Apesar de relatos de que empresas do setor produtivo estariam articulando uma compra conjunta de vacinas contra o coronavírus, sindicatos de trabalhadores dos setores de alimentos, bebidas e metalurgia dizem não terem sido consultados sobre o tema. Além disso, a posição dessas entidades é que a imunização dos brasileiros deve ser orquestrada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, se couber atuação do setor privado, isso só ocorreria em um segundo momento. “A nossa defesa sempre foi a de ter vacinas para todos. Tendo as vacinas, a prioridade deve ser os funcionários da saúde e, de acordo com os protocolos da OMS, os idosos e pessoas com comorbidades na sequência”, diz o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres.
A CNM, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), representa de 550 mil a 600 mil metalúrgicos em 15 Estados brasileiros. A Gerdau, que estaria no grupo de representantes do setor privado que cogitou a compra de vacinas para seus funcionários, é uma das empresas com as quais a CNM faz interlocução em favor dos trabalhadores. “Além disso, está provada a ineficácia de fazer a vacinação de pequenos grupos”, acrescenta Cayres. Segundo ele, a única hipótese em que a CNM defenderia a aquisição de vacinas pelo setor privado seria em um momento posterior, em que já houvesse imunizantes para toda a população. “Tendo vacina a todos e todas, se as indústrias quiserem comprar lotes e fazer a vacinação, como ocorre hoje com a H1N1, é outra história. Mas não se pode criar um critério de exclusão [da partes da população]”, afirma.
Em posicionamento semelhante, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), Artur Bueno, diz que o setor privado só deveria entrar na vacinação se o governo se mostrar incapaz de adquirir as vacinas. “Se o governo federal informar que não tem realmente nenhuma possibilidade de aquisição de determinado lote de vacina, aí acho que fica liberado para o setor privado”, diz. Ele destaca, porém, que nessa hipótese o calendário de vacinação e as prioridades de atendimento devem respeitar as regras do setor público, além de ser proibida a comercialização da vacina.
A CNTA, ao lado da Contac-CUT (Confederação Democrática Brasileira dos Trabalhadores da Alimentação), representa 1,6 milhão de trabalhadores da cadeia de alimentos e bebidas, que tem empresas como Ambev e JBS. Em ofício enviado ao Ministério da Saúde em dezembro do ano passado, a CNTA e a Contac pediram prioridade na vacinação também aos trabalhadores do segmento. “É de conhecimento público que as indústrias de alimentos, durante esse período de pandemia, não apenas mantiveram suas produções como elevaram o percentual de produtividade”, diz o texto. Em resposta ao pedido no dia 8 de janeiro deste ano, o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, disse que “a vacinação deve ser voltada para a redução da morbidade e mortalidade pela covid-19, de forma que os grupos de maior risco para agravamento e óbito, caso venham a se infectar, devem ser priorizados, além dos trabalhadores da saúde”.
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