O Estado de S.Paulo – 12/10/2021
Artigo Ana Carla Abrão
Crédito é motor de crescimento. É fonte de investimento, em particular para os que não têm acesso a capital próprio para financiar o seu negócio. Para pequenas empresas, é a diferença entre crescer ou apenas sobreviver. Em alguns casos, como durante a pandemia de covid-19, o acesso a crédito para elas é a única forma de se manterem vivas.
O início da pandemia trouxe o risco de vermos desaparecer – além de desempregar -, boa parte das pequenas empresas. Concentradas em atividades diretamente afetadas pela brusca interrupção da atividade econômica e responsáveis por empregar grande contingente de trabalhadores, foi o Pronampe – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, instituído pela Lei Complementar 123, o que evitou que isso acontecesse.
Garantidos pelo FGO – Fundo Garantidor de Operações, foram concedidos mais de R$ 60 bilhões em crédito para pequenas e médias empresas entre 2020 e 2021, segundo o Ministério da Economia. O Pronampe se tornou permanente com a Lei 14.161, de junho de 2021.
Mas tornar o programa permanente não garante o fluxo necessário de recursos para as nossas pequenas empresas, em particular em tempos de paz e tendo como principal objetivo não mais a sobrevivência, mas sim o crescimento e a sustentabilidade de longo prazo dos seus negócios. Elas querem e precisam de mais.
Recente pesquisa efetuada pela Oliver Wyman em países asiáticos, mas aplicável a outros países e, em especial, ao Brasil, mostra que pequenos negócios também estão em busca dos benefícios da crescente digitalização e de maior inovação.
A disrupção digital, que já se tornou uma característica das transações financeiras para pessoas físicas, começa a ditar tendências também nas pequenas empresas.
Patinho feio do crédito, por suas características opacas do ponto de vista de informação e pela volatilidade que as tornam mais arriscadas do ponto de vista do crédito, são essas pequenas empresas as que mais devem se beneficiar de elementos como a abertura do mercado financeiro e a inovação e suas melhores ofertas digitais.
Rapidez no processo de decisão e entendimento do negócio são, segundo a pesquisa, fatores primordiais de sucesso e de desejo do segmento. Ambos alinhados ao maior compartilhamento de informações e à melhor experiência do cliente que vêm com eficiência e inovação.
Emergem da pesquisa conclusões que corroboram essa tendência, na Ásia ou aqui. São os bancos incumbentes de grande porte os que ainda dominam esse segmento na concessão de crédito. Bancos regionais (ou cooperativas, no caso do Brasil) detêm posição de destaque na sequência, seguidos de fintechs – ainda distantes, mas em crescimento.
Embora seja o custo do crédito o principal fator de decisão na tomada de novos empréstimos, flexibilidade nos termos de repagamento e rapidez na decisão estão no topo das necessidades e são os itens mais valorizados no processo de crédito.
Ainda é a falta de separação financeira entre a pequena empresa e seu dono a principal dificuldade desse mercado, gerando complexidades adicionais para a avaliação de crédito e eventuais ruídos na concessão de garantias pessoais, principais fontes de barateamento de empréstimos nesse segmento.
Nova dinâmica deverá surgir também nesse mercado a partir da crescente digitalização e dos casos de uso e possibilidades de inovação financeira que acompanharão o processo de Open Banking no mundo e no Brasil.
Os volumes de crédito que cresceram nesse segmento durante a pandemia, mais pela urgência e pela garantia do programa governamental e menos por esses fatores de disrupção, deverão apresentar um novo balanço de forças daqui para frente.
Empregadoras, inovadoras e dinâmicas, as pequenas empresas são o berço de grandes negócios. Mas nem todas vingam. Um mercado de crédito mais inovador, com maior fluxo e acesso a informações e que ofereça soluções adequadas – de crédito, de gestão e de investimentos – pode ser uma nova fonte de dinamismo para esse segmento de empresas e empreendedores que lutam para sobreviver num Brasil que teima em andar para trás.
*ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN.