Valor Econômico
Boletim Salariômetro mostra que em março média das negociações apenas empatou com a variação do INPC
Por Marcelo Osakabe — De São Paulo
Os trabalhadores brasileiros completaram, em março, o 25º mês consecutivo sem ganhos reais em seus rendimentos nas negociações salariais, mostra o boletim Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). A mediana do reajuste obtido nas negociações salariais coletivas (acordos e convenções) no mês passado empatou com a inflação calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 12 meses, de 10,8%.
Desde fevereiro de 2020 a mediana dos reajustes não indica aumento real dos salários. No mês passado, 49,9% das negociações resultaram em reajuste abaixo do índice de referência. Somente 16,1%, ou 1 em cada 6 negociações, resultaram em ganho acima do INPC acumulado no período.
“O quadro está parecido com o dos meses anteriores, mas ligeiramente pior. Em 12 meses, a proporção de negociações que resultaram em reajuste abaixo do INPC era de 46,7%”, nota Hélio Zylberstajn, professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e coordenador do Salariômetro.
Para ele, a perspectiva para os próximos meses também é negativa. Enquanto a economia patina e a taxa de ocupação não se recupera, houve piora das expectativas de inflação, que prometem se manter perto dos dois dígitos pelo menos até o início do segundo semestre.
Segundo projeções do Santander e do Itaú para os próximos meses, o INPC só deve voltar a um dígito em algum momento entre setembro e outubro. O pico deve ser atingido em maio, quando o primeiro calcula um indicador em 12,3%, e o segundo, em 12,1%.
Diante desse cenário, é esperado que tradicionais mecanismos limitadores de reajustes também cresçam em importância. Em março, os reajustes escalonados estiveram em 4,7% do acordos. Já a aplicação de um teto para o reajuste foi implementado em 12,2% deles.
O trabalho híbrido continua a crescer nas negociações. A presença de cláusulas regulando esse tipo de regime chegou a 1,4% em março, aumento de 0,5 ponto porcentual em relação a março de 2021. Os quatro itens mais negociados nesse aspecto são controle de jornada, ajuda de custo, horários flexíveis e prevenção de acidentes.
“A regulamentação do regime híbrido por meio da negociação coletiva tem crescido. Estamos evoluindo no sentido de tornar desnecessário regulamentar esse formato em lei”, diz Zylberstajn.