Valor Econômico
Otimismo não reflete necessariamente o que será importante para a trajetória profissional, indica estudo em 19 países
Por Barbara Bigarelli — De São Paulo
Os profissionais brasileiros se sentem preparados em termos de habilidades digitais, embora essa percepção não esteja necessariamente conectada ao que o futuro do trabalho exigirá em termos de expertise, conhecimento e competências. Em um estudo realizado pela Salesforce com 23 mil funcionários, de 19 países, 60% dos entrevistados acreditam que não estão preparados com as habilidades digitais necessárias para as empresas hoje. No Brasil, onde foram entrevistados 1,4 mil profissionais, esse percentual é de apenas 32%. Ou seja: 68% dos brasileiros se sentem preparados hoje. Além disso, 63% acham que têm as competências necessárias para o mundo digital nos próximos cinco anos – na média global, esse percentual é de somente 34%.
Entre as habilidades listadas no estudo – avaliadas com notas de 1 a 3 – que os brasileiros disseram se destacar mais estão: administração digital (2,18), https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg colaborativa (2,08), comércio eletrônico (2,04), marketing digital (2,00) e https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg de vendas (1,96). Considerando as competências digitais “do dia a dia”, apontadas no estudo como as necessárias para realizar o trabalho hoje, o nível de percepção de preparo dos brasileiros é alto. Principalmente em termos de navegação de web (71% se consideram avançados), redes sociais (67%) e uso de programas de produtividade (51%).
Essa boa percepção levou o Brasil a ocupar a segunda posição do Global Skills Index, o ranking originado a partir do estudo. Ficando atrás apenas da Índia e à frente de países como Estados Unidos, Cingapura e Coreia do Sul. A mensuração do estudo é feita a partir de uma autoavaliação dos entrevistados e não de uma investigação ou teste sobre o nível real de qualificação. Mesmo assim, o que explica o otimismo dos brasileiros com relação às competências digitais necessárias para o trabalho em um país que sofre com escassez de profissionais qualificados?
Fábio Costa, diretor geral da Salesforce no Brasil, aponta uma primeira hipótese. “Há uma perspectiva de uso pessoal da https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg, e de que isso qualifica para o trabalho no mercado, e os brasileiros estão muito acostumados a usar as redes sociais e também ferramentas de colaboração”. Não à toa, afirma Costa, o brasileiro se acha muito bom em navegação da web e comunicação digital. Mas se sente menos preparado em https://sindeprestem.com.br/wp-content/uploads/2020/10/internet-cyber-network-3563638-1.jpg inteligente (aplicações que usam inteligência artificial) e análise de dados, segundo o estudo. Nessas duas habilidades, a maioria dos brasileiros entrevistados diz estar em nível iniciante ou intermediário de conhecimento: 63% e 72%, respectivamente.
Outra hipótese, segundo Costa, é que em países mais avançados tecnologicamente, a percepção do que é estar preparado para as habilidades digitais do futuro é mais crítica. “O brasileiro tem uma autopercepção positiva em relação ao mundo digital, sobre a capacidade dele de estar neste cenário seja como usuário, seja como profissional. Mas podemos ter a pessoa mais positiva sendo a menos preparada. Há culturas com autocrítica maior, principalmente considerando competências mais técnicas, que vão achar que não estão preparadas”, afirma o executivo.
O que esse otimismo brasileiro traz de alerta, na visão de Costa, é que os profissionais do país precisam estar atentos às competências que de fato farão diferença na carreira e no mundo do trabalho – e que não são necessariamente aquelas utilizadas no dia a dia, em plataformas, no trabalho remoto ou virtual.
“A navegação na web e redes sociais já são consideradas habilidades ‘dadas’, não são relevantes pensando em competitividade. O que faz diferença é a capacidade de análise de dados e de criação e entendimento de soluções com inteligência artificial – e isso tem várias gradações, do nível mais simples ao complexo, dependendo da função e atuação”, afirma. Estudar mais como um e-commerce funciona e desenvolver competência para vendas on-line também é fundamental para abrir oportunidades profissionais, defende Costa.
O ponto positivo do otimismo do brasileiro é que esse comportamento o aproxima mais do que o afasta das habilidades digitais necessárias para o futuro do trabalho, na visão de Costa. “Quando falamos de transformação digital, o maior desafio está no processo, em mudar a forma como as pessoas trabalham e a percepção delas sobre como devem realizar algo. Esse positivismo do brasileiro acaba se refletindo em uma cultura mais aberta a mudança e para o aprendizado”. No estudo, 79% dos trabalhadores brasileiros estão planejando aprender novas habilidades, seja para crescer na própria carreira ou em busca de um novo caminho profissional.