Pandemia exclui mães do mercado de trabalho

A pandemia da covid-19 está excluíndo as mães trabalhadoras da força de trabalho mundial de maneiras que podem prejudicar as perspectivas econômicas das mulheres por muitos anos, de acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas (ONU).

Em muitos países, a principal razão é a necessidade de cuidar dos filhos. O estudo, divulgado nesta semana pela ONU Mulheres (Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres), mostra que, no pico das quarentenas do começo deste ano, 1,7 bilhão de crianças foram afetadas pelo fechamento de escolas. Cerca de 224 milhões continuam fora da escola, o que obriga muitas famílias a escolher a quem caberá cuidar delas.

“São predominantemente as mulheres – que muitas vezes recebem salários menores e têm menos segurança no emprego do que os homens – que estão sacrificando suas carreiras”, conclui o estudo. Em alguns países, as mulheres trabalham até 11 vezes mais que os homens no cuidado de parentes e vizinhos, sem remuneração. Os homens também enfrentam dificuldades. Um estudo realizado pela ONU Mulheres e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que, em 55 países de renda alta e média, cerca de 29 milhões de homens perderam ou deixaram seus empregos entre o quarto trimestre do ano passado e o segundo trimestre de 2020. Essa é mais ou menos a mesma quantidade de mulheres que perderam ou deixaram seus empregos e, dado que há menos mulheres do que homens na força de trabalho como um todo, o impacto é maior.

A preocupação da ONU neste momento é que muitas dessas mulheres possam simplesmente não conseguir mais voltar a trabalhar, em especial nas regiões atingidas pela covid-19 de forma mais dura, como a América Latina, onde o estudo constatou que 83 milhões de mulheres estão fora da força de trabalho, em comparação com 66 milhões antes da pandemia.


Os EUA enfrentam problemas semelhantes. Muitos empregos perdidos foram no setor de serviços, como varejo e serviços de alimentação e cuidados pessoais, que têm forte concentração de trabalhadoras e são particularmente vulneráveis aos efeitos de quarentenas e de outras medidas de distanciamento social. O Departamento do Trabalho dos EUA constatou que o número de mulheres com idade entre 25 e 54 anos que participam da força de trabalho caiu de 77%, em janeiro, para 74%
em maio.

Em muitos países, as mulheres se veem obrigadas a assumir uma parte cada vez maior dos cuidados com os filhos e das tarefas domésticas, mesmo quando seus parceiros também trabalham em casa.

A diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, disse no início desta semana que as mulheres precisam estar no centro das discussões quando os governos voltam sua atenção para a recuperação do impacto econômico e social da covid-19. “A pandemia já ameaça eliminar décadas de avanço na igualdade de gênero e no empoderamento das mulheres”, afirmou ela. “Em 2030, pode haver 121 mulheres na pobreza para cada 100 homens pobres em todo o mundo, e as mais afetadas serão as mulheres jovens entre 25 e 34 anos – a idade em que muitas formam uma família.”


Alguns países deram os primeiros passos para ajudar as mulheres a superar o pior do que alguns economistas chamam de recessão cor-de-rosa.

A Austrália e a Costa Rica tomaram medidas para ajudar a garantir que os serviços de creche permanecessem abertos durante as quarentenas. Egito, Geórgia e Marrocos deram adiantamentos em dinheiro para mulheres comerciantes e empresárias, enquanto líderes europeus se concentraram em manter as escolas abertas neste fim de ano, mesmo quando isso significou fechar outras partes de suas economias à medida que o número de casos de covid-19 voltou a crescer.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi um dos muitos a alertar para o fardo econômico imposto aos pais que precisam ficar em casa para cuidar dos filhos se as escolas não fossem abertas depois do verão. “Manter nossas escolas fechadas por um momento a mais do que o absolutamente necessário é socialmente intolerável, economicamente insustentável e moralmente indefensável”, disse ele em agosto.


Mlambo-Ngcuka tem instado os governos a fazerem mais conforme tentam reconstruir suas economias e, desta vez, garantirem que as mulheres possam competir em pé de igualdade com os homens, ao providenciar mais creches e outros tipos de apoio.

VALOR ECONÔMICO

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