Não basta demolir a Reforma Trabalhista. Eles agora querem tacar fogo

Foi o que disse um sindicalista do grupo de transição de Lula. Quer queimar tudo para os sindicatos renascerem simbolicamente “como fênix”

Mario Sabino

Como já escrevi aqui no Metrópoles e em outras freguesias, Lula, o PT e as centrais sindicais do partido querem demolir a Reforma Trabalhista, que teve início sob Michel Temer e continuidade na presidência de Jair Bolsonaro. Usei o plural no caso das centrais, porque agora, além da CUT, velha de guerra, Força Sindical e UGT se atrelaram ao trem da alegria lulopetista.

Não se trata apenas de demolir, como deixou claro Ricardo Patah, presidente da UGT e integrante do grupo de transição de Lula. O bruto quer incendiar os documentos produzidos pelo Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet), criado em 2019, sob os auspícios do Ministério da Economia. Formado por gente qualificada na área jurídica, os participantes do Gaet levaram adiante a modernização das relações de trabalho no Brasil e o desmonte da caixa registradora dos sindicatos — que havia décadas achacavam empregados e empregadores, por meio do imposto sindical estabelecido por lei e da intermediação obrigatória e lucrativa dessas entidades (inclusive no sentido fantasmagórico do termo) nas negociações de acordos entre as partes.

Quando falou em queimar os documentos do Gaet, o chefão da UGT foi literal. Ele sugeriu mesmo tacar fogo na coisa toda. Ricardo Patah afirmou numa reunião da comissão de transição que incendiar o cartapácio simbolizaria o renascimento das pautas trabalhistas, “como uma fênix”. Se bem entendi, seria a Bücherverbrennung sindicalista — uma versão tropical da queima de livros levada a cabo pelos nazistas, em 1933, logo depois que Adolf Hitler tomou o poder.

A pretexto de defender os trabalhadores do Brasil varonil, as centrais sindicais querem ressuscitar o cabidão de empregos corporativista chamado Ministério do Trabalho, engessar de novo a legislação, a fim de criar dificuldades e vender facilidades, e voltar a tungar quem dá duro. O imposto sindical obrigatório, extinto em 2017, passaria a ser “taxa negocial”. A sua adoção seria decidida em “assembleias” realizadas nos sindicatos (só vai dar militante, claro), com limite de 1% do salário anual de cada trabalhador. Se o golpe der certo, a tigrada pode embolsar até 4 bilhões de reais por ano. Queimarão também o seu dinheiro.

Em abril, na CUT, Lula disse que era preciso haver o “financiamento solidário e democrático da estrutura sindical”. O auto de fé está apenas começando. Todos para a fogueira.

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