O Estado de S.Paulo – 19/09/2021
A falta generalizada de produtos importados especialmente da Ásia desde o início da pandemia levou a indústria brasileira ao consenso da necessidade de nacionalizar parte dos itens que vêm de fora do País.
Porém, esse movimento, que resultaria em desenvolvimento de https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpgs locais e empregos, encontra dificuldades em se concretizar em razão do cenário de incertezas econômicas e políticas e principalmente pelo fato de que produzir no Brasil continua sendo mais caro do que em vários países.
A escassez de máscaras e respiradores na chegada do coronavírus ao Brasil, que depois se estendeu, entre outros, para semicondutores, insumos para a indústria química e peças para automóveis, se agravou ainda mais com o aumento dos preços desses itens e dos fretes, além da indisponibilidade de contêineres e de navios para entregas. O caso dos semicondutores é o mais visível diante dos anúncios de paradas de produção em várias montadoras.
Desde o ano passado, diversas entidades de classe criaram grupos envolvendo representantes das cadeias produtivas em que atuam e do governo para discutir a criação de políticas de nacionalização para produtos essenciais ao País. Há grupos de setores como automotivo, químico, calçados e da construção.
Ainda não há ações concretas, mas há algumas iniciativas individuais de empresas que tentam escapar da dependência de poucos fornecedores externos.
Entre elas está a Thermoval, fabricante de válvulas para as áreas agrícola, automotiva, de energia, saneamento, mineração e alimentos e bebidas, entre outras. O diretor-geral, Rodolfo Garcia, diz que o aumento do custo do frete e do tempo de entrega levou o grupo a desistir de importar peças da China.
“Antes o prazo máximo de entrega era de 90 dias e agora chega a 270 dias para alguns itens.” Garcia fez parceria com uma empresa brasileira para a produção de 20% de peças forjados, e ainda importa o restante. Em 2022, a empresa terá linha própria para o processo e fará 100% dos itens em Cravinhos (SP), onde está sua sede.
Brasil é pouco competitivo
“Houve um repique de substituição de produtos importados no fim de 2020 e início deste ano, mas não teve vida longa”, afirma Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV/Ibre.
“O Brasil é pouco competitivo para produzir qualquer coisa e me parece pouco provável, com a estrutura de riscos que temos, que se retome um processo sustentado de substituição de importações”, afirma Ribeiro.
Ele lembra que a indústria local vem há muito tempo num processo de redução de tamanho porque a produtividade no País é baixa, o custo de acessórios é alto, a carga de imposto é elevada e o sistema tributário é complexo. “É um País fechado, que agora vai sofrer choques importantes que vão diminuir sua capacidade de produção, como a questão hídrica.”
O economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo, afirma que, apesar da reversão de expectativas de crescimento da economia, a intenção de investimento por parte generalizada da indústria segue alta desde o início da pandemia.
Parte disso, acredita ele, está relacionada à expectativa de internalização de produtos. Em 2019, o índice fechou em 58,1 pontos, subindo para 59,1 ao fim de 2019. Em agosto passado estava em 59 pontos. No momento, contudo, a CNI não consegue dizer se a expectativa de nacionalização está sendo concretizada.
“Há muitas coisas atrapalhando essa intenção, pois a pandemia está trazendo um monte de incertezas para investimentos, seja por conta do próprio cenário ou da questão do câmbio”, afirma Azevedo.
Outra barreira, ressalta o economista, é a incerteza política e o que isso causa, por exemplo, em relação a trâmites como o da reforma tributária. “Investimento financeiro é um comprometimento de muitos anos e não saber em que sistema tributário se vai operar é mais um problema para a tomada dessa decisão.”