O Estado de S.Paulo –
A Natura&Co assinou nesta quarta-feira, 23, um manifesto de repúdio à decisão do LinkedIn de retirar do ar uma vaga de emprego exclusiva para pessoas negras e indígenas na última semana. A carta foi obtida com exclusividade pelo Estadão e ainda não foi divulgada. Ainda hoje, o Procon-SP notificou o LinkedIn para prestar explicações sobre a retirada do anúncio.
Procurado, o LinkedIn não se manifestou até a publicação desta reportagem.
O documento assinado pela Natura&Co, entitulado “Manifesto empresarial em defesa da ação afirmativa”, pede que o LinkedIn altere de maneira pública e urgente a sua política de publicações para garantir que as empresas que decidam utilizar ações afirmativas em seus processos seletivos possam o fazer pela plataforma.
“A suposta política antidiscriminatória do LinkedIn é anacrônica, obtusa e deslocada da realidade social, racial e de gênero do Brasil. Vai na contramão de iniciativas públicas e privadas que, diante do cenário empregatício nacional, incentivam a efetivação da igualdade material, permitindo acesso efetivo de negras, negros e indígenas ao mercado de trabalho”, diz um trecho do documento.
A Natura&Co não reconhece ter redigido o documento, embora confirme ser uma de suas signatárias. Segundo apurou a reportagem, a carta circula no mercado corporativo em busca da participação de outras empresas.
A questão teve início após a publicação de uma vaga para a coordenação do setor administrativo financeiro do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (Laut) no LinkedIn. Além das informações sobre o cargo, a postagem informava que o processo seletivo daria preferência a pessoas negras e indígenas.
Alguns dias após a publicação, segundo o Laut, a vaga foi retirada do ar e como justificativa foi informado que a postagem havia sido considerada discriminatória. No entanto, a carta assinada pela Natura reforça que “não há dúvidas sobre a legalidade de políticas voluntárias de recrutamento empresarial que adotam ações afirmativas. Políticas públicas dessa natureza, incluindo cotas raciais e sociais em concursos públicos, já foram plenamente validadas tanto pelo Judiciário quanto pelo Supremo Tribunal Federal”.
Vale lembrar que, em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Ministério Público do Trabalho legitimaram o programa trainee da Magazine Luiza focado em profissionais negros. Na época, o STF informou que a empresa não infringiu a Constituição. O MPT pediu a extinção do processo e alegou que não havia ato ilícito, uma vez que a reserva de vagas à população negra é um “elemento de reparação histórica da exclusão da população negra do mercado de trabalho digno”.
Também nesta quarta-feira, o Procon-SP deu prazo de 24 horas para que o LinkedIn se manifeste sobre a retirada da publicação. A notificação pede que a plataforma informe em que condições e situações ocorre a exclusão de anúncios já publicados.
Em uma busca rápida pela plataforma é possível encontrar diversas vagas focadas exclusivamente em grupos minorizados, como pessoas negras, mulheres e LGBT+. Há anúncios de vagas exclusivas em empresas como Loggi, Amazon e Quinto Andar.