A pandemia fez com que o setor de serviços fechasse o ano de 2020 com uma queda de 7,8%, o pior resultado da série histórica do IBGE.
A queda de 0,2% no volume de serviços prestados em dezembro passado levou o setor a um tombo de 7,8% no fechamento de 2020, o pior resultado anual da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou os dados ontem. Embora esperado, o resultado confirma que o setor de serviços contribuiu para a desaceleração da retomada da economia na virada de 2020 para 2021. Se soma aos dados ruins das vendas do varejo de dezembro, divulgados anteontem pelo IBGE.
A queda de dezembro quebrou uma sequência de seis meses de tímida retomada, de junho a novembro. Tímida porque foi incapaz de recuperar tudo o que o setor perdeu entre março e maio, auge da pandemia. Diferentemente da indústria e do comércio varejista, o nível da atividade de serviços ficou em dezembro 3,8% abaixo do patamar registrado em fevereiro de 2020.
Segundo Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, por causa do caráter presencial da maioria dos serviços, não dá para dissociar a plena recuperação do setor de uma solução para a crise sanitária causada pela pandemia. Apenas a vacinação em massa da população daria a segurança para o pleno funcionamento dos serviços.
“Nada vai ser mais importante do que a vacinação em massa da população, para que as pessoas percam o receio de viajar e caiam restrições ao funcionamento dos serviços presenciais”, afirmou Lobo, completando que o recrudescimento da pandemia no fim de 2020 poderá ser mais um “limitador” da retomada do setor.
As atividades de serviços mais dependentes do contato pessoal são as que estão mais longe de recuperar tudo o que perderam no auge da pandemia e também as que registraram os piores desempenhos em 2020.
Os serviços prestados às famílias – como restaurantes, hotéis, salões de beleza e lazer – fecharam o ano passado com tombo de 35,6%, o maior da história. Com a queda de 3,6% em dezembro ante novembro, ainda estão 28,2% abaixo do nível de atividade antes da pandemia. Os serviços de transporte encolheram 7,7% em 2020 – incluído nesse total, o transporte aéreo tombou 36,9% ante 2019.
“A queda de serviços já era esperada. Os números da pandemia estavam aumentando em dezembro, o que alimentou a discussão sobre maiores restrições à circulação, lockdown, afetando um setor que depende muito da circulação e da presença das pessoas no consumo”, afirmou o economista-chefe da agência de classificação de risco
“Os dados relativos a dezembro mostraram que todo mundo desacelerou já no fim do ano (2020).”
Pedro Paulo Silveira ECONOMISTA-CHEFE DA NOVA FUTURA
Austin Rating, Alex Agostini.
Efeitos. Como em torno de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) são gerados por serviços, as dificuldades com a retomada do setor mostra como a pandemia ainda afeta a recuperação plena da economia. Segundo economistas, o ritmo lento dos serviços acaba prevalecendo sobre a rápida recuperação, entre maio e outubro, ainda em meio à pandemia, da indústria e do varejo.
Embora tenha perdido fôlego em dezembro, com alta de 0,9% ante novembro, a produção industrial mais do que se recuperou do baque causado pela covid-19 e fechou o ano 3,4% acima do nível de atividade registrado em fevereiro. O varejo tinha ido além, chegando em outubro ao nível recorde em volume de vendas. Naquele mês, as vendas atingiram patamar 6,6% acima de fevereiro. Só que o tombo de 6,1% em dezembro foi um balde de água fria, um resultado muito abaixo das piores projeções. Mesmo assim, o varejo terminou o ano passado no mesmo nível de vendas visto antes da pandemia.
“Os dados relativos a dezembro mostraram que todo mundo desacelerou já no fim do ano. O PIB do primeiro trimestre certamente vai ter contração pelo fim do auxílio emergencial, pelo cenário fiscal contracionista e pela pandemia impondo novas restrições”, disse o economista-chefe da corretora Nova Futura, Pedro Paulo Silveira.
Nas contas de Agostini, da Austin Rating, o desempenho do setor de serviços em 2020 condiz com um recuo de 4,2% no PIB do ano passado. Já a LCA Consultores deverá levar para baixo as projeções de crescimento para 2021, disse Lucas Rocca, economista da consultoria.
O ESTADO DE S. PAULO