Alvo de grande debate nas últimas semanas, devido ao corte no Orçamento 2021 e das dificuldades de negociação entre servidores e o próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a realização na pandemia, o Censo Demográfico é uma operação logística gigantesca. São mais de 230 mil pessoas contratadas, temporariamente, para os trabalhos de coleta de dados, supervisão, apoio técnico-administrativo e apuração dos resultados, além da equipe de servidores do instituto.
Os recenseadores visitam todos os cerca de 71 milhões domicílios dos 5.570 municípios de todo o país, incluindo áreas urbanas e rurais. O país é percorrido em três meses pela equipe do Censo, geralmente nos meses de agosto, setembro e outubro, a cada dez anos. O último Censo foi feito em 2010 e o seguinte estava marcado para 2020, mas foi adiado por causa da pandemia. Agora, em 2021, sobraram apenas R$ 53 milhões para sua realização, de um orçamento de R$ 2 bilhões, já reduzido anteriormente, inviabilizando a pesquisa. Uma liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) determinava a realização em 2021, mas a decisão da maioria em plenário na sexta-feira passada foi de que o governo poderá fazer o Censo no ano que vem.
O trabalho é feito com a participação das 560 agências das 27 unidades estaduais do IBGE, com 1.450 coordenações regionais e 6.100 postos de coleta municipais. O diretor da Executiva Nacional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (Assibge) Antonio da Matta explica, por exemplo, que esses mais de 6 mil postos de coleta são a base de trabalho para os recenseadores e agentes censitários. “É preciso uma grande negociação com as lideranças locais, especialmente das prefeituras, para a cessão de locais onde eles possam ser montados, para evitar custos adicionais para o IBGE.” Para auxiliar os recenseadores na identificação dos domicílios, são utilizados 5.570 mapas municipais, 30 mil mapas de cidades, vilas e localidades e mais de 420 mil arquivos digitais e impressos dos setores censitários, que são as pequenas áreas nas quais são divididas o território brasileiro para a pesquisa, cada uma com cerca de 300 domicílios.
É a magnitude da operação censitária uma das preocupações do sindicato com uma realização apressada, como vinha sendo considerado, além das condições de segurança em meio à pandemia para os profissionais e para a população como um todo, que recebe os recenseadores em suas casas. Entre os pontos de atenção, estão a não realização do teste no município de Paulo de Frontin (RJ), o atraso no calendário tradicional de coleta (de agosto a outubro) e o risco elevado de não respostas por causa da covid-19. “Fornecer dados frágeis ou com baixa qualidade pode ser um problema maior que não fornecer”, diz Bruno Perez, que é coordenador do Núcleo Chile do Assibge. Ele aponta que o acúmulo de problemas aumenta os riscos. “Olhando individualmente, parecem questões possíveis de serem contornadas, mas tornam a operação mais arriscada”, afirma.
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