Mercado prevê alta de 0,75% da Selic em agosto

Após o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) vir menos austero, a elevação das previsões para a Selic (taxa básica de juros) deu uma desacelerada no ritmo. Segundo a pesquisa feita pelo Projeções Broadcast, das 28 instituições financeiras consultadas, nove preveem aumento de 1 ponto porcentual dos juros no próximo Copom, em agosto. A mediana indica alta de 0,75 ponto dos juros em agosto, elevando a Selic a 5%.

Na pesquisa feita pela Agência Estado no dia seguinte ao Copom de junho, apenas duas de 37 instituições esperavam aumento dos juros de mais do que 0,75 ponto porcentual em agosto. Mas a ata da reunião mencionou que o Banco Central (BC) já havia discutido uma alta da Selic de 1 ponto porcentual, que havia se tornado o cenário-base de 12 de 34 instituições no levantamento da última terça-feira, 22.

Para o fim de 2021, a mediana se manteve inalterada, com previsão de Selic a 6,5% a partir de estimativas de 6% a 7,25%. No fim de 2022, o mercado vê aumento dos juros a 7,0%, acima da estimativa intermediária do relatório Focus, de 6,5%. Nesta base, as projeções vão de 5,5% a 8%.

Diante da expectativa de juros mais altos, a mediana da pesquisa Projeções Broadcast para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022 já está em 3,70%, abaixo da registrada pelo último relatório Focus – de 3,78% – mas ainda acima do centro da meta do ano que vem, de 3,50%. Para 2021, o mercado espera IPCA de 6,0%.

A maior parte do mercado leu no RTI um discurso menos austero que o da ata, além de uma sinalização do BC de que o plano é repetir em agosto o ritmo de aumento da Selic de junho, de 0,75 ponto porcentual. As projeções de inflação da autoridade monetária para 2022 (3,5%) e 2023 (3,3%) indicam conversão do IPCA para a meta no horizonte relevante mesmo usando a previsão de taxa Selic em 6,25% no fim deste ano e de 6,5% no fim do ano que vem.

A elaboração do BC sobre os riscos para a inflação a partir dos possíveis cenários de reversão de commodities e de aumento dos juros dos Estados Unidos também chamaram a atenção de analistas, em especial porque a autoridade monetária já havia citado os fatores no seu balanço da ata.

“No líquido, o RTI foi um pouco mais dove (expansionista) do que a ata, eu diria que deve ter um pouco de pressão para baixo nas projeções de alta de 1 ponto porcentual. O mercado vai seguir dividido, mas retira pressão”, disse o economista-chefe do Haitong, Marcos Ross, após a divulgação do documento. O analista elevou a projeção de Selic em agosto para alta de 1 ponto após a ata do Copom, mas reconhece que o RTI imprime um viés de baixa à estimativa.

Para o economista sênior do Banco ABC Brasil Daniel Xavier, o posicionamento do BC no RTI sinaliza a alta de 0,75 pp em agosto. “Não parecem propensos a subir o ritmo de alta, ainda que tenham sinalizado essa possibilidade. E vai seguir bastante dependente das expectativas de inflação”, diz Xavier, que espera IPCA de 6,0% em 2021, com alívio a 3,9% em 2022.

O analista prevê controle nas projeções de inflação do mercado para o ano que vem, com pouco espaço para uma mediana acima de 3,9% no Relatório Focus. “O coeficiente de variação está menor, e a distância entre piso e teto também. E o BC subindo juros e mantendo discurso mais duro atua de forma relevante para conter as expectativas, junto com o câmbio”, explica.

A economista sênior da LCA Consultores Thais Zara avalia que o RTI sinalizou que o BC só deve migrar para um aumento de 1 ponto porcentual da Selic em caso de deterioração forte das expectativas de inflação de 2022. A analista lembra que a expectativa de bandeira vermelha 2 em dezembro deve pressionar o IPCA de 2021, mas oferecer alívio para o ano que vem.

“Claro, o BC deixou a porta aberta para uma alta mais forte, mas isso dependeria de uma deterioração adicional das expectativas de inflação para o ano que vem e, por enquanto, não nos parece que a deterioração vai ser tão forte a ponto de intensificar o ritmo de ajuste do Copom”, explica Zara. A LCA espera Selic de 7,0% no fim de 2021 e IPCA de 6,2% neste ano e de 3,8% no próximo.

O ESTADO DE S. PAULO

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