Grandes empresários passam a defender lockdown

À medida que a pandemia se agrava no Brasil, cresce o apoio ao lockdown entre grandes empresários.

A discussão sobre o assunto aparece apresentada na carta publicada por 500 economistas, banqueiros e empresários neste final de semana, mas também tem sido levantada por outros grandes nomes do setor privado.

Laércio Cosentino, fundador da Totvs, diz que acha necessário um lockdown curto, acompanhado de campanhas intensas para conscientizar a população. Depois desse período, ele sugere um novo planejamento do transporte público com redução de aglomerações.

Para Daniel Castanho, presidente do conselho de administração da Ânima Educação, que no ano passado fundou o movimento Não Demita na tentativa de mitigar o desemprego na crise, é preciso agir rápido.

Ele ressalva que os fechamentos não deveriam ser aplicados em lugares onde o contágio estiver controlado, e a medida seria uma forma de corrigir erros de 2020. “Um absurdo ter proibido as escolas de abrirem no ano passado. Agora, neste momento em que os hospitais estão lotados, chegamos a um ponto em que não dá. Eu sou a favor do lockdown agora. E, infelizmente, com impacto na economia, várias pessoas estão desesperadas, passando fome. Tem que distribuir cesta básica. Estamos com uma situação muito complexa”, diz o empresário.

“Só chegamos nisso porque, no momento em que estavam morrendo 300 por dia, as UTIs com ocupação de 10%, fechamentos escolas, restaurantes. E, do outro lado, não tivemos agilidade para termos as vacinas, para conseguirmos nos estruturar para que pudéssemos voltar o mais rápido possível. Foi feito tudo errado. Mas agora, de maneira bem pragmática, eu sou a favor do lockdown nesse momento porque está faltando UTI. Várias pessoas estão morrendo por falta de infraestrutura. Isso a gente não pode permitir”, diz Castanho.

O investidor Lawrence Pih defende o lockdown como única medida efetiva no momento, apesar das dificuldades que traz à população mais carente.

“Se as medidas mais restritivas, as aquisições de vacinas, o apoio ao uso de máscaras e o distanciamento social tivessem sido implementados e encorajados, não estaríamos nesta situação dramática de hoje”, afirma Pih.

O empresário Horacio Lafer Piva, que assinou a carta aberta deste final de semana, também sugere a medida com prazo restrito.

“Se houvesse menos negacionistas, eu apoiaria uma maior abertura. Com tanta irresponsabilidade, lamento pela economia mas não vejo solução, senão um lockdown total, embora por tempo bem determinado. A economia fere brutalmente, mas a Covid mata definitivamente”, diz Piva.

A carta do final de semana afirma que a necessidade de adotar um lockdown nacional ou regional deveria ser avaliada.

“É urgente que os diferentes níveis de governo estejam preparados para implementar um lockdown emergencial, definindo critérios para a sua adoção em termos de escopo, abrangência das atividades cobertas, cronograma de implementação e duração”, afirma o documento também assinado por nomes como Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, co-presidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco.

Em entrevista ao Painel S.A., na semana passada, o empresário Eduardo Mufarrej, fundador da escola de candidatos RenovaBR, já havia defendido que o endurecimento das medidas para fechar o comércio e até o lockdown, são uma alternativa viável no cenário atual.

“Sem a cobertura de vacinação necessária e com os sistemas de saúde entrando em colapso em várias regiões, só nos resta o distanciamento social e o reforço das medidas de higiene. Para isso, a redução nas atividades e no fluxo de pessoas é uma das poucas alternativas ainda viáveis”, diz.

Marcílio Pousada, presidente da RaiaDrogasil, também disse à coluna na semana passada que vê o lockdown como alternativa possível.

“Eu acho que, em algum momento, se a gente não conseguir diminuir o número de transmissão, de pessoas internadas em UTI, pelo que a gente vê no mundo todo, não tem muita saída. Acho que o governo vai ter que tomar a decisão, e vamos ter que apoiar”, afirma.​

Para além do olhar das grandes companhias, a visão dos empresários em geral no Brasil, incluindo os de menor porte, é mais resistente ao fechamento.

Segundo pesquisa Datafolha de 15 e 16 de março, entre empresários, 50% defendem acabar com o isolamento das pessoas em casa para estimular a economia e impedir o desemprego, mesmo que isso ajude a espalhar o vírus. Para 31%, é melhor deixar as pessoas em casa para impedir que a doença se espalhe, mesmo que prejudique a economia e gere desemprego. ​

FOLHA DE S. PAULO

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