Recompensa por habilidades, e não por cargos, é uma tendência na carreira

Quase 90% dos líderes ouvidos em uma pesquisa da Deloitte disseram que as habilidades estão se tornando mais importantes para a forma como as organizações desenvolvem talentos, gerenciam carreiras e valorizam funcionários

Por Barbara Bigarelli — De São Paulo

Um estudo global divulgado em julho pela Deloitte sugere que as empresas parem de olhar para cargos e passem a focar em habilidades. Entre os mais de 200 líderes ouvidos no primeiro trimestre de 2022, em 10 países, incluindo o Brasil, quase 90% disseram que as habilidades estão se tornando mais importantes para a forma como as organizações desenvolvem talentos, gerenciam carreiras e valorizam funcionários. Menos de 30%, porém, afirmaram que suas organizações já adotam alguma práticas com essa finalidade.

Empresas criam novos caminhos para profissionais crescerem na carreira

Em uma pesquisa da Willis Towers Watson (WTW), essa tendência é definida como “multicapacitação”. Dois quintos das 1,650 mil empresas entrevistadas em 54 países – 115 no Brasil – disseram que é um fator significativo na maneira como irão evoluir suas formas de trabalho nos próximos três anos. Marcos Morales, diretor executivo de trabalho e recompensas da WTW Brasil, afirma que no exterior algumas empresas já estudam como reconhecer e remunerar profissionais por suas habilidades – e não pelos cargos. “Começam a surgir pesquisas salariais diferentes para entender quanto o mercado paga por determinado conhecimento, independentemente de qual área ou função é utilizado.”

Ele reconhece que gerenciar carreiras por habilidades e não cargos no Brasil envolve lidar com riscos trabalhistas, mas que as empresas já poderiam flexibilizar algumas estruturas para garantir que profissionais consigam crescer por aquisição de novas competências. “Até poderia manter a terminologia tradicional de cargos – júnior, pleno, especialista, sênior -, porque continuarão existindo ascensões verticais, mas o mais importante é que o profissional, quando entra na empresa com um conjunto de habilidades, consiga enxergar, através da estrutura da organização e ferramentas oferecidas, que se for para um lado da aquisição de conhecimento, essas são as carreiras que poderá potencialmente acessar. Se for para outro lado, terá outros caminhos.”

A Môre, empresa de produtos e serviços digitais criada há dois anos e com 160 funcionários, diz que tenta estimular a “multiplicidade” de carreiras internamente ao demandar que todo o quadro desenvolva o que define como “habilidades essenciais”. Desenvolvedores, designers e UX writers, por exemplo, precisam estudar gestão de conflitos, capacidade argumentativa e apresentação de projetos e ideias.

Os profissionais têm duas avaliações anuais de desempenho, definidas a partir do 6º e 12º mês de ingresso na empresa – e não por um calendário geral de avaliações. E, ao longo do ano, através de plataformas e ferramentas, a Môre diz ouvir as demandas dos funcionários em 36 momentos. “Isso tira a angústia do profissional para um alinhamento, avaliação, capacitação e até para saber seus próximos passos de carreira”, diz o CEO Léo Xavier.

https://valor.globo.com/carreira/noticia/2022/07/25/recompensa-por-habilidades-nao-cargos-e-uma-tendencia.ghtml

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