Setor de serviços cresce 6,3% no 3º trimestre, mas teme novas restrições

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O crescimento dos serviços no 3.º trimestre, que tiveram alta de 6,3% depois do tombo de 9,4% no 2.º trimestre, não indica que o setor já encontrou o caminho para a retomada. E o recente aumento das medidas de restrição para evitar a propagação do coronavírus deixa o cenário ainda mais incerto. A empreendedora Ana Cristina Scabello Gimenes teve de fechar seu restaurante por falta de clientes na fase mais crítica da pandemia, mas persistiu. Ela encontrou uma oportunidade de empreender, ao se associar a dois ex-funcionários para quem devia dinheiro e abrir uma nova casa. “O que eu devia ficou como pagamento pelo ponto, então, eles entraram como meus sócios”, conta. Assim, em novembro, nasceu o restaurante Quintal D’vó, em Santana, na zona norte de São Paulo. Com três funcionários, o estabelecimento agora enfrenta o desafio de formar clientela com a cidade de volta para a fase amarela do plano São Paulo, com mais restrições de funcionamento para bares e restaurantes, e com muitos escritórios ainda em home office. “Não é todo mundo que sai de casa para comer, as dificuldades são grandes para pagar as contas. Com a volta para a fase amarela, o medo é que piore ainda mais o movimento”, diz. Ainda ajustando a operação do novo restaurante, ela se prepara para fazer entregas de comida. “É a única maneira de sobreviver.” Sócias em um papelaria e bazar no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, Ivoneide do Carmo Aleixo e Cícera Alves de Aquino Santos, tentam contornar as dificuldades financeiras enquanto se adaptam às restrições. “Ainda estamos tentando ajustar os pagamentos, tanto de fornecedores quanto aluguel e outras despesas. Temos apenas uma funcionária, mas tivemos de cortar muitos gastos.”, diz Ivoneide. “Agora, a volta para a fase amarela, vai afetar nosso negócio, já que ainda não conseguimos nos recuperar nem da primeira fase de restrições mais duras”, afirma. Jeferson Araújo, dono da hamburgueria Mais Burguinho, em Moema, também passou por maus momentos na crise causada pelo coronavírus. Ele teve de demitir dez funcionários e fechar uma unidade recém-inaugurada nos Jardins, atrasando seus planos de expansão. Para não perder clientes, iniciou um sistema drive-in. O modelo salvou a unidade de Moema. O ESTADO DE S. PAULO

Reforma tributária é usada como jogo de forças para a eleição da Câmara

A votação da reforma tributária se transformou num “jogo de pôquer” no rastro da briga política pela sucessão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Apontada como a principal reforma para acelerar o crescimento da economia, a proposta de mudança do sistema tributário está sendo usada como instrumento de medição de forças para a eleição que acontece só no início de fevereiro. A aposta da ala política do governo, que apoia a candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL), é que Maia blefou quando disse que tinha 320 votos para aprovar a proposta na Câmara até o final do ano (são necessários 308). Se for levada adiante, a votação pode acabar virando uma prova de fogo, uma espécie de teste, para explicitar, na prática, os votos que Maia conta para o seu candidato à Presidência da Câmara ou para a sua própria candidatura, caso julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que começa nessa sexta-feira abra caminho para a sua reeleição. Em meio ao clima azedo dos bastidores, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), usou um evento à noite, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), para referendar o apoio do Executivo à aprovação da reforma tributária. “Maia quer votar a tributária, nós votamos com ele”, disse Barros. “Quando tem acordo, votamos rapidamente”, afirmou. Apesar do tom conciliador, a fala do líder do governo é vista ainda com desconfiança por apoiadores da Proposta de Emenda Constitucional (PEC-45) de reforma tributária, de autoria do líder do MDB, Baleia Rossi (SP). Já governistas creditam na conta de Maia uma estratégia de usar a reforma para estender a sua influência e protagonismo na eleição. O próprio Barros avisou ao presidente da Câmara que o governo “topa” votar a reforma. Mais cedo, em nota, Barros disse que a aprovação da reforma tributária é uma das prioridades do governo Bolsonaro e que o Executivo aguarda a publicação do relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para emitir seu parecer oficial. O governo quer o compromisso do presidente da Câmara com a votação dos projetos da autonomia do Banco Central, de estímulo à navegação na costa brasileira (BR do Mar) e a renegociação da dívida dos Estados e municípios. Ao Estadão, o relator Aguinaldo disse que tem convicção da disposição dos parlamentares em votar a proposta que, segundo ele, é de Estado e não de governo. “Não entro nessa disputa mesquinha. Eu tenho outra visão, é briga de menino buchudo, como a gente diz na Paraíba. Estamos num outro patamar de compromisso com o País”, disse, ao comentar a percepção de governistas de que Maia está blefando quando diz que tem votos de apoio ao texto. Para o relator, quem usa a reforma, que é uma agenda necessária ao País, para mostrar que “tem força ou não tem” é irresponsável. “Não estou nessa agenda. Quem tiver que assuma as suas carapuças”, disse ele. Na sua avaliação, o governo deveria sair dessa disputa e apoiar a aprovação da PEC. O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu o impasse político em torno da reforma. “Esse desentendimento político envolvendo a disputa da presidência da Câmara, a conversa está parcialmente interrompida. O eixo governista quer a aprovação do Banco Central independente e da reforma administrativa, que já está lá, e o relator e o presidente da Câmara preferem começar a tributária agora”, disse Guedes. Segundo ele, deve haver um desenlace político relativamente rápido. Pelo Twitter, Maia reagiu à noticia que de que o governo estaria travando a reforma para evitar que consiga se reeleger ou eleger um nome para o comando da Câmara. “Se esta informação for verdadeira, fica claro que o próprio governo está obstruindo a pauta econômica. E, com a intenção de me prejudicar, no fundo vai prejudicar milhões de brasileiros”, escreveu. Ex secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, disse que Maia desafiou o Centrão ao dizer que aprovava a reforma tributária sem o governo. “O governo pagou para ver o blefe. O jogo continua sendo jogado por ambas as partes, e a reforma tributária, de interesse da sociedade e das empresas é apenas uma peça neste jogo de poder em que está em jogo a presidência da Câmara, e não os interesses maiores do país”, disse Cintra. A PEC da Câmara, idealizada por Bernard Appy, cria o Imposto sobre Operações com Bens e Serviços (IBS), substituindo três tributos federais (IPI, PIS e Cofins), o ICMS, que é estadual, e o ISS, municipal. A mudança ocorreria em uma transição de 10 anos até a unificação e em 50 anos até a compensação de eventuais perdas de arrecadação de Estados e municípios. Saúde, educação e transportes terão alíquotas menores em novo impostoGuedes informou que setores de saúde, educação e transportes terão alíquotas diferenciadas (menores) no futuro imposto que será criado. A demanda atende sobretudo esse setor de serviços e a classe média, que seria mais penalizada pelo novo tributo com uma alíquota mais alta. Segundo Guedes, há negociações para que as empresas de transporte público, saúde e educação paguem um imposto menor, mas o ministro alertou que a redução da alíquota para determinados setores pode obrigar outros a pagarem alíquotas mais pesadas. “Por isso precisamos de outra base de arrecadação, porque não vamos aumentar os impostos”, afirmou, sem citar diretamente os estudos para criação de um tributo sobre pagamentos, nos moldes da extinta CPMF. O ministro voltou a oferecer a gestão dos atuais fundos regionais – com cerca de R$ 37 milhões por ano – aos governos estaduais e prefeituras. Já governos regionais demandam a criação pela União de novo “Fundo de Incentivo às Exportações” com valores maiores, que chegariam a R$ 480 bilhões em dez anos. Esse foi um motivo de desgaste entre Guedes e Maia por achar que esse repasse compromete recursos das gerações futuras. Na equipe econômica, a avaliação é de que o envio da proposta tributária do governo com a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que abrange só impostos federais, acabou ajudando o IBS, que é o imposto que será

Subserviência a Trump no 5G (Editorial)

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norte-americana, o presidente Jair Bolsonaro insiste em seguir seu líder, sujeitando à sua orientação os interesses diplomáticos e econômicos do Brasil. Em mais uma demonstração de fidelidade, o presidente brasileiro busca uma forma legal de limitar a participação chinesa, por meio da fabricante Huawei, na implementação da rede 5G no País. A ideia, segundo apurou o Estado, é estabelecer uma barreira com base em requisitos técnicos de segurança, disfarçando o objetivo de restringir a concorrência. Empresas brasileiras de telecomunicações já se manifestaram contra a limitação. A sujeição à política trumpista já havia sido evidenciada mais uma vez, sem a preocupação de disfarce, em mensagem postada em rede social, no dia 23 de novembro, pelo deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro. O governo Jair Bolsonaro, afirmou o deputado, “declarou apoio à Aliança Clean Network, lançada pelo governo Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”. A embaixada chinesa repudiou as palavras de Eduardo Bolsonaro e acusou-o de solapar a relação bilateral. O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato, chamou de irresponsável o filho do presidente e lembrou a importância do mercado chinês para as exportações brasileiras. O diplomata Roberto Abdenur, ex-embaixador nos EUA e na China, apontou “imensa irresponsabilidade” e falou do risco de “graves danos” a interesses comerciais brasileiros. A desastrada mensagem de Eduardo Bolsonaro foi apenas mais uma demonstração de subserviência. Ele já havia posado para foto, em Washington, usando um boné de campanha pró-reeleição de Donald Trump. Quando um parlamentar brasileiro se exibe como cabo eleitoral de um presidente estrangeiro, dificilmente qualquer de suas impropriedades causará surpresa. Não surpreenderá, mas poderá prejudicar seriamente o Brasil. Seu único efeito positivo é eliminar qualquer dúvida sobre a sujeição – sua e de seu líder imediato, o presidente Bolsonaro – a um governante de outro país. Não se trata, é importante distinguir, de um alinhamento ou de uma aliança entre dois Estados, mas da subordinação de um chefe de governo ao chefe de governo de outro país, um caso de sujeição pessoal. O recém-eleito presidente dos EUA, Joe Biden, poderá manter a rivalidade comercial e tecnológica com a China, mas a posição do presidente brasileiro foi definida a partir de uma orientação pessoal de Donald Trump. Alertadas sobre a disposição do presidente Bolsonaro de limitar a concorrência no caso da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg 5G, empresas brasileiras já se manifestaram. Posições contrárias à restrição foram indicadas pela Conexis Brasil Digital (representante das operadoras Vivo, Claro, Tim e Oi) e pela Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e Informática (Feninfra). A Huawei já tem participação importante no sistema brasileiro de telecomunicações. Sua substituição por outros fornecedores de equipamentos poderá encarecer a implantação do sistema 5G, alertam as empresas. A melhor solução, insistem, é permitir ampla concorrência para atendimento a todos os tipos de demanda. O presidente Bolsonaro, seus filhos e o ministro de Relações Exteriores têm com frequência ignorado os interesses diplomáticos e comerciais do Brasil. Criaram situações de conflito com parceiros comerciais importantes, como a China, a União Europeia e países muçulmanos. Em várias ocasiões foi preciso cuidar dos danos causados por ações desastradas e incompetentes dessas figuras. O despreparo do presidente e de figuras do seu entorno pode explicar muitos de seus erros sem, no entanto, justificá-los. O ministro da Economia sabe dos planos de restrição à concorrência na implantação da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg 5G. Alertar o presidente para evitar mais esse erro será, no mínimo, uma demonstração de autorrespeito. O ESTADO DE S. PAULO

Guedes admite rever meta fiscal ‘flexível’ para 2021

O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu ontem rever a sistemática de resultado primário prevista para o ano que vem,abandonando a proposta de “meta flexível”. Ele disso que não há “nenhum problema” entre o Ministério da Economia e oTribunal de Contas da União (TCU) e que, passado o período de maior incerteza econômica devido à pandemia, o governo pode agora definir uma meta fixa de primário para 2021. O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 foi enviado em abril, no auge da crise sanitária e econômica decorrente da covid-19. Como o cenário naquele momento era extremamente incerto, principalmente em relação às receitas, o governo propôs um desenho no qual fixou a despesa (calculada com base na regra do teto de gastos) e apresentou uma projeção de resultado fiscal. Esse número, contudo, não precisa ser atingido, pois varia conforme a previsão de receitas. Na prática, a tal “meta flexível” é uma ausência de objetivo, dado que o governo não precisa fazer ajustes de despesas ou receitas para cumpri-la. “Agora a economia se firmando e voltando, já teremos a possibilidade, vamos conversar com o TCU, de rever as previsões de receitas e podemos então anunciar uma meta”, afirmou, acrescentando que “está tudo certo”. “O Brasil está voltando”, disse o ministro, que reiterou a mensagem em um evento de tarde. “Não é um desentendimento, é um mal entendido”, disse. “Se defendo reformas, teto, Lei de Responsabilidade Fiscal, se já tive briga dentro e fora do governo, por que quero meta flexível para furar algo? Não quero isso.”A equipe econômica se sentiu pressionada pelo TCU. A corte disse há cerca de um mês que a proposta apresentada viola a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), mas se mostrou sensível aos argumentos do governo, deixando claro no acórdão e em reuniões de técnicos que seria admissível em 2021, mas o precedente não poderia se repetir para o ano seguinte. Para ter validade, o projeto de LDO tem que ser aprovado pelo Congresso, o que não ocorreu ainda. A votação está prevista para o próximo dia 16 e, se quiser mudar a proposta, o governo tem que enviar uma nova mensagem. Também há pressões da classe política. Ontem pela manhã, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a proposta de meta flexível para 2021. “O que está me deixando impressionado é essa coisa de meta flexível que o Paulo Guedes está inventando. Primeira promessa que fizeram [na campanha eleitoral] é que iam acabar com o déficit primário. Agora não querem meta para não ter de organizar contingenciamento. Isso é uma sinalização muito ruim”, disse. Os atritos de Maia com Guedes têm sido recorrentes. Para algumas fontes do ministério, a atitude do parlamentar reflete a disputa pela sucessão no comando da Casa e também passos preliminares no tabuleiro eleitoral de 2022, já que Maia trabalha para construir candidatura da direita moderada. A fala dele ocorreu na chegada da Câmara ontem. Inicialmente ele não ia conversar com a imprensa mas resolveu comentar sobre a meta fiscal. Disse que os investidores precisam saber pelo menos qual será o déficit público que o governo busca atingir. “Não ter meta, ter uma meta flexível, é uma jabuticaba brasileira”, criticou. O ministério da Economia tem feito diversas reuniões nos últimos dias sobre essa questão. Ontem, mesmo após as declarações de Guedes, estava prevista nova rodada de discussões. Quando o projeto do LDO foi enviado, o resultado projetado era de déficit de R$ 149,6 bilhões, valor que em agosto, na proposta orçamentária, já havia subido para R$ 233,6 bilhões O processo de análise está mais concentrado na secretaria especial de Fazenda, liderada por Waldery Rodrigues. A maior parte dos interlocutores do ministério consideram que seria melhor mesmo voltar à sistemática antiga, pelo fato de ser o padrão estabelecido pela LRF, sinalizando uma busca mais clara por um controle do endividamento, e porque o grau de incerteza diminuiu bastante. Com a provável mudança, os técnicos também têm que lidar com o desafio de definir um valor para ser atingido. Esse é um ponto complexo, já que, mesmo com menos incerteza, o quadro ainda não é tão claro. A tendência, nesse caso, é definir um alvo que dê uma folga para o governo trabalhar sem ter que correr o risco de promover cortes de despesas em um ambiente já apertado pelo teto de gastos. VALOR ECONÔMICO

‘Perdemos a capacidade de planejamento. É urgente ter um plano fiscal’

Diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, o economista Felipe Salto sugere a criação de um teto de gastos 2.0 combinado com medidas de aumento de receitas. Décimo e último entrevistado da série do Estadão Saídas para a Crise Fiscal, Salto diz que o governo precisa botar na mesa medidas para a volta ao azul, com superávits primários nas suas contas. O economista defende uma ponte de transição na regra para financiar os gastos adicionais que devem surgir com uma eventual necessidade de prorrogação do auxílio emergencial em 2021 e o pagamento das vacinas para acabar com a pandemia da covid-19. “O teto não é um Fla-Flu. A regra foi positiva e teve o seu valor, mas para que ela não seja abandonada terá de ser adaptada. Apenas corrigir pela inflação não vai funcionar”, diz. Para ele, é possível ser feito um regime temporário, mantendo o teto e abrindo espaço para os gastos que vão ser necessários. A palavra chave, diz, é transparência. “Por isso, a meta de resultado primário das contas públicas passa a ter uma importância muito grande”, avalia. ● O sr. já disse que o teto de gastos não é a Santa Sé. O que significa isso? Estamos vivendo no Brasil um momento de muita polarização. Quando ela está fundamentada em questões técnicas e avaliações, até pode ajudar a explicitar o que as pessoas pensam e seus diferentes pontos de vista. Mas essa polarização danosa que estamos vendo acaba apenas turvando o debate e prejudicando a discussão das questões fundamentais, como é o caso das regras fiscais e do teto de gastos (regra que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação), particularmente. ● Como assim? Tem o grupo dos que são a favor do teto e não abrem mão e tem aqueles que dizem que se deve abandonar o teto, pois seria muito ruim. Na verdade, o que precisamos é encontrar o caminho do meio. Quando eu disse que o teto não é a Santa Sé, quis dizer que aprimorar as regras fiscais é positivo. Se for possível regulamentar os gatilhos (medidas de contenção de gastos, focadas principalmente nas despesas com servidores públicos) ou pensar numa combinação de resultado primário (receitas menos despesas sem levar em conta o pagamento dos juros da dívida) que envolva o lado das receitas, isso seria salutar. Não adianta dizer que é a favor do teto, como o governo tem feito, se os números não fecham. Quem faz um mínimo de contas e planilhas vê que no próximo projeto de Orçamento tem uma despesa discricionária (aquelas que não são obrigatórias e incluem, por exemplo, investimentos) de R$ 108,4 bilhões. Destes, R$ 16,3 bilhões são emendas parlamentares (indicações feitas por deputados e senadores de onde os recursos federais são aplicados). Se tirar essa parte, sobra algo como R$ 92,1 bilhões, que é um nível extremamente baixo. O governo precisa mostrar que esse nível é suficiente para não parar a máquina pública e paralisar as políticas que estão lá. E, mais do que isso: como vai incorporar os gastos quase certos, como algum auxílio para as pessoas mais pobres e compra de vacinas. ● Esses gastos adicionais já são certos? Vão ter de acontecer. E qual o espaço orçamentário? Não existe. ● Vai faltar dinheiro no orçamento para pagar vacina? Não há necessidade, se houver planejamento. Tem alguns caminhos. Se ele não colocar no Orçamento agora, pode fazer crédito extraordinário no ano que vem. Vai ficar um orçamento paralelo. ● Mas a necessidade de vacinas era previsível desde sempre. Se encaixa em crédito extraordinário para despesas imprevisíveis e urgentes? Como não é uma despesa imprevisível, o ideal seria contemplar no Orçamento. Para resolver, o governo deveria abrir espaço orçamentário este ano, seja pelo lado da receita, seja pelo da despesa. ● Como sair do impasse que é vivido há meses? No grosso das despesas obrigatórias tem pouco espaço para cortar. Teria os subsídios creditícios, que têm previsão de R$ 14 bilhões em 2021. Mas aí também tem programas tradicionalmente importantes, no agronegócio, por exemplo. Não tem saída fácil. A primeira coisa que o governo precisa fazer é calcular quais são as despesas extras. Nós, da IFI, fizemos uma simulação e calculamos que, se o auxílio de R$ 300 for estendido por quatro meses para um contingente de 25 milhões, o gasto seria de R$ 15,3 bilhões. Seria um pecado mortal compensar com aumento de arrecadação? Não seria. Precisa é comunicar direito. ● O Congresso precisaria aprovar uma PEC? Eu fico um pouco pessimista porque é um assunto um pouco complexo para ser resolvido em poucos dias. A saída é claramente o governo dar uma interpretação para o acionamento dos gatilhos ou avançar na PEC emergencial (proposta em que estão previstas as medidas de contenção de gastos). Isso construiria uma ponte para ganhar tempo para discutir a questão do indexador do teto. O governo deveria dar uma solução, ainda que fosse temporária, para que, ao longo do próximo ano, pudesse discutir a mudança do indexador do teto (hoje, o teto é corrigido pela inflação inflação acumulada em 12 meses até junho do ano anterior ao da vigência). Isso seria um caminho. Pelo visto, o governo não vai fazer isso. ● Nesse caso, o que pode acontecer? O projeto de Orçamento está completamente descolado da realidade. Vai chegar janeiro e será preciso necessariamente fazer o auxílio. Vai ser uma espécie de gestão de risco. Quando chegar 31 de dezembro e não tiver mais auxílio para janeiro, decide-se fazer mais um mês. Qual a saída? Crédito extraordinário e, aí, precisa combinar com os russos. Precisa ver como o TCU vai encarar essa realização de crédito extraordinário, sendo que há alguns meses já se sabe que possivelmente esse gasto seria necessário e o governo vai argumentar que não, que estava esperando ter mais certeza sobre essa necessidade. ● A discussão de regras orçamentárias não está se sobrepondo à realidade do País? Perdemos a capacidade de planejamento. É urgente ter um plano fiscal. ●

Para Guedes, quem não vê recuperação em ‘V’ é ‘negacionista’

O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu ontem rever a sistemática de resultado primário prevista para o ano que vem, abandonando a proposta de “meta flexível”. Ele disso que não há “nenhum problema” entre o Ministério da Economia e o Tribunal de Contas da União (TCU) e que, passado o período de maior incerteza econômica devido à pandemia, o governo pode agora definir uma meta fixa de primário para 2021. O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021 foi enviado em abril, no auge da crise sanitária e econômica decorrente da covid-19. Como o cenário naquele momento era extremamente incerto, principalmente em relação às receitas, o governo propôs um desenho no qual fixou a despesa (calculada com base na regra do teto de gastos) e apresentou uma projeção de resultado fiscal. Esse número, contudo, não precisa ser atingido, pois varia conforme a previsão de receitas. “Só os negacionistas refutariam a evidência empírica de que a economia voltou em ‘V’”, disse Guedes em participação no Encontro Nacional da Indústria da Construção, promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “O sinal de recuperação cíclica é evidente, o Brasil está decolando de novo.” Daqui para a frente, segundo ele, o governo federal irá retirar os estímulos “gradualmente”, o que fará com que a recuperação cíclica “vá desacelerando”. “Mas vamos ter transformação disso em retomada sustentável com base em investimento”, disse. Ao Valor, o secretário de política econômica da pasta, Adolfo Sachsida, também afirmou que o resultado dá elementos para que a retomada prossiga em 2021 “sem a necessidade de auxílios governamentais”. O que dá base a essa afirmativa é o avanço de 17,3% na taxa de poupança, o maior para o terceiro trimestre de 2013, 3,7 pontos percentuais acima do terceiro trimestre de 2019. “Então, o que eu vejo? Que a recuperação da atividade, do emprego formal e do crédito, aliado ao aumento da taxa de poupança, pavimentam o caminho para que a economia brasileira continue avançando no primeiro semestre de 2021 sem a necessidade da prorrogação de auxílios governamentais”, disse. Enquanto o comércio e a indústria lideraram a retomada no terceiro trimestre de 2020, o setor de serviços deve puxar o quarto trimestre, segundo ele. Questionado se o aumento de casos de covid-19 e as medidas restritivas retomadas por alguns Estados poderiam atrapalhar o processo, o secretário afirmou que os dados de mobilidade indicam queda no isolamento. “Se o distanciamento social está diminuindo, os serviços vão responder muito forte”, disse. “Não foi aqui nenhum juízo de valor nenhum julgamento se isso está certo ou errado, porque não sou epidemiologista.” Sachsida acrescentou que, para o PIB brasileiro crescer a taxas superiores às de anos anteriores, é necessário insistir na consolidação fiscal e na agenda pró-mercado. Guedes, por sua vez, atribuiu o crescimento abaixo do esperado à revisão da alta do PIB em anos anteriores. A alta de 7,7% ficou abaixo da mediana de 8,8% de 39 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data. “Tem gente que dizia que esperava mais, mas mexemos um pouco na base”, disse. Ele reforçou que a projeção do Ministério da Economia para a expansão da atividade neste ano é de 4,5%. Para o vice-presidente da vice-presidente da República, Hamilton Mourão, o país “bateu na trave” no resultado esperado. Segundo ele, a recuperação após o choque provocado pela pandemia será diluída nos próximos resultados. “É um bom resultado”, afirmou a jornalistas no Palácio do Planalto. “Expectativa é expectativa. Bateu na trave. A queda do segundo trimestre foi muito grande, ela vai ser recuperada ao longo deste terceiro [trimestre], mais o quarto e o ano que vem. Isso já era esperado”. VALOR ECONÔMICO

Pesquisa mostra que 46% das empresas no Brasil foram vítimas de fraudes

As fraudes e os crimes econômicos atingiram 46% das empresas brasileiras nos últimos dois anos. Suborno e corrupção (41%), fraude contábil (40%) e fraude cometida pelo consumidor (35%) encabeçaram a lista dos crimes mais comuns cometidos nas empresas locais no biênio 2018-2019. No mercado. De 235 companhias ouvidas pela consultoria PwC, responsável pelo levantamento, só 8% afirmaram ter sofrido com uso de informação privilegiada, o chamado crime de “insider” no jargão do mercado. Dormindo com o inimigo. Fraudes cometidas dentro da organização causam potencialmente muito mais prejuízos. Quando o criminoso está dentro da empresa, 43% relatam perder US$ 100 milhões ou mais. Esses crimes costumam resultar em ações contra a empresa e os envolvidos, gerando danos à reputação. Por aqui. No total, 19% dos participantes brasileiros informaram ter perdido mais de US$ 50 milhões. Uma fatia de 43% planeja aumentar gastos com prevenção a fraudes nos próximos dois anos. Último a saber. A pesquisa mostra que 55% das organizações conduziram investigação de seu pior caso de fraude. Apenas 29%, entretanto, levaram o caso ao conselho de administração. O ESTADO DE S. PAULO

PIB do 3º trimestre mostra uma economia em franca recuperação, diz José Marcio Camargo

O processo gradual de reabertura da economia no terceiro trimestre e os efeitos no consumo do auxílio emergencial dado aos brasileiros mais afetados pela crise da covid-19 fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) subir 7,7% no período, em comparação com o segundo trimestre. Para José Marcio Camargo, economista da PUC- Rio e da Genial Investimentos, apesar de ter ficado abaixo da projeção de crescimento de 8,8%, o número ainda pode ser visto com otimismo, pois setores importantes da economia, como indústria e serviços “tiveram bom crescimento”. Camargo também aponta que, nesse cenário de retomada, um plano de vacinação da população será extremamente importante para ajudar na recuperação do País nos próximos meses. Abaixo, trechos da entrevista: Podemos ver os dados do 3º trimestre com otimismo?Sem dúvida, o resultado do 3.º trimestre mostra um crescimento muito bom. É verdade que é um crescimento que vem de uma base muito baixa, de uma queda muito profunda no segundo trimestre, mas ainda assim é para ser comemorado. É verdade também que veio abaixo da média das expectativas dos analistas, mas é preciso olhar para os detalhes: setores importantes, como indústria e serviços tiveram bom crescimento. O dado mostra uma economia em franca recuperação e uma retomada da formação bruta de capital fixo e do consumo das famílias. Muito do resultado se deve ao auxílio emergencial. O fim do benefício deve travar a economia?O fim do auxílio emergencial preocupa, é claro, mas os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid ficaram acima do esperado também para o trabalho formal. Se o mercado de trabalho continuar nessa trajetória, a geração de emprego e renda vai conseguir substituir a redução da renda causada pelo fim do auxílio. O problema é que tem uma pandemia no caminho. Se houver uma segunda onda de covid-19, isso poderia postergar a recuperação da economia?Se essa segunda onda vier com um aumento forte das restrições de circulação, não necessariamente como tivemos no começo da quarentena, mas se for preciso voltar ao isolamento mais forte, certamente afetaria o comportamento da atividade econômica. Mas isso é algo difícil de ser feito. A sociedade está cansada, não quer o isolamento. O planejamento da vacinação é importante para a recuperação. O aumento da dívida pública é uma preocupação para 2021?Se o governo respeitar o teto de gastos, não vejo grandes problemas. Se ele não respeitar, a situação se complica muito. O País vai ter aumento dos juros, descontrole da inflação, desvalorização cambial e um retorno à taxas de crescimento negativas. Mas creio que o teto vai ser respeitado. Qual é o seu balanço das medidas tomadas pela equipe econômica no enfrentamento da crise?É uma crise diferente de tudo que já vivemos. Algumas coisas foram muito positivas, o governo fez um programa para ter a menor queda possível de renda das pessoas. Dado o cenário, a reação foi positiva e os dados estão mostrando um pouco isso, o Brasil deve ter uma recuperação acima do que se esperava. O ESTADOD E S. PAULO

Shoppings têm semana com alta nas vendas pela 1ª vez desde início da pandemia

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Os shoppings registraram o primeiro crescimento semanal desde o início da pandemia, impulsionado pela Black Friday. Na semana de 23 a 29 de novembro, as vendas dos centros comerciais subiram 52,8%, na comparação com o mesmo período do ano passado. Também tiveram alta de 22,5% em relação à última semana de fevereiro (última semana de um mês antes da chegada da pandemia). Os dados foram apurados pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) em parceria com a Cielo e compõem o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). Alerta. O aumento nos casos de coronavírus e a possível volta das limitações de fluxo nos shoppings (como ocorrido em São Paulo nesta semana), porém, acenderam a luz amarela no setor: a melhora nas vendas esteve proporcionalmente associada à quantidade de horas que os estabelecimentos puderam permanecer abertos. Aos poucos. O crescimento nas vendas da Black Friday ainda não compensou as perdas acumuladas dos últimos meses. Entre 2 de março e 29 de novembro, elas ficaram em 46,2%. Mesmo assim, há uma recuperação gradual em andamento. Nas últimas semanas de agosto, setembro e outubro, as perdas acumuladas foram de 60,6%, 56,3% e 51,8%, respectivamente. Otimismo. Apesar da incerteza com a segunda onda da pandemia, a expectativa de empresários é que a atividade nos shoppings mantenha a trajetória de retomada. “O pior momento já passou. Daqui pra frente vamos administrar a questão das restrições de horários de funcionamento criando alternativas”, afirma o presidente da Abrasce, Glauco Humai. Otimismo 2. Para ele, o setor tem potencial de ganhar novo impulso com o Natal e a combinação entre oferta de crédito e demanda reprimida ao longo da pandemia. O ESTADO DE S. PAULO

Indústria e comércio voltam ao nível pré-crise com auxílio e crédito

A indústria e o comércio estão entre os principais destaques do crescimento da economia brasileira de 7,7% no terceiro trimestre de 2020 ante os três meses anteriores, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta quinta-feira (3). A agropecuária caiu 0,5%, a indústria cresceu 14,8% e os serviços subiram 6,3% no período. O comércio, classificado como parte dos serviços, avançou 15,9%. Segundo o IBGE, entre as atividades industriais, destaca-se o crescimento de 23,7% das indústrias de transformação. Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, afirma que os programas de auxílio do governo a famílias e empresas e os juros baixos ajudaram a indústria e o comércio, que já voltaram ao patamar anterior à crise. Ela deu como exemplo os segmentos de alimentos e bebidas e farmacêutico. Também destacou que houve aumento nas vendas de bens duráveis como eletrodomésticos e móveis, tanto na produção quanto no comércio. Por outro lado, mesmo com a reabertura das atividades, os serviços prestados às famílias não se recuperaram, deixando esse setor para trás. “O consumo das famílias, pesando 65% do PIB, está caindo mais do que a média do PIB, com a influência negativa dessa demanda dos serviços e com impactos negativos no mercado de trabalho, mas, por outro lado, beneficiado pelo aumento do crédito às pessoas físicas e os programas de apoio do governo, tanto a famílias como a empresas, e também com as taxas de juros baixas”, afirma a coordenadora do IBGE. Os dados do IBGE mostram que também houve aumento para os segmentos de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (8,5%), construção (5,6%) e indústrias extrativas (2,5%). Em comparação com o terceiro trimestre de 2019, a agropecuária cresceu 0,4%. Já a indústria teve queda de 0,9%, sendo que a construção recuou 7,9%. Os serviços caíram 4,8%. O desempenho da indústria reforça a mudança de perfil do consumidor após a pandemia: na comparação com o mesmo período do ano anterior, o setor ainda tem queda de 0,2%, mas segmentos como indústria moveleira e equipamentos de informática e eletrônicos produziram mais do que no terceiro trimestre de 2019. São segmentos que se beneficiaram com o isolamento: com o trabalho remoto e mais tempo em casa, o brasileiro decidiu investir em produtos para o lar. Já a indústria de vestuários é um dos destaques negativos em relação ao mesmo período do ano anterior. A agropecuária continua crescendo nas taxas interanuais —foi o único setor que teve resultado positivo no acumulado do ano. Houve queda em relação ao trimestre anterior, mas o dado era esperado em razão de fatores sazonais que afetam o agro, como as temporadas de safra. FOLHA DE S. PAULO