Uma prova é que menos pessoas se deslocam até o trabalho pós impacto da pandemia
Por Valentina Romei, Financial Times
Funcionários de escritório nas maiores economias do mundo não retomaram o padrão de deslocamento ao trabalho que tinham antes da pandemia e adotaram o trabalho híbrido como novo normal, de acordo com dados sobre locomoção largamente acompanhados por especialistas.
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Até meados de outubro o deslocamento ao local de trabalho nas sete maiores economias do mundo ainda estava bem abaixo dos patamares de antes do impacto da pandemia da covid-19 no início de 2020, de acordo com uma análise feita pelo “Financial Times” a partir de dados do rastreamento da localização dos telefones celulares das pessoas publicados pelo Google.
No Japão, os deslocamentos ficaram 7% abaixo dos níveis pré-pandemia, enquanto no Reino Unido a queda foi de 24%. Nas principais economias avançadas, há mais viagens ao escritório nos dias do meio da semana. Segundas e sextas-feiras tendem a mostrar grandes quedas no comparecimento.
As cidades que abrigam distritos financeiros e de negócios tiveram uma queda maior na locomoção aos escritórios do que em outras grandes áreas populacionais, de acordo com os números do Google.
Economistas dizem que a mudança para o trabalho remoto se tornou o novo normal.
“O trabalho em casa, em última análise, vai pegar”, disse Cevat Giray Aksoy, economista que tem pesquisado a tendência e trabalha para o Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento (Berd). “Os níveis de mobilidade relacionados ao local de trabalho permanecerão mais baixos do que os níveis pré-pandemia.”
Essa grande mudança para o trabalho em casa “apresenta desafios para centros urbanos densos que são organizados para suportar a chegada de um grande volume de passageiros e uma alta concentração de atividade comercial”, disse Aksoy.
A pesquisa de Aksoy revelou, em muitos países, um aumento na proporção de anúncios de emprego que oferecem a oportunidade de trabalhar de forma remota durante um ou mais dias por semana. Sara Sutton, fundadora e executiva-chefe da FlexJobs, um serviço de carreiras especializado em empregos remotos e híbridos, concorda.
“Definitivamente, temos visto um ponto de inflexão para uma integração mais profunda e permanente do trabalho remoto e híbrido nas organizações”, disse.
Os dados da pesquisa indicam que as pessoas gostam de trabalhar em casa e que a prática ajuda a reduzir tanto as despesas quanto as emissões de carbono das firmas, embora as evidências sobre o impacto na produtividade sejam ambíguas.
O índice Freespace, que rastreia a utilização de escritórios de grandes empresas pelo mundo, mostra que a ocupação de estações de trabalho e salas de reunião está em cerca de metade dos níveis de 2019. Dados da Kastle, que rastreia o acesso via crachás magnéticos a escritórios nos Estados Unidos, principalmente em grandes empresas de serviços profissionais terceirizados, mostram que a ocupação voltou apenas para cerca de metade dos níveis pré-pandemia em meados de outubro.
Uma pesquisa do centro de estudos Ifo, com sede em Munique, revelou que, em agosto, 25% dos funcionários na Alemanha ainda trabalhavam em casa, pelo menos, uma parte do tempo.
No Reino Unido, uma pesquisa regular realizada pela Agência Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês) mostrou que, no início de outubro, mais de 20% dos trabalhadores do Reino Unido estavam em um modelo híbrido de trabalho, porcentagem que quase não mudou desde a primavera europeia. A proporção chega a mais da metade da força de trabalho nas empresas de comunicação e de informação e a um pouco menos que isso nas de atividades científicas, técnicas e de serviços profissionais terceirizados.
O Google começou a publicar dados diários sobre padrões de mobilidade em abril de 2020 como uma ferramenta para ajudar governos e autoridades a acompanhar os efeitos das restrições da covid-19 na economia. De início, os números mostraram uma evaporação da presença nos locais de trabalho, já que em muitos países as pessoas foram forçadas a ficar em casa.
Os relatórios de mobilidade foram usados pelo Banco da Inglaterra e pelo Banco Central Europeu (BCE) como um retrato do impacto que a pandemia vinha causando na economia, uma vez que estavam disponíveis meses antes dos números oficiais.
Os dados foram um indicador “fantástico” da atividade econômica, segundo Bert Colijn, economista do ING. A contagem diária das viagens ao local de trabalho também forneceu um dos melhores indicadores no mundo para mostrar como o retorno ao local de trabalho foi incompleto, acrescentou.
A partir de agora, entretanto, o Google não atualizará mais a série de dados, uma vez que os padrões de deslocamento pós-pandemia já ficaram estabelecidos. (Tradução Sabino Ahumada)