Setor amargou segundo mês seguido de retração e mostra perda de fôlego. No 2º trimestre, porém, fechou no azul e registrou alta de 1,1% frente aos 3 primeiros meses do ano.
Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, g1
As vendas do comércio caíram 1,4% em junho, na comparação com maio, no pior resultado em 6 meses, segundo divulgou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com junho do ano passado, o recuo foi menor, de 0,3%
O resultado de maio foi revisado pelo IBGE de alta de 0,1% para queda de 0,4%. Com isso, foi a segunda queda mensal seguida do comércio, após 4 taxas positivas.
“É a segunda variação negativa consecutiva do setor, que acumula retração de 0,8% em dois meses, na comparação com o bimestre anterior. O resultado de junho traz a maior variação negativa para o comércio desde dezembro do ano passado, quando a queda foi de 2,9%”, destacou o IBGE.
O resultado veio pior que o esperado. Levantamento do Valor Data estimava uma queda de 1,2% em junho ante maio, segundo mediana de 30 estimativas de instituições financeiras e consultorias.
Mesmo com a forte retração em junho, o comércio brasileiro acumulou alta de 1,4% no primeiro semestre ante os 6 primeiros meses do ano passado e segue 1,6% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.
Em 12 meses, porém, o setor acumula perda de 0,9%, contra uma queda de 0,4% no acumulado nos 12 meses imediatamente anteriores, indicando um desaquecimento das vendas do varejo, que está 4,6% abaixo da melhor marca histórica, registrada em outubro de 2020.
Sete das oito atividades tiveram queda
A retração das vendas em junho foi disseminada, atingindo 7 das oito atividades pesquisadas pelo IBGE. As quedas com maior impacto no resultado do mês vieram do desempenho dos segmentos de “Tecidos, vestuário e calçados” (-5,4%) e “Hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo” (-0,5%).
No indicador de desempenho do comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas caiu 2,3% ante maio, com destaque para a queda de 4,1% em “Veículos, motos, partes e peças”.
Veja o desempenho de cada segmento:
Combustíveis e lubrificantes: -1,1%
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -0,5%
Tecidos, vestuário e calçados: -5,4%
Móveis e eletrodomésticos: -0,7%
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 1,3%
Livros, jornais, revistas e papelaria: -3,8%
Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: -1,7%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -1,3%
Veículos, motos, partes e peças: -4,1% (varejo ampliado)
Material de construção: -1% (varejo ampliado)
Em junho, as vendas encolheram em 23 das 27 unidades da federação, sendo as maiores quedas em Minas Gerais (-7,7%), São Paulo (-2,5%) e Espírito Santo (-2,5%).
Impacto da inflação no carrinho do supermercado
Os dados do IBGE mostram que as vendas dos supermercados têm sido impactadas pela inflação.
“Entre abril e maio, houve variação de 4% na receita e de 1% no volume de vendas, indicador em que a pesquisa já desconta a inflação. De maio para junho, essa atividade teve queda de 0,5% no volume, mas variou 0,3% em receita. Isso significa que há amplitude menor da inflação, mas o suficiente para que o volume tivesse uma variação negativa, apesar de a receita ficar no campo positivo”, explica o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Mesmo com a retração de junho, o nível de vendas dos supermercados segue 2,3% acima do patamar pré-pandemia.
Dos 10 principais segmentos, apenas 3 se encontravam em junho acima do patamar de fevereiro de 2020. Veja gráfico abaixo:
Crescimento no 2º trimestre, mas com perda de fôlego
Apesar das quedas em maio e junho, o setor fechou o 2º trimestre no azul, na comparação com os 3 primeiros meses do ano, com alta de 1,1% — o segundo trimestre seguido de crescimento nesta base de comparação. Houve, porém, desaceleração frente ao avanço de 1,8% registrado no 1º trimestre.
Segundo o gerente da pesquisa, a análise bimestral permite observar com melhor clareza a perda de fôlego do comércio. No 1º bimestre, o avanço foi de 1,5%, subiu para 2,2% no 2º bimestre e passou para -0,8% no 3º trimestre.
Perspectivas
Na semana passada, o IBGE mostrou que a produção industrial caiu 0,4% em junho após 4 meses de crescimento. No 2º trimestre, porém, a indústria teve avanço de 0,9% frente ao 1º trimestre.
O cenário de juros altos, desemprego ainda elevado, preocupações com a trajetória da dívida pública e o risco de uma recessão global, no entanto, tem dificultado uma retomada mais consistente da economia.
Segundo sondagem da FGV, a confiança dos empresários do comércio voltou a cair em julho, depois de duas altas consecutivas.
Em meio pacote de medidas de ampliação de benefícios sociais e corte de impostos em ano eleitoral, o mercado financeiro passou a prever, porém, uma alta maior do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, mas tem reduzido a expectativa de crescimento para o próximo ano.
Segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, a projeção do mercado é que a economia brasileira cresça 1,98% em 2022.
Para 2023, a previsão está atualmente em 0,40%, com diversos analistas alertando para o risco de estagnação.
Mesmo com a indicação de que o pior já passou para a inflação, o BC elevou na semana passada a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,75% – maior patamar em 6 anos.
Para a inflação, a estimativa dos analistas para o índice de 2022 foi reduzida para 7,11%. Para 2023, porém, subiu para 5,36%.
Como mostrou reportagem recente do g1, as medidas para limitar os tributos sobre combustíveis, por exemplo, podem até conter a inflação em 2022, mas devem pressionar os preços em 2023.
https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/08/10/vendas-do-comercio-caem-14percent-em-junho.ghtml