Os efeitos provocados na economia pela pandemia do novo coronavírus devem afetar os salários dos trabalhadores brasileiros por até nove anos, de acordo com o Banco Mundial.
As marcas deixadas pela crise sanitária na América Latina serão sentidas sobretudo pelos trabalhadores com menor qualificação e em uma posição mais vulnerável no mercado de trabalho, lembra a instituição.
A avaliação faz parte do relatório “Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-Covid-19”, divulgado pelo Banco Mundial nesta terça-feira (20).
“No Brasil e no Equador, embora os trabalhadores com ensino superior não sofram os impactos de uma crise em termos salariais, e sofram impactos de curta duração em matéria de emprego, os efeitos sobre o emprego e os salários do trabalhador médio ainda perduram nove anos após o início da crise”, diz o texto.
Os resultados sugerem que os trabalhadores menos qualificados e os trabalhadores mais velhos no Brasil foram os mais gravemente prejudicados pela crise, diz o documento.
Pesquisa recente do Datafolha aponta que, com a crise sanitária e o aumento do desemprego, 45,6% dos brasileiros dizem que a situação financeira ficou mais difícil durante a pandemia do novo coronavírus.
Como agravante, segundo o Banco Mundial, no Brasil, na Argentina e no Chile, as formas de trabalho não padronizadas (incluindo trabalhadores autônomos) estão crescendo no lugar do emprego formal, embora o perfil desses trabalhadores tenha mudado desde a metade dos anos 1990.
“As pessoas em empregos formais não padronizados hoje são mais jovens e têm um nível de escolaridade mais alto do que antes.”
O relatório também fala de um efeito cicatriz no mercado de trabalho por conta da crise e avalia que a crise gerada pela pandemia ressaltou a necessidade de renovação dos instrumentos de proteção social, para tentar preservar a renda da população contra os choques no mercado de trabalho.
O país tem enfrentado taxas recordes de desocupação por conta da pandemia. Entre fevereiro e abril, a taxa bateu em 14,7%, e o número de desempregados totalizou 14,8 milhões. Os dados integram a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na avaliação do banco, uma das saídas para reduzir a crise seria ampliar o acesso aos programas nacionais de seguro-desemprego, fazer transferências mais dinâmicas das redes de proteção e manter um sistema robusto de serviços de apoio ao reemprego.
“Da mesma forma, os princípios de proteger os trabalhadores, em vez de proteger o emprego, e desvincular as proteções, podem não ajudar na crise no curto prazo, mas são aplicáveis no médio prazo.”
O Banco Mundial pondera, no entanto, que benefícios como o seguro-desemprego têm efeitos limitados para amortecer as perdas causadas pela crise sanitária, já que é garantido aos trabalhadores formais, mas os informais e autônomos (mais afetados pela crise) ficam de fora da maioria dos benefícios.
FOLHA DE S. PAULO