O Estado de S.Paulo
Nos próximos três anos, a vida no varejo não será fácil: a competitividade e a concentração das empresas devem aumentar, enquanto a rentabilidade do negócio deve cair. Uma das saídas para esse cenário mais hostil traçado pelos próprios empresários do setor é avançar no comércio online. A digitalização, iniciada na “marra” por muitos varejistas por causa da pandemia, virou mote de sobrevivência.
Isso é o que revela a segunda edição da pesquisa para saber qual será o futuro do varejo, feita pelo do Centro de Excelência em Varejo da FGV/SP em parceria com a Gouvêa Experience. Os resultados serão apresentados hoje no Latam Retail Show 2021, o maior evento do setor.
Concluída na primeira semana deste mês, a pesquisa ouviu mais de 150 executivos, a maioria em cargos de direção e presidência de grandes companhias de diferentes segmentos. De acordo com a pesquisa, 87% dos entrevistados acreditam que o nível de competitividade no varejo deve aumentar. É um avanço de 8 pontos porcentuais em relação a 2020.
Também mais da metade deles (52%) espera queda na rentabilidade das vendas. E 63% acreditam que a fatia das cinco maiores varejistas deve crescer.
“Os três pilares pioraram em relação ao ano passado”, afirma Maurício Morgado, chefe do centro de varejo. Muitas empresas quebraram ou deixaram de operar em 2020 por causa da pandemia. E as que sobraram passaram a ter de competir com as gigantes que são ecossistemas. Estas travam uma disputa acirrada por preço, serviço e pela melhor entrega. Fora isso, o pano de fundo é uma economia que dá sinais de que não deve se recuperar rapidamente, com um consumidor mais exigente e comprando online.
Um ponto que chama atenção é a alta representatividade das vendas online. A crença dos varejistas é que o e-commerce responda por quase 35% as vendas do seu setor em três anos. “É um número surpreendentemente alto”, diz Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem.
Essa marca é alcançada só pela China. No Reino Unido e na Coreia do Sul, a fatia do e-commerce no varejo total é de 22%. E nos EUA, no Canadá e na França está na faixa de 10%. No Brasil, o total do e-commerce chegou a 5% com a pandemia. Mas, dependendo do segmentos, está em 30%, como em eletroeletrônicos. A perspectiva, diz, é de que o online responda por 10% das vendas em seis anos.
‘Me chama no WhatsApp’
Morgado diz que a chacoalhada provocada pela pandemia que fez avançar o braço digital deve, a partir de agora, crescer ainda mais e também se sofisticar. “O me chama no WhatsApp não basta e para virar o jogo.”
É preciso começar a tocar o negócio de uma forma menos intuitiva e mais científica, baseada em dados. É exatamente nessa direção que a quase cinquentenária Caedu, rede de artigos de vestuário para classe C, com 67 lojas na Grande São Paulo, está caminhando. Antes da pandemia, a rede não vendia online, conta a presidente do Conselho de Administração, Leninha Palma.
Com o lockdown, a rede começou a vender por WhatsApp, que chegou a representar o faturamento de uma loja média. Em setembro, a companhia já estava com o próprio site. Agora, estrutura o banco de dados para conhecer os clientes.
Leninha quer ingressar num marketplace e criar o próprio ecossistema. Hoje, a lição de casa da varejista é respaldar cada passo com dados sobre a clientela. “Não existe mais aquele comércio de abrir as portas, deixar a loja bonita e ficar esperando o cliente”, afirma.