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Dados do instituo de pesquisa ADP mostram que 70% os jovens de 18 a 24 anos preferem procurar outro emprego ao ter que voltar presencial ao escritório
Por Allan Gavioli
É indiscutível afirmar que os últimos dois anos mudaram para sempre as relações de trabalho no mundo inteiro. Com a pandemia forçando empregadores e empregados a se atualizarem e mudarem as práticas e os processos de trabalho, vivemos o novo normal da retomada presencial e do trabalho hibrido.
As empresas que desejam uma volta a normalidade do pré-pandemia, com escritórios cheios e e a obrigatoriedade do trabalho presencial, podem sofrer um baque instantâneo na força que é considerada o futuro do mercado trabalho: os jovens, principalmente os nascidos a partir de 1990 – a Geração Z.
Um novo estudo da ADP Research Institute mostra que pode ser especialmente desafiador manter a Geração Z em um trabalho que exija uma rotina presencial constante.
O novo relatório da ADP, “People at Work 2022: A Global Workforce View”, que agrega resultados de uma pesquisa de novembro de 2021 com mais de 32 mil trabalhadores em 17 países – incluindo o Brasil -, mostra que 71% dos jovens de 18 a 24 anos afirmam que “se meu empregador insistisse em que eu voltasse ao meu local de trabalho em tempo integral, eu consideraria procurar outro emprego”.
O percentual é relativamente maior nessa faixa etária do que entre trabalhadores mais velhos. “Para esse segmento de trabalhadores, a mudança do local de trabalho para o lar foi bastante natural”, explicou Nela Richardson, economista-chefe da ADP e coautora do relatório, ao Business Insider, sobre as discrepâncias entre as respostas das diferentes gerações.
“O home office parecia uma extensão de suas vidas sociais em algum sentido, porque eles ainda não haviam sido cimentados pelo local de trabalho. E assim os desafios de voltar ao trabalho são mais formidáveis. Estamos falando de jovens trabalhadores que nunca colocaram o pé na porta e honestamente não sabem o que estão perdendo em termos de local de trabalho”, finaliza a executiva.
O relatório afirma que boa parte dos jovens trabalhadores podem ter ingressado na força de trabalho durante a pandemia, onde o trabalho remoto se tornou mais comum. Assim, essa geração pode ter se acostumado a ver colegas de trabalho através de telas e não ter que acordar cedo para se sentar em uma mesa de escritório, e essa parece ser a realidade de trabalho para esses jovens.
Ainda de acordo com Richardson, há uma falta de entendimento claro entre a necessidade de voltar presencial e os bônus sociais que isso acarreta. Para ela, esses jovens podem estar perdendo uma ótima oportunidade de construção de relacionamentos com colegas, mas a maior parte dessa geração simplesmente não se importa em estar no escritório. “Em geral, estamos vendo os trabalhadores colocarem mais valor e prioridade no tempo”.
A executiva destaca, no entanto, que os resultados também mostram uma linha diferente de raciocínio: dar mais flexibilidade nos horários e locais de trabalho pode ser uma maneira de atrair e reter trabalhadores hesitantes em voltar ao escritório em tempo integral.
“Se você olhar para a pesquisa, não é necessariamente que as pessoas querem apenas trabalhar em casa, é que elas querem mais flexibilidade em seu dia de trabalho”, afirma.
A pesquisa da ADP ouviu 32.924 trabalhadores de todo mundo entre os dias 1 e 24 de novembro de 2021. Foram ouvidos 15,6 mil funcionários da Europa (França, Itália, Alemanha, Países Baixos, Suíça e Reino Unido), 3,8 mil na América do Norte (EUA e Canadá), 5,7 mil na América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) e 7,6 mil na Ásia-Oceania (Austrália, China, Índia e Singapura).
Brasil é dado a parte
Enquanto a média global mostra que 71% dos jovens não se sente totalmente a vontade em retomar ao trabalho presencial e prefere trocar de emprego, os dados do Brasil apresentam uma tendência contrária. A média nesse recorte dentre os trabalhadores brasileiros da Geração Z ficou em 50%.
“Os brasileiros estão mais à vontade com a ideia de retornar ao local de trabalho em tempo integral do que seus pares no região ou em qualquer outro lugar do mundo. Mesmo assim, metade deles consideraria procurar outro emprego se o empregador exigia que fizessem isso”, diz o relatório, acrescentando que o trabalhador brasileiro parece mais adaptável a mudanças.
“O espírito empreendedor é forte, e também há um senso de justiça, igualdade e inclusão para todos – algo que é muitas vezes sendo levado em mãos dos próprios funcionários, se não estiver sendo conduzido pelos empregadores”, finaliza o relatório.
Produtividade é o vilão do home office?
Uma máxima entre aqueles que defendem um modelo presencial constante é de que a produtividade do funcionário sempre será maior no escritório. No geral, entretanto, os trabalhadores se sentem mais produtivos no trabalho remoto.
Segundo a pesquisa “Modelos de trabalho pós-pandemia”, da PwC e do Page Group, 68% dos funcionários entrevistados acreditam que são mais produtivos ou muito mais produtivos no trabalho remoto. Apesar disso, essa não é visão da maioria da chefia. Para 40%, não há diferença nas entregas quando o trabalho é flexível. Nesse estudo, foram ouvidos cerca de mil profissionais no Brasil, de 17 de janeiro a 4 de fevereiro deste ano.
Segundo Tatiana Fernandes, sócia e líder de Capital Humano da PwC Brasil, já havia uma expectativa de uma diferente entra percepções quando iniciaram a pesquisa.
“Em geral, o tempo de deslocamento para chegar ao local de trabalho tende a ser maior entre colaboradores do que entre executivos. Assim, o ganho de produtividade tende a ter uma percepção maior entre quem ganhou esse tempo”, diz.
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