Empresários e trabalhadores da indústria nacional querem que o Brasil suspenda suas propostas de reformulação do Mercosul: a redução das alíquotas da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, usada no comércio com terceiros mercados, e a permissão para que os países do bloco possam negociar acordos de livre comércio com outros países em separado, ou seja, sem a participação dos demais sócios.
Com isso, crescem as pressões contrárias à ideia de flexibilização das regras do Mercosul para permitir a abertura comercial, defendida enfaticamente pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Com o apoio de personalidades como os ex-presidentes brasileiros Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, Argentina tem dificultado a negociação, e sai em defesa de setores considerados sensíveis à concorrência, como automóveis, produtos eletrônicos, têxteis e calçados.
Em uma carta conjunta divulgada nesta quinta-feira, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e entidades sindicais de trabalhadores da indústria afirmam que o Mercosul tem sido afetado pelos impactos econômicos e sociais da pandemia. Também destacam que há uma divisão dos governos do bloco em torno de questões estratégicas.
As entidades afirmam que a posicionamento do governo Bolsonaro sobre a abertura comercial vem sendo consolidado há quase dois anos, “sem que tenha havido um projeto claro, consultas consistentes com representações dos segmentos industriais e dos trabalhadores ou avaliações de impacto bem fundamentadas”.
E citam como exemplos de setores prejudicados que poderão ser mais prejudicados os de aço, máquinas, automotivo e farmacêutico.
“De um lado, a redução unilateral das tarifas, neste momento, reforçaria uma já existente competição não isonômica devido aos problemas crônicos de competitividade do Brasil que não foram equacionados.
De outro, negociações comerciais individuais trazem tanto o desafio do enfraquecimento do bloco e de seu poder de barganha em negociações quanto o de abrir mercados para parceiros com práticas desleais e que representam efetiva ameaça à produção e emprego no país”, diz um trecho da carta.
O texto pede que a suspensão das propostas seja apresentada na próxima reunião de ministros do Mercosul, ainda sem data marcada. Em contrapartida, o Brasil poderia sugerir aos demais sócios do bloco uma avaliação mais aprofundada sobre a TEC e a política de negociação com terceiros países, abrindo um canal de participação para as entidades sindicais e empresariais brasileiras
“Reverter, e não reforçar, essa trajetória de desindustrialização é necessário para inserir a economia brasileira em atividades de maior valor agregado e com maior conteúdo tecnológico, que levarão à criação de mais empregos que demandam trabalhadores mais qualificados e mais bem remunerados”, diz a carta.
O GLOBO