A decisão da Ford de fechar as unidades produtivas no Brasil pegou os trabalhadores de surpresa. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, disse ao Valor que a montadora convocou uma reunião para hoje e a expectativa era de um anúncio de demissão dos funcionários que haviam retornado do regime de suspensão temporária do contrato de trabalho (lay off). A fábrica de Camaçari, na Bahia, era a maior operação da companhia na América do Sul. “A direção da montadora nunca aventou que poderia um dia fechar essa fábrica”, disse Bonfim.
Segundo ele, as alegações da direção da companhia para a decisão foram a instabilidade econômica do país, causada pelo governo federal, e a pandemia. “Segundo eles, o prejuízo na região no ano passado foi de cerca de US$ 600 milhões. Foi essa a explicação para o fechamento da operação brasileira.”
O complexo de Camaçari emprega, entre funcionários da Ford e de fornecedores, 12 mil pessoas. Contanto os indiretos, segundo Bonfim, são mais 60 mil empregos. “São ao todo 72 mil pessoas afetadas. Ainda não decidimos o que fazer para minimizar os impactos. Vamos ter uma assembleia amanhã (hoje), às 5h30, na porta da fábrica”, afirmou o sindicalista. Bonfim ressaltou que a fábrica estava funcionando até ontem normalmente em dois turnos de produção. No ano passado, segundo ele, a Ford montou 140 mil carros, bem abaixo da capacidade instalada da fábrica de 250 mil unidades por ano.
Além de Camaçari, a Ford também encerrou as atividades de sua fábrica de motores em Taubaté, no interior de São Paulo. A unidade, que estava para completar 53 anos de operação, emprega 800 funcionários entre Ford e fornecedores, e mais 600 indiretos. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, Cláudio Batista Silva Júnior, a unidade estava operando em um turno e meio desde outubro de 2020 e havia um acordo de estabilidade até dezembro deste ano. “Recebemos hoje (ontem) uma ligação informando do fechamento da fábrica. Fomos pegos realmente de surpresa porque tínhamos um acordo de estabilidade com a Ford”, disse.
Segundo Silva Júnior, a unidade produziu no ano passado 60 mil motores para os modelos Ford Ka e o Ecosport. “Já havíamos programado para 2021 a montagem de 80 mil unidades”, ressaltou Silva Júnior. A fábrica tem capacidade instalada para 200 mil propulsores anuais. O sindicalista afirmou que haverá uma assembleia hoje na fábrica para definir as formas de contestação dessa decisão. Com a decisão da montadora americana, o governo do Estado da Bahia, que recebeu a notícia após uma reunião com representantes da empresa, entrou imediatamente em contato com a Embaixada Chinesa para sondar possíveis investidores com interesse em assumir o negócio no Estado.
Em nota, o governo do Estado lamentou a saída da multinacional americana do Brasil e destacou “os impactos socioeconômicos consequentes do fechamento da empresa, importante geradora de empregos e renda no Estado”. O governador Rui Costa (PT) também entrou em contato com a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) para discutir a formação de grupo de trabalho para avaliar alternativas ao fechamento da operação. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria e Máquinas e Equipamentos (Abimaq) José Velloso, a decisão da Ford é um alerta importante para o governo federal iniciar as reformas estruturais e assim diminuir o custo Brasil. “Estão matando a galinha de ovos de ouro”, disse Velloso.
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