Iniciativas vão desde uma empresa publicando abertamente a remuneração de todos os cargos até países multando quem não provar que paga igual para homens e mulheres
Por Pilita Clark
Como você se sentiria se seu empregador decidisse publicar on-line uma lista mostrando os nomes de todos os membros da equipe da empresa, além de sua função, onde moram e exatamente quanto cada um ganha? Uma empresa criada há 12 anos chamada Buffer, que ajuda as empresas a se venderem nas redes sociais, tem feito isso desde 2013. O cofundador e CEO, Joel Gascoigne, nascido no Reino Unido (salário US$ 298.958; endereço: Boulder, Colorado) achou que as vantagens de ser tão aberto poderiam incluir acabar com a discrepância salarial de gênero na empresa.
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Para pessoas que acreditam que tornar os salários mais públicos ajuda a zerar essas diferenças, sua empresa se tornou, de certa forma, um modelo a ser imitado. Mas ainda não foi. São poucas as empresas que tomaram esse caminho, e eu nunca tive total certeza de que deveriam, considerando-se que a Buffer tinha uma disparidade salarial de gênero de 15% já em 2019, e de 12% em 2020.
Esse percentual não era muito melhor que a diferença salarial total nos EUA, onde as mulheres que trabalham em período integral o ano inteiro normalmente ganharam 17% menos que os homens em 2020, uma disparidade que é ainda maior para mulheres negras. Mas, neste ano, a Buffer revelou que sua diferença salarial por gênero tinha caído para apenas 0,4%, o que significa que virtualmente desapareceu.
Pelo fato de a empresa ter somente 84 funcionários, a notícia não teve repercussão. Além disso, a análise da Buffer, sugeria uma série de outros motivos, como mudanças nos escalões superiores que criaram uma equipe executiva quase totalmente feminina.
Mesmo assim, dar publicidade aos salários teve certa influência, disse uma porta-voz na semana passada: “Acreditamos que esse nível de transparência nos obrigou a continuar a melhorar e a reduzir essa diferença salarial de gênero ano a ano”. Isso é importante em uma época em que as iniciativas para tornar os salários mais transparentes estão crescendo na União Europeia, Reino Unido, Estados Unidos e em outras regiões, embora não saiba de nenhuma tão arrojada.
Uma medida comum, que o Reino Unido pretende testar em um programa-piloto divulgado em março: a proibição de pedir o histórico salarial aos funcionários potenciais. Perguntas desse tipo fazem com que as mulheres, em especial, se sintam menos confiantes em negociar um salário maior, diz Andrew Bazeley, da entidade assistencial por igualdade de gênero que fez campanha contra esse tipo de indagação.
Outra medida que deve ser lançada em Nova York determina que os empregadores publiquem faixas salariais em anúncios de emprego. No Reino Unido, onde as pessoas que empregam 250 ou mais funcionários têm de informar suas diferenças salariais de gênero desde 2017, Bazeley diz que as que empregam mais de 250 funcionários zeraram suas diferenças. Em última instância, esse tipo de esforço não deveria ser necessário.
Países do mundo inteiro têm leis que determinam pagamento de salário igual para função igual há décadas. As diferenças salariais permanecem em parte porque as mulheres predominam em funções de baixa remuneração mas também porque, mesmo quando exercem as mesmas funções que os homens, tendem menos a negociar aumento de salário.
Eu desejo que mais países sigam o bastião do avanço feminino, a Islândia. Uma política salarial adotada no país em 2018 prevê que empresas com mais de 25 funcionários têm de provar que pagam o mesmo a homens e mulheres pelo exercício de funções de igual valor. As organizações recebem certificação quando fazem isso e as que não fizerem correm o risco de ter de pagar uma multa diária de até 50.000 coroas islandesas – cerca de 300 libras esterlinas (R$ 1.923,00).
Dos 414 grupos que deveriam ter recebido certificação até agora, 79 não concluíram o processo, me informou a instituição do governo que zela pela igualdade. Nenhuma foi multada até agora, e a instituição diz que, embora haja sinais de que a política está reduzindo a discrepância salarial, não se saberá ainda por alguns anos qual foi o impacto total. Mesmo assim, se algum país romper essa duradoura desigualdade, porei a mão no fogo por ele.