60% dos colaboradores relatam estar se sentindo sem disposição para trabalhar, e 67% sentem que precisam provar seu valor no emprego; mulheres sentem mais os efeitos do burnout que os homens.
Por Marta Cavallini, g1
Você se sente esgotado no trabalho? Você não está sozinho. Um estudo mostra que 81% dos trabalhadores estão se sentindo dessa forma. O levantamento mostrou ainda que 60% dos colaboradores relatam estar se sentindo sem disposição para trabalhar, e 67% sentem que precisam provar seu valor no emprego.
A pesquisa foi feita pela Pulses, empresa de soluções para medir continuamente clima, engajamento e performance, com mais de 3 mil pessoas de empresas de diferentes portes e segmentos, com o objetivo de acompanhar o estado emocional dos trabalhadores brasileiros.
Os colaboradores responderam perguntas referentes às condições e organização do trabalho, como dificuldades para cumprir atividades, frustração em relação ao emprego, falta de disposição para trabalhar, falta de paciência com os colegas, necessidade de provar seu valor profissional, cargas além da capacidade, dificuldades de realizar entregas e sensação de esgotamento.
Os dados mostram uma população trabalhadora bastante adoecida psicologicamente. Mais da metade dos colaboradores também relataram estar se sentindo frustrados com o trabalho (54%), com dificuldades para cumprir suas atividades (51%) e sem paciência com outros membros da equipe (51%).
Com os resultados, a Pulses e a Vittude pretendem ajudar os gestores e o RH a buscar planos de ação para evitar o adoecimento emocional dos trabalhadores.
Você sabe o que é a síndrome de burnout?
Mulheres são mais afetadas
Fazendo um recorte por gênero, o levantamento também mostrou que as mulheres estão com resultados menos favoráveis em comparação com os homens. Quando o assunto é esgotamento, 85% relataram um cansaço extremo, contra 75% de homens.
Os índices ficam ainda mais distantes nas perguntas sobre frustrações com o trabalho (59% delas concordaram, contra 48% deles) e disposição para trabalhar (69% contra 46%).
Para Beth Navas, co-fundador e especialista em People Science da Pulses, o resultado comprova que as mulheres estão muito mais sobrecarregadas com a jornada tripla: atividades profissionais, de cuidados domésticos e com filhos e/ou parentes idosos ou doentes, o que pode desencadear o burnout.
Estresse e esgotamento são as causas
De acordo com Beth Navas, alguns estudos já mostraram que essas condições estão fortemente relacionadas ao estresse e ao esgotamento emocional. Para ela, esses índices mostram que os gestores precisam acender um sinal de alerta e evitar um efeito “bola de neve”, quando pequenas questões vão se acumulando até culminar em um caso de burnout.
“Geralmente, o burnout se manifesta em profissionais que têm cargas excessivas de trabalho, rotinas de atividades realizadas sob pressão ou objetivos difíceis, diante dos quais o colaborador se sente incapaz de atingir. É uma doença séria, com grandes chances de se desenvolver para quadros graves de adoecimento psicológico”, alerta.
Beth ressalta que o bem-estar emocional permeia todos os pontos de contato da jornada do colaborador. Portanto, se o tema não for prioritário na estratégia das empresas, pode causar danos irreparáveis nos resultados do negócio.
“Além de chegar a afetar a saúde física do colaborador em alguns casos, o estresse acaba afetando diretamente na produtividade, na taxa de retenção de talentos, no engajamento, no desenvolvimento profissional”, comenta.
Beth também ressalta que é papel do gestor estar preparado para conversas francas e difíceis sobre saúde mental.
“Em um mundo em constante turbulência, sobressaltos e incertezas, é comum que as pessoas vivenciem sintomas de estresse, medo e preocupação. Os líderes e o RH precisam levar isso em consideração e estar disponíveis para auxiliar os colaboradores antes que as insatisfações venham a gerar problemas psicológicos. Assim como em diversas outras questões de saúde, agir preventivamente é a melhor opção para garantir o bem-estar emocional”, diz.
Burnout passou a ser doença do trabalho
A síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, passou a ser considerada doença ocupacional em 1º de janeiro, após a sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na prática, significa que agora estão previstos os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados no caso das demais doenças relacionadas ao emprego.
A síndrome, desencadeada pelo estresse crônico no trabalho, se caracteriza pela tensão resultante do excesso de atividade profissional e tem o esgotamento físico e mental, a perda de interesse no trabalho e a ansiedade e a depressão entre os sintomas (leia mais sobre a doença nesta reportagem).