Taxa de desemprego sobe para 14,2% no trimestre até janeiro, aponta IBGE
O País alcançou um número recorde de pessoas em busca de emprego no trimestre encerrado em janeiro. A taxa de desemprego subiu a 14,2%, pior resultado para o período dentro da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número de desempregados alcançou o ápice de 14,272 milhões de brasileiros, 2,359 milhões de pessoas a mais nessa condição em relação ao mesmo período de 2020. Em um ano, 8,126 milhões de trabalhadores perderam seus empregos. A pesquisa mostra que falta trabalho para 32,380 milhões de pessoas no Brasil, incluindo um montante também recorde de 5,902 milhões de desalentados, pessoas que gostariam de trabalhar, mas que não buscam uma vaga por acreditarem que não encontrariam uma oportunidade, por exemplo. Se todas as pessoas aptas a trabalhar buscassem um emprego, a taxa de desocupação poderia saltar para cerca de 20%, alerta o economista-chefe da gestora de recursos AZ Quest, André Muller. Por ora, os resultados sugerem que algumas pessoas voltaram a procurar uma vaga, dado o momento em que a atividade econômica continuou funcionando. “Os dados refletem um período de atividade relativamente forte, com reabertura acontecendo no País, principalmente em janeiro, exceto em Manaus”, avaliou Muller. A taxa de desemprego de registrada no trimestre terminado em janeiro carrega forte influência da geração de vagas observada nos últimos dois meses de 2020, ou seja, ainda pode piorar nas próximas leituras, lembrou Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE. “Tem dois terços deste trimestre que ainda estão ancorados lá no fim de 2020, que foi um momento em que houve reação importante do mercado de trabalho”, disse Adriana. A pesquisadora lembra que existe um movimento sazonal na taxa de desemprego, que tende a cair ao fim do ano, com as contratações de trabalhadores temporários, mas subir nos primeiros meses do ano seguinte, quando esses funcionários são dispensados. “Quando vira um ano, tende de fato a perder força desse crescimento (da ocupação). Com a entrada do mês de janeiro é normal que haja perda de fôlego do crescimento (da geração de vagas) que foi observado do fim do ano”, explicou Adriana. A população ocupada ainda aumentou em 1,725 milhão de pessoas na passagem do trimestre terminado em outubro para o trimestre encerrado em janeiro. No entanto, o total de desempregados também cresceu, em 211 mil pessoas. Adriana Beringuy ressalta ainda que a Pnad Contínua divulgada nesta quarta-feira, 31, está retratando ainda um momento anterior ao cancelamento do carnaval em várias cidades brasileiras e também ao endurecimento das medidas restritivas decretadas por governos locais em março para combater a disseminação da covid-19. “A gente sabe que o cancelamento das festas de carnaval em cidades importantes pode ter influenciado (o desempenho do mercado de trabalho). A gente não tem ainda informação do trimestre encerrado em março, momento que a gente sabe que está havendo mais restrição”, apontou a pesquisadora do IBGE. Embora os últimos meses do ano passado tenham mostrado reação no número de pessoas trabalhando, as perdas de postos de trabalho foram muito grandes durante a pandemia, e a população ocupada ainda está em patamar muito aquém do que era no período anterior à crise sanitária. “O resultado positivo do fim do ano passado não reverte as perdas ao longo de 2020”, disse Adriana. “Estou muito distante de um ritmo de geração de trabalho para fazer essa taxa (de desocupação) baixar”, acrescentou. O economista-chefe da gestora de recursos Western Asset, Adauto Lima, vê recuperação do mercado de trabalho, só que de forma lenta. “E só deve acontecer no segundo semestre, de maneira ampla [setores]”, previu Lima. O ESTADO DE S. PAULO
Mercado com carteira surpreende e cria 402 mil vagas
O mercado de trabalho registrou a abertura de 401.639 vagas com carteira assinada em fevereiro, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem. O resultado do mês veio acima do esperado, mas a expectativa é de piora nos próximos meses, a partir do recrudescimento da pandemia e do aumento das medidas de restrição à mobilidade no país. Os números seguem uma nova metodologia que passou a ser adotada nos balanços do Caged a partir de 2020. Isso leva alguns especialistas a dizer que é preciso relativizar o resultado quando se compara a nova série com a série antiga de dados, por verem a possibilidade de subnotificação das demissões. Durante apresentação dos dados, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, comemorou os números de fevereiro, mas admitiu que pode haver uma mudança de cenário nos próximos meses. Segundo ele, é “natural” que haja uma piora nos dados na medida em que subiu o nível de fechamento do comércio. O trabalho do governo, acrescentou, é para evitar a perda de empregos. É possível, no entanto, que o “baque” da pandemia seja menor e mais curto em abril do que foi no mesmo mês do ano passado, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, que participou da abertura da entrevista. Com o avanço da vacinação ao longo do mês – que deve atingir o ritmo de 1 milhão de aplicações por dia, disse o ministro -, a mortalidade deve cair, segundo Guedes, “vertiginosamente”, permitindo o retorno seguro ao trabalho. Para o economista-chefe do banco MUFG Brasil, Carlos Pedroso, em março deve haver um saldo menor na criação de postos de trabalho. Já em abril, é possível que haja perda de vagas puxada pelos setores de serviços e de comércio. Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, espera desaceleração no ritmo de criação de empregos no segundo trimestre, mas com uma reversão desta tendência já a partir do terceiro trimestre, em linha com avanços da vacinação e gradual reabertura da economia. A mediana das projeções colhidas pelo Valor Data com 15 consultorias e instituições financeiras indicava abertura líquida de 255 mil postos em fevereiro. Para Cosmo Donato, economista da LCA, o saldo mais alto que o esperado mostra que o resultado não está relacionado com a recuperação econômica, e, sim, com a conjuntura da pandemia. Embora o recrudescimento dos casos de covid-19 já fosse claro em fevereiro, com algumas medidas restritivas sendo encaminhadas, diz ele, isso ainda não estava afetando a conjuntura da geração de empregos. Ainda é esperada a diminuição dos efeitos do Benefício Emergencial para Preservação do Emprego e da Renda (BEm), programa de suspensão de contrato e de redução de jornada e salários cuja contrapartida foi a estabilidade temporária do emprego. Segundo os dados do governo, em fevereiro havia 3,356 milhões de trabalhadores com garantia provisória. Os números caem progressivamente e, em agosto, será 1,445 milhão. Segundo o secretário de Trabalho, Bruno Dalcolmo, os saldos do Caged “são influenciados positivamente pela retomada da economia, pelo BEm e pela garantia provisória de empregos”. No primeiro bimestre, o saldo de contratações ficou positivo em 659.780 postos. Foram criadas vagas nos cinco setores da economia em fevereiro, com destaque para o setor de serviços, com 173.547 novos postos. Além disso, o saldo ficou positivo em agricultura (23.055), indústria geral (93.621), construção (43.469), comércio (68.051). Também houve criação de vagas nas cinco regiões: Norte (12.337); Nordeste (40.864); Sudeste (203.213); Sul (105.197) e Centro-Oeste (40.077). VALOR ECONÔMICO