Auxílio será prorrogado se houver 2ª onda da covid, afirma Guedes

Se houver uma segunda onda da covid-19, a prorrogação do auxílio emergencial não é uma possibilidade, mas uma certeza, disse ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas esse, frisou, não é o “plano A” da equipe econômica, que trabalha com a remoção gradual do benefício criado para fazer frente à crise. “Existe possibilidade de haver uma prorrogação do auxílio emergencial? Se houver uma segunda onda de pandemia, não é uma possibilidade, é uma certeza. Vamos ter que reagir. Mas não é o plano A”, disse no evento Dia Nacional do Supermercado 2020, promovido pela Associação Brasileira dos Supermercados (Abras). O cenário mais provável é o de o governo retirar estímulos e converter o auxílio emergencial no Renda Brasil, programa de renda básica, ou continuar com o Bolsa Família. “Temos as duas possibilidades e é uma escolha política”, disse ele, enfatizando que a decisão deve ser fiscalmente sustentável, mas depende do aval político. Caso haja uma segunda onda, haverá um novo período de calamidade pública e o governo agirá, informou. Mas será preciso “recalibrar” os instrumentos e os gastos com medidas de enfrentamento ao coronavírus poderão cair para a casa dos 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Neste ano, as despesas chegaram a 10% do PIB. O que não ocorrerá é a adoção de medidas que gerem um passivo para as gerações futuras, acrescentou. A ideia é voltar a reduzir a relação entre a dívida bruta e o PIB. “Não vamos ficar dando dinheiro para todo mundo e deixar a dívida/PIB ir embora, para 100%, 120% e empurrar essa conta para o futuro.” VALOR ECONÔMICO

Recuperação da economia perde força em outubro e novembro

Indicadores especiais de atividade, criados durante a pandemia para monitorar a retomada, mostram que o período de forte recuperação da economia brasileira, iniciado já em meados de abril, se encerrou em outubro —mês em que ocorreu a redução de estímulos governamentais. Dados para novembro confirmam que a atividade se estabilizou em um nível ainda abaixo do patamar pré-crise, e a expectativa dos analistas responsáveis por esses índices é de uma recuperação mais lenta na sequência. Essa acomodação da atividade tem sido vista, principalmente, em segmentos da indústria e do varejo que já retornaram ou, em alguns casos que até ultrapassaram os níveis pré-crise. A análise de quem acompanha os índices é que a desaceleração reflete fatores como aumentos de preços e a redução, de R$ 600 para R$ 300, no valor do auxílio emergencial para trabalhadores informais no final de setembro, com impacto a partir do mês seguinte. A expectativa do Ministério da Economia era de uma recuperação em “V”. Os dados, no entanto, mostram que a “subida” desse “V” deve ficar incompleta. Economistas responsáveis por esses indicadores antecedentes de atividade, criados para monitorar a economia praticamente em tempo real, também identificam um redirecionamento nos gastos das famílias, que agora tendem a direcionar mais dinheiro para serviços em detrimento de bens. O Idat (Indicador Diário de Atividade) do Itaú Unibanco parou de crescer em outubro e teve queda até o início de novembro, movimento que está sendo visto como um sinal de estabilização pela instituição. De acordo com o economista do Itaú Unibanco Luka Barbosa, os dados até o momento apontam para um terceiro e um quarto trimestre melhores do que o projetado anteriormente. “O nosso indicador diário de atividade econômica mostra um outubro [na média] acima de setembro. Em novembro, a atividade econômica está estabilizando, desacelerando um pouco, mas isso não deve tirar a visão de um crescimento bom no quarto trimestre, próximo de 2,5% em relação ao terceiro”, afirma Barbosa. Na primeira semana de novembro, o Idat estava 11,7% abaixo do nível pré-crise (em meados de março). O indicado mensal desenvolvido pelo Santander em parceria com a Getnet para monitorar as vendas no varejo, o IGet (Índice Getnet de Vendas do Comércio Varejista Brasileiro), mostrou queda de 0,15% em outubro, após cinco meses seguidos de crescimento ininterrupto. Para a instituição, o valor indica uma estabilidade após a forte recuperação de 33% de abril até setembro. “Manter essa trajetória de crescimento era um pouco artificial. Houve redução do auxílio, mas ainda são R$ 300 injetados na economia. Por isso, a gente vê mais uma acomodação do que necessariamente uma queda”, afirma o economista do Santander Lucas Maynard. Os dados do IGet mostram que as vendas de vestuário e peças automotivas, que ainda não recuperaram as perdas de abril, continuaram crescendo no mês passado. Supermercados seguem com as receitas estáveis desde agosto e houve queda nos segmentos que já estavam acima dos níveis pré-crise, como eletrodomésticos, artigos de farmácia e material de construção. Maynard afirma que o varejo também é afetado por um processo de recomposição do consumo das famílias, com um deslocamento na demanda de bens para o setor de serviços. “O varejo não deve manter esse ritmo de desempenho do terceiro trimestre. Primeiro pela redução do auxílio e também pela composição de consumo, com essa mudança em direção a serviços, em detrimento dos bens”, afirma. Gustavo Bahia Sechin, diretor Financeiro da Getnet, afirma que a atividade econômica nos meses de novembro e dezembro deve contar com a ajuda de datas como Black Friday e Natal, que devem amenizar essa desaceleração, cujo impacto será maior a partir de janeiro, com o provável fim do auxílio emergencial e com um mercado de trabalho que não deve se recuperar no curto prazo. Para novembro, ele avalia que a atividade deve manter a tendência verificada em outubro, de desaceleração e mudança no perfil de gastos. “A gente acredita em um cenário de retomada do país a médio prazo. Os indicadores não apontam para nenhum sinal de retração, mas de acomodação da velocidade de crescimento, de desaceleração”, afirma o executivo. José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, é responsável pelo IAG (Índice de Atividade da Genial), que utiliza o patamar de 100 pontos como referência para a média do período 1º de janeiro a 15 de março deste ano. O índice apresentou queda de 66% até 31 de março, ponto que o indicador aponta como fundo do poço (34 pontos). Se recuperou a partir de abril até atingir 85 pontos em meados de outubro. Desde então, tem se mantido próximo desse patamar (estava em 83,5 pontos no final da semana passada). “O índice ainda está abaixo do período pré pandemia, mas já voltou bastante. Os últimos dados têm mostrado que continua recuperando, mas de forma mais lenta do que vinha em agosto e setembro. É razoável que, com uma base agora mais alta, a recuperação seja menos intensa”, afirma Camargo. “Quando você olha outros indicadores mensais, eles continuam mostrando uma volta da atividade forte, do setor de serviços um pouco mais rápida. A recuperação do setor industrial e da construção civil também continua”, diz o economista, que estima um crescimento de 7,8% no terceiro trimestre e de 3,5% no quarto trimestre. Camargo afirma que o problema para 2021 não é a retirada, mas a possibilidade de manutenção de estímulos fiscais que possam levar ao rompimento do teto de gastos, que reverteria a trajetória de recuperação da economia brasileira e levaria a aumento na taxa básica de juros, recessão e inflação. O fim do movimento de recuperação mais acelerada da economia também é confirmado pelos indicadores de confiança do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) para comércio, serviços e consumidor, que tiveram no mês passado a primeira queda desde abril. Os indicadores de alta frequência que surgiram neste ano atendem a uma demanda, que cresceu diante da pandemia, pela divulgação de dados econômicos com mais antecedência. O índice do Itaú utiliza dados de transações de cartões da base do

Guedes volta a falar na criação de uma contribuição sobre transações digitais

Depois de enterrar por mais de uma vez a ideia de um tributo nos moldes da antiga CPMF, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a citar nesta quinta-feira, 12, a criação de uma contribuição sobre transações digitais como forma de financiar a desoneração da folha de pagamentos. “Vamos reduzir a carga de impostos indiretos substancialmente. Queremos desonerar a folha de pagamentos, que é o mais cruel dos impostos. Falamos em contribuição sobre transações, principalmente digitais, para financiar desoneração da folha”, afirmou. O ministro voltou a dizer que o governo pretende tributar a distribuição de dividendos, hoje isenta de Imposto de Renda. “Não haverá mais imposto para quem paga imposto, mas quem nunca pagou vai começar a pagar”, completou. Economia com PrevidênciaGuedes disse que a economia com reforma da Previdência, que está entrou em vigor há um ano, pode ser maior do que a inicialmente prevista e chegar a R$ 500 bilhões nos próximos anos. Em evento virtual organizado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), ele defendeu a redução do tamanho do Estado e disse que, de cada 100 servidores aposentados, o governo está contratando apenas 26 novos funcionários públicos, o que foi facilitado com a digitalização de serviços. “O modelo baseado em gastos públicos já nos levou duas vezes à hiperinflação. Não podemos por covardia e politicagem continuar gastando além da nossa capacidade financeira”, completou. O ministro voltou a pedir a aprovação do chamado pacto federativo, enviado há mais de um ano ao Congresso Nacional. Guedes ressaltou que é preciso transformar a “onda de consumo” criada pelas medidas de estímulo para fazer frente à pandemia do coronavírus em investimento. E voltou a dizer que vai “derrubar” a relação dívida/PIB em 2021. O ESTADO DE S. PAULO