De longe, o ministro civil, da chamada “ala política”, mais influente junto a Bolsonaro é Fábio Faria. No jargão palaciano, ministro forte é aquele que está a um lance de escadas do presidente. Por isso, embora tenha gabinete no Bloco R da Esplanada, Fábio Faria ganhou uma sala no segundo andar do palácio, e passe livre ao gabinete presidencial, no terceiro andar. O deputado licenciado é combativo nas redes sociais se o assunto é a defesa do governo e do presidente, mas é considerado um político de trato afável e perfil conciliador, nas reuniões privadas. Mais que combativo, Faria é quem orienta os demais auxiliares sobre a linha de defesa do governo nas redes sociais. Ele foi o primeiro ministro a reagir nas redes sociais à decisão do ministro Luís Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF) que obrigou o Senado a instalar a CPI da Covid, iminente palanque preferencial da oposição. A CPI vai comprovar uma “atuação responsável e íntegra”, registrou Faria no Twitter. O ministro é o autor da ideia de criar um “vacinômetro” e articulou o recente jantar de Bolsonaro com empresários, em São Paulo, como reação à carta de banqueiros e economistas com críticas à condução da economia e da crise sanitária. Ele também se aproximou do almirante Flávio Rocha, e costurou para que o militar assumisse a Secretaria de Comunicação no lugar do empresário Fabio Wajngarten. Segundo o próprio Ramos e outras fontes, o auxiliar mais próximo de Bolsonaro é o almirante Flávio Rocha, que passou a acumular a SAE, que tem status de ministério, com a Secom. A relação de Rocha com o presidente remonta há pelo menos 20 anos. Eles se conhecem desde quando o almirante era assessor parlamentar da Marinha e frequentava o gabinete do então deputado Jair Bolsonaro. Por fim, o general Luiz Eduardo Ramos, amigo de Bolsonaro desde os tempos da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), sobreviveu às várias tentativas do Centrão, e também de fogo amigo no governo, de derrubá-lo do cargo. Diante do acirramento da crise política, cedeu a função de interlocutor do Planalto com o Congresso, mas “caiu para cima”, na Casa Civil. Faria, Ramos e o almirante encabeçam o grupo de ministros das alas política e militar que atuam nos bastidores para neutralizar a chamada ala ideológica, de onde emergem as crises mais estridentes do governo. Três expoentes dessa ala já sofreram degola: o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, o ex-chanceler Ernesto Araújo e o ex-Secom Fabio Wajngarten. O assessor especial da área internacional, Filipe Martins, é um remanescente do grupo, mas que está na linha de tiro dos ministros políticos e militares. Heleno e Onyx são apontados como ministros com menos influência na tomada de decisões estratégicas. Contudo, têm lugares cativos junto a Bolsonaro pelo histórico de lealdade e confiança. Em contrapartida, o novo ministro da Defesa, Braga Netto, pode perder influência nas decisões estratégicas ao se deslocar para a Esplanada. “Com ele, agora, não é mais só descer as escadas para falar com Bolsonaro”, pondera uma fonte militar. Braga Netto, entretanto, joga em dupla com Ramos, e tem laços estreitos com Bolsonaro. Ex-presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), e ex-primeira-dama do Distrito Federal, Flávia Arruda é o primeiro nome que o Centrão emplaca no primeiro escalão. Ela é próxima do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas foi alçada ao posto pelo ministro Ramos, graças à sintonia fina estabelecida com o general quando era presidente da CMO. “Creditaram a indicação da ministra ao Arthur Lira, mas na realidade ele soube pela Flávia que ela estava sendo indicada”, disse Ramos ao Valor. “Quem escolheu a Flávia foi o presidente da República, a partir de quatro nomes que eu apresentei a ele.” Em paralelo, Flávia tem tudo para agradar Bolsonaro: primeiro de tudo, a confiança de Ramos. Além disso, ela é discreta, quer fugir dos holofotes para não irritar o presidente. E, nos bastidores, é considerada hábil e conciliadora. Se tiver atuação decisiva para costurar uma saída política para o impasse envolvendo a Lei Orçamentária de 2021, que descarte o veto presidencial, a ministra tende a se consolidar no núcleo forte do entorno presidencial, diz um expoente do Centrão. Ao fim e ao cabo, porém, quem realmente tem voz e poder de ação no governo continua sendo o núcleo da “copa e cozinha”: os filhos – senador

Reforma tributária trava no Brasil, enquanto avança nos EUA

Além da condução da pandemia, Brasil e Estados Unidos também têm trilhado caminhos diferentes quando o assunto é reforma tributária. Enquanto o governo do democrata Joe Biden, em menos de três meses, já avançou no plano que prevê aumento de impostos cobrados de grandes empresas, no Brasil a discussão está travada por causa do agravamento da crise sanitária de Covid-19. Ainda que a reforma avance, o plano do ministro Paulo Guedes (Economia) vai no sentido contrário da proposta do presidente americano de aumentar impostos sobre empresas para reforçar o caixa do governo. A proposta do ministro brasileiro, ainda não formalizada, prevê um corte de impostos sobre empregadores, com aumento da tributação apenas sobre a distribuição de dividendos, hoje isenta. A desoneração ampla seria viabilizada com a criação de um imposto sobre transações, como a CPMF, ideia que sofre forte rejeição dentro e fora do governo. Já Biden anunciou na quarta-feira (7) uma proposta para aumentar de 21% para 28% o imposto cobrado de empresas, patamar que, ainda assim, ficaria abaixo da alíquota de 35% que vigorava no país antes de o ex-presidente Donald Trump cortar impostos corporativos, em 2017. Se concretizada, a mudança poderia aumentar a arrecadação do país em US$ 2,5 trilhões em um horizonte de 15 anos, segundo estimativas do governo americano. O plano inclui ainda mudanças em cláusulas de tributação internacional e legislações mais duras para forçar empresas a pagar impostos sobre uma gama maior de fontes de renda em diferentes países. As discussões se dão em um contexto de desaceleração do número de mortes pelo novo coronavírus nos Estados Unidos. O país, que chegou a registrar 4.490 óbitos pela doença em 12 de janeiro, viu o ritmo decrescer com o aumento da vacinação da população americana. Na quinta-feira (8), foram 1.037 mortos nos EUA. No Brasil, a situação é inversa, e a piora da pandemia paralisou as discussões sobre a reforma tributária. A avaliação de governadores, prefeitos e congressistas é que não há clima para debater impostos enquanto os sistemas de saúde de estados e municípios se aproximam do colapso. Membros da equipe econômica já reconhecem internamente que o tema pode ficar travado por mais tempo, com chance de o mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ser encerrado com poucos avanços na área. A percepção de auxiliares do ministro Paulo Guedes (Economia) é que só há espaço neste ano para uma simplificação tributária que não altere a repartição de recursos entre União e governos regionais. Interlocutores ressaltam que uma reforma ampla também não seria aprovada em 2022, ano eleitoral. Em 4 de fevereiro, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), anunciaram um cronograma que previa a aprovação da reforma nas duas Casas até outubro. Naquele dia, dados das secretarias estaduais de Saúde reportaram 1.232 mortos por Covid-19, elevando o total no país para 228.795 óbitos. Dois meses depois, já são quase 350 mil mortos pelo novo coronavírus e um número diário de óbitos que, recentemente, tem ultrapassado o patamar de 4.000. A piora da pandemia levou a uma crise entre Poderes e a tentativas de melhorar a coordenação do enfrentamento à Covid-19 por meio de um comitê nacional, em esforço que tem consumido a atenção do Executivo, do Legislativo e de governos estaduais e municipais. Indícios de que a discussão só será retomada quando a pandemia parecer minimamente controlada já foram enviados pelo Congresso. Em 24 de março, Lira fez o discurso mais duro até o momento contra o governo federal, cobrando correção de rumo e acenando com “remédios políticos amargos” a serem usados pelo Congresso, alguns deles fatais, se não houvesse mudanças. Na mesma fala, propôs um esforço concentrado por duas semanas, atrasando a tramitação de outros projetos para votar textos que tenham como objetivo ajudar no enfrentamento da Covid. Nesta semana, a expectativa é que a pauta seja mista, ou seja, incluindo propostas que não tratem da pandemia. Antes do agravamento, o presidente da Câmara estimava que a leitura do relatório final da reforma, a cargo do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), aconteceria na semana passada. Agora, não há previsão ou clima para que as discussões sejam retomadas. “Não tem como o Congresso fazer outro debate que não seja preservar vidas”, afirmou o recém-escolhido líder da minoria na Câmara, deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ). “A gente está muito atrasado na vacinação, o percentual de vacinados no país é muito pequeno. Não tem como resolver a economia sem preservar a vida.” om pessoas morrendo em filas de UTI (unidades de terapia intensiva), o Congresso precisa priorizar temas de enfrentamento à pandemia, defende Freixo. Nesse contexto, nem a reforma tributária nem a administrativa têm espaço na agenda do Legislativo. Entre governadores, a hipótese de desviar a atenção da pandemia para discutir mudanças no sistema financeiro é próxima de zero. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), descarta tratar do assunto neste momento. Ele se diz crítico da reforma que está sendo discutida, afirma ser contrário ao ICMS (imposto estadual) e avalia que o IBS (imposto sobre bens e serviços), da forma como foi formatado, aumenta a carga tributária de alguns setores. O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), concorda e afirma que a reforma tem de ser feita levando em consideração a realidade de cada estado, o que exige discussões com todos os segmentos produtivos, governadores, prefeitos e o governo federal, algo que não pode acontecer em um momento em que a atenção está voltada ao controle da pandemia. “Enquanto a gente não tiver um controle da pandemia no país, não tem como tratar outra pauta a não ser Covid, vacina, e, na sequência, retomada da atividade econômica.” Na avaliação dele, a reforma não é simples. “Carece de uma discussão mais ampla, especialmente no Amazonas, onde os interesses da Zona Franca [de Manaus] têm de ser preservados, pois respondem por 80% das atividades econômicas”, disse. “E isso não é simples de ser feito, principalmente nesse momento de pandemia. Se fizer a reforma tributária, algum segmento vai sair prejudicado.

Não vai ser fácil para ninguém (Luís Eduardo Assis)

Parecia que 2021 não seria tão difícil. Há um ano, muitos imaginavam que a esta altura a pandemia estaria controlada. Mas a realidade é mais cruel do que nossos sonhos. Não é preciso citar os números da covid para ilustrar o desastre magnificado pela inépcia negacionista do governo federal. Na economia não estamos melhor. Como se temia, o isolamento social não foi forte o suficiente para controlar a pandemia, mas foi brutal para a atividade econômica. De forma análoga, a reação do governo foi suficiente para explodir a dívida pública, mas não conseguiu evitar uma recessão de dimensão histórica. O nível de emprego é nosso ponto nevrálgico, o nervo exposto do dente cariado da economia. A mensuração desta variável está prejudicada. A pesquisa Caged alterou sua metodologia, o que não impede o governo de comemorar dados que não são comparáveis. Por sua vez, a Pnad, conduzida pelo sofrido IBGE, passou a ser feita por telefone, o que também gera distorções. Ainda assim, o que o IBGE nos conta é trágico. O total de pessoas desocupadas subiu de 11,9 milhões em janeiro de 2020 para 14,3 milhões em janeiro último. O número de pessoas fora da força de trabalho saltou de 65,7 milhões para 76,4 milhões no mesmo período. Também entre janeiro de 2021 e janeiro do ano passado a massa de rendimentos efetivamente recebidos passou, em termos reais, de R$ 255,6 bilhões para R$ 226,5 bilhões, queda de 11,4%. Este tombo foi parecido com a redução no número de pessoas ocupadas no setor privado com carteira assinada, da ordem de 11,6%. O recuo no número de empregadores foi ainda maior, 12,4%. O contingente de trabalhadores domésticos despencou 21,4%, ao passo que no setor de alojamento e alimentação o declínio alcançou 28,1%, sempre na comparação entre janeiro de 2021 e janeiro de 2020. É importante notar que, no mesmo período, o índice de nível de atividade do Banco Central, que guarda grande correlação com o PIB, caiu apenas 0,5%. Isto quer dizer que tanto a atividade como o emprego mergulharam e atingiram pontos mínimos em meados do ano passado, mas na recuperação do segundo semestre o emprego ficou para trás, já que a retomada foi concentrada em setores que geram relativamente menos postos de trabalho. A segunda onda da pandemia tende a agravar este descompasso. Empresas que renegociaram dívidas e postergaram impostos terão agora que enfrentar suas dívidas em plena recessão. Muitas não sobreviverão. Pesquisa da XP-Ipespe de março mostra que 45% dos pesquisados acreditam que é pequena ou muito pequena a chance de manterem o emprego nos próximos seis meses. A mesma enquete registra que 65% acham que a economia está no caminho errado. O Ministério da Economia não demonstra maior preocupação com o colapso do nível de emprego. Enquanto os EUA rompem com paradigmas fiscais e anunciam um megaprograma de incentivo ao crescimento, ficamos aqui enroscados em dogmas e crenças. O pequeno auxílio emergencial de 2021 foi extraído a fórceps, o programa de sustentação dos empregos formais não foi renovado e a barafunda na aprovação do Orçamento de 2021, em pleno mês de abril, mostra que a política econômica se perdeu. O desemprego ainda vai se agravar no segundo trimestre. A recuperação, mais adiante, será lenta, na ausência de uma ação mais firme do governo. Neste contexto, a popularidade restante do presidente pode derreter ao sol tropical, o mesmo que castiga o exército de famélicos que vemos nas ruas. Contar com Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022 é, no mínimo, precipitado, o que não deixa de ser um alento. O descalabro é clamoroso. O caos é notório. O ajuste de contas, inevitável. ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E FGV-SP. E-MAIL : LUISEDUARDOASSIS@GMAIL.COM O ESTADO DE S. PAULO

The Economist: As reuniões virtuais chegaram para ficar

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Georgina não tem pressa para voltar ao escritório. Aos 37 anos, ela atua em Genebra, na Suíça, e trabalhou de casa na maior parte do ano passado. Isso a livrou dos deslocamentos entre sua casa e o escritório, permitiu-lhe usar calças de moletom e evitar constrangedoras conversas a respeito de sua gravidez. Agora, ela está em licença-maternidade, mas seus colegas estão gradualmente voltando ao escritório. As reuniões ainda são realizadas por Zoom; os colegas dela se conectam individualmente a partir de suas mesas para aqueles que trabalham de casa não se sentirem excluídos. Mas Georgina se preocupa com a possibilidade de, conforme as restrições forem aliviadas, as pessoas retomarem hábitos pré-pandemia, e o trabalho realizado em casa se tornar outra vez a exceção. Plataformas de videoconferência como Microsoft Teams e Zoom (agora tão onipresentes que viraram expressões comuns) tornaram o trabalho remoto possível enquanto a covid-19 se espalhava e os países entravam em lockdown. Os funcionários precisavam de permissão para trabalhar de casa; agora, precisam ser liberados para ir ao escritório. Todo tipo de serviço que era oferecido presencialmente – de aulas de ioga a consultas médicas – passou a ser realizado online. O número diário de participantes de reuniões pelo Zoom saltou de aproximadamente 10 milhões, em dezembro de 2019, para mais de 300 milhões, quatro meses depois. Essa mudança fez bem para o planeta. Reuniões por videoconferência consomem menos de um décimo da energia necessária para realização de reuniões presenciais, quando deslocamentos e equipamentos são levados em conta. Os benefícios para as pessoas em termos de saúde mental e relacionamento com os colegas são menos evidentes. Alguns aprenderam a gostar da interação por meio das telas. Outros se irritam com a falta de habilidade dos colegas de desligar o microfone. Independentemente de como as pessoas se sentem, o trabalho remoto chegou para ficar, afirma Tsedal Neeley, da Faculdade de Administração de Empresas de Harvard. O truque, argumenta ela, será manter os aspectos positivos e encontrar maneiras de contornar os negativos. ‘Fatia do Zoom’Um ano após o início da pandemia, muita gente sofre de fadiga em relação ao Zoom. Uma nova pesquisa da Universidade Stanford revelou a ciência por trás desse fenômeno. O principal problema das chamadas em vídeo é forçar as pessoas a encararem os colegas em close-up na tela. Falar com alguém pelo laptop usando a configuração padrão do Zoom faz a cara das pessoas na tela parecer tão grande quanto seria se ambos estivessem a 50 centímetros de distância. Com essa proximidade, o cérebro está programado para esperar um soco ou um beijo. O contato visual incessante torna a experiência ainda mais perturbadora. As pessoas raramente se olham nos olhos por muito tempo durante reuniões presenciais. Em videochamadas, os participantes olham para as telas constantemente – e depois se perguntam por que sentem como se todos os estivessem encarando ao mesmo tempo. Jeremy Bailenson, diretor do Laboratório de Interação Humana Virtual da Universidade Stanford e principal autor do estudo, compara a experiência a espremer colegas de trabalho em um elevador e proibi-los de desviar o olhar. Conexão ruimAs videoconferências também eliminam importantes comunicações não verbais. As pessoas mexem a cabeça enfaticamente tentando transmitir mensagens não verbais, que em reuniões presenciais seriam transmitidas naturalmente. Isso é cansativo. Na vida real, conseguimos ver quando os colegas ficam impacientes conforme a sua apresentação se arrasta. Isso fica menos óbvio online. As pessoas falam 15% mais alto em videochamadas do que presencialmente, o que se torna exaustivo. Atrasos nas transmissões, comuns quando a conexão de internet é ruim, dificultam a comunicação. Um lapso de apenas 1,2 segundo torna os participantes menos atentos e amigáveis. É difícil construir confiança sem esses elementos não verbais de comunicação, afirma Paul Fisher, que leciona técnicas de negociação na Faculdade Saïd de Administração de Empresas, da Universidade de Oxford. Ele iniciou recentemente um módulo de comunicação virtual. Qualquer demora em responder a um e-mail ou olhar enviesado em uma chamada de vídeo levanta desconfianças. Negociações virtuais têm “mais chance de gerar impasses”, afirma Fisher, quando os negociadores têm dificuldade para entender as emoções uns dos outros e ficam frustrados. Olhar constantemente para a própria imagem durante essas chamadas também é desgastante. Em junho de 2020, Gabrielle Pfund, na Universidade Washington, pesquisou mulheres – recortando sua pesquisa pelo sexo porque mulheres relatam com mais frequência do que homens problemas com autoimagem -, e as entrevistadas relataram que passam em média 40% do tempo das chamadas de vídeo olhando para o próprio rosto. Ficar olhando constantemente para suas rugas e olheiras não faz bem para a autoestima. Reuniões virtuais resultaram em emoções contraditórias para mulheres de outras maneiras. Em uma pesquisa envolvendo mulheres que trabalham com engenharia e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, quase um terço das entrevistadas afirmou que foi interrompida ou ignorada enquanto falava com mais frequência nessas reuniões do que em encontros presenciais. Mas reuniões virtuais também libertam mulheres de julgamentos cansativos. Assistindo à Netflix? Pense novamenteO ano passado também mostrou que, para a surpresa de alguns chefes, muita gente trabalha melhor de pijamas. De acordo com um estudo que envolveu 3 milhões de funcionários de 21,5 mil empresas, publicado em setembro pela Faculdade de Administração de Empresas de Harvard, eles cumpriram jornadas mais extensas, responderam mais e-mails e compareceram a mais reuniões quando a pandemia começou e o trabalho migrou para o ambiente online. Isso tornará mais difícil no futuro que gerentes recusem pedidos de funcionários para trabalhar de casa. “Uma das grandes questões em março do ano passado era: será que as pessoas simplesmente passarão o dia inteiro assistindo à Netflix?”, afirma Jared Spataro, diretor de Trabalho Moderno da Microsoft. Parece que não. Trabalhar remotamente tem suas vantagens. Em chamadas de vídeo, todos aparecem em espaços com o mesmo tamanho, arranjados aleatoriamente; isso contém certo grau de democracia. Indicadores de status, como sentar-se à cabeceira da mesa ou próximo ao chefe, desapareceram. Quando os fusos horários permitem, funcionários em qualquer parte do mundo podem ouvir as ordens de seus chefes diretamente em reuniões coletivas e

Economia aprendeu a conviver com a pandemia, diz presidente do Banco Central

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 9, que, embora o Brasil enfrente variantes mais contagiosas da covid-19, a economia aprendeu a lidar com a pandemia e deve mostrar um processo de reabertura e aceleração no segundo semestre, considerando o avanço da imunização. Durante live transmitida pela XP, Campos Neto avaliou que a economia brasileira tem aprendido a conviver com a crise sanitária, de modo que o impacto é menor do que o choque da primeira onda. “Mesmo que o impacto sobre óbitos seja mais elevado, a economia está aprendendo a conviver com isso.” Citando a experiência de outros países, o presidente do BC observou que a partir da aplicação da segunda dose da vacina anticovid nos grupos de risco, o número de óbitos cai profundamente, mostrando eficácia de 80%. Ele também salientou que, em algum momento, as vacinas em sobra nos países com imunização avançada serão redistribuídas ao restante do mundo, o que vai favorecer economias emergentes. “A economia estará reabrindo e acelerando o processo no segundo semestre deste ano”, afirmou Campos Neto, ponderando, no entanto, o risco de terceira onda apontado por especialistas. Expectativa de inflaçãoCampos Neto reafirmou hoje que a inflação, em maior parte, não é estrutural, mas, por estar elevada, forçou uma reação do BC em subir os juros porque a alta de preços já tinha contaminado as expectativas para o ano que vem. “Estamos vendo a inflação mais alta e reagimos a isso”, acrescentou o presidente do BC, referindo-se ao aumento da Selic no mês passado (para 2,75% ao ano), com nova alta (de mais 0,75 ponto porcentual) “contratada” para o mês que vem. Segundo Campos Neto, mesmo com o aumento da taxa, os juros seguem perto dos níveis mais baixos da história. Em paralelo, observou, a segunda onda reduziu a demanda por crédito. Ele considerou ainda, durante o evento, que muitos países emergentes estão com condições financeiras mais apertadas. Também pontuou que a China vem absorvendo cada vez mais fluxos de investimento tanto em ações quanto em renda fixa ao explicar por que a participação de estrangeiros vem caindo no financiamento da dívida pública brasileira. O ESTADO DE S. PAULO

Inflação alta e falta de renda desafiam brasileiro em meio à pandemia

A maioria dos brasileiros está fazendo uma verdadeira ginástica financeira para conseguir conviver com a inflação alta e a falta de renda, provocada pela queda da atividade em razão da pandemia. O galope nos preços não é algo desconhecido para boa parte da população que, em meados dos anos 1990 – antes do Plano Real que estabilizou a moeda –, chegou a conviver com taxas mensais na casa de 40%. Em março, a inflação oficial atingiu quase 1% em um só mês. Em 12 meses, a alta beira 7%, especialmente para as famílias de menor renda. Em relação a quase 30 anos atrás, a inflação é bem menor, mas, na prática, o quadro hoje é mais grave por causa da falta de renda, concordam os entrevistados ouvidos pelo Estadão. “Na época da hiperinflação era ruim, os preços estavam um abuso, mas a gente podia fazer um pano de prato para vender e tinha condição de comprar arroz, óleo”, lembra a empregada doméstica Zenilda Tiuba da Silva, de 56 anos, que cria sozinha um casal de netos. Mesmo com emprego fixo, o salário de R$ 1,2 mil mensais ficou nos últimos meses insuficiente para cobrir as despesas da casa. “A inflação me derrubou”, reclama. Sem condições financeiras, mandou os netos de volta para a casa do filho e apertou o cinto. Cortou o plano de internet, substituiu o óleo de soja pela banha de porco na hora de cozinhar e a carne por ovo, salsicha. Também ela tem procurado uma renda extra. Na Páscoa, fez entrega de ovos. “Com o dinheiro comprei um botijão de gás, um frango, uma dúzia de ovos e arroz.” Agora começou a montar minijardins de plantas suculentas. Com a renda curta, também passou a fazer compras “picadas”: só vai ao supermercado quando acaba algum item na despensa. A catadora de produtos para reciclagem Eliane Carmo da Silva, de 37 anos, moradora da comunidade de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, é outra que não vai ao supermercado regularmente. Ela apenas compra comida quando o marido, desempregado, consegue fazer algum bico como pedreiro. “Daí a gente vai ao supermercado e pega pé de frango ou ovo. A carne está um absurdo, faz muito tempo que não como.” A última vez foi seis meses atrás, quando ainda morava no Recife (PE). Os R$ 250 que Eliane tira por mês como catadora vão integralmente para pagar o aluguel. No ano passado, ela recebeu o auxílio emergencial, mas faz três meses que não conta com esse dinheiro. “A gente pega cesta (básica) aqui em Paraisópolis.” Assim como Zenilda, a catadora está fazendo trocas para enfrentar esse período de carestia. No lugar do arroz, que está na faixa de R$ 30 um pacote de cinco quilos, Eliane conta que, quando pode, compra fubá. Com o produto, que sai por R$ 2,50 o quilo, ela prepara um angu para comer com ovo. “Um pacote dá para fazer três vezes, é o que está segurando.” MarcaDiante do aperto na renda e da alta de preços, a esteticista e manicure Vania Candida dos Santos, de 51 anos, também aderiu às trocas, mas entre marcas de um mesmo item. “Só compro o básico, fico trocando de marca e levo para casa a mais baratinha.” O sabão em pó Omo, por exemplo, que costumava usar, foi substituído pelo Tixan Ypê, que, segundo ela, é mais em conta. O leite Ninho, que era o seu preferido, foi trocado pelo Dia, que é a marca própria de uma rede varejista. Vania que tirava cerca de R$ 3 mil por mês antes da pandemia, atendendo clientes em domicílio, viu sua renda despencar. “Como as minhas clientes são idosas, na faixa dos 80 anos, onde o risco da covid é maior, elas ficaram com medo.” Além de cortar gastos no supermercado, ir à feira na hora da xepa para economizar, pedir desconto no aluguel e suspender o plano de internet, outra saída encontrada pela esteticista foi buscar novas fontes de renda. Nos últimos tempos, Vania tem feito máscaras e outros bicos de costura, pintado parede, aplicado textura e até rejuntado revestimento de piscina. Na sua opinião, o que mais lhe afeta neste momento é a falta de renda. “A inflação aumentou, mas, quando você tem clientela e pode fazer o serviço, você aumenta um pouquinho. Só que agora não tem cliente, a paradeira atrapalhou.” CombustívelNa fila para obter a aposentadoria, o professor universitário Paulo Henrique Viggu, de 55 anos, que atualmente faz trabalhos como freelancer para plataformas de educação e também atua como músico, diz que tem sentido mais de perto o efeito da inflação na hora de abastecer o carro. “Cheguei a pagar R$ 4 pelo etanol.” Apesar de morar numa cidade pequena do interior, ele conta que por causa da pandemia e sobretudo pela alta do etanol reduziu o uso do carro. Na sua opinião, a situação atual é bem pior do que a na época da hiperinflação. “Naquela época só tinha inflação, hoje também a renda está afetada.” O ESTADO DE S. PAULO

IPCA de março fica em 0,93%, e acumulado em 12 meses vai a 6,10%, acima da meta do BC

Pressionada pelos aumentos nos preços dos combustíveis, a inflação oficial no País ficou em 0,93% em março, o resultado mais elevado para o mês desde 2015, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora tenha vindo abaixo das expectativas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, a taxa acumulada em 12 meses acelerou de 5,20% em fevereiro para 6,10% em março, rompendo o teto de tolerância (5,25%) da meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central este ano. “A última vez que o acumulado em 12 meses ultrapassou o teto da meta foi em novembro de 2016. O teto da meta em 2016 era de 6,5%, e, em novembro de 2016, o acumulado em 12 meses era de 6,99%”, pontuou André Almeida, analista da Coordenação de Índices de Preços do IBGE. As famílias brasileiras gastaram 3,81% a mais com transportes em março, um impacto de 0,77 ponto porcentual sobre a inflação. Os preços dos combustíveis aumentaram 11,23%. A gasolina subiu 11,26%, sendo responsável sozinha por quase dois terços da taxa de inflação. Também ficaram mais caros o etanol (12,59%) e o óleo diesel (9,05%), contribuindo conjuntamente com mais 0,11 ponto porcentual para o IPCA. Em 10 meses de aumentos consecutivos, a gasolina já ficou 42,39% mais cara, observou Pedro Kislanov, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE. O encarecimento do gás de botijão, que subiu 4,98%, também pesou no bolso em março, acumulando um aumento de 20,01% nos últimos 12 meses. Apesar de mantida a bandeira tarifária amarela, a energia elétrica ficou 0,76% mais cara em março, em decorrência de reajustes nas tarifas de concessionárias de energia no Rio de Janeiro. Por outro lado, os alimentos subiram menos. O fim do pagamento do auxílio emergencial pelo governo às famílias mais vulneráveis e o recrudescimento da pandemia podem estar por trás de uma redução na demanda por itens alimentícios, com reflexo sobre os preços, acredita Pedro Kislanov. Os gastos com alimentação e bebidas aumentaram 0,13% em março. “Pode ser que tenha a ver com auxílio emergencial sim, a gente não teve auxílio no primeiro trimestre. E, por conta de questões de lockdown, pode ter a ver com demanda reprimida. As pessoas compram menos alimentos perecíveis nesse período”, justificou Kislanov. Segundo ele, o endurecimento de medidas restritivas para conter a disseminação da covid-19 reduz a demanda de restaurantes e de famílias por alimentos perecíveis, o que pode fazer os preços diminuírem. No entanto, as condições climáticas favoráveis e a sazonalidade das lavouras também contribuíram para uma oferta maior de alimentos. O custo da alimentação no domicílio caiu 0,17% em março, com recuos nos preços do tomate (-14,12%), batata-inglesa (-8,81%), arroz (-2,13%) e leite longa vida (-2,27%). As carnes ficaram 0,85% mais caras. “O dólar alto estimula as exportações (de carnes), e além disso teve aumento do custo de produção do animal, com aumento de preço da ração”, contou Kislanov. Já a alimentação fora do domicílio subiu 0,89% em março, puxada pelas altas do lanche (1,88%) e da cerveja (1,70%). Para o economista do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, os resultados do IPCA ainda devem dar ao Banco Central algum conforto relativo, apesar das intensas pressões dos preços de alimentos, combustíveis e industriais nos últimos meses. Ele frisa que a inflação geral não está fora de controle, mas que a dinâmica recente, que inclui o forte aumento nos preços dos combustíveis, exige um monitoramento. “Em nossa avaliação, neste estágio, o principal risco de alta para a inflação é financeiro e de custos, e não de demanda”, afirma Ramos, alertando para os riscos políticos e fiscais com potencial para afetar o câmbio e perspectivas de inflação. Pedro Kislanov, do IBGE, concorda que ainda não há sinais de pressão de demanda sobre a inflação. “Porque a gente nota que os serviços ainda têm uma variação pequena, inclusive em alguns casos com deflação. E essa aceleração do IPCA nos últimos meses tem muito a ver com monitorados, não tem tanto a ver com demanda. Gás de botijão, gasolina, os combustíveis são reajustados nas refinarias, e eventualmente chegam ao consumidor final. Não dá para dizer que tenha demanda, ainda mais nesse momento de medidas restritivas”, lembrou Kislanov. O economista Raphael Rodrigues, do banco BV, pondera que a taxa de inflação brasileira ainda está pressionada, com preços industriais em níveis elevados. Apesar da expectativa de que o IPCA arrefeça para cerca de 0,40% em abril, a taxa acumulada em 12 meses pode alcançar 7,17% em junho, voltando a desacelerar apenas a partir de julho, prevê. “O IPCA de março gera algum alívio no curto prazo, mas nada tão grande, justamente por essas pressões que continuam afetando. Não conseguimos ser tão otimistas”, disse Rodrigues, que projeta que o IPCA encerre 2021 em 4,20%, embora a estimativa tenha viés de alta, por conta das pressões em preços administrados, energia elétrica e industriais. O ESTADO DE S. PAULO

Brasileiro depende mais de aplicativos para ter renda

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Um fenômeno incentivado pela elevação das taxas de desemprego e pela necessidade de isolamento social, que obrigou milhares de restaurantes e estabelecimentos comerciais a manter as portas fechadas ou a funcionar com restrição ao atendimento aos clientes, obrigou um contingente adicional de 11,4 milhões de brasileiros a recorrer aos aplicativos para garantir uma parcela ou a totalidade de sua renda, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva obtida com exclusividade pelo Estadão. Segundo o levantamento, com esse crescimento durante o último ano, o Brasil tem hoje aproximadamente 20% de sua população adulta – o equivalente a 32,4 milhões de pessoas – que utilizam algum tipo de app para trabalhar. Em fevereiro do ano passado – ou seja, antes do início da pandemia de covid-19 –, essa fatia era de 13%. A pesquisa do Locomotiva ouviu 1,5 mil pessoas de uma amostra selecionada por meio dos parâmetros da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), indicador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que serve de parâmetro das características socioeconômicas do Brasil. As entrevistas foram feitas entre os dias 12 e 19 de março. O método do instituto inclui não apenas os apps que captam prestadores de serviços diretamente – como os serviços de transporte e de delivery –, mas também ferramentas que indiretamente contribuem para que as empresas e profissionais se comuniquem ou captem novos clientes no mundo virtual. O presidente do Locomotiva, Renato Meirelles, afirma que o tamanho da dependência dessas plataformas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg ficou além das expectativas dos idealizadores do levantamento. “É um número muito grande. O dado inclui o brasileiro sem renda e que não conseguiu viver apenas com o auxílio emergencial. Isso mostra que os aplicativos se tornaram os maiores empregadores no Brasil hoje”, afirma. Em tempos de isolamento social, diz Meirelles, os aplicativos ajudaram empreendedores a fazer contato com clientes e a entregar seus produtos. “Não se trata apenas de subemprego, os aplicativos ajudaram muito para que diversas empresas conseguissem se manter em pé. Houve um processo forte de digitalização na pandemia e esse é um caminho sem volta.” FerramentasEntre as ferramentas mais utilizadas para quem lança mão da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg para encontrar uma atividade, 34% dos entrevistados citaram os apps de redes sociais, como o Facebook, e 33%, os de mensagens, como o WhatsApp. Também entram na conta as ferramentas de transporte, como Uber e 99, que foram utilizadas por 28% daqueles que acessaram os aplicativos para obter trabalho ou renda. Já 26% desse contingente recorreram a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs de vendas online, como Mercado Livre e Magazine Luiza, e 14% às de entrega, caso de Rappi, iFood e Uber Eats. A pesquisa mostra ainda a relevância dos aplicativos no total da renda de milhares de pessoas. Dos 32,4 milhões de brasileiros que têm renda via aplicativos, 16% deles afirmaram que essa tem sido a única fonte de renda e outros 15% disseram que os aplicativos respondem por metade dos ganhos (leia quadro acima). Os aplicativos, contudo, também são usados como uma espécie de “bico”. Para 24% dos entrevistados, os apps são apenas um trabalho eventual, utilizados para dar um impulso às vendas de um negócio que existe fora do mundo virtual, por exemplo. Salto na demandaOs apps sentiram a alta da demanda em meio ao fechamento da economia. O vice-presidente financeiro e de estratégia do aplicativo de entregas iFood, Diogo Barreto, conta que o número de pedidos pelo aplicativo passou de 30 milhões, antes da pandemia, para 48 milhões, no fim do ano passado. O total de estabelecimentos conectados ao app passou de 150 mil para 230 mil, na mesma comparação. Barreto conta que restaurantes de “nicho”, como veganos, que antes preferiam ficar de fora do iFood, entraram no aplicativo. Outros, como as churrascarias que funcionam em sistema de rodízio, reinventaram seu negócio para atuar com delivery. O executivo do iFood diz ainda que outros estabelecimentos também surfaram a onda, como as padarias, que começaram a vender pizzas ou a entregar outros itens de alimentação para garantir uma receita extra. Apesar desse crescimento da demanda, Barreto diz que a empresa decidiu não expandir o número de entregadores na mesma proporção. A estratégia foi adotada para evitar que a renda dos entregadores profissionais tivesse uma queda. Por isso, ao longo destes 12 meses de pandemia, o total de profissionais cadastrados cresceu em ritmo bem menor, passando de 150 mil para 160 mil. Mudança veio para ficarO professor da FEA/USP e especialista em Mercado de Trabalho, Wilson Amorim, destaca que a https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, no mundo atual, “dirige o processo produtivo” – e isso afeta as relações de trabalho. “O que temos é uma realidade incontornável. Essas empresas agora são parte da paisagem da vida moderna, estando no meio do caminho entre a oferta e a demanda de produtos e serviços, como um intermediário”. Na visão do especialista, é preciso olhar o fenômeno dos apps para celulares sob dois prismas. Ao mesmo tempo em que os aplicativos trazem alternativas de ocupação, de outro oferecem pouco poder de barganha para quem presta serviços ou faz vendas em sua plataforma. O coordenador do curso de graduação em Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, destaca que, com as medidas de restrição e mobilidade impostas pela necessidade de conter o contágio da covid-19, os aplicativos tiveram o papel de minimizar o impacto negativo da crise para muitas famílias. “Várias empresas e famílias estão usando os aplicativos como forma de receita direta. Tem as pessoas que estão atuando em logística, caso dos entregadores, mas não é só isso. Há muitos pequenos empreendedores que passaram a utilizar os aplicativos para viabilizarem seus negócios”, diz. O ESTADO DE S. PAULO

Mulheres crescem no alto escalão com políticas de igualdade de gênero

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Pressionadas a adotar políticas mais alinhadas ao ESG (sigla em inglês para os princípios ambiental, social e de governança), as empresas têm buscado criar agendas efetivas de diversidade, equidade e inclusão, tanto no quadro geral quanto na liderança. De acordo com a pesquisa Women in Business, realizada anualmente pela Grant Thornton, o total de mulheres em cargos executivos ao redor do mundo foi de 29% em 2020. O Brasil superou a média global, com mulheres em 34% dos cargos de liderança. Apesar de o volume ainda não ser o ideal levando-se em conta que mais que a metade da população é formada por mulheres no Brasil (52%), profissionais que já conquistaram esses espaços enxergam o panorama com otimismo e apontam caminhos. Para Sandra Barquilha, diretora de RH da 3M do Brasil e líder de inclusão na América Latina, a mudança veio ao longo dos anos, com a implementação de políticas de equidade de gênero que lançaram um olhar tanto para o indivíduo quanto para o todo. “Essa mudança se deve, em parte, ao fato de a 3M não ter uma estratégia de métricas locais, mas globais.” O Women’s Leadership Forum (WLF), implantado em 2014 no Brasil com o intuito de acelerar o desenvolvimento das mulheres na 3M, trouxe resultados visíveis. Se antes apenas 6% da liderança local era composta por mulheres, hoje o número saltou para 40%. E outros níveis acompanharam o movimento. As mulheres foram de 12% a 35% nas posições sênior, de 19% a 35% no laboratório e de 12% a 31% na gerência. “Temos a meta de dobrar o pipeline não só de mulheres, mas de todas as diversidades em posições de liderança, até 2025”, afirma Sandra. Uma iniciativa que potencializou o processo no WLF foi a estruturação do comitê de diversidade e inclusão em 2019, formando 4 grupos de afinidade com foco em educação, sensibilização, engajamento e contribuições nas políticas internas. O de liderança feminina é um deles. “Começamos com mulheres que já eram líderes, discutindo o que seria benéfico para alavancar as carreiras das mais novas”, conta a gerente de inovação para a América Latina, Renata Decourt. Ela fala que hoje participam do grupo em torno de 60 mulheres, todas voluntárias. As atividades se apoiam nos pilares cultura, individualidade e oportunidade, onde entram programas de mentoria com pessoas da alta gestão. “É uma forma de realmente crescer mais no individual e no empoderamento”, observa Renata, para quem as primeiras mulheres se espelhavam muito no estilo de liderança masculino, mas hoje buscam manter a sua essência. “A coragem joga muito a favor dessas conquistas”, completa Sandra Barquilha. “Historicamente, criamos a coragem de quebrar muitos tabus e paradigmas que nos impuseram.” Ações imediatas, futuro de equidadeEmpresa da Lenovo, a Motorola também começou a colher os frutos dos programas de equidade de gênero e diversidade que o grupo estabeleceu globalmente. A meta do relatório anual de D&I (diversidade e inclusão) de 2018 era atingir 20% de representatividade feminina em cargos de liderança das empresas do grupo em todo o mundo. Os resultados, em 2020, chegaram a 21%. “Investir em diversidade está diretamente relacionado à sustentabilidade dos negócios, já que times diversos enriquecem as estratégias da companhia e nos fazem crescer”, observa Renata Altenfelder, diretora executiva global de marketing da Motorola. “A mudança não acontecerá do dia para noite, ainda temos muito o que fazer neste sentido.” Para Viviane Mansi, diretora de comunicação e sustentabilidade da Toyota do Brasil e presidente da Fundação Toyota, a entrada dela na companhia, em 2018, esteve diretamente ligada à ideia de trazer uma diversidade cognitiva. “É uma empresa que cresceu muito rápido e onde as pessoas entram jovens e fazem carreira”, analisa. O fato de tudo já funcionar bem, segundo ela, tornava mais difícil colocar a pauta da diversidade na mesa. Mas a empresa queria aprender. “Me falaram que não sabiam se ia ser fácil ou difícil, mas que queriam entender como se tornar mais diversos”, ela lembra. E Mansi colocou a mão na massa. Foi criada uma carteira de ações para ver as mudanças acontecerem no futuro. “Os números não mexem tão rápido, mas é imprescindível trabalhar na educação com ações afirmativas agora, senão demora cem anos para acontecer”, defende. Hoje a Toyota tem equiparação de salários no mundo todo, grupos de afinidade para melhorar o processo de escuta da empresa com relação ao que deve ser feito para aumentar a diversidade, cotas e programas de mentoria, entre outros. A comunicação, que trança as relações no dia a dia de qualquer empresa, também ganhou um cuidado especial no aspecto de gênero. “Falamos em pessoas em vez de funcionários, em gestão e liderança no lugar de gestores”, exemplifica a executiva. “É sutil, mas é relevante. No contexto atual, precisamos fazer tudo que é possível, reconhecer nossas fragilidades e corrigir.” Em termos práticos, os resultados já começam a aparecer. Mansi contratou 120 mulheres em 2020 e ela mesma foi convidada, há pouco mais de uma semana, a fazer parte do conselho da companhia. Ela explica que a nova posição tem muito a ver com a preocupação da Toyota em ter lideranças locais para discutir as grandes questões da companhia. “Já está mais do que provado que a diversidade transforma e melhora as decisões”, reflete. “Não é só ‘a Viviane’ que quebra barreiras, mas quem é diferente, seja como for.” ‘Herdeira’ em empresa familiarO tema da equidade de gênero surgiu cedo na vida de Renata Spallicci, vice-presidente executiva da farmacêutica Apsen. “Eu assumi a parte financeira ainda nova e lembro de chegar na mesa de negociação com executivos de grandes empresas e perceber um desapontamento ou ouvir que só tratariam com ‘a diretoria’”, conta. Terceira geração da família no comando da empresa, depois do pai e dos avós, ela diz que a representatividade feminina é grande desde a fundação. “Meu avô era médico e ficou à frente dos negócios por um tempo, mas depois migrou para a produção e minha avó assumiu a gestão”, revela a executiva. Segundo ela, os traços da liderança feminina