Trabalhar 4 dias na semana: mais descanso ou sobrecarga de trabalho?

Edição da newsletter FolhaCarreiras traz vantagens e desvantagens de redução da jornada
Vitoria Pereira
SÃO PAULO

É nessa pegada que trago uma tendência que começou lá fora e está engatinhando aqui no Brasil: a semana de quatro dias de trabalho.

Isso mesmo. Em vez do tradicional modelo de cinco dias na semana, há empresas testando trabalhar apenas quatro.

Trabalhar um dia a menos pode proporcionar melhorias no bem-estar e na diminuição de estresse – deagreez / Adobe Stock
Como funciona?

Depende de cada organização. Algumas adotam a quarta ou a sexta-feira como o dia de folga.
A redução da jornada não quer dizer redução de salário, ou seja, o colaborador recebe a mesma remuneração do modelo de cinco dias.
O objetivo é permitir que os trabalhadores estejam mais envolvidos com a vida pessoal.

Fruto da pandemia? Possivelmente. “A pandemia trouxe a pauta de bem-estar e de repensar o futuro do trabalho e as relações no ambiente profissional”, diz Iandara Joaquim, gerente de metodologia e educação da Pulses, empresa de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg para RH.

Quais áreas mais adotam? Startups de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg e marketing que costumam ter equipes menores e são mais abertas a modelos flexíveis. Negócios que operam 24h por dia ou de segunda a sexta, por exemplo, não se encaixam.

Lá fora…

A organização 4 Day Week Global administrou um projeto-piloto em empresas das áreas de TI e de serviços. O teste incluiu 614 funcionários de 12 companhias localizadas em países como Irlanda, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia durante seis meses.
Os profissionais tiveram melhorias no bem-estar e diminuição de estresse causado pelo trabalho.
No Japão, em 2021, o governo recomendou que as empresas implementassem a semana de quatro dias para melhorar a relação entre trabalho e vida pessoal dos cidadãos.

…e no Brasil. Ainda há poucas companhias aderindo ao modelo porque… “As empresas precisam ter uma cultura organizacional flexível. Para companhias mais tradicionais, é difícil e as mudanças levam tempo”, diz Luana Lourençon, especialista em carreiras.

Conheça iniciativas brasileiras:

A Winnin, startup de software do Rio de Janeiro, aplicou o modelo em agosto de 2021 em todas as áreas da empresa para torná-la mais produtiva e reter colaboradores.
A Gerencianet, conta digital para negócios com sede em Ouro Preto (MG), implementou em julho de 2022. O intuito é dar mais benefícios e qualidade de vida aos funcionários.
“Fizemos treinamentos de gerenciamento de tempo e incentivamos os colaboradores a priorizar apenas o necessário, como reduzir o número de reuniões”, afirma Glícia Braga, gerente de RH da Gerencianet.

O que diz a lei sobre redução de carga horária?

A legislação prevê uma carga máxima de trabalho de 44h semanais.
Não há impedimento para trabalhar, por exemplo, 32h semanais (como acontece na semana de quatro dias), diz Larissa Salgado, advogada especialista em direito do trabalho e sócia do escritório Silveiro Advogados.

Benefícios para o profissional:

Depois de 15 anos trabalhando no modelo tradicional, John Silva, 37, começou a trabalhar só quatro dias.
Ele é analista financeiro da Winnin e afirma que agora consegue dar mais atenção à família, ter mais tempo de descanso e de cuidado pessoal.
Disponibilidade para buscar autodesenvolvimento por meio de cursos ou estudos.
Promoção do bem-estar mental.
Trabalhadores se sentem mais produtivos.

Pesquisa do Indeed, plataforma mundial de emprego, aponta que 74% dos entrevistados acreditam que seriam mais produtivos em uma semana de quatro dias. O estudo foi feito com 858 trabalhadores brasileiros em maio de 2022.

Por outro lado…

“Se não tiver uma escuta contínua, a demanda de quatro dias pode gerar sobrecarga. Por isso, boas lideranças e clareza nas cobranças ao profissional são importantes para ter sucesso nessa flexibilidade”, afirma Iandara.
Nem todos os perfis se adequam a esse modelo que exige mais concentração. Funciona com pessoas disciplinadas e organizadas.
“É preciso aumentar o foco, senão gera estresse. Não é reduzir demanda, mas sim, o retrabalho”, diz Andrea Deis, gestora empresarial e professora de gestão de pessoas na FGV (Fundação Getulio Vargas).
MINHA EXPERIÊNCIA
Jovem conta como é trabalhar apenas quatro dias na semana.

ana carolina – newsletter folha carreiras
Ana Carolina Trindade, 25, assistente de marketing na Eva Benefícios, startup de serviços financeiros; desde outubro de 2022, ela trabalha quatro dias na semana – Divulgação
“No início, achei que as tarefas iriam ficar acumuladas. Mas consegui me organizar como se fosse uma semana de cinco dias”.

Mais descanso? Ana não trabalha às sexta-feiras. Neste dia, aproveita para resolver demandas da faculdade e fazer exercícios físicos. “Me sinto mais disposta para fazer outras atividades, viajar e até ter mais tempo com a minha família que mora em outra cidade. Isso tudo ajuda no meu bem-estar mental”.

Ou mais trabalho? “Não senti nenhuma sobrecarga de trabalho. Na segunda, até têm mais coisas porque não trabalhei na sexta, mas não é um acúmulo que atrapalha ou gera exaustão”.

O que mudou? Uma das diferenças que sentiu ao reduzir sua jornada de cinco para quatro dias foi o aumento da produtividade. Ana diz que as reuniões são mais concentradas, só ocorrem quando realmente necessárias, assim tem mais tempo para se dedicar às tarefas do dia a dia.

Saldo positivo. Para Ana, o trabalho precisa ser assim: mais leve. “Quando começo a ficar mentalmente cansada, logo chega a sexta-feira. E, na segunda, estou cheia de energia para começar a semana de novo”.

NÃO FIQUE SEM SABER
Explicamos dois assuntos do noticiário para você.

O que aconteceu? Manifestantes golpistas entraram na Esplanada dos Ministérios na tarde deste domingo (8), invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal).
O que eles fizeram? Quebraram vidros, atiraram móveis para fora do Planalto, computadores e monitores no chão. Foto dos ex-presidentes da República foram arrancadas da parede. Obras de arte foram danificadas. Entre elas, “Bandeira do Brasil”, de Jorge Eduardo, “Mulatas”, de Di Cavalcanti, “O Flautista”, de Bruno Jorge, e “Galhos e Sombras”, de Frans Krajcberg.
E a polícia? Os golpistas entraram em confronto com a Polícia Militar, que reagiu com bombas de efeito moral. Os policiais foram atingidos por grades de ferro e outros objetos.
Mas… vídeos mostram que a Polícia Militar do Distrito Federal aparece filmando a depredação e conversando com os manifestantes.
Houve punição? Cerca de 1.200 bolsonaristas foram conduzidos presos para a superintendência da Polícia Federal, segundo o Ministério da Justiça.
Quais os possíveis crimes? Segundo especialistas ouvidos pela Folha, atentado contra o Estado democrático de Direito e responsabilização por incitação ao crime e associação criminosa.
Haverá investigação? O colunista da Folha Bruno Boghossian escreve que o Senado e os líderes partidários avançaram nas conversas para a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar os responsáveis pelos ataques golpistas.
Opinião: Bolsonaro, generais e governo do DF estimularam terrorismo; governo foi mole, escreve o colunista da Folha Vinicius Torres Freire.
O que a Folha pensa: Líderes da malta golpista de Brasília precisam ser punidos no limite da lei, escreve o jornal em seu editorial.

Quais os principais motivos?

Cenário econômico com alta de juros nos EUA e queda no mercado de ações. Isso reduz os investimentos mais arriscados em empresas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg;
Publicidade fraca, sendo que anúncios online são a principal fonte de receita para muitas empresas de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs. Os anunciantes reduziram seus orçamentos publicitários em meio ao cenário de inflação elevada e alto custo de capital.
Quem mais cortou (ou cortará)?

Amazon: a segunda maior empregadora privada dos EUA, com cerca de 1,5 milhão de trabalhadores, planeja demitir mais de 18 mil funcionários.
Meta: a dona do Facebook anunciou a demissão de 13% de sua equipe, mais de 11 mil funcionários. Foi a primeira vez que isso aconteceu na história do grupo.
Salesforce: a companhia de software disse que planeja cortar empregos em 10% (o que representaria 7.000 funcionários) e fechar alguns escritórios.
Twitter: após Elon Musk comprar a plataforma por US$ 44 bilhões (R$ 224 bilhões), houve séries de demissões. Cerca de 3.700 funcionários foram dispensados.
O bilionário afirmou em seu perfil no Twitter que “não há escolha” além dos cortes quando a companhia está perdendo US$ 4 milhões por dia (R$ 20 milhões por dia).
Microsoft: dispensou cerca de mil funcionários.
Opinião: Estávamos errados sobre as big techs?, analisa Robert Armstrong, comentarista financeiro do Financial Times nos EUA.

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