Guedes diz que sente frustração por não ter realizado as reformas prometidas

O Estado de S.Paulo – 16/12/2021 –

O ministro da Economia, Paulo Guedes, reconheceu nesta quarta-feira, 15, que sente “certa frustração” por não ter avançado na agenda de reformas econômicas. Além da reforma tributária, ele citou a reforma administrativa entre as frentes em que gostaria de ter avançado mais, porém lembrou que a pandemia, ao abrir um estado de “economia de guerra”, obrigou o governo a deixar de atacar despesas para enfrentar os efeitos da crise sanitária.

O comandante da equipe econômica acompanhou o presidente Jair Bolsonaro (PL) num encontro com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, Guedes disse que o foco do governo no primeiro ano do mandato era controlar as “disfuncionalidades econômicas”, referindo-se ao desequilíbrio das contas públicas.

“Jogamos, primeiro, na defesa, controlando as pequenas despesas. Quando fomos ao ataque, a covid nos atingiu”, lembrou Guedes, citando a necessidade de aumentar as despesas no enfrentamento da crise sanitária.

Ele salientou que, com a reforma da Previdência e a redução de juros, o governo conseguiu economizar R$ 100 bilhões por ano, ou R$ 1 trilhão em uma década, além de R$ 160 bilhões poupados em dois anos com o congelamento de salários do funcionalismo.

Em resposta à desconfiança do mercado sobre a situação fiscal do País, o ministro disse também que a dívida pública está em 80% do PIB, e não 100% como se previa anteriormente.

Em rápida coletiva de imprensa durante o encontro, Guedes afirmou que o governo colocou o Brasil de pé depois do choque da pandemia, preservando 11 milhões de empregos, e procurou destacar os avanços na área do colega Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Entre eles, está o marco da cabotagem, projeto conhecido como BR do Mar, aprovado nesta quarta-feira pela Câmara. Guedes disse que o projeto será importante para as ambições do Brasil de entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Numa nova defesa sobre a proposta de tributação dos dividendos distribuídos por empresas, prevista na reforma do Imposto de Renda, o ministro observou que o Brasil, diferentemente dos membros da OCDE, onde pretende ingressar, é o único país que tributa os mais pobres.

Críticas ao FMI
Em mais uma crítica às previsões negativas sobre a economia brasileira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse também que está dispensando as missões ao Brasil do Fundo Monetário Internacional (FMI), que fazem uma avaliação da economia.

“Estamos dispensando a missão do FMI […} Dissemos para eles fazerem previsão em outro lugar”, declarou Guedes durante encontro com empresários na Fiesp. Ele lembrou das previsões do fundo de retração próxima a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, o primeiro da pandemia. No fim, a queda foi de 3,9%.

Após repetir que o Brasil “surpreendeu o mundo” ao cair menos da metade do que era esperado, a “desgraça” agora está sendo prevista para o ano que vem. “Eles vão errar de novo.”

“Que eles vão fazer as previsões deles em outro lugar”, disse o ministro, para quem o FMI já fez o que tinha que fazer no Brasil e que já poderia ter ido embora. E emendou que “só não foi embora porque talvez gostem do futebol, da feijoada e de bom papo”.

O ministro da Economia também rebateu críticas à economia brasileira feitas pelo ex-presidente do Banco Central (BC), que deve assumir em breve o cargo de diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Ilan Goldfajn.

“Eu não li a reportagem, mas fiquei sabendo das críticas de um ex-presidente do Banco Central. Eu vou falar, é o Ilan [Goldfajn]. Ele é um amigo, mas em época de política todo mundo critica e o Ilan também tem o direito de criticar. Mas já que tem um brasileiro que critica o Brasil indo para o FMI, ele não precisa mais ficar aqui”, disparou Guedes.

‘Caminho da prosperidade’
O ministro também voltou a desafiar economistas que preveem recessão econômica no ano que vem. “Eu vejo que estamos no caminho da prosperidade”, disse Guedes.

O ministro reconheceu por diversas vezes durante o tempo em que permaneceu na Fiesp que o próximo ano será difícil para a economia brasileira porque “estaremos combatendo a inflação”.

Mas de acordo com ele, não é também para jogar a economia brasileira para baixo porque há elementos que vão compensar em parte o que a economia vai deixar de crescer pelo fato de o Banco Central estar elevando a taxa de juros para combater a inflação.

Ele citou como um dos elementos que vão contrabalançar a desaceleração da economia no ano que vem a renovação dos marcos regulatórios que vai assegurar investimentos de R$ 700 bilhões em dez anos, ou R$ 70 bilhões por ano a partir de 2022.

Guedes voltou a dizer que o Brasil está numa transição de uma economia cujo crescimento é baseado em consumo para uma baseada em investimentos. Nesse ponto, afirmou que a taxa de investimentos está voltando para 20% do Produto Interno Bruto (PIB). “Queremos uma economia de mercado. Antes, era para os amigos de Brasília”, declarou Guedes, tentando diferenciar a política econômica atual da conduzida por governos petistas.

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