Pandemia eleva fatia de jovens ‘nem-nem’

A proporção de jovens que nem estudam nem trabalham atingiu no último trimestre de 2020 o maior valor em oito anos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo levantamento da pesquisadora Thais Barcellos, da consultoria IDados. A fatia chegou a 25,5% dos jovens de 15 a 29 anos, 4,4 pontos percentuais a mais que em 2012. No quarto trimestre de 2019, era de 23,7%. Ao longo de 2020, a proporção dos chamados “nem-nem” chegou a quase 30%, diante das dificuldades impostas pela pandemia, que fechou postos de trabalho e dificultou o acesso dos jovens à escola.

Nos últimos anos, o aumento no indicador tem sido puxado por jovens que não estão trabalhando, enquanto o percentual de jovens fora da escola – que sempre foi bem alto – se manteve quase estável, com pequenas oscilações para cima e para baixo. Na pandemia, observa a pesquisadora, essa tendência de aumento dos sem trabalho foi reforçada. Já o percentual dos que estão fora da escola cresceu ao longo de 2020, para recuar no fim do ano.

“A Pnad mostra que houve um aumento de frequência nas escolaridades mais altas em 2020. Pode ser que o jovem esteja tentando se qualificar melhor para mitigar os efeitos negativos de ficar fora do mercado de trabalho por muito tempo”, afirma Thais. O que não deve estar acontecendo sem percalços. “Fica a pergunta sobre qual educação esses jovens estão recebendo, uma vez que ainda estamos longe de ter um plano eficiente de volta às aulas”, diz. O que também pode explicar esse fenômeno, afirma, é que, nessa faixa etária há mais autonomia do estudante. “Quem tem sofrido mais na pandemia são as crianças mais novas, mais dependentes de suporte adequado.”

No caso do trabalho, historicamente, os jovens são mais prejudicados pelas crises e na pandemia não tem sido diferente. Levantamento feito também a partir da Pnad Contínua pela pesquisadora Maria Andréia Parente Lameiras, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mas numa faixa mais estreita, de 18 a 24 anos, mostra uma queda de 10,6% na força de trabalho dos jovens no quarto trimestre do ano passado. Apesar disso, a taxa de desocupação chegou a 29,8%, cerca de 4,1 milhões de pessoas. Segundo Maria Andréia, muitos dos jovens que saíram do mercado foram direto para a inatividade, sem passar pela condição de desempregados, o que ressalta o desalento dessa parcela da população. O número de jovens de 18 a 24 anos que saiu do mercado de trabalho direto para a inatividade só foi menor que o da faixa acima de 60 anos, uma migração muito relacionada à aposentadoria. “O impacto da pandemia tem sido mais prejudicial para os indivíduos mais jovens e os menos escolarizados”, diz a pesquisadora em seu estudo.

No quarto trimestre, com a reabertura da economia em boa parte país, antes da segunda onda da covid-19, a ocupação voltou a aumentar de forma tímida. De forma geral, os jovens ficaram restritos ao mercado informal. “Ao investigar que tipo de emprego o jovem está conseguindo vemos que ele se colocou em vagas mais precárias”, observa Thais Barcellos. É uma situação melhor que o desalento e o desemprego, mas que também não aponta um cenário mais positivo à frente. “Não sabemos quanto tempo a pandemia vai durar e quais os efeitos na economia, mas pesquisas mostram que, conforme o jovem vai envelhecendo, fica mais difícil se inserir no mercado de trabalho com carteira assinada”, afirma Thais.

VALOR ECONÔMICO

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