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Resultado neste início do ano veio melhor do que o esperado pelos analistas, mas economia brasileira terá de lidar com inflação de dois dígitos, juros em alta e piora da atividade econômica global.
Por Luiz Guilherme Gerbelli
Embora não seja robusto, o desempenho da economia brasileira neste início de ano veio em linha com a expectativa de grande parte do mercado, crescendo 1% no primeiro trimestre. Mas o Brasil terá de lidar pela frente com uma série de riscos que devem fazer com que a atividade econômica desacelere nos próximos meses.
Na virada de 2021 para 2022, uma parte dos analistas chegou a apontar para a possibilidade de o país colher um ano de recessão. Hoje, no entanto, a expectativa é um pouco melhor – as previsões mais otimistas projetam um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na faixa de 1,5%.
A lista de fatores que inibem um crescimento mais forte da economia no restante deste ano inclui inflação em dois dígitos por um longo período, juros em alta e piora da atividade econômica global.
“É fato que o (resultado) do primeiro trimestre veio melhor (do que o esperado), mas já há uma expectativa de enfraquecimento no segundo, terceiro e quarto trimestres”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências.
Veja abaixo o impacto de cada um:
Alta inflação
A economia brasileira lida com uma inflação acima dos dois dígitos desde setembro do ano passado. Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 12,13% em 12 meses, a maior medição para o período de um ano desde outubro de 2003 (13,98%).
Desde o início do ano, as previsões para o IPCA de 2022 estão sendo revisadas para cima. Uma parte de bancos e consultorias já chega a projetar uma inflação próxima a 10% – o que marcaria um segundo ano consecutivo do estouro do teto da meta, que é de 5%.
Uma inflação elevada por tanto tempo diminui o poder de compra das famílias, sobretudo das mais pobres.
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“Essa revisão da inflação bate na renda e, consequentemente, em potencial de consumo”, diz Alessandra.
Juros subindo
Com a inflação pressionada, o Banco Central tem sido obrigado a subir taxa básica de juros (Selic) da economia.
Desde março do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) começou a aumentar Selic. Os juros saíram de 2% e chegaram a 12,75% ao ano em abril, no maior patamar desde 2017. E a previsão da maioria dos analistas é a de que ela suba ainda mais, para 13,25% ao ano.
Juros mais alto encarecem a tomada de crédito para as famílias e o investimento para as empresas.
“Na medida em que a inflação demora para ceder, o Banco Central vai precisar manter a política monetária contracionista (os juros em alta) por mais tempo e, consequentemente, isso terá um impacto na atividade”, afirma Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.
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Essa alta de juros leva um tempo para ter um efeito na atividade econômica – os analistas falam de seis a nove meses. Portanto, isso explica por que o ciclo de alta de juros vai pesar muito no ritmo da economia no segundo semestre e também em 2023.
“A alta dos juros começa a ter um impacto maior no segundo semestre, mas o efeito máximo será sentido em 2023. Nós já revisamos o PIB de 2023 para 1%”, afirma Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital.
Risco global
Na cena externa, o Brasil também lida com uma economia global que cresce menos, apesar de ser ajudado pela alta das commodities – o país é um grande exportador de produtos básicos, como soja e minério de ferro, e se beneficia quando os preços desses produtos sobem no mercado internacional.
Assim como o Brasil, as principais economia globais enfrentam um cenário de inflação elevada e estão subindo os juros. Na reunião de maio, por exemplo, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) promoveu a maior alta da taxa básica de juros em 22 anos.
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Juros mais altos nos EUA têm potencial para atrair recursos investidos até então em economias consideradas mais arriscadas, como a brasileira.
Se já era delicado, o cenário global lidou com dois choques neste ano: a guerra na Ucrânia e a política de Covid zero adotada pelo governo chinês – testagem em massa e isolamento obrigatório.
Com isso, as cadeias de produção têm sido afetadas novamente, o que desemboca em mais inflação global, também fazendo com que as previsões para o crescimento econômico do mundo passem a ser cada vez menores.
“Esses dois choques voltaram a desorganizar as cadeias globais de produção. É um choque que afeta o mundo inteiro”, diz Sales, do C6 Bank. “A gente já vê algumas notícias de setores tendo problemas.”
Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento global deste ano em 0,8 ponto percentual, para 3,6%.