A produção industrial brasileira recuou 0,7% em fevereiro na comparação com janeiro, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE. Com o resultado, o setor interrompe uma sequência nove meses de alta. A falta de matérias-primas, que levou muitas montadoras a suspender produção nas últimas semanas, afetou a fabricação de veículos, puxando o resultado do setor para baixo.
O mercado projetava crescimento de 0,4% do setor industrial, segundo economistas ouvidos pela Reuters. Em 12 meses, a indústria acumula queda de 4,2%. Na comparação com fevereiro de 2020, cresceu 0,4%.
Nas últimas semanas, várias montadoras suspenderam produção por falta de peças. Embora a paralisação tenha ocorrido em março, os problemas no suprimento já afetavam a produção de veículos no mês anterior.
Em fevereiro, o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias apresentou queda de 7,2%, na comparação com janeiro, segundo o IBGE
“O ramo de veículos vem sendo muito afetado pelo desabastecimento de insumos e matérias-primas. A produção de caminhões vem tendo resultados positivos. Porém, a de automóveis e autopeças vem puxando o índice geral para o campo negativo”, avalia André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal.
De acordo com o pesquisador, além do desabastecimento, o grande número de desempregados, o aumento de preços, dificuldades no mercado internacional e a interrupção da concessão do auxílio emergencial no final do ano têm influenciando negativamente a cadeia produtiva.
A indústria foi o primeiro setor a se recuperar do impacto da pandemia, zerando as perdas em setembro. Mas o baque da segunda onda de Covid-19 deve afetar o desempenho da produção industrial em 2021.
Indústria extrativa recua
O pagamento da nova rodada de auxílio emergencial começa em abril, mas especialistas avaliam que não será suficiente para que a demanda por bens industriais crescer muito.
Há o temor que a falta de peças, como semicondutores, afete outras indústrias. A China, principal produtora dos semicondutores, redirecionou parte de sua produção ao mercado interno e a regiões e segmentos econômicos com maior poder de compra, afetando o consumo no Brasil.
Além do segmento de veículos, a indústria extrativa também teve queda acentuada em fevereiro (-4,5%), bem como o segmento de produtos têxteis (-9,0%). Na pandemia, os brasileiros vêm comprando menos roupa.
Já máquinas e equipamentos continua no terreno positivo (+2,8%).
Considerando as quatro grandes categorias, econômicas, apenas os bens intermediários teve desempenho positivo, com leve avanço de 0,6% em fevereiro.
Bens de consumo duráveis, grupo no qual estão carros e eletrodomésticos, recuou 4,6%, no segundo mês seguido de queda. Bens de capital teve retração de 1,5%, apesar da taxa positiva do segmento de máquinas e equipamentos.
E bens de consumo semi e não-duráveis, como produtos alimentícios, recuou 0,3% no mês.
O GLOBO