Segmento cresceu 1,1% no terceiro trimestre em relação ao anterior– abaixo dos 1,3% daquele período. Fim dos estímulos fiscais e piora do poder de compra das famílias influenciam desaceleração da atividade.
Por André Catto e Isabela Bolzani, g1
O setor de serviços, um dos principais motores do crescimento econômico no Brasil neste ano, já começa a demonstrar sinais de desaceleração. Dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o segmento cresceu 1,1% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores – abaixo dos 1,3% daquele período.
O setor ainda registrou um avanço de 4,5% no terceiro trimestre em comparação ao mesmo intervalo de 2021. Nos três meses anteriores, a alta também havia sido de 4,5%.
O que explica a desaceleração de serviços?
O movimento tem algumas explicações. A principal delas é o fim dos estímulos concedidos pelo governo à população – que já começa a se traduzir em uma renda menor das famílias disponível para esse tipo de gasto.
“É preciso lembrar que tivemos a antecipação do 13º salário, da aposentadoria, da pensão e a liberação dos saques do FGTS. Tudo isso ajudou muito o setor nos últimos meses, mas agora já começamos a ver uma normalização, com cada vez menos benefícios sendo pagos. O dinheiro que foi antecipado já acabou, e mesmo o Auxílio Brasil já não gera mais renda nova”, afirma o economista e analista da Tendências Consultoria, Thiago Xavier.
O poder de compra das famílias também é prejudicado pelos juros elevados no país, com a taxa básica (Selic) no maior patamar desde 2017, 13,75% ao ano. E o resultado é uma menor demanda no comércio, e a desaceleração do setor de serviços.
O outro lado da moeda
Apesar da projeção mais fraca por parte dos economistas, o setor ainda demonstra otimismo. Para a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), tanto este quanto o próximo ano serão de bons resultados – ainda que a previsão seja de um crescimento menor em 2023.
A estimativa do presidente-executivo da associação, Paulo Solmucci, é de um avanço real (descontada a inflação) de 8% em relação a 2019, ano pré-pandemia, e de 5% em comparação a 2021.
“Nosso setor tem muita elasticidade. Se tivermos um PIB crescendo 2,5% em 2023, por exemplo, podemos crescer perto de 4%. Nós temos, normalmente, até 50% de elasticidade em relação ao PIB”, diz Solmucci.
Esse otimismo também pode ser visto no comércio: em novembro, por exemplo, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurado todo mês pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), atingiu o maior patamar da série histórica, iniciada em 2011.
“A chegada das festas de fim de ano e o desempenho mais favorável da economia e do comércio estão incentivando as intenções de investir para absorver funcionários e estimular o consumo”, aponta a economista da CNC responsável pela pesquisa, Catarina Carneiro da Silva.
Resultados positivos
O Pina Drinques é um exemplo do momento do segmento de serviços. Desde sua abertura, em setembro de 2021 – mês em que São Paulo começou a aplicar a dose de reforço da vacina contra a Covid-19 –, o bar localizado na região central da capital paulista acumula bons resultados, segundo o proprietário Gabriel Szklo.
“Em um bom mês, faturamos cerca de R$ 50 mil [bruto]. Neste ano, a gente soma um faturamento de R$ 550 mil. Então, o valor que investimos inicialmente já foi praticamente recuperado. Contanto que haja controle, fica mais fácil administrar”, diz.
Ele ressalta que, desde a abertura do estabelecimento, o principal desafio enfrentado foi o mais comum entre bares e restaurantes: a incerteza em relação ao movimento.
“Às vezes, em uma terça-feira em que você acha que não vai acontecer nada, vem todo mundo”, diz. “E um fim de semana – que é quando a gente mais ganha dinheiro –, quando não dá movimento, basicamente você joga a semana fora e o mês vai para o buraco”, continua.
Szklo prevê um fim de ano positivo e um 2023 também de bons resultados.
“Novembro e dezembro são sempre muito melhores para bar e restaurante. Com décimo terceiro salário e festa de firma, esses meses rendem bem mais do que no começo do ano. Tanto é que decidimos fechar por 20 dias em janeiro, porque precisamos de férias”, conta, destacando que também planeja novidades para o meio do ano que vem.
“O plano é trocar a carta de drinques. Isso dá uma oxigenada. Vamos conseguir fazer um investimento grande no menu”, revela.
Esse cenário deve continuar nos próximos meses?
Mesmo com as projeções mais otimistas das associações, o segmento ainda passa por reajustes, e a previsão do mercado é de um crescimento cada vez menor para os serviços e para a economia brasileira como um todo.
Dados recentes de um levantamento da Abrasel, por exemplo, apontam que 18% dos bares e restaurantes analisados ainda operavam com prejuízo em outubro deste ano. O número representa uma boa melhora do que o observado no auge da pandemia, quando 82% dos estabelecimentos funcionavam no vermelho, mas ainda está bem acima da médica histórica, de 5%.
Segundo Solmucci, parte do que explica esse resultado é o nível elevado da inflação dos alimentos e a queda na renda das pessoas, que obrigaram os estabelecimentos a segurarem os repasses nos preços.
Outra explicação, diz o coordenador de contas nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), Cláudio Considera, vem dos efeitos tardios das elevações da taxa de juros.
“O maior endividamento e volume de calotes entre as famílias também dificulta o crescimento da atividade”, diz Considera, destacando que as incertezas fiscais que ainda existem no país também são um ponto de atenção.
Para Considera, a expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresça em torno de 2% neste ano, enquanto para Xavier, da Tendências, a previsão é de uma alta de 2,8%. Já para o setor de Serviços, ambos os especialistas projetam um avanço de 4% em 2022.