O pior momento para o mercado de trabalho já passou. Pelo menos, essa é a opinião de Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Segundo ele, apesar de a taxa de desemprego ter chegado a 14,7% no trimestre encerrado em abril, 0,5 ponto porcentual acima do período encerrado em janeiro, o número de pessoas empregadas teve uma estabilidade. O que aumentou foi a força de trabalho, o que impactou a taxa de desemprego.
Para o economista, nem mesmo o crescimento mais robusto esperado para este ano será suficiente para que a taxa volte aos níveis pré-pandemia. Para acelerar o processo, Zylberstajn afirma que são necessárias regulações e reformas para estimular o investimento em infraestrutura para o País voltar a ter uma retomada contínua. “Mas precisamos mais de uma resposta política do que econômica para retomar os empregos.” Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.
Como o senhor observou o resultado do emprego divulgado pelo IBGE?
O emprego no Brasil está estagnado, o que não é bom, mas é melhor do que se estivesse caindo. Não houve neste último trimestre nem grandes reduções e nem grandes perdas no mercado de trabalho. Em todas as categorias houve variações dentro de uma margem de erro e também houve uma estabilização no número de empregos. As empresas não querem demitir, pois se vier a retomada, elas vão ter de recontratar e treinar funcionários. Isso custa caro. Mas a força de trabalho teve um aumento de 400 mil, então impactou no resultado.
Há economistas que apontam uma alta do PIB de mais de 5% em 2021. Podemos esperar resultados melhores ainda em 2021?
Um crescimento de 5% a 6% neste ano será positivo e vai gerar empregos, mas ainda longe dos patamares de antes da pandemia. Só conseguiremos retomar esses números com investimentos. E isso depende de o Congresso e do governo trabalharem para assegurar reformas e regulações eficientes e que sejam respeitadas. Mas, para crescer, precisamos mais de uma resposta política do que econômica.
É possível acelerar esse processo?
Só vamos fazer isso com políticas que favoreçam, principalmente, o investimento em infraestrutura. É um investimento que tem um efeito multiplicador grande e é um setor que consegue absorver as pessoas de menor qualificação. O Estado sempre foi o grande investidor em infraestrutura, mas agora o País está quebrado. A nossa esperança é que os capitais privados venham em grande volume para a infraestrutura e estamos vendo isso acontecer, mas ainda precisa de mais. Não vamos conseguir ocupar todo mundo em um curto espaço de tempo.
É necessário, então, continuar com o auxílio emergencial?
Sim, pois vamos precisar continuar dando assistência a essas pessoas. A sociedade percebeu isso. Só por meio do mercado e do crescimento econômico não vamos conseguir dar apoio a toda essa população. Em algum momento, no futuro, as pessoas vão ser absorvidas, mesmo aquelas sem tanta qualificação, pois há muitas oportunidades na construção civil. Mas, antes, precisamos voltar a crescer.
Como o senhor avalia a respossta do governo para a manutenção dos empregos?
A política foi um sucesso. E os programas de manutenção do emprego e renda estão fazendo a diferença. Temos ainda 2,2 milhões de pessoas na CLT e com estabilidade ainda no mês de junho por causa dos acordos do fim do ano passado. Na minha estimativa, essa política ajudou a manter 12 milhões de empregos.
O ESTADO DE S. PAULO