Incertezas na economia fazem crescer contratação de temporários
A mão de obra temporária com carteira assinada atingiu em outubro a maior marca de contratações desde o início da série do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em 2008. O saldo de admissões desses temporários, que são recrutados por empresas especializadas e que consta num item especial do Caged, foi de 30,7 mil trabalhadores naquele mês. Entre junho e outubro, o número de brasileiros empregados como temporários em empresas especializadas nesse tipo de recrutamento cresceu 25%. É uma taxa dez vezes maior do que a registrada no avanço do estoque total de empregados formais no mesmo período, que foi de 2,3%. “Não podemos dizer que a recuperação do emprego formal está se dando em cima do trabalho temporário, mas está havendo uma quantidade inédita de admissões desses trabalhadores”, afirma o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, Fabio Bentes. A opção pelos temporários ocorre em razão do cenário incerto da economia, que põe em xeque a sustentabilidade da recuperação da atividade registrada nos últimos meses. Segundo Bentes, as incertezas sobre a economia em 2021, como os impactos de uma segunda onda de covid-19, a aplicação ou não de uma vacina, o fim do auxílio emergencial e a própria sustentabilidade do aumento da demanda registrado nos últimos meses deixaram as empresas cautelosas. Essa também é a avaliação de Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). As empresas, diz ele, “tentam não se amarrar” o máximo possível e há um processo relativamente disseminado de contratações temporárias, inclusive em setores intensivos em mão de obra. Ele argumenta que as empresas se preparam para atender a demanda, mas, como há dúvidas, buscam opções, caso precisem se desfazer da mão de obra rapidamente. Por isso, optam por temporários. Essa estratégia é nítida em grandes companhias. A Whirlpool, por exemplo, que fabrica geladeiras, fogões e lavadoras, hoje trabalha com ocupação máxima das três fábricas. “Estamos bem criteriosos no emprego efetivo”, diz o presidente da companhia, João Carlos Brega, fazendo menção às incertezas sobre a economia em 2021. Com 11,2 mil empregados, a empresa informa que ampliou em apenas um dígito o emprego efetivo este ano. Já a admissão de temporários cresceu 20% sobre 2019. A multinacional pretende manter essa estratégia até que haja alguma mudança significativa na economia ou no comportamento do consumidor. A Mercedes-Benz é outra grande companhia que está cautelosa. Além de abrir 250 vagas temporárias para início de trabalho em fevereiro, a montadora também vai começar um terceiro turno de trabalho temporário em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em fevereiro. Isso significa que a fabricante de caminhões e ônibus, que hoje registra aumento de encomendas, pode suspender o novo turno caso o mercado desaqueça novamente. A Mercedes esclarece que o terceiro turno, inicialmente definido por um período determinado (cuja prazo depende da demanda), não é só uma solução para aumentar a produção, mas também uma alternativa para preservar o distanciamento social de prevenção à covid-19. Nos próximos três meses, a fabricante vai operar com jornadas adicionais de trabalho. O setor automotivo, que desde o início da pandemia cortou um total de 4,6 mil vagas, registrou 730 contratações em outubro, “a maioria por prazo determinado”, informa o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Luiz Carlos Moraes. “As empresas não sabem se o aumento de demanda atual veio para ficar e, enquanto não tiverem certeza, vão operar com horas extras ou contratos temporários.” Horas extrasEnquanto a demanda não dá sinais claros de sustentabilidade, as horas extras viraram uma saída para várias companhias do setor automobilístico. A fábrica da Nissan em Resende (RJ) opera em um turno de produção para atender o atual volume de demanda. Mas, quando necessário, utiliza horas extras e trabalho aos sábados. A General Motors informa que vai operar pontualmente em algumas fábricas com horas extras e trabalho aos sábados. Para a FCA Fiat Chrysler, o mercado se recupera ainda de forma assimétrica e, para administrar a fase de transição para o ritmo normal de produção, também está recorrendo a horas extras ou jornadas adicionais. Outra que estabeleceu horas extras até o fim do ano é a Volvo, fabricante de caminhões em Curitiba (PR). A Scania, também fabricante de caminhões no ABC, adotou jornadas extras aos sábado. IntermitentesAlém do avanço dos trabalhadores temporários na pandemia, também houve um crescimento dos contratos intermitentes de trabalho – modalidade que começou a vigorar em 2017 e na qual os trabalhadores não têm horário fixo e ganham pelas horas trabalhadas. Entre junho e outubro, essas contratações cresceram 18,4%. Mas, segundo o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, que fez, a pedido do Estadão, um recorte especial dos resultados no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) para chegar a esses números, os intermitentes ainda representam uma fatia ínfima do mercado de trabalho. Em outubro, respondiam por 0,5% do estoque total de trabalhadores com carteira. Na verdade, temporários e intermitentes têm uma participação pequena no bolo total. Em outubro, por exemplo, representaram menos de 10% do total de vagas formais criadas. De acordo com os dados do Caged, houve abertura líquida de 394,9 mil vagas formais de trabalho naquele mês – o melhor resultado para o período desde o início da série histórica em 1992 – das quais cerca de 30 mil foram temporárias. De um milhão de postos formais líquidos criados entre junho deste ano – o fundo do poço do mercado de trabalho – e outubro, quase 10% foram vagas temporárias abertas por empresas especializadas e computadas nessa rubrica do Caged. O ESTADO DE S. PAULO
Carrefour anuncia que vai deixar de usar seguranças terceirizados
O Carrefour Brasil anunciou nesta sexta-feira (4) que vai interromper a contratação de serviços terceirizados de segurança e irá contratar profissionais próprios para atuar em suas lojas. O processo de mudança terá início em dez dias e começará pelos hipermercados do Rio Grande do Sul, segundo comunicado do grupo. Em novembro, João Alberto Silveira Freitas, um homem negro, morreu após ser espancado e asfixiado por seguranças em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre. Nesta sexta-feira (4) a Brigada Militar do Rio Grande do Sul desligou o policial temporário preso pela morte de Freitas. Ele fazia “bico” de segurança no local. A sugestão para a internalização dos serviços de segurança partiu do Comitê Externo e Independente, uma iniciativa independente criada para assessorar o Carrefour Brasil após a morte de Freitas. O time é composto por especialistas e líderes de movimentos negros e conta com nomes como Rachel Maia, Adriana Barbosa, Celso Athayde, Silvio Almeida, Anna Karla da Silva Pereira, Mariana Ferreira dos Santos, Maurício Pestana, Renato Meirelles e Ricardo Sales. “O novo modelo é o ponto inicial para transformação do seu modelo de segurança e faz parte dos compromissos anunciados pela rede. O processo de recrutamento e o treinamento dos profissionais para as lojas contará com associação que reúne empreendedores negros da região de Porto Alegre”, afirmou a empresa. O Carrefour disse ainda que o processo de seleção levará em conta a representatividade da população brasileira, que conta com 50% de mulheres e 56% de negros. O hipermercado afirmou que a data de admissão dos novos colaboradores está prevista para o dia 14 de dezembro nas lojas Carrefour da região. FOLHA DE S. PAULO
STF barra reeleição de Maia e Alcolumbre
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu na noite deste domingo barrar a possibilidade de os atuais presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disputarem a reeleição na mesma legislatura. A eleição da cúpula do Congresso está marcada para 1º de fevereiro de 2021. O resultado do julgamento muda radicalmente o tabuleiro político na sucessão das duas Casas. Ao longo dos últimos dias, o STF sofreu uma série de críticas por conta do julgamento, o que influenciou o placar final, segundo o Estadão apurou. O ex-presidente do STF Nelson Jobim, por exemplo, disse ao Estadão estar “perplexo” com a discussão. Também proliferaram críticas na classe política e no meio acadêmico. Por 6 a 5, o STF decidiu não dar permissão para a reeleição de Alcolumbre. No caso de Maia, a derrota foi ainda maior, com o placar de 7 a 4. A diferença nos dois resultados se dá por conta do voto do ministro Nunes Marques. Indicado ao tribunal pelo presidente Jair Bolsonaro, Nunes Marques optou por uma solução intermediária — a favor de Alcolumbre, mas contra Maia –, alinhado aos interesses do Palácio do Planalto, que aposta na candidatura de um dos líderes do Centrão, o deputado Arthur Lira (PP-AL), para a chefia da Câmara. Na noite deste domingo, os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e o presidente do STF, Luiz Fux, votaram contra a reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado em 2021, marcando uma reviravolta no resultado final, que indicava uma tendência de vitória da tese a favor da recondução. “A regra impede a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente a do primeiro ano da legislatura. Nesse ponto, a norma constitucional é plana: não há como se concluir pela possibilidade de recondução em eleições que ocorram no âmbito da mesma legislatura sem que se negue vigência ao texto constitucional”, escreveu Fux. “Com efeito, não compete ao Poder Judiciário funcionar como atalho para a obtenção facilitada de providências perfeitamente alcançáveis no bojo do processo político-democrático, ainda mais quando, para tal mister, pretende-se desprestigiar a regra constitucional em vigor”, concluiu o presidente do STF. O ministro Luís Roberto Barroso, por sua vez, observou ser “compreensível o sentimento de que existe uma assimetria no sistema constitucional dos Poderes ao não se permitir uma recondução dos presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados”, ao contrário do presidente da República. “Entendo não ser possível a recondução de presidente de casa legislativa ao mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente, porque esse é o comando constitucional vigente”, concluiu Barroso. A eleição para a cúpula do Congresso é a disputa política mais importante do próximo ano. Os presidentes da Câmara e do Senado comandam a agenda legislativa do País, articulam a estratégia para a aprovação de reformas prioritárias do governo e são responsáveis por controlar não apenas a abertura de CPIs, mas também o andamento de pedidos de impeachment – do presidente da República, no caso da Câmara; dos ministros do STF, no caso do Senado. O julgamento ocorreu no plenário virtual da Corte, uma plataforma online que permite que os ministros analisem casos longe dos olhos da opinião pública – e das transmissões ao vivo da TV Justiça. Na madrugada da última sexta-feira, o relator do caso, ministro Gilmar Mendes, havia votado a favor da tese da reeleição, sendo seguido integralmente por Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski. A divergência no julgamento foi aberta pelo ministro Marco Aurélio Mello. “A tese não é, para certos segmentos, agradável, mas não ocupo, ou melhor, ninguém ocupa, neste tribunal, cadeira voltada a relações públicas. A reeleição, em si, está em moda, mas não se pode colocar em plano secundário o artigo 57 da Constituição”, escreveu Marco Aurélio. Além de Fux, Fachin, Barroso e Marco Aurélio, as ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia votaram contra dar aval às reeleições de Maia e Alcolumbre. Ditadura. Há mais de meio século, a reeleição é proibida na cúpula do Congresso. Em 1969, o Ato Institucional número 16, editado pela ditadura militar, proibiu a recondução ao cargo dos presidentes da Câmara e do Senado. O veto foi imposto pelo regime ditatorial em uma manobra contra o então presidente da Câmara, José Bonifácio Lafayette de Andrada. Mesmo filiado ao Arena, Andrada provocou irritação em setores radicais do governo ao permitir que colegas parlamentares denunciassem da tribuna a repressão das Forças Armadas. Antes disso, não eram incomuns a reeleição por mandatos consecutivos, como foi o caso de Ranieri Mazzilli, que comandou a Câmara por um período de sete anos (de 1958 a 1965). Arnolfo Azevedo (1921-1926), Astolfo Dutra (1915-1919) e Sabino Barroso (1909-1914) também foram reeleitos. A Constituição de 1988, em pleno regime democrático, reforçou o veto à reeleição colocado pelos militares. “Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas mesas, para mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente”, diz o artigo 57 da Carta. De lá pra cá, o Supremo flexibilizou a regra: passou a permitir a reeleição no caso de mandato-tampão e em legislaturas diferentes. Temores. Um dos temores no STF é o de que nomes mais imprevisíveis e mais alinhados ao presidente Jair Bolsonaro assumam o comando da Câmara e do Senado, o que poderia resultar em retaliações contra o Judiciário, como a abertura da CPI da Lava Toga e até mesmo a votação de pedidos de impeachment de ministros do STF. Até agora, Alcolumbre tem resistido à pressão de senadores “lavajatistas”. O ESTADO DE S. PAULO
Projeto do Senado prevê substituir Bolsa Família por plano de redução da pobreza
A ausência de uma solução do governo para o fim do auxílio emergencial concedido à população vulnerável na pandemia, previsto para este mês, fez surgir no Senado um projeto que reformula os programas sociais do País, incluindo o Bolsa Família. A proposta, chamada de Lei de Responsabilidade Social (LRS), prevê metas para a queda da taxa geral de pobreza nos próximos três anos e verba extra de recursos do Orçamento destinada às ações de transferência de renda aos mais pobres, alívio na flutuação de renda e estímulo à emancipação econômica. “Estamos terminando o ano sem resolver a questão emergencial”, diz o autor do projeto, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Para ele, a sociedade está “madura” para aprovar essa lei. A proposta foi apresentada ao líder do governo do Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), e ao vice-presidente da Casa, Antônio Anastasia (PSD-MG), que tem presidido as sessões na ausência do presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP). Segundo Jereissati, a recepção foi muito boa. A expectativa é de indicação rápida do relator para começar os trabalhos, diante da urgência do problema com o fim do auxílio. Para Anastasia, o projeto é muito interessante. “É uma lei que tem possibilidade de avançar e tecnicamente muito bem feita por especialistas gabaritados”, disse. O projeto da LRS prevê três benefícios sociais para substituir o programa Bolsa Família: o Benefício de Renda Mínima (BRM), com valor médio de R$ 230; o Programa Poupança Seguro Família, que cria uma espécie de “FGTS” para os trabalhadores de baixa renda, incluindo informais, com depósitos mensais (R$ 39) vinculados a até 15% do valor declarado da renda, beneficiando quem ganha até R$ 780 por mês; e a poupança Mais Educação, formada com depósitos de R$ 20 por estudante regularmente matriculado na rede de ensino, enquanto sua família estiver recebendo o BRM. A expectativa é que o estudante receba R$ 3.253, quando terminar o ensino médio. A proposta prevê um custo inicial de R$ 46 bilhões, com financiamento dentro da regra do teto de gasto (que impede o crescimento das despesas acima da inflação). Os gastos vão bancar R$ 36,6 bilhões do BRM, R$ 6,7 bilhões da Poupança Seguro Família e R$ 2,7 bilhões do programa Poupança mais Educação. A previsão de recursos em 2021 do governo para o Bolsa Família é de R$ 34,8 bilhões. Pelo projeto, esse dinheiro iria para o novo programa, que prevê reforço também entre R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões com parte de remanejamento das emendas parlamentares, recursos vinculados ao Orçamento que deputados e senadores podem escolher onde alocar. A proposta incluiu no texto mudanças nas regras do abono salarial, uma espécie de 14.º pago a quem ganha até dois mínimos, que pode garantir mais R$ 4 bilhões, além do direcionamento de parte dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal para assistência social, com mais R$ 2,7 bilhões. Jereissati encampou proposta desenhada pelo Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), com aperfeiçoamentos, entre elas a fixação de metas para a redução de pobreza e acionamento das medidas no caso de frustração das metas. Ao longo desta semana, Jereissati vai intensificar a articulação com senadores do MDB, PSD e PP. Com consenso, diz, será possível aprovar em fevereiro. O senador também pretende procurar o ministro da Economia, Paulo Guedes. O ESTADO DE S. PAULO
Senado articula votação de nova lei para regular licitações
O Senado Federal decidiu votar a nova lei de licitações na próxima quinta-feira, conforme apurou o Estadão/Broadcast. Um novo marco legal para a contratação de obras e projetos no setor público é discutido no Congresso Nacional desde a década de 1990. O projeto passou por votações no Senado e na Câmara dos Deputados e, agora, retorna para apreciação dos senadores. Após essa última etapa, pode seguir para sanção do presidente Jair Bolsonaro. A pauta foi definida em reunião de líderes partidários nesta semana. A proposta substitui a 8.666, de 1993, conhecida como a Lei Geral de Licitações. O texto cria novas modalidades de contratação, prevê o seguro-garantia para obras de grande porte (ampliando o valor de, no mínimo, 10% para 30% do custo da obra, podendo chegar a 100%) e também disciplina as regras de licitações para a União, Estados e municípios, entre outros pontos. Uma das novidades é a previsão do “diálogo competitivo”. Com ele, o poder público promove conversas com empresas interessadas na licitação previamente selecionadas. Essa modalidade poderá ser usada para contratação de obras, serviços e compras que envolvam inovação tecnológica, por exemplo, e foi pensada para que o Estado reflita com o mercado soluções para atender às necessidades públicas. Apesar de ser origem do Senado, o texto que veio da Câmara estava parado na Casa desde outubro do ano passado. Nesta semana, no entanto, o projeto apareceu em uma lista do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que disparou uma mensagem por WhatsApp para lideranças pedindo prioridade em projetos da pauta econômica. O senador Antonio Anastasia (PSD-MG) foi escolhido para relatar a proposta final. O Senado poderá confirmar o texto da Câmara ou resgatar dispositivos do projeto original. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o texto aprovado pela Câmara é bem avaliado no Ministério da Infraestrutura, onde técnicos torcem para que o Senado aprove o projeto sem modificações. A avaliação também é de que o avanço dessa proposta não interfere nas discussões do novo marco legal das concessões, de relatoria do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), apesar da conexão entre os temas. Enquanto um trata de normas para licitações e contratos da administração pública, a proposta relatada por Jardim, e que ainda está na Câmara, substitui a lei que dispõe regras sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos. O ESTADO DE S. PAULO
Distanciamento social (Luís Eduardo Assis)
Não vêm de hoje nossas agruras. Nos perdemos há muito tempo e foi assim – perdidos – que fomos encontrados pela pandemia. Em 1990, o PIB brasileiro calculado no conceito de paridade de poder de compra era o equivalente a 90% do PIB da China e 95% do PIB da Índia. Quase iguais. No ano passado, o produto indiano foi mais que o dobro do produto brasileiro, enquanto o PIB chinês foi 7,3 vezes maior que o nosso. Em 2020, nossa renda per capita será 6% menor que a de 2010. Estamos mais pobres num mundo que enriquece. Mais pobres e mais desiguais. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou recentemente um estudo sobre a evolução da inflação por faixa de renda. O IPCA para pessoas que ganham menos de R$ 1.690,00 acumulou 5,3% nos 12 meses até outubro, mais que o dobro da inflação dos bacanas que recebem mais de R$ 16.902,75, que ficou em 2,5%. A queda do nível de emprego também foi heterogênea. O trabalhador doméstico foi severamente afetado. O número de pessoas nesta atividade caiu de 6,4 milhões, em dezembro de 2019, para 4,6 milhões, em setembro deste ano, recuo de 27,4%. A segunda atividade que mais caiu foi a de trabalhadores sem carteira assinada: 2,84 milhões de pessoas, ou 24%, ficaram sem ocupação. Na outra ponta, o contingente de funcionários públicos ganhou 188 mil vagas neste período. Lembre-se de que o rendimento médio dos servidores públicos é 50,4% maior que a renda média dos trabalhadores. O impacto desigual segue. A taxa de desemprego de 14,6% em setembro pode ser decomposta em 11,5% para trabalhadores brancos e 16,1% para negros. O desemprego entre as mulheres alcança 16,9%, bem mais que entre os homens, 11,8%. Os jovens também são mais onerados. Na faixa entre 14 e 29 anos, a desocupação bateu em 23,6%, ante 10,8% no segmento entre 30 e 49 anos. Trabalhadores com ensino fundamental amargam um desemprego de 18,6%, quase três vezes maior que os 6,6% para o grupo que tem ensino superior. Por fim, a diferença regional também escandaliza. Enquanto no Sul temos um desemprego de 9,8%, no Nordeste a taxa é de quase 17%. O ano de 2020 tem sido particularmente cruel com jovens mulheres negras do Nordeste que têm baixo nível educacional. Enquanto isso, os investidores na Bolsa de Valores brasileira viram seu patrimônio crescer R$ 562,75 bilhões apenas no mês de novembro, o equivalente a 19 anos da dotação orçamentária para o Bolsa Família. Mind the gap, dizem os operadores do metrô de Londres. Aqui deveríamos fazer o mesmo. O fosso que se abre na sociedade cobrará um preço alto no futuro. A pandemia e a crise econômica nos legarão um isolamento social ainda mais amplo. Diante deste quadro, o que faz o governo? No seu modo abstruso, distancia-se, ele também, da sociedade. Não há preocupação com a criação de políticas que fomentem relações sociais menos apartadas. Não há planos verossímeis dentro da agenda fundamentalista hiperbólica prometida repetidas vezes pelo ministro da Economia. O mantra liberal sustenta que a distribuição de renda é irrelevante, desde que todas as pessoas sejam beneficiadas por algum aumento de renda. Mas nem sequer isso temos. Em Capitalism, Alone (2019), o economista Branco Milanovic recorda de que pela primeira vez na história temos apenas um sistema de organização da produção. O capitalismo triunfou e reina sozinho. Mas isso foi feito à custa de uma crescente desigualdade da renda e da riqueza, declínio da mobilidade social e concentração do poder político numa elite econômica, o que impõe enormes desafios aos países que consideram isso um problema. Não parece ser este o caso do Brasil. Não chegaremos a lugar nenhum se deixarmos milhões de brasileiros para trás. ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PROFESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E DA FGV-SP. E-MAIL: LUISEDUARDOASSIS@GMAIL.COM O ESTADO DE S. PAULO
Governo vai ao STF contra desoneração depois que Congresso analisar veto do saneamento
O governo bateu martelo de que vai ao STF contra a derrubada do veto que prorrogou a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia até o fim de 2021. O Executivo só vai acionar a corte, porém, depois que o Congresso analisar o veto presidencial ao marco do saneamento básico, o que está previsto para o próximo dia 16. O Palácio do Planalto quer a manutenção do ato de Bolsonaro pelos parlamentares e hoje a previsão é que isso ocorra. Integrantes da articulação política temem contaminar o ambiente e prejudicar essa votação caso a União vá antes à Justiça contra a decisão do Legislativo sobre a desoneração. Por isso a decisão de esperar um pouco mais. FOLHA DE S. PAULO
Sem recolocação, profissionais 50+ mergulham no empreendedorismo
Historicamente, o mercado de trabalho tende a substituir profissionais mais velhos por outros mais jovens. Durante a pandemia do coronavírus, no entanto, esse quadro se agravou. De acordo com um estudo de Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 605 mil trabalhadores com 60 anos ou mais perderam o emprego entre o fim de 2019 e o segundo trimestre de 2020. A retomada das atividades econômicas e a flexibilização da quarentena não alteraram o quadro. Segundo dados do Cadastro Geral de Desempregados (Caged), enquanto foram criadas 263,7 mil vagas com carteira assinada para pessoas com menos de 60 anos só no mês de agosto, o mercado riscou do mapa 14,3 mil vagas dos mais velhos. Diante desse contexto, muitos optaram por empreender pela primeira vez – por necessidade ou por oportunidade. “Eles encontram dificuldade em se recolocar ou querem dar uma guinada na vida e mudar o direcionamento da carreira que traçaram até então”, diz Maurício Turra, cofundador da consultoria de inovação em negócios Nextt49+. Apesar de ainda representarem uma parcela menor entre os empreendedores iniciais (12,4%, de acordo com a pesquisa GEM Brasil 2019), os mais velhos têm maior taxa de sucesso, no Brasil e no mundo. “Eles têm características determinantes para empreender, como experiência, conhecimento e networking”, explica Turra. A aversão ao risco seria outro elemento que joga a favor. “É uma característica comportamental. São pessoas que acabam tendo cuidados adicionais no desenvolvimento do negócio.” Empreender depois dos 60 anos, porém, assusta muita gente. Para o consultor, esse medo vem principalmente da crença em um mito – o de que, para abrir um negócio, precisa ter uma ideia única e mirabolante. “A gente trabalha com a metodologia do baixo risco, mostrando que a pessoa não precisa fazer uma mudança de 180 graus para empreender, mas sim identificar seus interesses e conhecimentos e desenvolver um produto na área que domina.” A baixa autoestima também dificulta o processo, completa ele. “Quando perdem o emprego e ficam tentando se recolocar, acabam energia, motivação e autoestima. O trabalho tem uma função social, a empresa muitas vezes vira o sobrenome da pessoa.” Da edícula ao primeiro milhãoFoi o caso do empresário Carlos Maximo, de 45 anos, que abriu a Wendig Tintas e Vernizes no começo da pandemia. Apesar de ainda não ter chegado aos 50 anos, ele já sofreu o baque do preconceito do mercado com as gerações mais velhas. “Fiz carreira em multinacionais e percebia o movimento natural de substituição de colaboradores mais experientes por outros mais baratos”, observa. Ele foi demitido aos 42 anos e, depois disso, não conseguiu recolocação no mesmo nível hierárquico. “Na semana do meu aniversário de 45 anos assisti a um webinar sobre como empreender sem capital inicial e decidi me mexer”, diz. “A ideia havia sido maturada nos últimos anos, quando tentei vender para meus chefes, sem sucesso, um modelo de operação mais eficiente para clientes (gráficas) pequenos e médios.” Com um investimento inicial de R$ 4 mil, Maximo comprou a primeira carga de tinta, que ficou armazenada em um canto da edícula da casa onde morava com a esposa e os quatro filhos. A ideia era fornecer material a gráficas menores que não podem manter estoque, mas precisam de agilidade na entrega quando entra um pedido. Os anos de conhecimento e a expertise na área foram determinantes para o rápido sucesso da empreitada. A empresa faturou R$ 15 mil no primeiro mês (em abril), R$ 245 mil até outubro e deve bater R$ 1 milhão no final do ano. O novo empreendedor afirma que a aversão a riscos ajuda nas decisões. “O ‘Carlos CLT’ era puro risco e ousadia, já o ‘Carlos empreendedor’ é mais conservador”, diz. De voluntária a empreendedoraVoluntária por mais de 20 anos, a dona de casa Magali Caruso, de 66 anos, foi desligada da instituição que dirigia no início da pandemia. Foi então que a filha mais velha deu uma ideia. “O principal gatilho era me manter viva, produtiva, fazendo o que eu amo”, conta. Assim nasceu o Magah Ateliê, que faz arranjos florais sob encomenda. Para a microempreendedora, o desafio é grande. “Você precisa de dinheiro para investir nos materiais e todos os custos que um negócio engloba, além de conhecer o mercado, conhecer as redes sociais, conhecer pessoas”, afirma. Para superar os obstáculos, ela busca assessoria e pessoas que entendem do assunto. O sentimento de realização faz tudo valer a pena. “Me faz perceber que tenho muita vida pela frente e isso é materializado em cada trabalho entregue”, celebra. Especialista na implementação de estratégias de transformação digital, o consultor de negócios Fernando Moulin explica que o desafio dos 50+ está em aprender a fazer a curadoria da informação e falar com o público-alvo. “Principalmente no Brasil, existe uma barreira socioeducacional e muitas pessoas não se mantiveram atualizadas no contexto de um mundo profissional cada vez mais digitalizado”, analisa. “Antes você precisava ter uma grande empresa para fazer uma campanha na TV, agora qualquer pessoa pode postar ou fazer uma live.” Para quem ainda não está familiarizado com o meio digital, ele recomenda os tutoriais das plataformas. “São supervisuais e didáticos, as redes estão ajudando muito as pessoas a entenderem o passo a passo”, diz. “É importante buscar ser um usuário digital antes de se tornar um profissional digital.” Afroempreendedorismo 50+Criadora dos projetos Simquentona e Empreendendo aos 50, com foco no empreendedorismo com representatividade etária e racial para maiores de 50 anos, a professora de inglês Leila Gravano, de 55 anos, fez um trabalho de formiguinha quando decidiu parar de trabalhar para os outros. “Além de os programas de empreendedorismo no geral serem para pessoas mais jovens, a linguagem não é acessível.” Segundo ela, o caminho é ainda mais difícil para os negros. “Ter um afroempreendimento no Brasil significa ter inteligência emocional para lidar com os desafios que a estrutura racial implantada nos lembra a todo momento”, sublinha. “Isso inclui desde a falta de representatividade nos espaços até a incredulidade do gerente do banco.” Além
Empresas agora monitoram o descanso, e não o trabalho dos funcionários
Zoom, Teams, Meet. Workplace, Yammer. Miro. Hangouts, Slack, WhatsApp. Para fazer reuniões, integrar todos os funcionários em um mesmo espaço virtual e trocar mensagens, essas são algumas das plataformas e aplicativos que se tornaram essenciais em tempos de home office. O paradoxo é que, ao mesmo tempo em que essas https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs proporcionam migrar companhias inteiras para o trabalho remoto (e assim manter todos minimamente seguros dos riscos de contágio pelo coronavírus), o desgaste mental causado pelo tempo e quantidade de telas bate à porta. Após oito meses de home office, as empresas se deparam com o desafio de equalizar o tempo em que os funcionários estão conectados e, incrivelmente, monitorar o descanso. Como toda novidade, o aprendizado vem em ondas. Inicialmente, o desafio era garantir a ergonomia, com mesa e cadeira apropriadas. Em paralelo, veio a saúde mental, com o oferecimento de telemedicina e teleterapia. Depois, novos tipos de benefícios entraram em jogo. Já mirando a necessidade de oferecer soluções de lazer, plataformas de bem-estar foram criadas, com aulas de exercícios físicos. Mas tudo via plataforma de vídeo, afinal o mundo presencial está em quarentena. Agora, a exaustão pelo tempo de conexão e de tela chegou. O primeiro passo dado pelas empresas foi pensar na etiqueta das reuniões em vídeo, orientando sobre horários mais apropriados e até mesmo trazendo a reflexão sobre a necessidade de tudo se tornar uma reunião com câmera ligada. O próximo passo, mais longo e ainda tímido, é estabelecer de forma institucional pausas ou dias sem reuniões. É o caso da farmacêutica Sanofi, que implementou há três meses o no internal Zoom meeting day (dia sem Zoom) na unidade de negócios Consumer Healthcare. Todas as quintas-feiras está suspenso qualquer tipo de reunião interna. A ação é mais do que uma orientação, pois a agenda de todos os 400 colaboradores foi travada neste dia até o final do ano pelo general manager da unidade, Rodolfo Hrosz. Eles ainda recebem alertas todas as semanas para lembrá-los de não marcarem reuniões às quintas-feiras. “Os apontamentos sobre a estafa em relação ao Zoom vieram de rodas de conversas que fazemos com os gestores. Percebemos que aquela parada que os funcionários davam quando estavam no trânsito começou a ser positiva, porque era o momento em que ele conseguia desligar da tela”, diz Sueli Thome, gerente sênior de recursos humanos da unidade de negócios Consumer Healthcare da Sanofi. “As pessoas criaram uma rotina do Zoom que elas mesmas perderam o autocontrole”, completa. O funcionário fica livre neste dia. “Falamos: use esse dia a seu favor”, diz Sueli, que completa explicando que os feedbacks que recebeu depois da criação do dia sem Zoom a surpreendeu. “A princípio, achei que o impacto fosse pequeno. Mas de todas as ações que a gente trouxe para o home office, essa foi a que teve maior repercussão”. Sobre o número de plataformas utilizadas pela empresa, Sueli diz que o Zoom é a ferramenta oficial para as reuniões e o Yammer, rede social corporativa, é utilizado para a comunicação entre todos. “O WhatsApp é incontrolável, mas ele não é uma ferramenta de comunicação corporativa. A gente tem um grupo sim por lá, mas se tornou um espaço de encontro entre todos, em que não se fala muito de trabalho. Quando a gente percebe que o uso está indo além dos limites (em relação a trabalho), a gente dá uma segurada”, conta. Outra empresa que também começa a colocar em prática pausas e bloqueios institucionais é a Unilever Brasil. Depois de organizarem duas semanas voltadas ao bem-estar no mês de julho, com palestras e atividades, a empresa reuniu um time de 20 pessoas com diversos níveis hierárquicos e áreas de atuação para ouvir as principais demandas e dificuldades do home office. “Quando você organiza um evento de bem-estar você está ofertando, mas não está ouvindo”, diz Ana Paula Franzoti, gerente de desenvolvimento organizacional e cultura da Unilever Brasil. “Ouvimos muitas queixas sobre a falta de tempo para se planejar, criar, ler e mesmo almoçar. ‘Passo o tempo todo em reunião’, era o que mais diziam”, conta Ana Paula. De cima para baixoFoi então que surgiram as ‘regras de ouro’, na qual foram vetadas reuniões entre 12h e 13h30 e após as 18h, reuniões em horas cheias, ou seja, é preciso fazer uma pausa de 10 minutos entre uma reunião e o outro compromisso, e o expediente de sexta-feira se encerra agora às 16h. A regras foram comunicadas pelo presidente, Fernando Fernandez. “A comunicação vir de forma corporativa deu um peso maior. Não é um posicionamento da área de recursos humanos. É um posicionamento da Unilever Brasil”, diz. Para exemplificar a efetividade das ‘regras de ouro’, Ana Paula acredita que a hora do almoço virou “sagrada”. “Vejo o movimento da liderança, mas também do funcionário para cima. Essa é a transformação mais importante, o funcionário se sentir confortável para ele dizer ‘olha, não dá pra fazer reunião nesse horário’”. A empresa usa a plataforma Teams como ferramenta de reuniões e emite um boletim diário sobre o que acontece na organização. É no boletim que a empresa também incentiva os momentos de desconexão dos funcionários, com dicas de livros, receitas e atividades que possam ser feitas ao ar livre. Maria Elisa Moreira, psicóloga especialista em psicologia organizacional e professora do Insper, ressalta a importância de as práticas de desconexão e alívio de tela virem de cima para baixo: corporação, liderança, time. “A gente viu líderes completamente despreparados para lidar com esse momento. Líderes que cobravam presença virtual, registro em foto, marcavam reuniões em horários absurdos. É a instituição que vai nortear a postura de liderança. E, já que as pessoas não se organizaram, eu como empresa vou ter que dizer que esse período é para você descansar. As empresas vão ter de monitorar o descanso”, acredita. Você sabia?Antes de existir o zoom fatigue (exaustão mental causada pelo excesso de interação em telas, não importa a plataforma ou app), já existia a Síndrome Visual Relacionada a Computadores (SVRC). Os sintomas mais
Governo faz ajustes no eSocial para micro e pequenas empresas
O governo vai fazer uma nova rodada de ajustes no eSocial. No próximo ano, será lançada uma versão web do eSocial para que as micro e pequenas empresas possam apresentar, diretamente na plataforma do governo, as informações de seus funcionários no mesmos moldes do empregador doméstico e MEI (Microempreendedor Individual). O foco é atender companhias com até 50 funcionários, o que representa 70% dos empregadores do país. Ainda em 2021, a substituição de obrigação acessória será intensificada. Neste ano, foram substituídas seis obrigações e no próximo ano deixarão de ser exigidas outras oito: Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT); Comunicação de Dispensa (CD); Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP); Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF); Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF); Manual Normativo de Arquivos Digitais (Manad); folha de pagamento; e Guia de Recolhimento do FGTS (GRF). Mas o governo ainda espera fazer algumas inovações até o fim deste ano. A equipe econômica quer apresentar uma solução que permita que o empregador possa fazer o registro de seu funcionário no momento em que faz o registro da empresa na junta comercial. “Essa será uma das últimas entregas deste ano. Até dia 30 de dezembro entra no ar”, disse ao Valor o secretário-adjunto de Trabalho, Ricardo de Souza Moreira. O objetivo da equipe econômica com as inovações é simplificar e desburocratizar o sistema, além de reduzir os custos para o empregador. A expectativa é que as alterações como a relacionada ao registro do funcionário no momento da abertura da empresa na junta comercial contribuam para a melhora da posição no país no ranking “Doing Business” do Banco Mundial. Atualmente, o país está na 124ª colocação no ranking de facilidade de negócios dentre 190 países analisados. Dentre as promessas já feitas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, está a de colocar o Brasil entre os 50 países mais bem colocados na lista do Banco Mundial até o fim do atual mandato de Jair Bolsonaro, em 2022. Em entrevista ao Valor, o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Caio Paes de Andrade, afirmou que os ajustes que estão sendo implementados no eSocial são resultado das demandas apresentadas pelos usuários em quase 17 mil entrevistas. “A experiência do usuário norteou essa transformação”, disse. “Nós cortamos 30% dos campos que existiam no eSocial”, complementou. Para mostrar os avanços da digitalização no governo, mesmo com os desafios impostos pela pandemia de covid-19, o secretário destacou que a plataforma gov.br, que integra os canais de acesso aos serviços públicos, já é utilizada por 86 milhões de cadastrados. Em 2019, era de apenas 1,8 milhão. O eSocial também será incorporado a essa plataforma neste ano. Já o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, ressaltou a importância do banco de dados no eSocial para o desenvolvimento de políticas públicas. “O fio da navalha para nós é não abrir mão de um sistema fundamental para realização de política pública, mas fazer isso de maneira mais leve possível.” O Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas, o popularmente chamado eSocial, foi instituído pelo Decreto nº 8373/2014. Por esse sistema, os empregadores comunicam ao governo, de forma unificada, as informações relativas aos trabalhadores, como vínculos, contribuições previdenciárias, folha de pagamento, comunicações de acidente de trabalho, aviso prévio, escriturações fiscais e informações sobre o FGTS O secretário-adjunto do Trabalho explicou, que a partir de 2019, houve uma mudança no viés do programa. Antes, ele era mais voltado para ajudar no processo de inspeção e fiscalização tributária e previdenciária. Agora, está mais focado em atender a necessidade do usuário. “Estamos olhando como uma prestação de serviços, e não mais como uma ferramenta de fiscalização”, acrescentou, dizendo que por isso o governo tem buscado eliminar todas as exigências que, por exemplo, não estejam previstas em legislação. Em outubro, o governo lançou o programa eSocial simplificado, sistema que substituirá o atual no ano que vem, e o objetivo é seguir as premissas de modernização, simplificação e respeito aos investimentos já feitos por empresas e profissionais. No novo eSocial, as regras de validação não impedem mais a transmissão de dados e os impedimentos foram substituídos por avisos, evitando, assim, a cobrança de multas por atraso na entrega de informações. As exigências, sem previsão em lei, foram retiradas. Neste ano, foram excluídos os pedidos de informações que já constam nas bases do governo, como é o caso do número de RG e da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O CPF passará a ser o único número de identificação do trabalhador, dispensando a referência a outros números cadastrais, como o PIS/Pasep. VALOR ECONÔMICO